IDÉIA  SUBSTANCIAL  DAS  FORMAS

 

Recuperando-me de um grave trauma sofrido numa das mais importantes articulações do membro inferior direito (joelho), me dirigia dolorido, trôpego e só, a uma distinta e vasta área repleta de vegetações: gramíneas e espécies outras diversificadas, das mais simples às mais complexas, desde relva macia a frondosas árvores que bloqueavam os raios solares produzindo áreas sombreadas numa manhã silenciosa, mas de grande expectativa espiritual.

 

Quiçá, nas labutas cotidianas, nas correrias profissionais cujas bênçãos são, sobretudo, as de nos fornecer o pão sagrado de cada dia, jamais poderia viver e sentir as fortes vibrações daquele momento especial, onde as coisas da natureza, do ambiente vegetativo que me envolvia, cobrindo os solos e as estruturas espaciais diversificadas pareciam algo falar de si mesmas, de sua beleza e de sua harmonia, revelando algo substancialmente abstrato de suas estonteantes cores e formas, troncos e galhos, folhas e flores, algo que, certamente, não se traduz pelas vistas humanas, mas que o perceptivo de nós mesmos, em sua sensibilidade profunda, pode captar e perceber, sentir e se extasiar...

 

Filosoficamente, define-se que o universo físico de nossas conceituações astronômicas, é feito de inteligência diversificada na forma, configurando os corpos, sua exteriorização; a natureza que nos sustenta e nos circunda, pois, com suas formas físicas e biológicas são certamente especificações diversas, maiores ou menores, engrandecidas ou minimizadas, de tal cognicidade intrínseca que atua como idéia, ou, como substância ideal, onde se contêm, por determinismo da Lei, os desenhos fundamentais das formas, instituindo preceitos e normas, fatores e vetores que dirigem e traduzem na matéria suas atribuições internas, sendo tais, por isso mesmo, as fontes matriciais de tudo, do átomo ao super-homem, passando, evidentemente, pelas formas vegetais, animais e pelo homem, até que, na perda definitiva da forma, alcançada por evolução, se exteriorize por si só com a brancura reluzente de si mesma, essência purificada de sutilezas angelicais.

Eis, pois, o que se me revelava naquela hora, naquele momento da identidade espiritual de tudo em tudo; da idéia contida na essência íntima das formas, essência cognitiva transcendental!

 

Eis, pois, o que se me revelava naquele encontro de minha alma com a alma das coisas, que se sustentam por múltiplas matrizes, que se mostram, aparecem e reaparecem na realidade do mundo, amparando a diversidade de tudo, que, naquele instante inefável me compreendiam, me auxiliavam, firmando-me os vacilantes passos pela sólida tridimensionalidade vegetativa ambiental.

 

A natureza fala, pois!

 

Pude eu próprio, trôpego e dolorido, conferir e constatar!

 

A natureza fala, pois!

 

Revela-se por si mesma e de si mesma traduz e reflete algo de sua dinamicidade, do que está palpitante no paradoxo de sua silenciosa e calma vida vegetativa, do respiro inverso do meu respiro, da fotossíntese sábia de sua útil e indispensável existencialidade!

 

A natureza fala, pois!

 

E se pode ouvi-la por meio de um sentido oculto, ou, claramente manifestante em nós mesmos, que pode sentir e compreender nos fatos de uma experimentação subjetiva, que autentica e dá a prova inequívoca da Vontade da Lei, que Tudo Cria, Regula, Determina e Guia Por Sua Imanência em todas as coisas, em mim, em você, e, portanto, em cada forma mineral, cada espécie vegetal, cada realidade animal, permitindo ao homem notáveis sínteses da vida, do mundo e do universo numa consciência individual esclarecida, mas que ainda se transforma e se converte para a transcendência das glórias santificantes do Pai Celestial.

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocinio

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