GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DESAFIOS DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM 

ADOLESCENCE PREGNANCY: PROFESSIONAL CHALLENGES OF NURSING

*Roberta Falcão Gomes Mendes *Taciana Willams dos Santos **César René Gouveia de Brito

*Graduandas do Curso Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário Maurício de Nassau; **Orientador, Enfermeiro Especialista em Saúde Pública.

RESUMO                                                                                                                                            Introdução: A gravidez não planejada na adolescência traz sérias implicações biológicas, familiares, psicológicas e econômicas. No Brasil, o assunto é um problema de saúde pública. Objetivo: identificar na literatura artigos que relatem os desafios do profissional de enfermagem diante da gravidez na adolescência, identificando os problemas que os adolescentes enfrentam durante esse processo e ainda analisar a importância do profissional de enfermagem no programa de saúde da família, atuando na prevenção. Métodos: Para tanto, adotou-se a revisão integrativa com 19 (dezenove) artigos através da análise de autores consagrados no assunto, utilizando artigos publicados entre 2010 e 2015. Resultados: Pode-se associar a gravidez na adolescência, em sua maioria, à baixa escolaridade e a pobreza. O profissional de saúde da unidade básica de saúde desempenha um papel de fundamental importância no cuidado e na educação de adolescentes, e tem a responsabilidade de desenvolver ações educativas em saúde, num processo dinâmico e contínuo. Considerações finais: Concluiu-se que o acolhimento é capaz de promover vínculos entre profissionais e usuários, e que a atuação dos enfermeiros na gestação dos adolescentes ainda é pequena, tornando-se necessário qualificar esses profissionais para desenvolver ações junto à família e à comunidade, sendo importante consolidar os existentes para que se possa ter uma diminuição do número de jovens grávidas.                                                                                              Descritores: Gravidez na adolescência, Planejamento familiar, Gravidez não desejada, Gravidez não planejada.

                                                                                                                                             ABSTRACT                                                                                                                                   Introduction: The unplanned pregnancy in adolescence has serious biological, family, psychological and economic implications. In Brazil, it is a public health problem. Objective: To identify in the literature articles that report the challenges of the nursing professional before teenage pregnancy, identifying problems that adolescents face during this process and also analyze the importance of the nursing professional in the family health program, acting on prevention. Method: For this purpose, the integrative review with nineteen (19) articles was used, through the analysis of renowned authors in the subject, using articles published between 2010 and 2015. Results: The teen pregnancy can be associated mostly to low education and poverty. The professional of basic health unit plays an extremely important hole in the care and education of young people, and is responsible for developing educational activities in health in a dynamic and continuous process. Final considerations: It was observed that the host is able to promote links between professionals and users, and that the role of nurses during teenage pregnancy is still small, making it necessary to qualify these professionals to develop activities with the family and community, and it is important to consolidate the existing ones so that to be able to decrease the number of pregnant girls.           Keywords: Adolescence pregnancy, Family planning, Unwanted pregnancy, Unplanned pregnancy.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           .                                                                            

  

 

INTRODUÇÃO                                                                                                                              A adolescência está compreendida numa faixa etária que vai dos 10 aos 19 anos e 11 meses, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No sistema jurídico brasileiro é considerado adolescente a pessoa com idade entre 12 e 18 anos. A palavra adolescência origina-se do latim ad (a, para) e olescere (crescer), significando condição ou processo de crescer. No entanto, quer dizer também adoecer, derivando-se da palavra adolescere, que tem como sentido enfermar.1,2 O emprego do termo puberdade tende a fazer alusão às mudanças biológicas, enquanto adolescência sugere as mudanças psicológicas e cognitivas, porém, ambas as palavras não podem ser claramente dissociadas. 3                                Devido a vários fatores, muitas gravidezes estão susceptíveis de ocorrerem nesta fase. A adolescência é um período de descobertas, a inexperiência é típica da idade, possui uma irresponsabilidade que lhe é peculiar e, em muitos casos, a gestação está associada a uma deficiente estrutura familiar e falta de perspectiva para um futuro melhor. 4                                                                                                  Inúmeros estudos realizados com adolescentes revelam que os jovens não usam meios de prevenção em todas as suas relações sexuais. Numa dessas pesquisas foi constatado que quase a metade dos entrevistados já teriam iniciado sua vida sexual, e desses só 61% teriam usado algum tipo de contraceptivo na primeira relação. Os trabalhos mostram ainda que além de uma gravidez precoce, essas pessoas estão propensas a se infectarem e a propagarem inúmeras doenças, face exporem-se ao sexo sem se prevenir. 5                                                 Ações de educação em saúde seria a solução, pois buscam a origem do problema, trazendo informações sobre prevenção de forma simples e de fácil interpretação. A educação em saúde precisa fazer parte da base, tendo em vista que possibilita a junção entre os demais níveis de gestão do sistema, tornando-se essencial para a formulação de políticas de maneira compartilhada, trazendo ações com a integração dos utilizadores do sistema. 6                                                                        O Programa Saúde da Família (PSF) foi criado e implantado no Brasil em 1994 e é um modelo galgado no trabalho em equipe, priorizando a família em seu local de moradia com atos de prevenção e promoção de saúde. Tem seu alicerce na equipe multiprofissional, sendo um programa de grande valor, pois permite a prestação do cuidado de forma integral. Equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) precisam estar atentas para a definição de programas, ampliando as práticas educativas nesse setor que reconheçam as aptidões socioculturais da área territorial ao seu alcance, operando de modo intersetorial e interdisciplinar.6,7                             O número elevado de casos de gravidez na adolescência, ocasionados, dentre outros, pela falta de informações resultante de uma precária política pública direcionada, que priva os adolescentes de conhecimentos de qualidade sobre os métodos contraceptivos, acarretam desajustes em sua vida, no seio familiar e, consequentemente, na sociedade. Ante o exposto, coloca-se o seguinte questionamento: Quais os desafios dos profissionais de enfermagem frente à gravidez na adolescência?                                                                                                O presente estudo teve como objetivo analisar de forma sistêmica uma seleção de artigos científicos produzidos a respeito da Gravidez na Adolescência: Desafios do Profissional de Enfermagem, elencando assim as pesquisas que melhor relacionam-se com o ofício do Enfermeiro e as metodologias utilizadas.   

MATERIAIS E MÉTODOS                                                                                              Para a elaboração do presente estudo foi adotado a revisão de bibliografia do tipo integrativa,  que é um método de pesquisa utilizado desde 1980, e  divide-se  em seis etapas. Primeira etapa: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; Segunda etapa: estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura; Terceira etapa: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; Quarta etapa: avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; Quinta etapa: interpretação dos resultados; e Sexta etapa: apresentação da revisão/síntese do conhecimento, no âmbito da Prática Baseada em Evidências (PBE), que envolvem a sistematização e publicação dos resultados de uma pesquisa bibliográfica em saúde para que possam ser úteis na assistência à saúde, acentuando a importância da pesquisa acadêmica na prática clínica.8 O estudo foi realizado no período de janeiro a dezembro de 2015, abordando a problemática Gravidez na Adolescência, tendo como suporte a base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram utilizados os seguintes descritores: gravidez na adolescência AND planejamento familiar AND gravidez não desejada AND gravidez não planejada. Os critérios de inclusão foram artigos científicos publicados entre 2010 e 2015, que abordam a temática da atuação da enfermagem na gravidez de adolescentes, trabalhos esses publicados na base de dados, disponibilizados gratuitamente e na íntegra. Como critérios de exclusão, artigos em inglês, artigos com publicações anteriores a 2010, livros, teses de mestrado e teses de doutorado.                                                                                                                                                                           RESULTADOS E DISCUSSÃO                                                                                    Foram encontrados 16 (dezesseis) artigos durante a pesquisa bibliográfica, dos quais 10 (dez) estão na tabela abaixo (Tabela 1) e retratam um panorama geral desses estudos.                                                                                                                Tabela 1. Relação dos artigos que apresentaram maior relevância segundo base de dados, título, autor, ligação com a temática e evidências.

Base de dados

Ano de publicação

        Título / autores

Metodologia

               Evidências

Scielo

2011

Oficina sobre sexualidade na adolescência: uma experiência da equipe saúde da família com adolescentes do ensino médio/ Martins,C,B,G; Ferreira,L,O; Santos,P,R,M; Sobrinho, M,W,L; Weiss,M, C, V; Souza, S, P, S

Pesquisa de campo qualitativa de dados

O estudo revelou a necessidade de conhecer o contexto de vida desses jovens, suas necessidades de saúde, e o modo como vivem sua sexualidade.

Scielo

2014

A reincidência da gestação na adolescência: estudo retrospectivo e prospectivo em região sul do Brasil/  Velho.M.T.C; Riesgo.I; Zanardo.C.P; Freitas. P.A; Fonseca.R.

Pesquisa de Campo descritiva

O estudo revela a necessidade de reforçar em todos os âmbitos a questão da educação e saúde.

Scielo

2014

As consequências da gravidez na adolescência: Avaliando o conhecimento das adolescentes de uma escola pública no município de Patos, Paraíba/ Oliveira.I.G.A; Freitas.Y.M.F; Barros.D.R.

Pesquisa exploratória quantitativa

A pesquisa evidenciou que um dos principais motivos pelos quais as  adolescentes engravidam é o descuido, aliado à falta de informação.

Scielo

2014

Gravidez na adolescência e o risco para gestante/ Oyamada.L.H; afra.P.C; Meireles.R.A; Guerreiro.T.M.G; Júnior. M.O.C; Silva.F.M.

Revisão literária descritiva qualitativa

Dados revelam a importância da divulgação de métodos contraceptivos.

Scielo

2011

Atividade Sexual Precoce na Adolescência: a importância da educação sexual nas escolas/ Belisse.C.L.

Pesquisa de campo qualitativa

É só através do conhecimento que eles poderão tomar consciência e mudar sua prática social.

Scielo

2014

Prática educativa com mulheres da comunidade: Prevenção da gravidez na adolescência/ Nunes.J.M; Oliveira.E.N; Bezerra. S.M.N; Costa. P.N.P; Vieira.N.F.C.

Pesquisa de Campo Qualitativa

A pesquisa mencionou que o enfermeiro é um profissional que tem toda possibilidade para reconhecer pois está bem próximo da comunidade.

Scielo

2014

Acolhimento na estratégia saúde da família: revisão integrativa/ Garuzi.M; Achitti. M.C.O; Sato.C.A;Rocha.S.A; Spagnoulo.R.S.

Revisão literária qualitativa

O acolhimento é um dispositivo capaz de reorganizar a atenção à saúde visando ao atendimento de demanda espontânea.

Scielo

2011

Gravidez de adolescentes na unidade de saúde da família/ Depra.A.S; Heck.R.M; Thum.M; Ceolin.T; Vanini. M; Lopes. C.V; Borges.A.M.

Pesquisa de Campo qualitativa com abordagem descritiva

O enfermeiro é um profissional que tem a oportunidade de se deparar com os mais variados grupos de pessoas.  

Scielo

2013

Atuação de enfermagem na gravidez de adolescentes/

Ferreira.F; Amaral. R.M.S; Lara.F.V; Amaral.R.C.

Pesquisa bibliográfica descritiva

Há uma enorme necessidade de discussão por parte dos profissionais de saúde, especialmente dos enfermeiros.

Scielo

2010

Gravidez na Adolescência um desafio social/ Diniz N.C.

Revisão de literatura narrativa

Torna-se evidente a necessidade de um programa de prevenção na gravidez na adolescência no âmbito da atenção básica.

                                                                                                                                                         A maior parte dos artigos pesquisados, 5 (cinco), publicados  em 2014, destacam que os enfermeiros como profissional de saúde com uma formação  generalista têm a seu favor a possibilidade de uma atuação voltada para diversidade, tanto na esfera preventiva, quanto na   curativa, permitindo assim transitar nessa interfase tão importante quando o assunto é voltado para adolescentes.2,3,4,6,7                                                                                                                                                      Pesquisa aponta que até aproximadamente meados do século XX  a gravidez na adolescência não era considerada uma questão de saúde pública, como também não recebia a atenção de pesquisadores como recebe hoje em dia. No Brasil, esse fenômeno tornou-se mais visível com o aumento da proporção de nascimentos em mães adolescentes que se observou ao longo da década de 90, quando os percentuais passaram de 16,38% em 1991 para 21,34% em 2000 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, 2002).16                                                   Pesquisas realizadas nos últimos anos sobre gravidez na adolescência sugerem que a gestação foi indesejada, dado que restringiria as possibilidades de exploração de identidade e de preparação para um futuro profissional; trata-se do produto da  falta de informação e de um contexto de desvantagem socioeconômica. Os profissionais de saúde têm o papel de informar aos adolescentes sobre os métodos contraceptivos antes que eles iniciem a vida sexual, seja através de orientações em atendimentos individuais ou em atividades desenvolvidas nas escolas. 9,2,16                                                                                                                                                                   Nas últimas décadas a gravidez em adolescentes tem sido considerada um importante assunto de saúde pública em virtude da prevalência com que esse fato vem acontecendo ao redor do mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) refere-se a gravidez na adolescência como uma gestação de risco.  A chamada epidemia da maternidade na adolescência foi reconhecida por volta de 1970, quando as taxas de fecundidade nessa idade já começavam a cair nos Estados Unidos e em outros países de primeiro mundo. 11                                                                                       Informações do Ministério da Saúde, que trazem referências quanto à vida sexual dos adolescentes, confirmam que está acontecendo um aumento no número de jovens com vida sexual ativa. Em 1998, na população com idade entre 16 e 19 anos, 56% dos homens e 41,6% das mulheres já haviam praticado atividade sexual nos últimos 12 meses. Já em 2005, nesta mesma faixa etária, os números passaram a ser de 78,4 e 68,5%, respectivamente. A prática sexual é um assunto que deve ser discutido e debatido entre os pais, educadores e profissionais de saúde, visando encontrar a melhor forma de esclarecer e orientar os adolescentes para uma iniciação sexual mais tardia, formando jovens que tenham responsabilidades e autoestima, praticando sexo seguro. 9                                                                                                                                                                                                                                          1. PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA                                                    Estudo revela que a atividade sexual na adolescência vem acontecendo cada vez mais precocemente, com consequências indesejáveis, como aumento dos casos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) nessa faixa etária,  e gravidez não planejada, com seus problemas decorrentes, inclusive o aborto. Quando a atividade sexual tem como resultante a gestação, gera-se efeitos negativos de imediato e também a longo prazo, tanto para a jovem mãe quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá ainda apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações na gravidez e na hora do  parto. 12                                       Pesquisa mostra que é necessária a implantação de políticas públicas voltadas para a saúde sexual e reprodutiva dos jovens. É de grande importância que os sistemas de saúde possam contar com profissionais, especialmente de enfermagem, realizando o planejamento e executando atividades educativas para os adolescentes, enfocando a saúde sexual e reprodutiva, no sentido de reduzir o índice de gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis. 17                Estudo mostra que uma gravidez não planejada revela uma situação de risco, a do sexo sem preservativo/proteção. Essa atitude poderá refletir, por parte dos jovens, a gravidez como algo gratificante, do ponto de vista afetivo e pessoal. É um momento no qual as adolescentes imaginam e projetam o papel de ser mãe. Além da gravidez propriamente dita, a discussão em pauta coloca em foco uma alteração no ciclo de desenvolvimento destes adolescentes, a partir do nascimento da criança. Nesse sentido, busca-se uma reflexão em longo prazo do fenômeno da gravidez na adolescência. 14                                                                                               Segundo Carvalho, a gestação nessa fase da vida, desejada ou não, provoca um conjunto de impasse no âmbito social, familiar e pessoal. No âmbito social, lamentam-se as falhas dos programas de educação sexual. No âmbito familiar, a gravidez parece indicar dificuldades nas relações entre pais e filhas. No âmbito individual, a jovem gestante se questiona “por que isso aconteceu justamente comigo?” e “o que será agora de minha vida?”. Em outras palavras, a gravidez nessa faixa etária traz sérios problemas para os programas de saúde pública, para os projetos educacionais, para a vida familiar e para o desenvolvimento pessoal, social e profissional da jovem gestante. 12               Pesquisa aponta que a desinformação das jovens vai ao encontro da omissão do papel da família na construção de uma sexualidade saudável. A falta de uma conversa em família, até mesmo por falta de preparo dos pais para um diálogo aberto e de orientação para com esses adolescentes, é uma situação que acaba influenciando as atitudes dos seus filhos que, muitas vezes, buscam nos colegas e em outras fontes informações que podem não ser confiáveis, que confundem e não ajudam no processo de prevenção e educação desses adolescentes em relação ao Papiloma Vírus Humanos (HPV) e a outras DSTs. 19        Segundo Scolari e colaboradores, a educação sexual deveria ser iniciada na família, mas como isso não acontece, a escola também poderia suprir tal deficiência, já que tem um papel importante, através da discussão do tema desde o ensino fundamental. O desafio de ampliar a atenção em saúde integrando os recursos existentes para uma prevenção e promoção nessa área compatível à realidade de cada indivíduo no seu espaço social gerará uma população mais consciente, tendo em vista que os adolescentes representam o futuro promissor ao serem bem assistidos. 9                                                                                                                                                Estudo ressalta que é importante, no entanto, observar que o número de jovens que iniciam atividade sexual, ainda na adolescência, é superior ao de algumas décadas passadas. Além disso, há o estímulo que a mídia oferece para que este início seja cada vez mais cedo, e nem sempre é reforçada a importância do sexo com prevenção, o que favorece a contaminação pelo HPV, a ocorrência das mais variadas DSTs e, posteriormente, o câncer de colo de útero. O Ministério da Saúde alerta que a atividade sexual iniciada ainda na adolescência contribui para gestações precoces e ainda repetidas nesta fase do ciclo vital. 19                                               Segundo Carvalho, a prevenção da gravidez na adolescência pode ser realizada de diversas maneiras. Uma delas é tentar retardar o início da atividade sexual. Já no caso das adolescentes que iniciaram o intercurso, é o uso de contraceptivos. A educação sexual e a utilização de contraceptivos são de caráter individual.  É importante que o enfermeiro avalie o contexto no qual o adolescente está inserido e considere sua solicitação. 12                                                                                                                                                                                                                                                                                     2. ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA DE SAÚDE DO ADOLESCENTE                                                                                                   Os enfermeiros podem atuar e desenvolver ações educativas em saúde, em um processo contínuo, colaborando nessa faixa etária com o intuito de diminuir tais riscos. Todavia, para isso, esses profissionais devem estar preparados para abordar os adolescentes e os temas referentes à sexualidade humana e a fase de adolescência. Criado pela Portaria do Ministério da Saúde nº 980/GM, de 21/12/1989, o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD), é direcionado para adolescentes de ambos os sexos e faixa etária entre 10 e 19 anos, estando focado na política de promoção à saúde, respeitando as diretrizes do Sistema Único de Saúde.12                                                                                                                             Pesquisas para melhoria nessa área revelam que o objetivo é de propiciar à adolescente acesso a serviços de saúde que ofereçam um atendimento integral, antes mesmo do início de sua primeira relação sexual, garantindo-lhe um atendimento que dê apoio, influenciando no processo de decisão sobre anticoncepção e gravidez, com valorização do desenvolvimento da autoestima, da autonomia, do acesso à informação, a serviços de qualidade que lhe propiciem promoção e assistência geral em saúde e em reprodução, além de  um planejamento familiar continuo, com escolha livre e informada.9                                  Estudo aponta que a importância de se trabalhar com grupos de adolescentes seria uma estratégia, pois facilita a abordagem dos temas, favorecendo a reflexão ao projeto de vida, relações familiares e sociais. A estratégia educativa está associada à transmissão de conhecimento, ou seja, na atualidade a educação em saúde é vista como um dos pilares da ideia da promoção humana. Essa nova perspectiva, associada à promoção da saúde, torna-se mais ampla quando se consideram a capacitação e a qualificação de pessoas, tendo como resposta a ampliação do conhecimento, desenvolvimento de habilidades e a formação de uma consciência crítica.13                                                Outro estudo estima que aproximadamente 20 a 25% do total de gestantes são adolescentes, apontando que uma em cada cinco grávidas são adolescentes estando entre 14 e 20 anos de idade. A educação para a sexualidade deve ser trabalhada na atenção primária, e a equipe de saúde tem um papel primordial neste aspecto, abordando a gravidez na adolescência, e as doenças sexualmente transmissíveis. Verifica-se ainda que no Brasil se assiste a um aumento no número de adolescentes que ficam grávidas diferentemente  do que acontece no restante dos países ocidentais, onde a tendência é a diminuição na ocorrência de gravidez em adolescentes. 14                                                                                                                                                                    O Ministério da Saúde define diretrizes, objetivos e estratégias que  têm como finalidades promover, integrar, apoiar e incentivar práticas nos locais onde será feita a implantação e onde esse programa será desenvolvido. A enfermagem vem demonstrando empenho nas construções de políticas de saúde voltadas para saúde individual e comunitária dos adolescentes, por meio de palestras educativas nas escolas e nas unidades de saúde, e da sensibilização da equipe multiprofissional, pretendendo fortalecer o vínculo entre enfermeiro e adolescente para que haja um atendimento integral e individual através da consulta de enfermagem. 12                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 3. FATORES SOCIAIS E SOCIOECONÔMICOS                                                      Estudo ressalta o valor do enfermeiro em promover educação em saúde para adolescentes de modo diferenciado, pela ampliação da vulnerabilidade e pelos riscos socioeconômicos e culturais desses jovens, considerando que grande parte vem de famílias com nível de escolaridade baixo e com dificuldades de acesso a informações. O processo educativo tem que ser sistemático, pois pode colaborar para tomada de decisão, tanto individual quanto coletivamente, isso significa que a educação em saúde deve promover, por um lado, o senso de identidade individual, a dignidade e a responsabilidade e, por outro, a solidariedade e a responsabilidade comunitária. 13                                                                                               Estudo realizado com moradores de uma favela na grande São Paulo, mostrou que os pesquisadores constataram entre as meninas estudadas, "sentir-se só" (24%), "brigas ou tristezas com a família" (23%), "falta de opções na vida" (13%) e "gostar de crianças" (10%) foram as principais razões indicadas para o desenvolvimento de uma gravidez na adolescência. A carência afetiva associada à ausência ou limitação nas perspectivas de vida podem ser fatores determinantes para a ocorrência de uma gestação na adolescência, ao menos, em classes desprivilegiadas. 16                                                                                                                                                           Pesquisa aponta que ao avaliar adolescentes em situação de risco a maternidade é vista como uma forma de ascensão social e uma passagem para a vida adulta, especialmente para garantir a estima de outras pessoas e um futuro melhor para e através do filho. Discutir a gravidez na adolescência daqueles que vivenciam situações de pobreza ultrapassa a simples identificação dos riscos, exatamente pelo fato de que já existem riscos envolvidos como a baixa condição socioeconômica. É necessário não prescindir de uma teoria que possa avaliar a complexidade da gravidez desse adolescente que vivencia o risco constantemente.14                                                                                                                                                 Segundo Ferreira e colaboradores, a sociedade tem passado por relevantes mudanças em sua formação, inclusive aceitando de forma natural a sexualidade na adolescência, sexo antes do casamento e também gravidez na adolescência. Portanto, tabus, inibições e estigmas estão diminuindo e a prática sexual e gravidez na adolescência, aumentando. Dependendo do contexto social em que se encontra a adolescente, a gestação pode ser encarada como um evento normal, não problemático, aceito dentro das normas e dos costumes. Socialmente, a gravidez é um processo no qual há participação efetiva de duas pessoas, e adolescentes sem um parceiro podem sofrer, em algumas realidades, discriminação. 11                          Adolescentes oriundos de microssistemas familiares e educativos descomprometidos com o cuidado e a proteção terão dificuldade para efetivar relações significativas e protetivas. Em casos como esses, a gravidez pode surgir como um facilitador para saída do microssistema familiar fragilizado e para construção de uma nova família. Embora essa adolescente venha assumir um fator protetivo a princípio, é necessário atentar para os novos riscos que poderão surgir a partir dessa transição ecológica, especialmente porque essa passagem é mais efetiva e saudável na medida em que a gestante se sente apoiada e tem a participação de suas relações significativas nesse processo. 14                                 Segundo Dias, ao comparar as representações sociais de adolescentes de diferentes classes econômicas, deparou-se com meninas de um nível econômico menos favorecido que ter um filho era uma bênção divina, algo "natural" da identidade feminina. Na sua visão, ser mãe estaria vinculado à construção da própria família. A autora observou que a representação da gravidez na adolescência esteve atrelada à necessidade de valorização e de um reconhecimento social, o que não ocorria com adolescentes dos estratos médios mais favorecidos, para elas a gravidez nesta fase, além de um comprometimento dos planos futuros, seria uma experiência não normativa no desenvolvimento humano.16                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 4.OS RISCOS ASSOCIADOS À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA                                No Brasil, independentemente do aumento da cobertura do Programa de Saúde da Família, principalmente em regiões menos favorecidas, observa-se a ausência de políticas públicas voltadas para esta população, com omissões tanto nos programas educativos como nos preventivos, com incentivo do uso de preservativos e contraceptivos. Programas que objetivem reduzir a prevalência de gravidez na adolescência devem levar em consideração não apenas o início precoce da vida sexual, mas também a dificuldade do acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, aos métodos contraceptivos. 15                                               Estudo aponta que os fatores de proteção são compreendidos como aqueles que modificam, melhoram ou alteram as respostas pessoais a determinados riscos que não conseguiram adaptação. A rede de apoio social e a coesão familiar são fatores protetivos que, quando presentes, contribuem para o enfrentamento do risco. Na existência da gravidez na adolescência, quanto maior o número de recursos internos e externos, maior a possibilidade de sucesso da unidade familiar, dessa forma o risco poderá ser maximizado ou minimizado perante outras variáveis. 14                                                                                                                                                                                           A gestação durante a adolescência ocorre inesperadamente, trazendo fatores negativos que interferem no desenvolvimento do adolescente, como rejeição familiar  e restrições sociais e econômicas, gerando assim, uma dupla crise, a da adolescência e a da gravidez. Observa-se que essa gestação vem acompanhada de angústia, preocupações, medos e transtornos decorrentes de suas expectativas em relação ao futuro. 11                                                                                      Estudo mostra evidências de que jovens que se desviam  da escola possuem mais chances de engravidar na adolescência, sugerindo que a evasão precede a gestação. Por outro lado, outras pesquisas indicam que a gestação na adolescência seria uma das causas da evasão escolar. Outros trabalhos indicam que ambos os fatores, tanto a evasão anterior à gestação (20,5%) quanto a evasão posterior (40%), estão associadas ao fenômeno de gestação na adolescência. No entanto, a experiência de gestação na adolescência não é necessariamente um fator limitador das oportunidades de escolarização e da busca por um futuro melhor.16                                                                                                                                                                                     É de grande importância orientar também a família para que possa se envolver no processo de maturação desses jovens, visando a possibilidade de diálogo  para que possibilite a conversa sobre o sexo e suas responsabilidades com o filho, a fim de que sejam construídos laços de confiança e segurança na família. É preciso a divulgação, por parte da equipe de enfermagem, acerca do trabalho realizado com os adolescentes, divulgando a disponibilidade de métodos contraceptivos gratuitos no posto de saúde. É necessário o estabelecer um elo  para que o adolescente possa participar dos programas destinados a eles. 9

 CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                                                                     Ao longo do presente estudo ficou evidenciado que a gravidez na adolescência ainda é um grande problema social, e que a falta de informação aliada ao descuido são os principais motivos que levam essas jovens à gravidez precoce. Verifica-se a necessidade de reforçar em todos os âmbitos a questão da educação em saúde e auxiliar na prevenção desse tipo de gestação, bem como, de forma mais comprometedora, evitar que os adolescentes venham a reincidir nas gestações em curto espaço de tempo. A gravidez precoce intervém e desvia  toda a perspectiva de vida futura das pessoas em qualquer classe social.                                    Foi verificado que a atividade sexual na adolescência tem se iniciado cada vez mais cedo, com consequências indesejáveis, como a contração de doenças sexualmente transmissíveis e o aumento do número de gravidez nessa faixa etária, tema deste trabalho, fato que tem sido objeto de preocupação, pois a gestação, assim como o parto e a maternidade, é problema peculiar que, quando ocorre nesta fase da vida, acarreta múltiplos efeitos à saúde física e mental do adolescente, além de causar desajustes no seio familiar, tendo em vista os aspectos emocionais e econômicos envolvidos, com reflexos negativos na sociedade em geral.                                                                                                        Constata-se que não há incentivo por parte do governo para a realização do programa de saúde do adolescente. Analisando a realidade do programa saúde da família, ficou evidenciado que programa funciona de forma precária, os profissionais envolvidos não realizam um trabalho eficaz, assim, tais faltas têm causado um prejuízo para os jovens, privando-os de informações necessárias na prevenção da gravidez.                                                                                                            Conclui-se que o tema gravidez na adolescência precisa ser trabalhado de forma mais consistente, principalmente na família, ambientes que são básicos para esses jovens, com o imprescindível suporte governamental. Dessa forma a importância da atuação do enfermeiro se faz necessária como profissional da área da saúde, tornando-se primordial qualificar esses profissionais para desenvolver ações junto à família e à comunidade, visando diminuir o número de adolescentes grávidas, e que o início da vida sexual venha acontecer mais tardiamente, quando essas adolescentes obtiverem conscientização e maturidade suficientes para ingressarem nessa atividade de forma segura e responsável, utilizando os métodos contraceptivos mais adequados quando não desejarem engravidar, inclusive não se expondo aos riscos de adquirirem doenças transmissíveis por tais práticas nem mesmo infectarem seus parceiros, se for o caso.                                                                    Constatou-se ainda que o número de artigos científicos com essa problemática é bastante escasso, diante da relevância e das implicações sociais à saúde causada por gravidez em adolescentes. Sugere-se, nesse sentido, mais estudos, para que essa temática seja crescente e estudada sob diversas perspectivas a fim de compreender que muitos problemas relacionados à gravidez na adolescência estão vinculados à percepção e atribuição de valores, à sexualidade, à educação e à preparação para o exercício da sexualidade de forma responsável e prazerosa.     

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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