A história do GEISA: Grupo de Estudos e Intervenções SócioAmbientais

 Fernando César Andreoli

 Resumo: Este artigo visa descrever os primeiros anos de história de um grupo de extensão formado por estudantes do curso de engenharia ambiental da Escola de Engenharia de são Carlos/Universidade de São Paulo-EESC/USP. As experiências do grupo na realização de estudos e intervenções socioambientais, seus erros e acertos, poderão contribuir os outros grupos, ONGs e demais organizações que visam trabalhar com a extensão universitária e a sustentabilidade.

 Abstract: This paper aims to describe the early years of history of a group of extension formed by students of environmental engineering course of the School of Engineering are Carlos / University of São Paulo-EESC / USP. The experiences of the group in the realization of socio-environmental studies and interventions, their mistakes and successes can contribute to other groups, NGOs and other organizations aimed at working with the university extension and sustainability.

 Introdução

             Antes de entrar na USP trabalhei por dois anos numa pequena fábrica, entre as coisas que produzíamos havia uma peça de metal utilizada em coleiras de cachorro.

            Um dia meu patrão pediu para criar um protótipo dessa mesma peça mas com o formato de um ossinho nas bordas, rapidamente peguei uma peça e comecei a usiná-la esculpindo as curvas pedidas.

            E foi nesse momento, vendo o formato de ossinho aparecendo que comecei a me questionar: O que é isto que estou fazendo? Há tantos problemas no mundo, tantas coisas erradas e o que estou fazendo de útil? O que estou fazendo de bom? Coleiras de ossinho?

            Nada contra a coleira, o objeto coleira tem até a sua função social, mas produzir o formato de um ossinho numa peça que ninguém nem percebe era algo totalmente sem sentido para mim. Nunca me senti tão inútil e desconectado dos meus ideais como naquele dia.

            Quis começar este artigo contando esta história porque na vida universitária há muitos momentos semelhantes em que paramos pra fazer reflexões como essas: Será que estou no curso certo? Por que vou fazer isso? Pra quem? O que estou fazendo de bom para o mundo? Como é frustrante olhar para as coisas que produzimos e não nos enxergarmos nelas, quantos trabalhos, relatórios feitos por fazer sem nos identificarmos com eles.

            O GEISA muitas vezes serviu para ajudar as pessoas que fizeram essa reflexão, serviu como uma esperança para aqueles que não queriam mais ficar na inércia do sistema produzindo “coleiras de ossinho”. Um grupo que faz sentido na demanda da sociedade, na demanda da universidade e, principalmente, faz sentido nos sonhos de seus membros.

 

           1-      2009

 O início

             A primeira vez que ouvi falar no GEISA foi quando estava na sala de aula do primeiro ano da Engenharia Ambiental em 2009. Gabi 07 pediu permissão para interromper a aula e nos convidou para uma atividade de diagnóstico no bairro ao redor do Campus 2. Lembro-me que na ocasião senti um pouco de vontade de participar, mas não fui.

            Dias depois, conversei com alguns amigos que participaram e me contaram que iria nascer um novo grupo da Ambiental chamado GEISA, iniciais de: Grupo de Estudos e Intervenções Sócio - Ambientais (lembrando que isso foi antes da reforma ortográfica). Não faltaram as piadinhas de que parecia ser nome de travéco.

 Não sei ao certo dizer como foram as primeiras reuniões, suponho que foram poucas e o grupo deve ter ficado um tempinho parado até surgir a proposta da atividade no Bicão, quando entrei.

 A minha primeira reunião do GEISA aconteceu na sala da secretaria acadêmica (SAPA) onde Gabi 05 nos expôs a oportunidade de trabalharmos em parceria durante um evento grande na cidade chamado de Festival Contato.

Assim começou a nossa primeira intervenção, iniciada por uma proposta vinda de fora e ação totalmente dependente de parceria - Esse tipo de estrutura nos guiou por muito tempo.

A sala da SAPA tinha uma divisão no espaço feita por um armário onde se formava um pequeno canto com o antigo sofá, mesinha com revistas e a boneca Berna. Foi ali que na maioria das reuniões de 2009 alguns veteranos “máster” e alguns bixos ficavam brisando, brisando sobre o futuro do grupo e suas três primeiras atividades: O diagnóstico, a intervenção no Bicão e o debate na SEA.

 A primeira intervenção do GEISA

             Dentro das atividades promovidas pelo Contato, havia uma intervenção socioambiental no local conhecido como Parque do Bicão. Apesar de distante da nossa realidade percebemos a importância históricocultural desse parque, principalmente pela existência dentro dele de uma nascente do córrego Medeiros.

            O trabalho do GEISA era apenas de acompanhar as atividades de Educação Ambiental naquele dia e dar suporte ao que precisarem. Eu não fui, outros amigos do grupo foram e contaram que algo surpreendente aconteceu.

A ONG Ramuda estava fazendo uma espécie de teatro com os quatro elementos para abordarem as crianças e no fim plantarem algumas arvores com elas. Foi quando, sem ninguém pedir, as crianças começaram a limpar o parque recolhendo o lixo jogado.

E foi assim que o GEISA pela primeira vez observou o poder da Educação Ambiental, de como ela pode ser capaz de incitar uma ação coletiva em direção à melhoria da realidade. Mesmo sem saber nada dos fundamentos teóricos disso, era uma coisa que havíamos testemunhado que funciona e que certamente não haveria aprendizado disso dentro da sala de aula.

 O primeiro debate do GEISA

             A Esquerdinha, uma das fundadoras do GEISA, trouxe ao grupo a tarefa de organizar um debate durante a Semana da Engenharia Ambiental (SEA) de 2009. Ficávamos brisando nas reuniões sobre como fazer essa atividade, me recordo que havia certa confusão em relação ao tema, algo sobre Extensão ou sobre Publico - Privado.

            Ao ouvir a palavra Privado um certo defensor do Empreendedorismo apareceu nas nossas reuniões e começou a discutir com o pessoal. Não me recordo direito dessa conversa mas lembro quando chegaram a dizer que “quem faz extensão possui um perfil empreendedor”, que “ser empreendedor não significa necessariamente abrir um negocio privado mas também em promover uma iniciativa publica”. 

            Por fim, o debate acabou acontecendo com o tema Extensão mesmo. Recordo-me que foi a primeira vez que subi no auditório do Cetepe. Uma grande roda foi improvisada para iniciar a discussão. Grupos como o NAPRA, a Trilha do Cerrado da Federal, entre outros, foram convidados. E assim se fez a primeira participação do GEISA na Semana da Ambiental.

            Durante o debate, a nossa participação foi tímida por não termos experiência. Os convidados falaram mais e muita coisa foi dita: A importância da extensão, o descaso de como é tratada, comparações entre a extensão promovida pela USP e a da UFSCAR, enfim.

            E foi nesse dia que o GEISA ouviu pela primeira vez o nome Paulo Freire, a partir dai encontramos uma base teórica segura para sustentar o nosso ideal, com o tempo esse nome virou nossa principal referencia e a senha do nosso email.

 O trabalho sobre o Santa Felícia

             O primeiro ano da Engenharia Ambiental tinha uma disciplina anual chamada de -Cultura, Ambiente e Desenvolvimento- onde no segundo semestre a professora Luciana nos pediu um trabalho sobre alguns locais de São Carlos, como ela dizia, aqui tem exemplos ótimos do que não se deve fazer no planejamento urbano.

            Entre os grupos divididos para este trabalho havia um que pediu para fazer sobre o Santa Felícia, eram os bixões do GEISA na intenção clara de aproveitar essa oportunidade para dar continuidade aos planos do Diagnostico Socioambiental que deu vida ao grupo.

            Foi fazendo esse trabalho que pela primeira vez pisei no entorno do campus 2, saímos a procura de “problemas”, caçando  alguns locais feios que pudéssemos tirar fotos e apresentar isso como, na nossa ingênua visão de bixo, impactos socioambientais. Pra depois o GEISA escrever projetos e resolve-los.

            E assim foi feito, tiramos fotos de ruas esburacadas, terrenos baldios com lixo, nascente do Santa Fé como deposito de entulho, barracos humildes demolidos por estarem em APPs e ao lado condomínios fechados também dentro de APPs e com obras enormes de drenagem para protegê-los, etc.

            Depois de 5 anos, olhando pra trás, vejo que esse foi um dos trabalhos que mais me empenhei e gostei de fazer na graduação, não era só por nota, não era só pra apresentar e morrer ali, tinha um sentido muito maior, a trajetória dos projetos de extensão do GEISA e de seus futuros bolsistas começou com esse trabalho. Quisera eu que outros trabalhos, de certas disciplinas da Ambiental tivessem um pouco mais das motivações que tivemos nesse.

 2-      2010

             2010 foi o ano que o grupo começou a deslanchar. Apesar da saída de muitos veteranos, divulgamos o GEISA aos bixos e muita gente aos poucos foram se aproximando.

            Nesse ano também se iniciava a republica Limoeiro, onde a maioria dos moradores eram do GEISA, possibilitando assim muitas reuniões oficiais do grupo lá e também a partilha de várias ideias, sonhos e dificuldades.

            Estava eu no meu segundo ano da Ambiental, ano em que geralmente as pessoas começam a perceber de verdade como é o curso e a buscar algum rumo, alguma área de interesse. É nessa época que as pessoas começam suas ICs, seus planos de intercâmbio, etc. E nesse desdobramento dos caminhos, investimos na extensão com o GEISA.

 Do diagnóstico até a escola Bento

             No início de 2010, entre as principais atividades do grupo estava a continuação do diagnóstico da região do Santa Felícia. O objetivo era bem claro: Descobrir “problemas” socioambientais perto do campus para assim trabalharmos na prática como resolve-los, em outras palavras - brincar de ser engenheiro.

            E foi nesse sair pra caçar problemas que aos poucos fomos percebendo que as coisas não são tão simples assim, que os problemas não eram apenas uma questão de fazer uma derivada ou integral. Dependia soluções complexas muito além do nosso alcance, dependia de um diálogo muito difícil entre sociedade, poder publico e universidade. Mas também dependia de soluções pequenas e simples que até uma criança pode fazer.

            E assim, através da busca pelo diagnóstico chegamos até a Formiga Verde, uma ONG local, e através dessa ONG descobrimos a Mariinha, uma pessoa da comunidade engajada, que através dela chegamos a escola Bento e a nascente do Mineirinho.

            A escola estadual Bento da Silva Cesar foi o palco das maiores realizações do GEISA  nos seus primeiros anos, a diretora nos deu liberdade para a realização de intervenções de Educação Ambiental na escola e em parceria com outros agentes surgiu o projeto “CEU para o Mineirinho”.

            O córrego do Mineirinho atravessa o Campus 2 e uma de suas nascentes fica perto da escola, ao lado de uma pracinha e de uma rua. O local também servia como ponto de recebimento de drenagem pluvial, onde uma grande erosão estava se formando, ameaçando atingir a rua. Também era um lugar que recebia clandestinamente muito lixo, esgoto e resíduos de demolição.

            Através do mote: “Agir localmente pensando globalmente”, a nascente do Mineirinho se tornou a peça chave para a Educação Ambiental na escola, mais do que qualquer teoria que pudéssemos expor e era também a chance de “consertar” o problema na visão engenheirista.  

            Agora é preciso parar um pouco com a história e apresentar as bases que se fundamenta o GEISA:

 As primeiras bases do GEISA e a Práxis – Nossa melhor ferramenta e também maior desafio

Quando entrei no GEISA em meados do segundo semestre de 2009, estava bem claro pra mim o que esperava desse grupo. De uma forma ingênua, tudo se resumia em: Praticar na comunidade do entorno aquilo que aprendemos na teoria em sala de aula. Um alento no meio da rotina de aulas cansativas, um espaço onde pudéssemos fazer a diferença no mundo em vez de esperar nos formarmos pra agir.

            Até hoje esse discurso continua sendo muito atraente, é nosso maior trunfo principalmente para atrair os calouros da Ambiental. Acho que no fundo todo mundo que escolhe fazer Ambiental tem ou tinha um pouco de “Capitão Planeta” escondido, alguma ilusão de que vai ser capaz de mudar o mundo. Depois de um tempo percebemos que as coisas não são tão simples assim e então, para não abandonar o curso, alguns caem no conformismo do sistema e deixam as ideologias de lado, outros se tornam militantes radicais contra o sistema e outros continuam com a ingenuidade tecnicista de tentar inventar alguma máquina ou fórmula secreta que conserte tudo.

            Desses três tipos de “classificação” eu colocaria o GEISA nessa sua primeira fase como o grupo que oferecia um quarto caminho, que atraia os que não queriam se conformar, dialogava com os militantes, mas sem assumir postura totalmente esquerda e de quebra conseguia manter aquele pensamento “ingênuo” sonhador trazendo a extensão como porta da salvação invés do tecnicismo.

            E foi nesse começar a brincar de ser Engenheiro Ambiental que a ingenuidade foi aos poucos se dissolvendo. “Aplicar na comunidade o que se aprende em teoria na universidade”- E o que se aprende na sala de aula? Logo vemos que a universidade não esta referenciada com toda a sociedade, há uma bolha, um buraco que nos separa. Nesse sentido chegamos a um tema que virou uma de nossas bases: A distancia entre a comunidade e a universidade.

            E o que seria “aplicar na comunidade”? Primeiro o que precisa ser aplicado? O que a comunidade de fato precisa? Eis que surge nossa outra base: Diagnostico. Segundo, como “aplicar”? Como executar na comunidade algo que foi pensado e construído fora dela para melhorá-la... Espere! Por que precisa ser pensado e construído fora e quem foi que disse que isso vai mesmo melhorá-la? A universidade? Chegamos assim na nossa base “mãe”: A extensão Freiriana.

            Ao iniciar a escrita desse tópico, eu estava pretendendo falar apenas da Práxis, queria explicar como aconteceu o momento em que descobrimos a necessidade dela. Pra isso precisei me lembrar de como víamos o grupo. Acabei me envolvendo em analisar a descrição que tínhamos ingênua do GEISA e nisso saiu as nossas principais bases. Impressionante que cronologicamente isso também aconteceu, embora a Práxis está embutida no nome do grupo, estudos= teoria, intervenções= prática, só aprendemos de verdade a utilizá-la por volta do segundo ano do GEISA, porque no primeiro ainda estávamos a encontrar nossas bases!

                        De uma forma bem simplista pode-se entender a Práxis como sendo a associação entre teoria e prática, todo grupo que pretende trabalhar com isso deve realizar essas duas coisas de forma simultânea, uma sempre dependendo da outra. Como no esquema a seguir:

TEORIA <=> PRÁTICA

Parece ser simples, mas conseguir enxergar isso na vida real não é fácil.

 Voltando a historia cronológica do grupo, estávamos reunidos com a diretora da escola, o membro da ONG e outras pessoas da comunidade que não me lembro bem. A pauta era sobre o que fazer pra melhorar a nascente do Mineirinho e era esperança de todos chegarmos a alguma solução que envolvesse escola, prefeitura, ONG, universidade e comunidade.

            Pensou-se em fazer duas frentes, uma no âmbito de fazer alguma obra pra conter a erosão e recuperar a área e outra no âmbito de Educação Ambiental com intervenções que envolvessem todo mundo.

            Assim nasceu o CEU para o Mineirinho (CEU=Comunidade, Escola, Universidade), um projeto movido à boa vontade de alguns, a interesses do Rotary Club e de outros e a disposição jovem e ansiosa do GEISA de estar pela primeira vez “aplicando na comunidade o que aprendemos em sala de aula”.

            Logo no começo assumimos a função de criar um projeto para a nascente, onde finalmente poderíamos brincar de engenheiros e fazer as derivadas e integrais terem utilidade. Nessa época o GEISA era praticamente formado por gente do primeiro e segundo ano da graduação, totalmente inexperiente desse tipo de projeto. Numa conversa inesquecível com uma veterana fundadora do GEISA, tomamos um banho de água fria na ideia de fazer esse projeto e finalmente aprendemos o que é Práxis.

            Dentro daquilo que tínhamos perna pra fazer, deixamos um pouco de lado o projeto técnico da nascente e mergulhamos de cabeça na Educação Ambiental.

 A preparação para o dia 29

             Sempre me refiro á essa intervenção como “o dia 29” por ter sido assim que falávamos nas reuniões. Ela marcou não só a mim mas acredito que muita gente também.

            Era pra ser apenas um dia de trabalho na escola com as crianças, fazendo brincadeiras, dinâmicas e demais atividades lúdicas que envolvessem o tema ambiental e a nascente. Parece simples - só que não!

            Cada tema, cada conceito envolvido,cada brincadeira, cada detalhe foi muito discutido dentro do grupo, muito discutido mesmo. Por um lado isso é bom, por outro trouxe uma característica de lentidão, de parecer agir pouco e discutir muito que futuramente nos trouxe problemas.

            Nessa preparação para o dia 29 tivemos uma ajuda importantíssima da Pazu, a maior referência sobre Educação Ambiental da USP São Carlos na minha opinião. Seus conselhos, dicas e sugestões foram fundamentais. Nascia ali uma amizade, uma parceria e uma admiração por essa grande profissional.

            Lembro com carinho  quando testamos as brincadeiras entre nós mesmos no Limoeiro. Marmanjos agindo como criancinhas, ou Engenheiros Ambientais aperfeiçoando suas técnicas de ação.

 A música do Mineirinho

             Numa manhã após uma festa na republica Limoeiro, casa toda bagunçada, acordei com o Bacon me dizendo que estava pensando em fazer uma música sobre o Mineirinho. Estávamos na preparação da atividade do dia 29 e uma música infantil com o tema da nascente viria a calhar, imediatamente peguei a minha viola caipira e comecei a riscar uns arranjos.

            E quase que naturalmente, sem demandar muito esforço apenas se deixando levar, fomos construindo a música. E assim saiu: 

Eu conheço uma nascente

Ela é pertinho da gente

Era pra passar água limpinha

Mas tem até papel, mala e latinha

Tem muito lixo e um buraco

Dá medo até de escorregar

Vamos salvar o ambiente

Quem quer vir me ajudar

Mineirinho tá sujinho

Mineirinho tá largado

Mineirinho quer ajuda

Ele tá do nosso lado

             Assim que essa música saiu pela primeira vez, ao som da viola e das vozes roucas minha e do Bacon nos abraçamos felizes. A primeira música do GEISA.

             O dia 29

             Nesse dia tivemos o apoio de vários amigos que, mesmo não sendo do GEISA, apareceram pra ajudar a olhar a criançada e dar suporte ao que tínhamos que fazer. Essa é uma característica do grupo interessante, por ser aberto e livre qualquer um pode ter uma experiência com o GEISA sem precisar se comprometer tanto. Com isso é possível transformar os que estão fora da universidade e também os que estão dentro.

            Creio que não posso lembrar com detalhes de todo o cronograma desse dia, de todas as atividades, dos tropeços e acertos. E mesmo que lembrasse, somente quem participa de atividades como essa pode entender o que é: a tremedeira nas pernas de ver a multidão de crianças, o medo de perder o controle, a surpresa das respostas tão rápidas e sinceras das crianças, o alivio quando você consegue transmitir o que precisa, a angustia quando as coisas não funcionam como prevemos e a felicidade de ver a criança interagindo com a proposta e reproduzindo em ações imediatas ao que incitamos.

            Ao fim do dia, exausto, lembro-me de ir embora me despedindo da diretora com um abraço cansado, uma felicidade sem igual e a voz das crianças na minha cabeça cantando a música do Mineirinho por um longo tempo.

 A continuidade do CEU para o Mineirinho

             Depois do dia 29, outras intervenções foram feitas na escola. Uma delas foi uma passeata até a nascente organizada pela escola onde os alunos levaram faixas escrito “ Salve o córrego do Mineirinho”.

            Nesse dia a prefeitura de São Carlos trouxe algumas máquinas e começou a fazer uma limpeza na nascente, retirando um pouco do lixo e entulho presente nela.

            Outra intervenção também foi feito durante a chamada “ Feira do Conhecimento” onde os alunos apresentam diversos trabalhos. O GEISA teve seu espaço e aproveitamos para conversar com os pais de alunos e demais pessoas do bairro que visitavam a feira para apresentar o CEU para o Mineirinho.

 Abrimos a feira cantando a música do Mineirinho com as crianças e isso rendeu o convite de apresentar na câmara (ou na prefeitura, não lembro) para as autoridades do município onde entregamos uma caixa com cartinhas que as crianças escreveram para o prefeito pedindo que salve o Mineirinho. Isso posteriormente levou o coordenador de meio ambiente municipal (Paulo Mancini), vereadores e outros a escrever um documento oficial manifestando apoio ao projeto.

Uma espécie de “Termo do Compromisso” foi criado para que os moradores assinassem se comprometendo a ajudar na preservação do córrego. O objetivo era levar esse documento de casa em casa com as crianças ajudando a convencer seus pais a assinarem.

Durante a Semana da Engenharia Ambiental de 2010 tivemos um espaço em que eu apresentei o GEISA, foi uma oportunidade importante pois muita gente da Ambiental ouvia falar sobre o grupo mas não sabia o que de fato fazíamos. No fim da minha apresentação uma veterana me falou sobre um projeto que o grupo dela fez de recuperação da nascente do Mineirinho  durante a disciplina do Forest sobre mitigação de impactos – Era exatamente o que precisávamos para a segunda frente do CEU para o Mineirinho!

 O Aeropet do Pedrão

             O GEISA sempre teve amigos, pessoas que não são oficialmente do grupo mas que de vez em quando aparecem para nos dar uma mão, entre essas figuras temos o grande Pedraça.

            Certo dia ele apareceu numa reunião do grupo apresentando-nos um projeto curioso: Um aeromodelo feito de garrafa Pet. O objetivo era realizar atividades de construção desse brinquedo com as crianças aliando com a Educação Ambiental por trás da reutilização do material.

            Seria um projeto brilhante se não fosse pela complexidade de construir esse avião, por duas vezes ele tentou nos ensinar e não conseguimos aprender. Apesar de ele ter se preocupado em criar gabaritos e de tentar simplificar ao máximo, a linguagem utilizada dificultava muito.

            Mesmo assim ele foi nos ajudar numa intervenção na escola, apresentou o brinquedo para as crianças e as ensinou como jogá-lo. Lembro-me de ver um menino dizendo pro outro como segurar o avião no seu “centro de massa”.

            O projeto do Aeropet do Pedrão como ficou conhecido ficou guardado nas memórias do grupo (pelo menos o gabarito dele), apesar de não ter tido muita repercussão ficou na experiência como um exemplo da nossa vocação de estarmos sempre abertos a receber ideias de fora e de formar parcerias às vezes inusitadas.

 O Pedraça nos fez perceber que tem muita gente com projetos e ideias bacanas e que precisam da ajuda de algum grupo para conseguir clarear e direcionar isso pra extensão. E também percebemos o quando o GEISA está (des)preparado para isso.

 A palestra da sétima série

 Durante as reuniões na escola Bento, uma professora de Geografia chamada Solange pediu-nos para realizarmos uma palestra sobre meio ambiente em uma classe de sétima série.

Montamos uma apresentação com slides com o seguinte conteúdo:

- Apresentação inicial

- Definição de ecossistema, sistema, natureza e meio ambiente.

- Explicação de sistema usando como exemplo uma situação imaginária de um sistema isolado simples: Uma onça e dois coelhos que fugiram de um zoológico e entrou em uma chácara onde existia uma plantação de feijão, o dono da chácara sai para fazer uma viajem de cinco anos trancando a propriedade sem perceber a presença dos animais.

- Explicação do Sistema Terra, comparando o planeta a um sistema isolado onde cada ação realizada por um indivíduo dentro dele pode afetar a outros indivíduos.

- Explicação rápida das atividades antrópicas que afetam o planeta: poluição, desmatamento, etc.  

- Depois de falar sobre o sistema macro, retornar ao sistema mais simples e visível: A região da escola Bento, onde se encontra o lar de alguns alunos e a nascente do córrego Mineirinho.

- Por último, motivar as atividades individuais e coletivas em que os alunos podem fazer para preservar o sistema “Região da escola” e consequentemente o sistema Terra.

Após a apresentação, a diretora da escola nos pediu para realizarmos palestras semelhantes e esta em todas as demais classes da escola, ou seja, 23 classes de primeira a oitava série. Foi decidido que iríamos conversar com os demais membros do GEISA para avaliar a possibilidade de conseguirmos realizar tal pedido e também de marcarmos reuniões com os professores para nos orientarem a respeito dos temas a serem abordados.

            Foi nos modelos inspirados nessa atividade e nesses contatos com a escola que futuramente nasceu o projeto de extensão de Educação Ambiental e recursos hídricos.

 Os grupos de estudo

             Paralelamente a toda a prática do CEU para o Mineirinho, o GEISA em 2010 fez alguns grupos de estudos, onde a gente ia se alimentando na teoria seguindo a lógica da Práxis.

            Basicamente a gente escolhia um tema de interesse ou de demanda para aquele momento do grupo, alguém procurava e disponibilizava um texto sobre isso, marcava-se uma data e um lugar e pronto. Era só ler o texto e no dia comentar o que achou dele.

            Entre os grupos de estudos realizados em 2010 foram: Extensão ou Comunicação (Paulo Freire), Diagnóstico Socioambiental e o Desenvolvimento Sustentável (este marcou de forma especial pois gerou uma discussão muito intensa e trouxe ao grupo um  lado crítico e político).

            Apesar de os grupos de estudos mostrarem-se de importância sem igual, não conseguimos realiza-los na frequência que queríamos. Essa é uma dificuldade que perdura por muito tempo. Fazemos graduação, temos provas, trabalhos, festas e tantas outras coisas que encaixar um grupo de estudo do GEISA no meio disso sempre foi  difícil.

              Assim foi o ano de 2010 para o GEISA, grande aprendizado na teoria com os grupos de estudos, grande aprendizado na prática com o CEU para o Mineirinho. Atendia a quem queria discutir política, a quem queria por a mão na massa com as atividades da escola, a quem queria só brincar com crianças, a quem queria cutucar o poder público sãocarlense, a quem queria fazer projetos pra resolver problemas, enfim. De instrumento para atender sonhos e ideologias a pequeno passa tempo extraclasse – tudo era GEISA.

 3-      2011

             Desde o início do GEISA ouvíamos nossos veteranos fundadores falar sobre a possibilidade de escrevermos projetos ao Programa Aprender com Cultura e Extensão. Era um meio de conseguir um financiamento, oficializar parte de nossas ações e garantir o andamento de algumas práticas. Mesmo assim, sabíamos que o caráter voluntário e livre do grupo também deveria permanecer. E como conciliar isso?

 Escrever e enviar projetos parecia ser muito complicado, ninguém tinha experiência nisso e necessitava de uma discussão bem séria. E como o grupo tinha se estabelecido e funcionava bem só no voluntariado a gente foi tocando assim e adiando essa discussão, até 2011.

2011 foi a ano em que começamos tentando manter o mesmo modelo de sucesso de 2010. Mas alguma coisa deu errado, tivemos nossa primeira grande crise e uma grande mudança aconteceu nos rumos do grupo.

 O teatro

 Eu adquiri o hábito de sempre nas férias produzir alguma coisa para o GEISA, foi assim que uma vez resumi o livro Extensão ou Comunicação de Paulo Freire, para possíveis utilizações em grupos de estudos e sistematizei o Método dos Seis Chapéus, uma técnica pra facilitar as reuniões que o pessoal gostou, mas nunca aplicamos.

            Também foi num período de férias que criei uma proposta de teatro para ser utilizada como uma carta na manga na preparação de alguma intervenção envolvendo Educação Ambiental infantil dentro do contexto da bacia do Mineirinho.

Este é o roteiro original, depois que o apresentei ao grupo chegou-se a modificar algumas coisas e a marcar alguns ensaios. Como não havia nenhum compromisso de data nem local para apresentá-lo, foi-se deixando de lado, parou-se de ensaiar e essa produção ficou no esquecimento:

Peça: (título a definir)

 Personagens e seus respectivos perfis:

 Mineirinho: Peixe preocupado com as alterações em seu habitat, representa o próprio córrego do Mineirinho.

 Suamãe: Gata que vai todos os dias beber água no córrego, inteligente e corajosa (o nome é uma homenagem à gata mascote da república Limoeiro).

 Gregório: Peixe que teve sua casa poluída e foi morar com o seu amigo Mineirinho, representa o córrego Gregório.

 Beldo: Estudante que vai sempre a baladas e volta chapado, sem consciência ambiental.

 Nerd: Estudante que se preocupa em terminar sua pesquisa e através dela adquire certa preocupação ambiental.

 Sujão: Morador da comunidade sem consciência ambiental, que sempre despeja lixo em qualquer lugar.

 Plantador: Morador da comunidade ativo em preservar e reflorestar a várzea do córrego, porem sem nenhuma habilidade técnica.

 Zezinho e Ritinha: Crianças da comunidade que sensibilizados pela Suamãe começam a agir em defesa da natureza.

 Cenário: Um córrego e uma área de várzea.

 Materiais necessários:

-Mudas de árvores, uma em destaque chamada Gertrudes;

-Ferramentas de plantio;

-Frascos para coletar amostras da água e talvez equipamentos de análises;

-Lixo, principalmente latinhas;

-Fantasias dos peixes e da gata.

 Enredo:

 Narrador: Era uma vez, um peixe chamado Mineirinho, ele vivia solitário em seu lindo córrego, perto de uma universidade, de uma escola e de uma comunidade. Um dia, ele recebeu a visita de seu amigo Gregório.

 Mineirinho: Olá amigo, tudo bem? Como você está?

 Gregório: Olá Mineirinho, eu não estou nada bem, o córrego onde moro está cada dia mais poluído, não aguento mais viver lá.

 Mineirinho: Se quiser você pode morar aqui comigo no meu córrego.

 Gregório: Eu quero sim, obrigado amigo.

 (surge a gata interrompendo os dois)

 Suamãe: Olá, posso beber um pouco de água desse lindo córrego de vocês?

 Mineirinho: Claro, fique a vontade. Qual o seu nome gatinha?

 Suamãe: Meu nome é Suamãe e o de vocês?

 Mineirinho: O meu é Mineirinho e o dele é Gregório, pode vir aqui beber água sempre que você quiser Suamãe.

 Suamãe: Obrigada, você é um docinho.

 (enquanto ela bebe água eles se afastam e Mineirinho comenta com Gregório)

 Mineirinho: Puxa amigo! Como a Suamãe é linda, acho que ela me fisgou, estou apaixonado pela Suamãe!

 Narrador: E assim, surge um romance entre o Mineirinho e a Suamãe, logo eles começam a namorar, estavam muito felizes até que um dia...

 (entra o Plantador com as ferramentas e a muda Gertrudes)

 Plantador: Aqui, é aqui que você vai ficar minha querida Gertrudes. Vou plantar muitas mudinhas pra te fazer companhia e deixar este lugar bem bonito.

 (Começa a plantar, chega Sujão carregando muito lixo, ameaça jogar tudo em cima da Gertrudes).

 Plantador: Ei! Para com isso Sujão, você vai matar a Gertrudes, não pode jogar lixo aqui!

 Sujão: Então, onde eu jogo?

 Plantador: Sei lá, joga nesse rio aí, mas aqui em cima das minhas mudinhas não pode.

 (Sujão joga o lixo no córrego, bem em cima de Gregório, que “morre”, eles saem de cena, começa uma cena triste, Mineirinho chorando a morte de seu amigo e Suamãe tentando consola-lo).

 Narrador: A morte de Gregório deixou Mineirinho muito triste, mas coisas piores estavam para acontecer...

 (entra Nerd, com seus equipamentos e sua pasta, coleta uma amostra do rio e começa a analisá-la).

 Nerd: Vamos ver como está à qualidade dessa água. Mas o que é isso? Variação do pH, oxigênio dissolvido diminuindo, turbidez aumentando, o que está acontecendo com esse córrego? Parece que ele está sendo poluído!

 (entra Beldo, cantarolando, trançando as pernas com uma latinha na mão, mexe com a plateia).

 Nerd: Vem me ajudar aqui, não estou entendendo esses dados!

 Beldo: Peraí vou vomitar primeiro.

 (ameaça gorfar no rio)

 Nerd: No rio não, vai variar os dados da nossa pesquisa, vomita pra lá!

 (Beldo vomita em cima da Gertrudes e joga a latinha em cima dela)

 Nerd: Mas o que está acontecendo com esse rio? Quem está poluindo ele?

 (pergunta pra plateia, alguém responde que foram os moradores).

 Nerd: Aqueles moradores da comunidade! Eles só pensam neles mesmos e não ligam pra natureza!

 (Nerd e Beldo saem, entra Plantador).

 Plantador: Gertrudes! O que fizeram com você? Quem fez isso com ela?

 (pergunta pra plateia, alguém responde que foram os estudantes).

 Plantador: Aqueles estudantes! Eles só pensam neles mesmos e não ligam pra natureza!

(Plantador sai, Mineirinho e Suamãe começam a conversar, enquanto isso, Sujão vai jogando lixo no córrego e Beldo jogando latinhas nas mudas).

 Mineirinho: Como está feia a minha casa, mal consigo nadar e respirar no meio desse monte de sujeira!

 Suamãe: Esta água que eu gostava de beber está ficando cada vez com gosto pior e está difícil até de chegar aqui pertinho de você com tanto lixo que eu tenho que desviar.

 Mineirinho: Eu não entendo como isso está acontecendo, algumas pessoas até possuem boas intenções, os estudantes querem ver o rio limpo, os moradores querem plantar arvores, mas por que nada está funcionando?

Suamãe: Talvez seja porque eles não estão trabalhando juntos. Alguém precisa fazer eles se unirem.

 Mineirinho: Mas quem pode fazer isso? Nós não podemos porque eles não entendem nossa linguagem.

 Suamãe: Humm! Tive uma ideia!

 Mineirinho: Qual?

 Suamãe: As crianças, elas são muito inteligentes e observadoras. Tenho certeza de que elas podem nos entender e nos ajudar.

 (entra Zezinho e Ritinha)

 Zezinho: Ritinha, você já pensou no que vamos fazer no nosso trabalho de ciências?

 Ritinha: Ainda não Zezinho, não faço ideia do que vamos fazer.

 Suamãe: Miau! Miau!

 Zezinho: Olha aquela gata, parece que ela está nos chamando.

 Ritinha: Parece que ela quer nos mostrar alguma coisa.

 (Suamãe aponta pro “cadáver” do Gregório)

 Ritinha: Ela está mostrando aquele peixe morto.

 Zezinho: Onde?

 Ritinha: Ali

 (Gregório faz uma gracinha, abanando o bracinho).

 Zezinho: Tadinho! Ele foi esmagado por esse monte de lixo.

 Suamãe: Miau! Miau!

 Ritinha: Olha, ela está mostrando outra coisa!

 (aponta pra Gertrudes)

 Zezinho: Coitada dessa mudinha, toda coberta de lixo!

 Ritinha: Temos que fazer alguma coisa Zezinho. Isso não pode ficar assim.

 Narrador: Zezinho e Ritinha decidem conscientizar as pessoas a não poluírem aquele lugar.

(entram Sujão e Nerd, cada um num canto, Nerd fazendo suas anotações e Sujão se preparando pra jogar mais uma montanha de lixo, Zezinho o interrompe).

 Zezinho: Não tio, não pode fazer isso, vai matar os peixinhos!

 (Nerd escuta os apelos do menino e intervém)

 Nerd: O que o menino está dizendo e verdade. O lixo afeta a qualidade da água. Estou percebendo isso nas minhas análises. O oxigênio dissolvido está diminuindo e com isso os peixes não conseguirão respirar.

 Sujão: Puxa! Eu não sabia disso, vou parar de jogar lixo aí então. Mas o que eu faço com esse lixo?

 Zezinho: Ora tio, todo mundo sabe o que devemos fazer com o lixo. Pergunte pra essas crianças aqui.

 (nesse momento, fazer a plateia responder sobre os três RS ,aterro, etc. Após isso, entra Beldo e Plantador, Beldo ergue o braço pra jogar uma latinha no chão e Ritinha o interrompe)

 Ritinha: Não moço, não pode jogar lixo no chão, vai matar as mudinhas!

 (Plantador escuta e interfere)

 Plantador: É verdade, vocês quase mataram a minha Gertrudes, lugar de lixo não é no chão.

 Narrador: Assim, graças ao esforço da Suamãe e das crianças, eles pararam de poluir aquele lugar e o limparam. Logo o rio voltou a ficar limpo.

 (Mineirinho avista Gregório)

 Mineirinho: Gregório! Você ainda está vivo!

 Gregório: Sim, eu estava preso naquela montanha de lixo. Agora estou bem.

 Suamãe: Que bom que você esta vivo Gregório.

 Gregório: Sim. Obrigado por vocês me salvarem conscientizando as pessoas. Agora eu vou voltar para o meu córrego e tentar muda-lo assim como vocês fizeram aqui. Quem sabe eu também encontro alguma gatinha linda como a Suamãe.

 Narrador: E todos viveram felizes para sempre.

 O processo de formação

             2011 marcou uma prática reproduzida em outros anos: A necessidade de se fazer um processo de formação com os bixos e novos membros do grupo.

            Foram tantas as descobertas e conceitos estabelecidos em 2010 que qualquer um  novo que entrasse no grupo ficaria totalmente perdido. Era preciso uma volta as discussões passadas para incluir os novos integrantes no processo, formá-los, para que todos ficassem alinhados na continuação das atividades.

            Assim se fez o processo de formação, basicamente um bloco de grupos de estudos repetidos. E pra não ficar uma coisa chata e repetitiva aos veteranos de GEISA, se propôs que essa volta fosse uma espiral, ou seja, que a gente abordasse o tema sobre outros ângulos, ampliando o conhecimento deles.

 O Debate que nunca aconteceu

             Esta foi uma atividade que começou com uma ideia simples e que foi sendo complexada, complexada, até nunca conseguirmos realizá-la.

Tudo começou com uma proposta que fiz de se construir, durante o processo de formação do GEISA , um debate sobre o tema “ A distancia entre a Universidade e a Comunidade” que seria realizado no inicio do primeiro semestre de 2011 no palquinho do CAASO, aberto a todo o Campus mas com um certo foco nos novos membros do GEISA.

A proposta foi aceita, mas decidiu-se fazer antes desse debate um grupo de estudos sobre esse tema para que o GEISA pudesse participar no debate de forma mais afinada. Tal grupo de estudos chegou a ser realizado, sem um texto específico, mas que trouxe uma discussão e um aprendizado interessante.

Para o debate decidiu-se fazer uma parceria com o Movimento Artístico e Cultural do CAASO – MACACO e assim reuniões entre membros do GEISA e do MACACO foram realizadas.

Durante a discussão o nome do debate foi se modificando, trocaram a palavra “distancia” por “relação” e a palavra “comunidade” por “sociedade”. Também foi se complexando o formato e o local do evento, fora da universidade para que a comunidade pudesse também participar, pensou-se no Teatro São Carlos, no SESC, entre outros.

Também foi longa a discussão da formação da mesa, GEISA, MACACO, MST, MAB, Formiga Verde, Sandro Tonson, Cooperativas, muitos nomes discutidos, chegou-se a pensar até em não ter mesa nenhuma.

Por fim, o MACACO acabou parando de existir e esse debate nunca foi realizado. Uma amostra emblemática de um dos grandes problemas do GEISA: Essa mania de ficar complexando tudo, discutir cada vírgula, cada respiração e acabar deveras não avançando na prática, ficando empacado só discutindo. Isso acabou chegando num ponto que foi marcante, que eu escolhi chamar de “O Grande Racha”que será comentado num outro tópico.

 A intervenção do caça ao tesouro

             Dando continuidade as atividades da escola, outra super intervenção começou a ser elaborada. Essa gerou muita expectativa, semanas antes fazíamos vizitas a algumas classes aplicando uma dinâmica com as crianças e convidando para essa atividade.

            Essa pequena dinâmica  intitulada “Eu quero – Eu preciso” incitava uma discussão sobre o consumismo, onde as crianças falavam bastante. Para aplica-la foi preciso nos dividir em varias frentes, os bixos tiveram um papel decisivo. Eis mais uma característica do GEISA: Os novos integrantes sempre começam tímidos e perdidos, mas depois de segurarem algum pepino numa das intervenções começam a curtir e a atuar de vez no grupo.

            A intervenção do caça ao tesouro foi linda, muita gente de ultima hora apareceu e ajudou bastante. A imagem do Queijo vestido de ETE fugindo da multidão de crianças foi hilária.

           

            A campanha do IPTU Verde

             Durante as atividades do GEISA na escola Bento e no diagnóstico socioambiental da região, nos deparamos com o problema da erosão em torno da nascente.

Embora o diagnóstico nunca fosse efetivamente escrito, fizemos algumas coisas, como por exemplo, num fim de semana em que andamos ao redor da microbacia hidrográfica que teoricamente drena a nascente para termos uma ideia da área e das ocupações sobre ela.

Não há como negar que existiu certo desejo mútuo do grupo de vermos esse problema da erosão resolvido. Queríamos escrever um projeto para a nascente, começamos a buscar os projetos escritos e também a acompanhar as atividades da prefeitura na nascente, que de certo modo foram respostas para as nossas atividades de Educação Ambiental na escola (exemplo disso foi a “limpeza” da nascente que fizeram depois na nossa intervenção do dia 29).

Assim, dentro desse contesto de querer conciliar nossas atividades com ações voltadas a solução desse problema, surgiu a ideia do IPTU.

É fácil perceber que um dos fatores que aumentam a erosão do local é a impermeabilização do solo na região, água da chuva que podia ser infiltrada escoa rapidamente sobre telhas, asfalto e concreto e chega em cima da nascente com muita força. Para diminuir a impermeabilização, entre outras alternativas, plantar árvores e manter um quintalzinho gramado é importante. Sabendo que existem iniciativas pequenas da prefeitura em incentivar isso, fizemos um grupo de estudos sobre as leis municipais do IPTU Verde.

 Neste dia, chegamos à seguinte reflexão: O que significa pagar o IPTU ? - Todos temos a responsabilidade de zelar pelo bem estar do nosso município e quando pagamos o IPTU estamos transferindo parte dessa nossa responsabilidade a prefeitura. Quando a prefeitura promove descontos no IPTU em troca de serviços ambientais individuais, significa que estamos retomando parte dessa responsabilidade de cuidar do meio ambiente. O valor do desconto é apenas simbólico, o objetivo de quem adere ao IPTU Verde é unicamente de mostrar formalmente que o indivíduo também é responsável pela qualidade ambiental de sua cidade, visto que todos vão se beneficiar por um lugar mais arborizado e permeável.

Foi assim que o GEISA teve a iniciativa de buscar difundir o cadastro ao IPTU Verde na região do Santa Felícia.

Em reunião com a ONG Formiga Verde e com o coordenador municipal de meio ambiente Paulo Mancini construímos a Campanha do IPTU Verde (tinha um título: São Carlos mais verde, algo assim) e durante um evento chamado de Festa da Família realizado numa praça do Santa Felícia tivemos um espaço para a divulgação do IPTU Verde.

Neste espaço, construímos uma maquete representando uma cidade em situações de permeável e impermeável e as consequências dos alagamentos para ilustrar de forma lúdica a importância da permeabilização do solo.

Também se foi sistematizada todas as informações necessárias para esclarecer a população de como se cadastrar no IPTU Verde e também se aproveitou para divulgar o Ecoponto local (recém-inaugurado e pouco difundido).

Apesar de alguns probleminhas terem acontecido em relação ao material de divulgação e ao espaço em si a atividade foi realizada e o GEISA cumpriu com todos os seus compromissos.

A atividade terminou se dando de forma pontual, visto que havia um prazo para as pessoas se cadastrarem para obter o desconto do IPTU (30 de setembro), e após essa data se esfriou a motivação para continuar com essa campanha.

 O dia do Grande Racha

             Esse foi um dos episódios mais marcantes da historia do GEISA, uma reunião histórica que marcou a saída de muita gente importante e uma mudança significativa nos rumos do grupo.

            As pessoas geralmente procuram os grupos para preencher suas demandas de ideias, de objetivos e práticas. Teoricamente era para um grupo ter pessoas com visões de mundo, ideologias e formas de atuação semelhantes. Mas isso não acontece num grupo de extensão. Há muitas formas de se pensar e agir na extensão, mesmo depois de passar pelo filtro de Paulo Freire.

            Foi isso que aconteceu com o GEISA, estávamos claramente divididos entre as pessoas com um perfil mais prático, que preferem agir do que ficar discutindo o sexo dos anjos e as pessoas com um perfil mais problematizador, que não dão um passo sem antes discutir tudo. E claro, também havia os que ficavam no meio termo desses dois opostos, mas que tiveram que se posicionar nesse fatídico dia.

            Estávamos chegando ao fim do prazo para o envio de projetos ao Cultura e Extensão, a falta de tempo claramente obrigava prevalecer o pensamento prático: tínhamos que escolher se íamos escrever projetos, se sim quais projetos mandar, escrevê-los e enviá-los. Mas o pensamento discutidor se amarrou nos fundamentos disso: Por que mandar projetos? Qual nosso objetivo com isso? Qual o objetivo do GEISA? O que era o GEISA mesmo? E por ai vai, numa discussão sem fim chata, cansativa, dolorosa, que dava voltas e não saia do lugar, mas essencial.

            Foi a gota dagua para os práticos, que saíram da sala e naquele momento deixaram o grupo. Foi uma decisão difícil, eu mesmo quase me levantei e sai junto com os práticos, estava cansado. Mas entendia que não havia outro jeito de chegar aos projetos se não fosse encarando a onda dos discutidores. E eu queria muito escrever os projetos.

            A saída dessas pessoas foi uma perda irreparável para o grupo, eles tinham ajudado a construir o GEISA e equilibravam a nossa Práxis. Sem eles prevaleceu aquele jeito lento demais do grupo, que discute muito e age pouco, lentidão que tantas vezes me irritava. Fazendo uma comparação tosca com um exército medieval eu diria que nesse dia nós perdemos a infantaria, que tinha a força, o movimento e o ataque frontal e ficamos só com os arqueiros, confiando apenas em suas miras e em suas flechas idealizadas.

            Felizmente os projetos foram flechas certeiras, a aprovação de três deles fez o grupo voltar a ser forte na prática e também a ter outras crises. Mas entre o envio dos projetos e o inicio deles se passou um período longo de lentidão, pensamento discutidor e quase esvaziamento de novos membros.

             Enfim, as definições do que é o GEISA

             E como produto final depois da reunião em que aconteceu o Grande Racha, chegamos nisso:

 Estrutura do GEISA

          

  • Missão:          

 

-Contribuir para uma sociedade com melhores valores;

-Formar estudantes e demais cidadãos (mais) críticos e socioambientalmente mais responsáveis;

-Aproximar a relação entre a universidade e a sociedade.

 

  • Objetivos:      

           

-Ser um instrumento para transformar positivamente o local onde o GEISA está inserido;

-Ser um instrumento para repensar e melhorar a universidade, com enfoque na extensão universitária;

-Promover a discussão dos valores na sociedade.

 

  • Valores:

 

-Busca da sustentabilidade;

-Cooperação;

-Humildade;

-Consumo consciente;

-Pensar no coletivo.

 

  • Meios:

 

-Extensão;

-Projetos (Programa Aprender com Cultura e Extensão ou outros);

-Atividades de formação: grupos de estudo, oficinas, visitas de campo (para integrantes e além);

-Articulação e mapeamento de grupos de extensão, ONGs, instituições, etc.

           

            Ao olhar pra essas definições eu sinto a responsabilidade de pedir ao GEISA, aos atuais e futuros membros, que sempre as guardem e as usem. Cada vírgula foi dolorosamente escrita e o preço de se escrever essas coisas foi a saída de muita gente querida no grupo.

          

Os projetos

             Na primeira vez que o GEISA se aventurou em escrever projetos ao Cultura e Extensão, enviamos esses 4:

 Horta Comunitária: Foi idealizado pela veterana também fundadora do GEISA Gabi 07, ela tinha experiência com isso por sua participação em monitorias pelo CDCC. Não foi difícil de escrevê-lo, pois ela já tinha boa base escrita. Não tínhamos nenhum professor específico pra assina-lo e por fim acabamos contando com a Marió da Química. Foi aprovado com 2 bolsas.

 Diagnóstico socioambiental: Se transformou em projeto a primeira atividade que fundou o GEISA, parte disso se explica porque essa atividade estava muito tempo parada. A professora Luciana abraçou essa ideia e a juntou com planos dela de pesquisa nisso. Ela praticamente escreveu o projeto sozinha e ele não foi aprovado.

 Agrofloresta: A agrofloresta não era uma ação iniciada pelo GEISA, há anos os estudantes da Ambiental a tentaram construir. Transforma-la em projeto foi uma forma de dar um gás para a coisa desempacar. A professora provisória Janete assinou e foi aprovado com 2 bolsas.

 Educação Ambiental: Escolhemos transformar em projeto o que o GEISA mais fez nesses últimos dois anos porque as intervenções que fazíamos, apesar de funcionarem bem no caráter voluntário estavam ficando cada vez mais pontuais. Precisávamos de alguma coisa fixa que assegurasse a presença do grupo na escola e lincasse as intervenções com as demais atividades no bairro ou na nascente. O professor Brandão meio contra a vontade assinou e foi aprovado com 2 bolsas.

             Em resumo essas foram as atividades do GEISA em 2011. Poderia tentar escrever mais, como as outras intervenções na escola realizadas ou canceladas, a proposta de fazermos palestras numa escola da Cidade Aracy para alunos do terceiro colegial, enfim. Não tenho muitas lembranças nem tantos elementos pra isso. Diria que 2011 terminou assim, com as flechas idealizadas dos projetos lançadas, na expectativa de atingir os alvos.

 4-      2012     

 Apresentação do GEISA no manual do Bixo 2012:

                                    

Fala Bixarada!

O GEISA, Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais, tem como um de seus objetivos promover a EXTENSÃO, cujo papel é de diminuir a distância entre a universidade e a sociedade, possibilitando essa importante via de diálogo, aspecto fundamental, porém atrofiado e pouco incentivado na universidade.

O grupo busca enxergar as problemáticas sociais e ambientais de forma integrada e procura trabalhar essas questões com a comunidade, fazendo com que a nossa passagem na universidade não se limite às quatro paredes da sala de aula.

Através de grupos de estudo, oficinas e intervenções, visamos complementar a formação dos membros e outros interessados. Buscamos também desenvolver projetos de extensão e realizar intervenções e atividades na universidade e em seu entorno.

Nossas reuniões acontecem semanalmente, às 12h45 no prédio da Engenharia Ambiental. Quer saber mais? Fale com a gente!

[email protected]            

 Universidade e Sustentabilidade: A liga da Justiça

             Mais ou menos no fim de 2011 e inicio de 2012, o GEISA foi convidado para participar de um grupo do “alto escalão” da USP São Carlos. Professores que admirávamos como a Luciana, Victor Ranieri, a Pazu do Recicla, Alessandra e outras figuras que conheciam o GEISA ou que nos inspiravam formaram um grupo chamado de Universidade e Sustentabilidade e como o próprio nome dizia, tinha a missão de puxar esse assunto na USP São Carlos, nós os apelidamos de “Liga da Justiça”.

            Foi uma grande honra sermos convidados nisso, todo mês algum representante do GEISA participava das reuniões desse grupo, cheguei a ir em umas duas. Entrar no E1, ter acesso literalmente aos pisos mais altos de lá, nas grandes salas de reuniões onde só os peixões engravatados entram e depois tomar um cafezinho com aqueles que nos inspiravam foi uma experiência muito legal.

            Eram pessoas bem sonhadoras e ao mesmo tempo com pés no chão, sabiam do que queriam e dos diversos obstáculos que a universidade impunha. Muitas ideias bacanas de projetos, parcerias, verbas e demais coisas eram debatidas ali. O GEISA seria a ponte entre esse grupo e os estudantes, teoricamente nós entraríamos em tudo o que tinha a ver com atividades de extensão, campanhas de conscientização e demais atividades que dialogassem com os estudantes.

            Com o tempo a gente não foi mais conseguindo ir nas reuniões e também foram parando de nos convidar e não soubemos mais a que fim levou a Liga da Justiça. Chuto dizer que um dos seus frutos foi a Superintendência de Gestão Ambiental da USP.

            Esse experiência nos fez enxergar os professores com outros olhos, embora muitos estão engessados na estrutura quadrada da universidade, sempre existe aqueles com vontade de mudança e que apoiam a extensão e outras lutas dos estudantes. Foi assim que o GEISA aos poucos foi deixando de ser um grupo fechado entre estudantes e passou a buscar parcerias com alguns professores. Não mais usá-los somente como meros assinadores de projetos.

            Arrisco-me a dizer que essa foi a raiz para um ano depois criarmos uma frente de atuação voltada a divulgar e dialogar a extensão com os professores e na USP São Carlos inteira.

 Mesa redonda na SEA: Educação Ambiental

Esta atividade foi realizada durante a IX Semana da Engenharia Ambiental, parceria GEISA – SEA em que estive diretamente envolvido (eu era membro da SEA naquele ano).

Participaram desta mesa redonda os seguintes palestrantes:Paulo Ruffino, João Alberto da Silva Sé, Alessandra Pavesi e como mediadora a Pazu.

            Não foi bom como queríamos, tivemos um problemão com o tempo e os dois primeiros palestrantes foram um desastre. Mas pelo menos conseguimos trazer a Educação Ambiental como assunto pra SEA, coisa que o GEISA sempre quis e indiretamente questionar o descaso que o nosso curso tem com esse tema.

 O primeiro Processo Seletivo

             Foi com grande alegria que recebemos a noticia da aprovação dos projetos, lembro-me desse dia estar numa reunião com a Liga da Justiça e dei a noticia para a Luciana que o projeto dela foi o único que não foi aprovado.

            Necessitava-se agora criar os núcleos para cada projeto e preparar o processo seletivo dos bolsistas, precisávamos de três duplas. Criamos uma comissão de pessoas que não se inscreveram nos projetos e começamos a aprender sobre RH.

            A criação do processo seletivo foi uma experiência nova e que trouxe boa aprendizagem. Como primeira atividade, tínhamos que aprender como fazer esse processo e pra isso fizemos uma parceria com a EESC-Jr.

            Foi interessante aquele dia, ver o GEISA entrando na sala da empresa júnior e se reunindo com um grupo totalmente diferente do nosso. Isso mostrou mais uma vez, lembrando-se das atividades na escola com o Rotary Club no passado, que a extensão está acima dos nossos preconceitos políticos e dogmas ideológicos, que não há problema de grupos totalmente diferentes trabalharem juntos quando existirem objetivos comuns.

            Uma das nossas grandes dificuldades foi descobrir quem eram os candidatos às bolsas e como entrar em contato com eles. O cultura e Extensão restringe muito isso aos professores coordenadores e os nossos eram complicados, tínhamos que praticamente pegá-los pela mão e ficar insistentemente pedindo-lhes para agirem. Um simples telefone ou troca de e-mails parecia ser trabalhoso demais. Por sorte, poucos candidatos se inscreveram e a maioria eram conhecidos nossos, mesmo assim deu um trabalhão reuni-los.

            Cada projeto demandava pessoas com perfis diferentes, mas pensando num perfil geral, definimos selecionar os que apresentavam as seguintes características: Saber trabalhar em grupo, ser um membro do GEISA em potencial, ter uma visão semelhante sobre a extensão universitária, saber se comunicar e expressar suas ideias direito, entre outros. Enfim, pessoas que pudessem estar aptas não só para executar os projetos mas também para ajudar a participar e construir o GEISA.

A avaliação socioeconômica feita pelo COSEAS e as opiniões dos professores coordenadores também foram levadas em consideração, embora pouco influenciasse.

A escolha final foi praticamente um consenso, coincidentemente em cada projeto escolhemos uma pessoa mais velha e mais experiente junto com uma pessoa mais nova.

 Assim pudemos misturar os anos, só não conseguimos ainda sair do tabu de serem todos da Ambiental. Acredito que foi a escolha mais acertada que fizemos e o tempo mostrou que essas duplas realmente funcionaram.

            Durante a prova do processo seletivo, muitos candidatos responderam coisas interessantes. Pra aproveitar isso selecionamos algumas frases e futuramente as usamos em cartazes de divulgação do grupo. Algumas delas:

 ”Sabemos que a USP  é uma universidade elitizada e para mudar isso é necessária a disputa diária. Disputa desde a função social da universidade, a gestão da instituição, suas políticas até as opiniões e práticas dos mais diversos indivíduos que a compõem ou deveriam compô-la...”

                                                     

”Não seria, pois, função de uma universidade pública, atender às demandas da população? Gerando e adquirindo conhecimento, nessa troca dialética de operar?”

 ”Entendo por extensão, uma experiência, um contato intenso e importante do aluno com a comunidade, com a aplicação de projetos num contexto real, com pessoas reais, necessidades reais.”

 “Extensão universitária também é trazer a comunidade à universidade - com projetos educacionais, esportivos, de saúde...”.

 “Extensão universitária provém da ideia de indissociabilidade entre a universidade e a sociedade, de maneira a aplicar o conhecimento produzido aos que nos viabilizam estar em meio universitário.”

 ”Se torna muito contraditório considerar que a universidade se encontra cercada por demandas sócias, muitas das quais são ignoradas em favor do mérito acadêmico”.

 “É fundamental que a extensão esteja ligada ao ensino e à pesquisa para que o conhecimento seja enfim, difundido.”

 “A extensão universitária é algo que muito falta aqui na USP. O estudo para aplicação e difusão do conhecimento, utilizado de forma a atender as demandas sociais, por meio da vivência e experimentação coletiva. Certamente o seu fortalecimento teria grande papel na humanização da universidade, no sentido de torná-la mais acessível de diversas formas.”

 ”A extensão é fundamental forma de propagação e exercício do conhecimento adquirido de forma produtiva.”

 ”Extensão universitária é o pilar da universidade que conecta (tenta conectar) as produções acadêmicas ao meio social e vice-versa, de modo que ambos os eixos troquem informações e cresçam concomitantemente.”

 “Educar não é só transmitir conhecimento, é adquirir conhecimento, é entender que há diferentes formas de conhecimento e diferentes formas de transmitir esse conhecimento.”

 ”Educar é abrir ambas as mentes para que ambas mantenham-se abertas sempre.”

 ”Acredito nesse modelo de educação construída como maneira de abortar o individualismo e exercer nosso papel de sujeitos livres e pensantes.”

 “A educação gera a mistura de ideias e confrontos construtivos... a educação transforma pessoas acomodadas em buscadores do conhecimento”.

 ”O conhecimento não é absoluto e ninguém o detém como verdade absoluta, pois o conhecimento não é adquirido instantaneamente ou é algo finito, uma vez que aprender deve ser um ato contínuo e que nunca chega ao fim”.

 “Penso que esse educar contínuo, construído mutuamente, nos leva sempre a evoluir, com um resultado satisfatório.”

 “Aprender não é um processo hierarquizado. Não se deve entender que ser dotado de conhecimento é qualidade de superioridade. Todos somos leigos, basta mudarmos de assunto. A construção do saber é pautada no compartilhar de ideias e experiências de modo a agregar o que falta e multiplicar o que se tem.”

 “Fui conviver com pessoas que dependem da reforma agrária, pude observar garotos de 5 anos ou menos “dando uma baile” em conhecimentos da terra em engenheiros agrônomos e outras pessoas ligadas à academia.”

 ”Acredito que meu papel como graduanda, cidadã e extensionista, seja no mínimo, direcionar o conhecimento que está a meu alcance a melhorias socioambientais, de modo a enfraquecer a barreira que existe entre a sociedade e a universidade (e acredito na extensão como meio para tal)”

 “A meu ver, a universidade pública tem uma carência enorme quando pensamos no cumprimento de sua função social!”

 “Sentimos a necessidade de mudanças e, portanto devemos agir. Seja em movimentos culturais, debates, oficinas, é importante nos organizarmos e propor tais mudanças, fazê-las acontecer.”

 “O que falta na universidade são pessoas que valorizem o saber popular e o apliquem na sociedade que vivemos e que é repleta de problemas, fazendo com que os mestres, doutores e cientistas saiam da redoma em que são isolados, encontrando a sociedade.”

 ”Quero atuar nos projetos do GEISA para que os conhecimentos aprendidos em grupo possam, de alguma forma, atingir as pessoas de São Carlos.”

 “Na Universidade falta muita coisa, mas talvez a que valha falar agora, é que falta povo. Com o povo vem a diversidade, com o povo vem a realidade, com o povo vem a necessidade.”

 O Projeto da Escola

             Como continuidade das atividades realizadas na escola Bento no passado, esse projeto foi um dos mais bem sucedidos do GEISA. Os bolsistas Dendê e Keka, dois membros do grupo ativos,  conseguiram trabalhar muito bem introduzindo o debate e a reflexão na criançada.

            Atividades constantes de Educação Ambiental começaram a ser realizadas na escola, estabelecendo assim uma linda relação do GEISA com os alunos. Por intermédio desse projeto, foi possível pensar na continuidade das intervenções grandes na escola, onde os bolsistas poderiam contar com a massa de voluntários do grupo pra ajudar nos eventos como o dia da árvore, a feira do conhecimento, etc.

            Visitas com as crianças ao Campus 2 foram planejadas, onde foi possível mostrar-lhes o nosso prédio, a Agrofloresta e o córrego do Mineirinho. Isso trouxe um choque cultural interessante (lembro da cara de desespero da Prof.ª Bernadete ao nos ver entrando com as crianças na Agrofloresta).

 Horta                                 

            Infelizmente não pude acompanhar esse projeto como gostaria. Os bolsistas eram o GPS e a Lari, que de forma meio que isolada iam realizando e nos informando o andamento nas reuniões.

            Pelo que me lembro, eles reuniram materiais sobre horta municipal de São Carlos, prepararam e realizaram a monitoria de visitas das escolas no local.

            Com a virada de 2012 para 2013 e com ela a mudança da gestão administrativa municipal, mudou-se a gestão da horta e o nosso projeto foi aos poucos “tesourado” de lá.

           Agrofloresta

                        Há muito tempo, muitas pessoas da Ambiental tentaram construir num espaço atrás do nosso prédio uma agrofloresta, como uma forma de incentivar a agroecologia, a permacultura e demais atividades que não são exploradas no nosso curso. Também como uma forma de melhorar nossa relação com o prédio, o campus, enfim.

Muitos esforços foram feitos para criar e consolidar essa área, praticamente todo ano os bixos eram levados a esse lugar e motivados a plantar árvores, pequenos mutirões eram formados às vezes para trabalhar e muitos minicursos da SEA com esses temas eram realizados ali.

Mas a falta de uma boa organização, de planejamento e, principalmente, da comunicação com a coordenadoria/prefeitura do campus emperrava e atrapalhava os trabalhos, além de incêndios, tratores que passavam em cima das mudas recém-plantadas, etc.

Com a criação do projeto da Agrofloresta esses problemas foram vencidos e a coisa finalmente vingou. Quando se pensa no êxito dos projetos, a Agro vem imediatamente na cabeça, pra mim é visualmente uma das coisas que mais deu resultado e credibilidade aos projetos do GEISA.

Pedrinho e Alejandro foram os bolsistas que tocaram esse projeto, mutirões, mini cursos e muito suor fizeram a diferença.

 O Integra Amb

             Na Ambiental existem diversos grupos extra classe que influenciam diretamente na formação dos estudantes , com práticas e modos de pensar diferentes.

            Nesse ano , por iniciativa do pessoal da SEA foi feito uma tentativa de unir alguns grupos e construir alguma coisa bacana junto, assim nasceu o “Integra AMB”.

            SAPA, SEA e GEISA realizaram essa parceria, após algumas reuniões fez-se um fim de semana com um mini curso sobre Permacultura dado por um cara que trabalha na Fazenda da Toca, mutirão na Agrofloresta e oficinas diversas.

            Não participei, de forma que não tenho muito a dizer sobre esse evento. No caderno do GEISA, sobre o nosso balanço desta atividade está escrito: “Quem mais participou era a organização.O Integra não cumpriu com a proposta de integração. Avaliação da data (havia prova dos bixos na segunda) tentar integrar mais as pessoas de fora de SAPA/GEISA/SEA e não confiar no numero de pessoas que confirmaram no face”.

            Fica a dica para as próximas tentativas.

           A crise dos projetos

             2012 foi o ano em que o GEISA ficou excessivamente direcionado aos projetos, as reuniões do grupo com o tempo passaram a se tornar apenas um espaço pra ouvir informes dos bolsistas sobre o que estavam fazendo.

            Não demorou muito e isso foi percebido e certo dia, num churrasco da Ambiental, o Alejandro me desabafou de como o grupo estava ficando e logo o Pedrinho e demais membros do grupo compartilharam a mesma angustia.

            Assim, uma super reunião de DR foi marcada, a exemplo da reunião do Grande Racha do ano passado. O GEISA estava em crise, estávamos correndo o risco de perder a nossa identidade como grupo e nos transformarmos apenas num gerenciador burocrático de projetos.

            Ao contrario do que aconteceu no passado, essa reunião foi muito animada e terminou com um jantar de pizzas da “Itália”, prática que começou a se tornar tradição nas nossas reuniões em reps.

            Infelizmente não consigo me lembrar de forma clara quais conclusões tiramos nesse dia, também não consegui achar anotações precisas. Creio que o que mais foi discutido foi  a necessidade de se criar atividades pra além dos projetos, que envolvessem todos os membros do grupo e não só os bolsistas.

            Com a abertura do novo edital do Cultura e Extensão foi discutido quais projetos iríamos escrever dessa vez, numa reunião na republica Trairagem escolhemos:

            Escola, Horta e Agrofloresta – Todos foram reescritos e adaptados segundo a experiência dos bolsistas.

            Diagnóstico socioambiental no Santa Felícia – Acreditávamos que esse projeto não foi aprovado devido ao caráter excessivo de pesquisa que a professora Luciana escreveu, eu e Bacon decidimos reescrever esse projeto dando a ele um caráter mais próximo do GEISA nos tempos em que buscávamos conhecer o bairro.

            Tecnologias Sociais – Esse nome soava agradavelmente nos nossos ouvidos, tínhamos plena certeza de que era tudo a ver com a extensão, mas ninguém tinha experiência nesse tema, escrevê-lo seria como atirar no escuro. Decidimos abrir mão de escrever e procurar nos envolver melhor com o tema no próximo ano, para quem sabe na próxima oportunidade criar o projeto.

 5-      2013

 A atividade com os bichos

             Como todo ano nos dispomos a divulgar o GEISA pros recém-chegados na EESC e em especial na Ambiental, essa foi uma das atividades que mais marcou no sentido de sensibilização.

            Queríamos algo que saísse do padrão de apresentação sob a forma de palestras, foi então que sugerimos uma visita com os bixos no Campus 2 e ao seu redor.

            Começamos com uma visita na Agrofloresta, para chegar até lá vendamos os bixos e os fizemos caminhar em fila indiana sob o som dos batuques, cheiro de incensos e recebendo o tato das plantas ao redor. Uma exploração dos sentidos diferente e bem curiosa. Observa-los tirarem as vendas e vislumbrarem a beleza da agrofloresta com sua diversidade foi maravilhoso.

            Durante a caminhada paramos em alguns pontos, onde explorávamos algum sentido e depois problematizávamos algum tema que o GEISA se envolve, seguido da pequena explanação sobre nossos projetos.

 Paramos na ponte logo após a entrada do Campus para sentir o cheiro do esgoto clandestino vindo a montante e passando pela USP, no córrego debaixo de onde os grandes doutores do saneamento passam todo dia para nos dar aula.

Paramos na entrada do Campus e apresentamos o contraste da gramado do jardim do Campus, todo limpo e cortadinho com o da praça em frente todo comprido e cheio de lixo jogado. A ideia de que a universidade se encontra fechada numa bolha se fazia aparecer.

Depois, andamos até a nascente do Mineirinho passando pela rua sem asfalto, ao lado do Campus, com vazamentos de esgoto pelos bueiros, pisando sobre o lixo no caminho. Foi um choque de realidade importante - Quantas pessoas que já se formaram na Ambiental ao lado e nunca viram essa rua!

Essa ideia de fazer passeios no Campus e seu entorno e usar paradas estratégicas como a ponte do Mineirinho,a nascente e a Agrofloresta, deixou uma característica ao GEISA que posteriormente foi usada no projeto da escola. Também Silvia do CDCC se interessou por essa  prática e nos procurou para pensarmos juntos num projeto de criar um roteiro de visitas no campus 2 para a comunidade.

 A primeira lagrima

             Durante uma aula do prof. Mindu onde estávamos discutindo sobre sustentabilidade e a formação do curso de Engenharia Ambiental, me aconteceu algo inesquecível. Enquanto se falavam sobre as deficiências do ensino do curso visto a grade muito tecnicista, me lembrei de um detalhe e falei: “Quero dizer que a formação do Engenheiro Ambiental não se limita ao ensino, existe também os outros pilares da universidade. E entre eles a extensão é fundamental para a nossa formação. O contato com a comunidade, a comunicação como se diz Paulo Freire é fundamental para nossa formação.”.

             Mal consegui terminar de dizer isso direito, meus olhos começaram a lacrimejar e me segurei pra disfarçar, não sei se alguém percebeu. Nunca tinha dito algo tão profundo e verdadeiro sobre o nosso curso, sentia dizendo aquilo do fundo do coração, lembrando-se da visita que tínhamos feito a nascente dias atrás. Ao mesmo tempo eu estava confirmando aquilo que busquei na minha graduação inteira, a extensão não mais como um simples atrativo extraclasse, mas como fundamento essencial para o tipo de profissional que quero ser.

            Essa foi a minha primeira lagrima pelo GEISA, depois de três anos e meio. Na qual eu agradecia esse grupo por ter me mostrado a extensão e as bases pelas quais eu pude buscá-la também por outros meios como o Projeto Rondon e na própria forma de se fazer a minha iniciação cientifica.

 O rolê do lixo

 Desde o final do segundo semestre de 2012, havíamos percebido que no próprio prédio da Engenharia Ambiental não realiza de forma correta a reciclagem de seus resíduos. Mesmo com a presença de alguns cestos laranja do USP recicla, devido a um problema de logística todo o lixo era misturado e enviado ao aterro.

Assim, no primeiro semestre de 2013 realizamos um ato dentro do prédio. Convidamos formalmente os professores, estudantes e funcionários e chamamos representantes da Coopervida - cooperativa de reciclagem de São Carlos, para esclarecer algumas duvidas práticas sobre a reciclagem e contextualizar a situação da coleta no município.

Nos caracterizamos com chapeuzinhos de jornal e sacos de lixo e saímos pelo prédio batucando para chamar a atenção de todos. Numa dinâmica observamos como descartamos o lixo da Ambiental e vimos que havia muita gente que separa de modo errado. E no fim, tentamos distribuir em todas as salas vários cestos de reciclagem – tarefa que ficou o ano inteiro parada, com os cestos guardados na sala da SAPA.

Embora não houve durante a atividade participação dos professores e de boa parte dos estudantes, foi uma ação de importância estratégia muito válida. Serviu para nos aproximarmos com a realidade da Coopervida, duramente prejudicada com a nova gestão municipal, fazermos uma pequena sensibilização ambiental e a buscar mais abertura dos usuários do prédio as causas do GEISA.

Após esse evento, tentamos dar inicio a logística de reciclagem no prédio buscando um lugar pra armazenar os resíduos. A casinha de gás abandonada atrás do prédio foi uma opção que pensamos, mas não foi aceita pela coordenação do prédio.

Enviamos uma carta ao nosso representante Discente da Comissão de Graduação para apresentar o problema aos professores juntamente com um pedido de uma caçamba de lixo.

Por fim, o ano terminou e essa atividade que a princípio parecia ser rápida ficou incompleta.

 O segundo processo seletivo

             Depois de reescrevermos o projeto do Diagnóstico, colocando uma cara mais do GEISA do que da Luciana, finalmente conseguimos aprová-lo no Cultura e Extensão com 4 bolsas.

Também conseguimos renovar o projeto da horta com 2 bolsas e o da Escola com 1 bolsa. Infelizmente o da Agrofloresta não foi aprovado, mas ficou na esperança do grupo continuar mantendo-o mesmo assim.

Apesar de termos a experiência de fazer processo seletivo no ano anterior, dessa vez não ficou mais fácil. Mais pessoas se inscreveram, pessoas da arquitetura e da química que não conhecíamos e também uma galera da Ambiental parceira do GEISA com vínculos que dificultavam manter a imparcialidade.

Optamos por seguir o mesmo modelo de prova, entrevista e dinâmica – Foi lindo ver, durante a dinâmica, bixos membros do GEISA falando sobre extensão com os concorrentes. Foi também incrível a reunião final com a Prof.ª Luciana para a escolha das bolsistas do diagnóstico.

Terminamos escolhendo Lara para o projeto da escola, Diego e Aline para o da horta, Letícia, Cocada, Tati e Aninha para o do diagnóstico.

Esse processo seletivo marcou pela inédita inclusão de estudantes fora da Ambiental, um grande avanço no caminho de levar o GEISA em mais lugares na USP.

 A pesquisa com os professores

             Uma vez o professor Wiclef fez um desabado durante a aula, e nas muitas coisas que ele falou apareceu a extensão. Nesse dia percebi mais uma brecha que o GEISA poderia investir.

A relação do GEISA com os professores nunca foi muito próxima, com exceção da Luciana e outros poucos os demais professores eram apenas assinadores de projetos – despachantes, como diria o Mindu.

Foi refletindo sobre o desabafo do Wiclef que pensei em criarmos alguma coisa, alguma atividade que envolvesse os nossos professores. Que eles pudessem saber quem somos, o que o GEISA faz e se propõe a fazer e convidá-los para construir junto algo que ajudasse na extensão.

Foi assim que surgiu a ideia de fazermos uma pesquisa com os professores da Ambiental, entrevistá-los e descobrir o que eles pensam sobre extensão, o que fazem e o que poderiam fazer por ela.

Criamos um questionário, dividimos as equipes e começamos esse role.

Acredito que ainda não foram todos os professores entrevistados, falta ainda alguém fazer uma sistematização dos dados coletados. Mas pelo relato de quem já entrevistou parece que a coisa está funcionando. Como eu imaginava, tem muito professor por aí com boas ideias, com vontade de fazer alguma coisa pela extensão, mas que não tem gente pra ajudar ou simplesmente pra motivar - aí que podemos entrar.

Essa pesquisa também pode revelar qual o tipo de extensão que os professores enxergam e quão diferente é da extensão freiriana que buscamos.

 E  assim o bonde decolou...

 

2013 foi o ano em que os projetos do GEISA andaram a todo vapor, muitas atividades integradas. As vezes eu chegava atrasado na reunião e mal percebia de qual projeto estava em pauta, pois ambos estavam tão ligados e alinhados.

E foi assim que o bonde decolou e eu o acabei perdendo. Em meu ultimo ano da graduação, com TG, estágio, a minha entrada em outro grupo e demais atividades fizeram com que eu tirasse o GEISA das minhas prioridades. Não podia mais acompanhar de perto toda a práxis, de forma que no final do ano não pude ver tantas realizações: A parceria do projeto de compostagem no Campus, a mudança do local do projeto da horta para a escola Bento, os mutirões de entrevistas e os resultados incríveis que as meninas do diagnóstico conseguiam encontrar, a criação de um projeto para o assentamento envolvendo tecnologias sociais, enfim. Pouco posso falar sobre tudo isso, para se ter ideia de como o grupo avançou termino apresentando esse esboço do texto do GEISA para o Manual do Bixo da SAPA:

 Extensão na Universidade – O que eu tenho a ver com isso?

Ensino, pesquisa e extensão. Ao ingressar na vida universitária, é comum nos depararmos com esses conceitos tidos como o tripé da Universidade. Mas será que esses três áreas são levadas com a mesma importância? É bem claro que não. Sabe-se que a instituição supervaloriza um tipo estrito de conhecimento e deixa de lado vários outros. A mercantilização da produção tecnológica é explícita ao defrontarmos com o enorme incentivo à pesquisa científica, inclusive de corporações privadas – o que pode comprometer a liberdade de pensamento. Dentro desse contexto, o próprio ensino é afetado. No cotidiano, é frequente encontrar professores que dão aulas pouco didáticas e que muitas vezes ignoram o fato do aluno estar realmente absorvendo conhecimento ou não. Isso não acontece por acaso. A pesquisa é mais bem remunerada, se ganha maior prestígio e conta-se com mais incentivo. Sem dúvida, produzir tecnologia é positivo e fundamental. Entretanto, temos de questionar quem consome essa produção. Será o povo? O mesmo povo que contribui com seus impostos e mantém a Universidade, sendo ela pública? Daí entramos em outra área do tripé: a extensão.

Mas afinal, o que extensão? Trata-se de estabelecer uma ponte entre a universidade e a comunidade, de modo que esta também possa usufruir do conhecimento produzido. Todavia, se considerarmos estender o ato de levar algo a alguém desprovido desse algo, corremos o risco de cair num caráter assistencialista. Paulo Freire dizia que educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.

O GEISA, Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais surgiu justamente com essa proposta: aproximar a realidade universitária da comunidade através de discussões, formações e projetos de intervenção que você, bixete/bixão, vai ter oportunidade de participar! O contraste de realidades é bem claro. Basta você observar a diferença não apenas física, mas social, entre o muro da USP e o bairro que a cerca (principalmente, no campus II). Participar dessas atividades é, além de uma experiência de troca de conhecimento, uma questão de responsabilidade, fazendo a universidade não se limitar as quatro paredes da sala de aula. Sabemos que os recursos públicos investidos na USP são altíssimos e que dependemos desses recursos em nossa formação. Portanto, esse conhecimento adquirido deve ser revertido de alguma maneira para quem o banca. Atualmente é formado por alunos de graduação de diferentes cursos da USP São Carlos. Temos reuniões semanais e alguns projetos de intervenção social, que você vai poder acompanhar de perto durante sua vida universitária. Ficaremos muito felizes com a participação de vocês! Todos são muito bem-vindos!

Hoje, o GEISA atua em cinco projetos de intervenção, incentivados pelo programa de bolsas de Cultura e Extensão concedidas pela USP. Cada um deles tem um professor orientador que, teoricamente, acompanha o desenvolvimento do projeto. Todos foram redigidos pelos próprios estudantes:

Estudo e aplicação de técnicas agroecológicas para reflorestamento de matas ciliares

Os alunos da Engenharia Ambiental iniciaram o reflorestamento de uma área de mata ciliar, próxima ao prédio da ambiental, de forma voluntária e utilizando princípios agroecológicos, estudando sobre técnicas de recuperação de áreas degradadas, flora nativa, legislação ambiental, etc. A identificação de espécies nativas, coleta de sementes, preparo de mudas, técnicas de manejo do solo e o plantio coletivo são alguns exemplos de atividade que compõe o cultivo agroecológico.

Educação ambiental no Horto Municipal de São Carlos- SP

Apesar de fazer parte de um lugar agradabilíssimo, não são muitas as pessoas que conhecem a Horta Municipal de São. Lá, além da própria horta, que já contêm diversas plantas com múltiplos benefícios a oferecer, havia uma pequena produção de alimentos orgânicos e uma compostagem bastante grande, que recebia o lixo de 40 restaurantes da cidade. Esse ano foi um ano de grandes mudanças na gestão municipal então a horta mudou seu foco de atuação, fazendo assim esse projeto se adaptar. Em 2013 esse projeto focou em educação Ambiental na Escola Estadual Professor Bento da Silva César. Os principais objetivos são a construção e consolidação de hortas em escolas municipais de São Carlos, contribuir com desenvolvimento de professores, estudantes e da comunidade interessada, de forma que haja reflexão que estimule os valores e atitudes que adotem práticas ambientalmente adequadas, atuar na formação de educadores ambientais, difundir conhecimentos sobre produção sustentável de alimentos, compostagem de resíduos orgânicos, além da importância da preservação dos nossos recursos naturais.

Educação ambiental e recursos hídricos na microbacia do córrego do Mineirinho

A região do grande Santa Felícia é um dos principais vetores de urbanização da cidade, potencializado com uma área recente do campus da USP São Carlos. Dessa forma, há clara necessidade da preservação dos recursos ambientais locais, tendo, como frente essencial para isso, ações de educação ambiental. Como objetivo visa-se a promoção de ações educativas para turmas do ensino fundamental da Escola Estadual Bento da Silva César. Essas ações buscam dialogar com a comunidade quanto à importância do ambiente local e da necessidade de protegê-lo. Os trabalhos realizados se baseiam em metodologias que seguem princípios de interlocução e diálogo constante do público alvo, de modo a incentivar estes a tomarem posturas ativas e questionadoras no importante processo de construção de conceitos sobre meio ambiente. Uma concepção libertária de educação emanada de Paulo Freire e da Educação Popular, que tem como fundamento político a democracia radical, que reconhece que cada ser humano detém o direito à participação de seu futuro e à construção da sua realidade. O Projeto Escola tem como base a ideologia da horizontalidade e cada pessoa detém o seu tipo de conhecimento. Como explica melhor Eduardo Galeano: "Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas."

Caracterização socioambiental dos entornos do campus II

A área 2 do campus da USP São Carlos teve seu processo de implantação a partir de 2001 na região dos bairros de Santa Felícia, Santa Angelina e Romeu Tortorelli. Trata-se de um território que participa da microbacia hidrográfica do córrego do Mineirinho, cuja urbanização recente data da década de 60, encontrando-se, segundo o Plano Diretor do município, no vetor de crescimento da cidade de São Carlos. Trata-se de uma região de significativa riqueza ambiental e hídrica. A valorização imobiliária local, o aumento da circulação de veículos, a mudança da paisagem e diversidade cultural implicaram em alteração das relações de moradia e emprego. Tornam-se visíveis alguns dos problemas vivenciados pela comunidade no entorno do campus: a disposição inadequada de resíduos e entulho de construção civil em terrenos baldios, as erosões no terreno, as áreas reduzidas de matas ciliares, ligações clandestinas de esgoto; a essas questões associa-se a pouca interação social, educativa e cultural com o campus e seus usuários. Esse projeto consiste num estudo socioeconômico e ambiental do bairro o qual levanta pontos importantes, baseando-se em entrevistas residenciais, visita a postos, igrejas, ONGs e outros pontos importantes ao estudo da interação do sujeito com o meio, bem como suas percepções quanto à influência (ou indiferença) da USP na vida da comunidade.

Projeto de Compostagem dos resíduos orgânicos do bandejão do campus II

A compostagem é uma técnica utilizada para a se obter a estabilização da matéria orgânica, que apresentará propriedades e características físicas, químicas e biológicas diferentes do material de origem, do qual o produto pode ser usado como adubo. No ano passado, um grupo de alunos da ambiental trabalharam duro num projeto de construção de uma barracão voltado a técnicas de compostagem os resíduos orgânicos do bandejão do campus II. A esse projeto, associou-se a questão da educação ambiental. O GEISA, associado a esse grupo, realizou uma oficina com as crianças da Escola Bento, confeccionando uma cartilha informativa que abrangia algumas técnicas de compostagem. Você deve ter percebido que os projetos se entrelaçam por diversas vezes. E não é por acaso! Sabemos que apenas com um trabalho coletivo e uma construção de conhecimento integral é que a extensão poderá ser concretizada. O GEISA é formado por qualquer pessoa interessada a se dedicar aos projetos e trabalhar pelo conceito de universidade que consideramos ideal. Então, venha construir com a gente!