Aluno: Jarleide Almeida Feitosa *1













LETRAMENTO E EDUCAÇÃO DE SURDOS: UMA PROPOSTA BILÍNGUE
















* Graduada em Letras/Potuguês e pós- graduanda em LIBRAS




Aracaju-SE
04 de Setembro de 2010

RESUMO


Em uma proposta para educação de surdos é importante pensarmos sob a ótica do bilinguismo. Nesta perspectiva, considerar a LIBRAS ? Língua Brasileira de Sinais - como base para o ensino da língua portuguesa e o letramento para as ações pedagógicas, ter-se- á em vista aquisição do processo da aprendizagem dando a esta o sentido apropriado, à partir de suas experiências Neste sentido, estaremos respeitando sua identidade e a cultura surda, tentando minimizar os preconceitos existentes na sociedade, pois quando a criança surda tem contato com sua língua natural é dada a ela a possibilidade de constituição de seu conhecimento de mundo, sendo possível o entendimento do que o acompanha cotidianamente, facilitando a sua inclusão na sociedade, como também, no mercado de trabalho.

Palavras-Chave: Bilinguismo- Letramento- Inclusão social













INTRODUÇÃO





A inclusão dos indivíduos portadores de necessidades educativas especiais atualmente, no Brasil, é um desafio. Neste grupo enquadram-se os sujeitos surdos.
Muitas inquietações surgem dentro deste campo de pesquisa. Várias são as dificuldades ou problemas que entravam o processo que tenta facilitar a inclusão dos deficientes auditivos do ponto de vista social.
Neste ponto, destacam- se como variáveis a falta de comunicação oral, que prejudica sensivelmente o aprendizado, como também a aplicação de metodologias não contextualizadas com a realidade sócio-cultural do aluno. Não podendo desprezar a falta de preparo da maioria dos educadores que atuam nessa área, e a importância da conscientização da família e da sociedade os quais estão inseridos em relação a toda essa problemática.
Durante muito tempo, essa população, foi vista pelas suas deficiências, relegando o trabalho educacional para essas pessoas em ambientes restritos, julgando que o isolamento resultaria na eficácia do atendimento pedagógico. Esse direcionamento, tão somente leva a não perceber de suas reais necessidades, ignorando os seus interesses, anseios, excluindo-os de um projeto de cidadania
Essa percepção vem sendo respaldada por preceitos teóricos, de acordo com a Constituição Federal (1988), a LDB nº 9394/96, entre outros, que garantem o cumprimento dos normativos contidas nos mesmos e que passam pela política de formação do professor para a existência de um projeto político pedagógico que conheça tais diferenças e garanta a construção de uma escola para todos, assentado no princípio social da inclusão.

1- INCLUSÃO SOCIAL: Um desafio a superar



Ao longo da vida dos surdos alguns problemas de ordem social familiar e educacional são vivenciados, favorecendo o aparecimento de tensões.
E é destas tensões que surge uma série de conseqüências que são causadas aos deficientes e que precisam ser revistas com a finalidade do bem estar e inclusão do surdo no meio social do qual faz parte.
O preconceito diante das diferenças sempre foi uma marca perversa contra o ser humano, seja qual for a deficiência. Ele sempre promoveu a desmotivação, instabilidade e frustração das pessoas que ocasionalmente ou por nascença são considerados como diferentes do que a sociedade convenciona como normal.
Em se tratando especificamente da questão do surdo, segundo alguns teóricos e estudiosos da área, a necessidade dos pais em conseguir que seus filhos aprendam a falar é superior à expectativa de os incluírem efetivamente e participativamente na sociedade.
O medo e também o preconceito de muitas famílias ao verem seus filhos repudiados social ou até familiarmente, não os faz enxergar a necessidade que há na busca por auxílio especializado, para todos os envolvidos neste processo, diminuindo a sobrecarga de discriminação na vida do deficiente auditivo.
É indiscutível a importância familiar no desenvolvimento do surdo ou do ouvinte. É nesta instituição que inicia a base para a cidadania do homem.

2. A FAMÍLIA: BASE PARA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE



A importância familiar no processo educacional é indiscutível. É dependendo da relação que se é construída no meio familiar que se refletem a personalidade, o comportamento e as ações dessas crianças.
O reconhecimento dessa instituição no processo educacional também é previsto na LDB, ao exigir que haja uma articulação entre família e professores para a efetivação do processo de aprendizagem e auxílio de seu desenvolvimento social, como também, criando uma parceria, com os serviços especializados, tomando preciosas decisões sobre o trato com o surdo. Em pesquisas feitas sobre o assunto, descobriu-se que em diversos países e também no Brasil, apesar da proposta bilíngüe se limitar a poucos centros e escolas, devido à aceitação da LIBRAS como 1ª língua dos surdos, muitos resultados desta união entre pais, professores e instituições, fizeram com que o atendimento educacional fosse satisfatório.
As famílias precisam se conscientizar cada vez mais que, para que seus filhos possam exigir sua participação na sociedade é necessário que este se faça entender perante a sociedade ouvinte e quanto mais cedo o surdo tiver contato com a Língua de Sinais, sua competência lingüística necessária à comunicação será adquirida.
Dessa a forma a concepção de surdo passa de uma patologia para ser considerado apenas como uma "diferença," e o levará a inserção em uma comunidade, inclusive a própria comunidade surda, a qual mesmo que minoritária, tem equivalentes capacidade e potencialidade das comunidades ouvintes, dentro de seu contexto.

Diferente do caso dos deficientes que possuem famílias que rejeitam a LIBRAS, pois estas acabam prejudicando os próprios filhos na busca da identidade de cada um deles, por não possuírem um referencial de apoio e base familiar. Atitudes como estas podem prejudicar a luta pela causa da inclusão social em detrimento ao preconceito, vivenciando tudo isso dentro do próprio lar.
Muitas vezes a interação entre pais ouvintes e filhos surdos é deficitária, principalmente quando o diagnóstico da deficiência é comprovado desde cedo, e a falta de paciência e conhecimento por parte dos pais poderá levar a criança ao isolamento e conseqüentemente a interação necessária entre eles.

3- EDUCAÇÃO: LETRAMENTO E BILINGUISMO NO AUXÍLIO À COMUNICAÇÃO

A luta para que a LIBRAS seja implementada nas escolas é uma realidade inquestionável, pois o que se observa é que o uso do oralismo ainda é muito difundido, mesmo após desastrosos resultados. A imposição aos surdos para que estes desenvolvam a fala é algo corriqueiro e este "falar" que se impõe é apenas artificial, pois o surdo não conhece esta particularidade que pertence aos ouvintes. O surdo pode até mencionar algumas palavras, todavia, isso dificilmente significa que ele aprendeu e que sabe realmente o que está falando.
A compreensão sobre o processo educacional que envolve as experiências do deficiente auditivo é amparada pela LDB em seus artigos 58, 59 e 60, que trata sobre a educação especial. Através dela podemos perceber alguns avanços e vantagens como é o caso da inclusão do surdo nas salas de Ensino Regular e de dever do Estado, com direito a serviços especializados, demonstrando a importância do trabalho com esses educandos.
Esse apoio especializado é de suma importância, como dito anteriormente, não só para os filhos surdos, mas como também para suas famílias. Pois a escola servirá como alavanca para as propostas das diretrizes, principalmente em seus artigos de I aV.
Os estabelecimentos de ensino regular precisarão realmente reestruturar o currículo escolar para que atingissem esse público também e qualificando alguns professores para o trato com o deficiente auditivo. Nas instituições especializadas não é diferente, ela deverá passar por ajustes, objetivando a inclusão do surdo, trabalhando entre tantas coisas, as experiências já trazidas por eles, para a formação da sua identidade.
A valorização do aprendizado da LIBRAS, como língua oficial dentro de uma comunidade, levará ao surdo a serem autores de desenvolvimento desta, cumprindo com a proposta da LDB, de alcançar o progresso do educando, através do seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação profissional.
O profissional de educação especial, seja ele ouvinte ou não, precisa planejar-se de forma a considerar de que modo algumas habilidades poderão ser alcançadas, contribuindo assim para o desenvolvimento cognitivo dos surdos, podendo diante das ações propostas optar pela orientação que fundamenta o Bilingüismo e o Letramento.
Aqui no Brasil e em diversos países há poucos centros que trabalham com a proposta bilíngüe principalmente pela resistência à aceitação da Língua de Sinais como primeira língua dos surdos, entretanto, os resultados das experiências bílingues no atendimento educacional do surdo sempre foram satisfatórias.


O histórico das pessoas surdas, no Brasil, é algo que vem merecendo destaque no meio educacional e gerando polêmicas bastante plausíveis. O que antes era visto como "deficiência" e ausência de capacidade, hoje é considerado como sendo "diferente", ou seja, os surdos têm outros métodos de aprendizado, por meio da Língua Brasileira de Sinais, tornando-os aptos a exercer seus direitos de cidadãos.
A proposta do Letramento também vem para somar à consecução dos objetivos que devem ser alcançados, pois trará aspectos que já fazem parte do repertório do aluno, estimulando assim o interesse deles, ratificando o que prevê os PCN?s do Ensino Regular.
A função do professor neste processo também influenciará o processo cognitivo, principalmente se for um profissional especializado ou instrutor surdo, fazendo com que os alunos se sintam seres integrantes do contexto social, estando mais dispostos ao ensino e seguros em relação ao processo de ensino-aprendizagem.
Na proposta bilíngüe, a LIBRAS deve ser introduzida como primeira língua e o Português (língua majoritária) como a segunda. A língua de sinal precisa ter certa funcionalidade para o discente para que a importância dela se projete introspectivamente e flua naturalmente no processo comunicativo.
A introdução, o mais cedo possível, da Língua de Sinais na educação do surdo possibilitaria a aquisição da linguagem de forma a ativar sua competência lingüística e assim facilitar o aprendizado do Português nas modalidades oral e escrita, principalmente por aumentar a compreensão.
Segundo algumas experiências, à medida que se há o conhecimento da língua de sinais por parte dos pais, alunos e até mesmo da sociedade, se torna muito mais fácil a interação entre a comunidade e a dissolução de qualquer tipo de preconceito.


CONCLUSÃO

A exposição à LIBRAS, desde o inicio da vida das crianças surdas, garantirá aos surdos, o direito a uma língua de fato e, em decorrência dela, um funcionamento cognitivo satisfatório e esse facilitaria o ensino do português. Dentro da proposta bilíngüe, a língua de sinais é uma língua natural, adquirida de forma sistematizada e como primeira língua dos surdos, deve ser ensinada em língua de sinais.
A cultura do surdo é representada principalmente pela sua língua que tem propiciado a união dos surdos e continua viva nas comunidades. A história dos surdos mostra a necessidade de permanecerem unidos, de construírem uma identidade própria, "um lugar de determinação própria de seu grupo.
Além da questão lingüística, é fundamental estar atento à cultura que a criança está inserida. Tanto a comunidade surda como a ouvinte têm a sua cultura e, por isso, uma proposta além de ser bilíngüe deve ser bicultural. Isso é, deve favorecer o acesso natural do surdo à comunidade surda, permitir que ele se reconheça como parte integrante dessa comunidade e participe ainda da comunidade ouvinte.
Dentro desta perspectiva, o surdo só irá desenvolver-se se tiver uma identificação sólida com o seu grupo, respeitados os seus aspectos psicológico, social, cultural e lingüístico, principalmente pelos familiares e profissionais que atuam junto a esse grupo.
Hoje, com o movimento de inclusão, é cada vez maior a necessidade de se criar um espaço, junto às escolas, para seus profissionais se atualizarem em LIBRAS ou conhecerem a língua capaz de aproximá-los e de auxiliá-los a compreender os alunos surdos incluídos e instrumentalizá-los para ensinar. Além disso, considerando a nova política educacional, esse trabalho deve vir integrado com um atendimento de apoio á família, visando garantir o desenvolvimento adequado ao aluno e se necessário trabalhar essa concepção de que a valorização da oralidade se supere sobre a efetiva comunicação expondo ao surdo o contato com a segunda língua, incluindo-os em um mundo que é instituído na base de sua língua oficial.
E é assim, que baseado em um atendimento especializado que oportunidades serão oferecidas e esclarecimentos sobre a surdez serão efetivados.
















REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LACERDA, C. (2000) O intérprete de Língua de Sinais no contexto de uma sala de
aula de alunos ouvintes. Trabalho submetido à apresentação na 23ª Reunião da
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Marciel, Mirian de Oliveira. A Ação Pedagógica na Educação de Surdos: O Bilinguismo e
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