Thiago B. Soares[1]

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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

 

         Por se tratar de um texto raso em que conceitos são grossamente elucidados a partir da proposta dada pelo título, Marx é o eleito sem floreios, pois quem melhor do que Karl Marx para falar sobre religião? Conquanto haja um número expressivo de pensadores que tratem da religião sob uma perspectiva crítica, poucos se destacam ao nível do fundador da ideia de comunismo.

            Esse pensador ao alicerçar sua filosofia na práxis, destitui a soberana religião de seu lugar de poderio, porquanto para o filósofo o homem somente em sua relação dialética com a natureza, cuja transformação opera na modificação do próprio homem, a esse respeito dizem Japiassú e Marcondes (2006, p. 224) “A filosofia da práxis se caracteriza por considerar como problemas centrais para o homem os práticos de sua existência concreta”, dessa forma, a áurea mística da religião é relegada ao seu pior aspecto, o de alienadora, por considerar a esfera não-material superior à concreta. O marxismo tradicional retoma a concepção de Feuerbach à medida que dá à religião o caráter distanciador da realidade concreta, ao passo que traz o ser para a fuga da relação entre o estado e as potencialidades deste no processo de relação do homem com o trabalho. Marx censura a visão de mundo que a religião traz para a vida do ser através do discurso ideológico de confirmação da problemática existente entre as classes sociais, em outras palavras, o marxismo entende a fundação da religião como o mecanismo de controle que a elite dominadora utiliza para manipular as classes trabalhadoras, ao mesmo tempo em que provia a essas uma espécie de lenitivo cujo um dos objetivos seria a formação passiva das pessoas direcionando-as para uma vida melhor, embora essa promessa soe bastante atual, ainda sim, exerce efeito sobre um montante imensurável de pessoas, mas é nesse ponto que o marxismo existente tenta atuar.  Nessa pauta, a luta de Marx contra a esfera religiosa reside em “acordar” o povo de seu sono dogmático, de forma a voltar a consciência dos sujeitos para o que de fato importa, isto é, o aqui e agora, o homem é um ser histórico e social, disto ele jamais fugirá, porém, é na reconstrução sincrônica do externo que o interno recebe os benefícios, assim prega o materialismo sócio-histórico de Marx.

            No entanto, as doutrinas deste filósofo contribuem para a fundamentação da sociologia, cujo olhar sobre o homem é profundamente marcado pela sua cultura histórica e social, sem deixar de creditar à relegião tanto seus aspectos positivos e negativos, claramente que uma crítica quanto a ambos é um dos objetivos que essa nova ciência reintera. Sub-repticiamente a fala de Marx ecoa nos discursos de diversas disciplinas acadêmicas sob um olhar holístico, porém sem seu halo transcendental religioso. Contribuindo, assim, para a criação de diversas áreas de pesquisas que crescem gradativamente.

            É, com efeito, que se faz necessário um olhar menos enviesado ao ver em Marx um iconoclasta, qual seu contemporâneo Nietzsche, pois é pela contribuição de seu legado que a própria filosofia passou a se atentar para a vida cotidiana, para a prática, e não somente para as indagações de cunho metafísico especulativo. Portanto, olhar pelo lado marxista em relação à religião requer consciência crítica, pois “a religião é lógica e enciclopédia popular, espírito de um mundo sem espírito” (K. Marx, apudChaui, 2009, p. 264).

 

REFERÊNCIAS

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. – 4º. Ed. – Rio de Janeiro RJ: Jorge Zahar, 2006.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª.ed. São Paulo, SP. Ática, 2009.