“FILOSOFIA E SOCIEDADE:

O TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA” 

FILOSOFIA E SOCIEDADE:

O TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA 

          O ser humano ao longo de sua existência foi construindo um sistema de relação com os demais de sua espécie, e por ser um ser social inatamente, desenvolveu também a vida em sociedade. Podemos afirmar que nós seres humanos nascemos e vivemos em sociedade porque necessitamos uns dos outros para darmos continuidade em nossa própria existência, assim indivíduo e sociedade faz parte da mesma trama que se recria todos os dias.  O fato de precisarmos uns dos outros não significa que não temos autonomia, mas reforça a nossa capacidade de se organizar mediante as relações humanas e os desafios que a vida nos oferece.

          Somos seres livres. Mas até que ponto vai a nossa liberdade? Quais as opções de liberdade que a sociedade que criamos nos dá? Somos livres dentro de um conjunto de direitos e deveres, atribuições estas inerentes aos indivíduos de uma sociedade.

         A vida em sociedade requer uma complexidade de esforços de cada indivíduo para que seja mais amena. A esse conjunto de esforços dá-se o nome trabalho. Com relação ao trabalho existem muitas perguntas. Para que ele existe? O que é realmente o trabalho?Seu significado é semelhante em todas as sociedades.

        Podemos dizer que o trabalho existe para satisfazer as necessidades humanas, desde as mais simples, como as de alimento, vestimenta e abrigo, até as mais complexas, como as de lazer, crença e fantasias. E se o trabalho existe para satisfazer nossas necessidades, fomos nós que o inventamos. No entanto, essa atividade humana nem sempre teve o mesmo significado, a mesma organização e o mesmo valor. Este é o debate que propomos neste projeto.

  Viver em sociedade requer dos indivíduos como seres sociais, uma vida de cooperação e de superação das dificuldades na busca de realizações pessoais e coletivas, sonhos e utopias. A maneira mais coerente de tornar sonhos e utopias em realidade é através do TRABALHO.

           Em cada tempo e em cada sociedade ao longo da história humana o trabalho foi organizado de uma forma diferente, até mesmo nas sociedades menos complexas como das abelhas e formigas, - se é que podemos dizer que estas sociedades são menos complexas – o trabalho desempenha papel fundamental para continuação da vida em sociedade e da própria espécie em alguns casos. Porém esses animais através do trabalho produzem somente o necessário para subsistência de sua prole, ou seja, produz unicamente sob dominação da necessidade física imediata, enquanto o homem produz livre de tal necessidade.

          Entendemos por trabalho toda atividade física e mental realizada pelo ser humano no intuito de satisfazer suas necessidades ou atingir determinados objetivos.Através do trabalho o ser humano acrescenta um mundo novo, da cultura, ao um mundo natural que já existe e é fruto também do trabalho.

         Nesse sentido o trabalho é uma atividade essencialmente humana, porque implica a existência de um projeto mental que dá vida ás idéias e valores numa busca constante de se alcançar objetivos. Karl Marx diz em O Capital que “O homem não transforma apenas o material em que trabalha. Ele realiza no material o projeto que trazia na sua consciência.” Isso exige no indivíduo além dos esforços físicos dos órgãos que trabalham um esforço mental para trazer a tona algo que está projetado em sua consciência, e é justamente essa característica inerente do ser humano que nos difere de outros animais. Marx ainda continua:

“Uma aranha executa operações semelhantes a de um tecelão, e a construção das colmeias pelas abelhas atinge tal perfeição que envergonha muitos arquitetos. Mas  o que distingue o pior dos arquitetos  da melhor abelha é que ele projeta mentalmente a construção antes de realizá-la. No final do processo de   trabalho obtém-se um resultado que já existia na mente do trabalhador.”

O capital,l.1, seção III, cap.v

 

 

            Émile Duekhem analisa a questão do trabalho diferentemente de Karl Marx. Para ele, o trabalho na sociedade moderna procura demonstrar a crescente necessidade de especialização do trabalho promovida pela produção industrial o que trás uma forma de solidariedade, e não de conflito. Isso para Marx seria a essência do capitalismo.

            Pensemos então sobre o papel do trabalho e sobre sua função social.Essa questão deve ser abordada em duas perspectivas:aspecto social e aspecto individual,para que se descubra qual é a ideologia que predomina no mundo do trabalho da sociedade moderna.

No livro “O que é ideologia”, Marilena S. Chauí recorre aos pensamentos de Hegel e Marx para criar uma contradição e explicar o tema. Seu foco é explicar o que é ideologia através da divisão social e do trabalho.
A autora começa o livro com a teoria Aristotélica das quatro causas, definindo o que ela chama de verdade imutável, o fato de não existir causas finais na natureza, e sim apenas no campo da metafísica. A história pode ser examinada sob dois aspectos: do ponto de vista do homem e da natureza. Ela descreve de forma bem detalhada a dualidade existente entre natureza e homem, necessidade racional e finalidade e liberdade.

Na concepção marxista de ideologia, a autora cita as principais determinações que constituem o fenômeno da ideologia, explicando através de exemplos como a ideologia é o resultado da divisão social do trabalho manual e do trabalho material. Segundo a autora, a dialética marxista é materialista e não espiritualista ou idealista; é algo inerte, constituído por relações mecânicas de causa e efeito.

A autonomia também é bastante discutida; a autonomia intelectual (espiritual), a autonomia dos produtores desse trabalho (pensadores) e por fim a autonomia dos produtos desse trabalho (idéias). Assim a ideologia aparece como um instrumento de dominação, uma forma de ilusão criada pela autonomia intelectual que irá dominar o resto da classe social.

Os homens de certa autonomia intelectual, que possuem a teoria, criam através da analise dos fatos sociais históricos, ideias ou representações, que vão de interesse a classe social em que se encontram. Uma vez produzidas, elas são transmitidas às outras classes sociais, de modo que pareça do interesse de todos. Ideias da minoria tornam-se da maioria, e por fim dominantes.

Essas ideias não passam de ilusões criadas pela classe social dominante. Ilusões do que é o trabalho, para o trabalhador, ilusões do que significa a família para o burguês e assim por diante. A palavra ilusão é substituída por ideologia para melhor dominar. A ideologia do trabalho é algo moral, de prestígio e dignidade, enquanto a verdadeira realidade são as horas cansativas de trabalho, o baixo salário e a mais valia. O ideal de família burguesa raramente se encontra nas famílias burguesas, mas essa é a ilusão implantada.

Para Marilena Chauí o papel da ideologia é impedir que a dominação e a exploração seja percebida em sua realidade concreta. Isso está relacionado com o principio do Kitsch, que em essência significa a tentativa de esconder, de varrer para debaixo do tapete aquilo que há de inaceitável e contraditório na existência humana, criando uma ilusão de que tudo é belo e perfeito. 

O kitsch pode ser entendido como uma forma de ideologia. Na segunda guerra mundial, os meios de comunicação nos países comunistas eram controlados, de forma que o que se passava era somente o lado bom daquele regime; isso é uma forma de transmitir a ideologia. Ideias criadas por uma minoria e passadas à maioria, de forma que se pareçam ideias universais. 

BIBLIOGRAFIA:

GIDDENS, Anthony. Sociologia.  Ed. Artmed. Porto Alegre, 2004.

TOMAZI, Nelson Dácio. Sociologia para o ensino médio. Ed. Atual. São Paulo, 2007.