Ensino baseado na aprendizagem por descoberta no 3º Ciclo do Ensino Básico

Por. Correia Hermenegildo Correia[1]

A aprendizagem é tida como sendo o processo pelo qual o individuo acumula gradualmente novas informações no seu psíquico, e lhe sirva de bases para a sua actuação social. Daí que, O presente artigo com o tema “Ensino baseado na aprendizagem por descoberta no 3º Ciclo do Ensino Básico”. Tem em vista analisar a maneira como os alunos destes níveis aprendem gradualmente os conceitos e como estes lhes servem de bases para o desenvolvimento das futuras aprendizagens.

O processo de aprendizagem não pode ser vista de forma dissociada do desenvolvimento, pelo facto destes dois factores ocorrerem simultaneamente no processo de harmonização dos processos cognitivos, afectivos e psicomotor-experimental. É através das manifestações exteriores que se vê se o sujeito aprendeu, mas estas só se revelam se no interior do sujeito tiver havido um processo de transformação e mudança.

A aprendizagem por descoberta é aquela que é aprendida e é duradoura, neste sentido, os factos e as relações que as crianças descobrem a partir das suas próprias explorações são mais passiveis de ser utilizados e tendem a ser mais bem retidos do que tenham sido memorizados. Porém, no processo de ensino e aprendizagem, os professores devem proporcionar as condições sob as quais a aprendizagem pela descoberta é alimentada e se desenvolve.

As crianças do 3º ciclo, elas são altruístas, tendem a aprender mais facilmente e estas aprendizagens são necessárias e importantes na construção das suas personalidades. Neste sentido é necessário que os professores do ensino básico sejam criativos, flexíveis por formas a criar um ambiente harmonioso, com material adequado para que as crianças aprendam significativamente com os objectos de aprendizagem.

Portanto, a discussão do artigo é meramente qualitativo, e assenta-se nas ideias teóricas de Bruner. Foi possível a materialização do artigo com base na consulta bibliográfica de vários autores. Para além da introdução apresenta um desenvolvimento estruturado da seguinte forma: características gerais, aprendizagem por descoberta, princípios fundamentais da teoria de Bruner, implicações educacionais da teoria de Bruner, considerações finais e Bibliografia.

 

1. Ensino baseado na aprendizagem por descoberta no 3º Ciclo do Ensino Básico 

1.1.Características gerais

A aprendizagem é geralmente definida como uma mudança num individuo causada pela experiencia. Estas mudanças são causadas pelo desenvolvimento (tal como a altura) não são consequências de aprendizagem. Nem as características dos indivíduos que estão presentes no momento de nascimento (tal como reflexos e respostas à raiva e à dor).

No entanto, os seres humanos aprendem tanto desde o dia do seu nascimento (e alguns mesmo antes) que a aprendizagem e o desenvolvimento estão intrinsecamente ligados.

Cararra (2004) apud Tavares (2007:108) Se recuar-se no tempo, “aparecem-nos perguntas tais como, “como aprendemos?” e “como conhecemos?” até então existem paradigmas educativos tradicionais e a provar uma série de mudanças nos enfoques, processos e práticas educativas. Por sua vez, esta situação renova o interesse de pedagogos, psicólogos, filósofos e biólogos não apenas pelo processo de aprender como pelos seus respectivos objectos de conhecimento”.

Deste modo, Segundo Tavares & Alarcão (2002), a aprendizagem pode definir-se como “uma construção pessoal, resultante de um processo experiencial, interior à pessoa e que se traduz numa modificação de comportamento relativamente estável”.  Portanto é um processo, uma vez que ocorre ao longo de um período de tempo que pode ser mais ou menos longo; é uma construção pessoal, estendendo-se que nada se aprende verdadeiramente se o que se pretende aprender não passa através da experiencia pessoal de quem aprende, numa procura de equilíbrio entre o adquirido e o que falta adquirir e através dos seus efeitos, isto é, através das modificações que ela opera no comportamento exterior, observável, do sujeito.

  1. 2.      Aprendizagem por descoberta

Termo utilizado por Bruner para descrever a forma de aprendizagem que resulta, não da simples memorização ou condicionamento, mas de uma exploração activa de alternativas por parte do aluno. Ele defende que a aprendizagem adquirida pela descoberta é mais significativa e duradoura do que aquela adquirida através da memorização.

O ponto de vista de Bruner sobre a aprendizagem é simultaneamente cognitivista e gestaltista. Bruner (1962) Apud Mwamwenda (2005:96) diz que “a aprendizagem pode ser resumida como compreensão geral da estrutura de uma determinada matéria”. Depois desta compreensão, o aluno deduz o significado na relação com o todo e, consequentemente, qualquer coisa que tenha significado é relacionada com toda a estrutura.

Para Bruner, as crianças no processo de ensino e aprendizagem, são capazes de deduzir o significado das várias exposições e experiências que elas encontram nas actividades do seu quotidiano.

Bruner, alerta ao professor que ajude a promover as condições em que o aluno se possa aperceber da estrutura de um determinado assunto. Quando a aprendizagem se baseia numa estrutura, é muito mais duradoura e menos facilmente esquecida.

 3.Princípios fundamentais da teoria de Bruner

A teoria de Bruner tem quatro princípios fundamentais que norteiam o processo de ensino e aprendizagem: motivação, estrutura, sequencia e reforço.

 

3.1.Princípio de Motivação

A motivação no processo de ensino e aprendizagem, especifica as condições que predispõem um individuo para a aprendizagem. Quais são as variáveis críticas, especialmente nos anos pré-escolares, que ajudam a motivar a criança e lhe permitem aprender? Nos princípios de Bruner está implícita a crença de que quase todas as crianças possuem uma “vontade para aprender” inerente. Contudo, Bruner não põe de parte a noção de reforço. Acredita que o reforço, ou a recompensa externa, pode ser importante para iniciar determinadas acções ou para assegurar que estas sejam repetidas.

Segundo Saraiva (1973:106) diz que a motivação “é um processo que relaciona necessidade, ambiente e objecto, e que predispõe o organismo para acção em busca da satisfação da necessidade”.

Insiste, contudo, que só através da motivação intrínseca se sustem a vontade de aprender. Bruner preocupa-se mais com a motivação intrínseca do que com o que lhe parece ser um efeito transitório da motivação externa.

Talvez o melhor exemplo da motivação intrínseca seja o da curiosidade. Para Bruner, nós vimos ao mundo equipados com o impulso da curiosidade. Este impulso é biologicamente relevante, pois a curiosidade necessária para a sobrevivência das espécies. Bruner sugere que as crianças são muitas vezes demasiado curiosas, são incapazes de se “fixar” numa actividade.

A sua curiosidade leva-as a saltarem de uma actividade para a outra numa sucessão rápida, e esta curiosidade tem, efectivamente, de ser canalizada para um percurso intelectual mais poderoso.

Por exemplo, se ensinarmos com base em jogos sob a forma de questões ajudam a desenvolver na criança um sentido de curiosidade disciplinada.

Outra motivação que trazemos connosco à nascença é o impulso para adquirir competência. As crianças interessam-se por aquilo em que são boas e é praticamente impossível levá-las a fazer actividades em que não tenham qualquer grau de competência.

Bruner, tem utilizado uma variante do modelo transaccional para descrever a aquisição da linguagem que, do seu ponto de vista, depende fortemente das inúmeras interacções, pequenas mas contínuas, entre a mãe e o filho. Através destas interacções, a criança não só aprende as palavras mas também a razão por que se utiliza a linguagem.

A criança pode aprender a proferir um pedido um ano antes de conseguir elaborar correctamente esse pedido numa frase. Devido às transacções mãe-filho, a criança que está a aprender a utilizar a linguagem está também a aprender as convenções culturais, tão importantes para o processo de socialização.

De acordo com Bruner, as motivações intrínsecas são em si próprias recompensadoras e por isso auto-suficientes. Como pode o professor tirar partido desta situação na sala de aulas?

O professor deve facilitar e regular a exploração de alternativas por parte dos seus alunos. Como a aprendizagem e a resolução de problemas exigem a exploração de alternativas. Dado que a aprendizagem e a resolução de problemas exige a exploração de alternativas, esta constitui o fulcro do problema e é crítico na criação de uma predisposição para a aprendizagem a longo prazo. A exploração de alternativas envolve três fases: activação, manutenção e direcção.

 

3.1.1.      Activação

As crianças precisam de experimentar um certo grau de incerteza para activarem a exploração, para a poderem iniciar. Se uma tarefa for demasiado fácil, ficarão desinteressados demais para explorarem as alternativas e se, ao contrário for muito difícil, ficarão excessivamente confusas para explorarem as alternativas.

Por exemplo, o professor deve dar aos alunos problemas que sejam apenas suficientemente difíceis para que a motivação intrínseca da curiosidade da criança possa, por si só, activar a exploração.

3.1.2.      Manutenção

Uma vez activada, a exploração terá de ser mantida. Isto envolve assegurar à criança que a exploração não constituirá uma experiencia perigosa ou dolorosa. As crianças deverão perceber que a exploração guiada pelo professor é menos arriscada, menos perigosa que a exploração que fazem sozinhas, isto significa que, as vantagens da exploração deverão ser maiores que os riscos.

 

3.1.3.      Direcção

A exploração significativa terá de ter uma direcção. A direcção da exploração é função de dois factores: conhecer o objectivo e saber que a exploração de alternativas é relevante para alcançar o objectivo.

Por exemplo, as crianças deverão saber qual é o objectivo e se falta muito ou pouco para o alcançarem. Deste modo, o primeiro princípio de Bruner indica que as crianças têm a vontade intrínseca para aprender. Neste caso, os professores terão de gerir e aumentar esta motivação para que as crianças vejam a exploração guiada como mais significativa e satisfatória do que a aprendizagem espontânea que poderão alcançar por si próprias.

  1. 4.      Implicações educacionais da teoria de Bruner

Na educação, existem uma série de aspectos que podem ser relacionados com o impacto da teoria de Bruner.

As crianças do pré-escolar e da escola primária aprendem mais eficazmente quando os objectos concretos, acções, materiais e exemplos são usados, e por essa razão, sempre que possível, os seus sentidos devem retratar as explicações dos conceitos e as relações de causa e efeito.

Portanto, isto será um longo caminho a percorrer para facilitar a compreensão do aluno sobre aspectos mais complexos e abstractos nos anos seguintes da sua educação.

Por exemplo, a criança que tem a oportunidade de manipular contas, varinhas, massa de argila, areia, berlindes e objectos similares do meio africano, talvez descubra mais facilmente a aprendizagem da adição, substração, multiplicação e divisão.  

 

Considerações finais

A aprendizagem não ocorre por si só, ocorre simultaneamente com o desenvolvimento cognitivo do individuo. No processo de desenvolvimento e com o processo de experimentação dos objectos de aprendizagem, a criança vai aos poucos, acumulando novas estruturas neuronais que lhes vão permitir aprender de forma linear objectos de aprendizagem cada vez mais complexos. As crianças do 3º ciclo do ensino básico, compreendem as faixas etárias entre 10 à 12 anos de idade e repara-se que esta fase, é meramente importante para as suas acções futuras, dependam gradualmente da consolidação harmoniosa das aprendizagens deste ciclo.

A aprendizagem por descoberta não é a única forma de aprendizagem e também não quer dizer que os alunos tenham de descobrir por si próprios as soluções para todos os problemas numa determinada disciplina ou em várias disciplinas.

Acreditasse que as crianças no processo de ensino e aprendizagem, são capazes de deduzir o significado das exposições e experiencias que elas encontram nas actividades do seu quotidiano. Bruner alerta aos professores que ajudem a promover as condições em que o aluno se possa aperceber da estrutura de um determinado assunto.

Toda a actividade a ser ministrada para as crianças deve antes de mais obedecer o princípio de motivação porque a motivação específica as condições que predispõem um individuo para a aprendizagem. A estrutura, preconiza que qualquer assunto deve ser organizado de uma forma óptima para poder ser transmitido e compreendido por qualquer aluno. Daí que o grau de dificuldades sentido pelo aluno ao tentar dominar uma matéria depende em larga medida, da sequência em que o material é apresentado. Porém toda actividade no PEA se for necessário atribuir reforço a um determinado aluno, deve ser atribuído o reforço a um determinado aluno pelo facto de este ter executado com eficiência um determinado exercício, é crucial para o sucesso da aprendizagem. 

Portanto, a aprendizagem por descoberta é vantajosa na medida em que permite aos alunos aumentarem a sua capacidade para aprender matérias relacionadas; aumenta interesse na tarefa em que eles estão envolvidos; treina os alunos para a importância das operações do pensamento: comparação, sistematização, interpretação e a crítica.

Bibliografia

MWAMWENDA, Tuntufye S. Psicologia Educacional: Uma perspectiva africana. Texto             

        editora. Moçambique, 2005.

SARAIVA, Augusto. Psicologia segundo os programas actualizados do ensino liceal. 11Ed.       

      Educação Nacional. Porto, 1973.

SPRINTHALL, Norman A. & SPRINTHALL, Richard C. Psicologia Educacional: Uma

    abordagem desenvolvimentista. Editora McGRAW-HILL; Lisboa,1993.

TAVARES, José et all. Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto

      Editora, Portugal, 2007

 


[1] Docente da Universidade Pedagógica – Quelimane; Mestrando em Educação/Psicologia Educacional na UP-Maputo.