Ultimamente, em nome da saúde, vemos cada vez mais jovens sarados. A palavra Sarado remete à lembrança de muitas conjecturas no tocante ao jogo em que as palavras podem ser aplicadas em diferentes contextos.

Sarado pode estar associado à cura de uma determinada doença, seja ela psíquica, corporal, espiritual, financeira, moral e assim sucessivamente.

Hoje vivemos a sociedade do espetáculo, o que não é visível, não existe! Nesta cultura narcisista encontramos, em nome de uma pseudo-saúde, uma variável quantidade de jovens que buscam, nos novos templos de Afrodite, à academia, o parâmetro da beleza, ou seja, ser um jovem Sarado.

No entanto, a perda que a palavra passa a representar no meio social denota problemas profundos, pois, jovens sarados são belos e, logo, os encontramos em cantinhos obscuros aos beijos e abraços, como se a palavra Sarado, desse conotação direta a uma vida sexualmente ativa e prematura.

Jovens que a qualquer custo e preço buscam por músculos e muitas vezes se esquecem do mais essencial que existe por detrás do homem, a sua humanidade, os seus afetos, a capacidade de lidar com o sofrimento psíquico que não é estagnado, pois o mesmo retira do indivíduo a capacidade de crescimento, de refletir e analisar a vida. O que torna o sofrimento uma gama de valor significativo para o crescimento pessoal em todas as suas esferas.

No ambiente escolar é notória essa conjectura, tendo em vista a aprimoração do conhecimento, a escola passa a fazer parte de um espelho “Narciso não acha belo aquilo que não é espelho”, assim passam a desfilar pelos corredores mostrando a beleza da juventude mascarada por um corpo sarado, porém, altamente danificado. Os jovens deixam de pensar, não sabem o que querem, e querem o que não sabem. O desejo é a única forma com que se satisfazem, pois o desejo do homem sarado é sempre um nada. Em outras palavras, em um corpo belo se esconde o desejo pela sedução, necessidade de tornar-se visível e, a pedido de um namoro, logo se legitima em uma sociedade líquida, o direito de fazer sexo sem compromisso.

Os jovens sarados não conseguem ter um plano de vida, traçar um caminho a ser percorrido em sua vida existencial. Apenas vivem, treinam, beijam, festejam. Eis aqui o culto ao hedonismo patrocinado por pais que, muitas vezes, em nome dessa saúde desenfreada acabam por valorizar tais valores em substituição ao crescimento acadêmico.

Os jovens sarados são grandes e belos, mas basta um pequeno relato em sua vida acadêmica para fazer os músculos despencarem e, em nome do patrocínio, chegam os pais financiando e até reafirmando que o filho estuda muito e, exigir demais acabará prejudicando- no. Pobres! Ignoram que machucaram seus filhos ao tirar deles o direito acadêmico de rigor e conteúdo, e interpretativo em nome de outra preferência: pegar seus pequenos “Hulks” no colo e dar de alimentar com linguajares pobres, neutros e pouco condizentes com a realidade que seus filhos estão experimentando.   

O corpo é realidade do sarado, mas não um sarado musculoso e belo, mas um Sarado afetivo, amoroso, dedicado, projetista, capaz de resolver situações com um peso leve. No entanto, nossa sociedade carece de pensamentos, ideias. Nossos intelectuais sarados estão morrendo (Ivan Junqueira, Manoel Monteiro, Rubem Alves e tantos outros), nos falta consciência, amor, responsabilidade; do contrário, ficaremos apenas com os Saradões temporários. O corpo envelhece, mas a consciência, adquiri sabedoria. O que esperar de corpos sarados que não adquiriram características mínimas de consciência, não será na velhice que poderão  tornarem-se sábios. Ao contrário, esses filhos educarão seus filhos de forma pior, dando comidas enriquecidas pelos coquetéis da beleza, enquanto o mundo agoniza o Luto de mais um poeta morto que poderia ter nascido.