EDUCAÇÃO DO IDOSO NO PROCESSO DO ENVELHECIMENTO.


Edilene da Silva Carneiro¹


Edilene da Silva Carneiro. Graduada em Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana; Esp. UTI adulto pela Faculdade de Tecnologia e Ciências.

RESUMO

A realização deste estudo se situa na discussão atual sobre a situação populacional do Brasil, tendo em vista que este país passa por uma transformação demográfica, em que é observado claramente o aumento da faixa etária de pessoas idosas entre a população nacional. O conhecimento sobre a fisiologia do envelhecimento deve ser esclarecido e levado em consideração tanto para os idosos como para as demais pessoas, pois todos estão inseridos no processo de envelhecimento. O presente estudo tem como objetivo relacionar a evolução natural do envelhecimento humano ao nascer, crescer e amadurecer com o processo inevitável das transformações fisiológicas e psicossociais do envelhecimento. Tivemos por base autores como Monteiro (2001),Veras (2002), Suzanne e Smeltzer (2005), Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002). Este estudo é tipo descritivo, no qual foi utilizado questionário com as idosas matriculados na oficina Fisiologia do Envelhecimento da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), na Universidade Estadual de Feira de Santana. Os resultados apontam que estas vivenciam as transformações fisiológicas do envelhecimento e as modificações psicossociais que passam no desenvolvimento da vida no processo de envelhecer de forma natural, tolerante e pacífica. Vivem com suas limitações, pois o processo de transformação traz algumas dificuldades como o desânimo e a falta de memória, o que está já acordado em diversos estudiosos. Por isso, podemos considerar que o idoso e a idosa que freqüenta a UATI pode ter a oportunidade de estar discutindo, aprendendo e reelaborando suas idéias sobre o seu próprio processo de envelhecimento.

Palavras-chave: envelhecimento; transformação; aprendizagem.

SALA TEMÁTICA: 04 - Dificuldades de aprendizagem na Educação de Jovens, Adultos e Idosos.

IINTRODUÇÃO

Durante a trajetória da vida passamos pelo processo natural do envelhecimento. Segundo Monteiro (2001), envelhecer é a maneira como cada organismo individual se desenvolve definida por seus estados dinâmicos, nas quais as forças internas criam tensões produtivas, gerando expansão e crescimento em algumas dimensões, contração e degradação em outras, evitando qualquer padrão de permanência. A velocidade, o tempo e o grau de modificações físicas, emocionais, psicológicas e sociais apresentadas durante a vida são muito individualizados.
Essas modificações são influenciadas por fatores genéticos, ambientais, dietéticos, de saúde e de inúmeros outros elementos. Por se tratar de um processo comum a, praticamente, todos os seres vivos, o envelhecimento deveria ter suas bases fisiológicas melhor conhecidas, à semelhança dos outros fenômenos orgânicos que caracterizam a concepção, o desenvolvimento e a evolução dos habitantes deste planeta, em especial do ser humano.
Em concordância com Veras (2002), envelhecimento representa o conjunto de modificações que acontecem no organismo, a partir do nascimento e como conseqüência do tempo vivido.
Considerando os pensamentos de Suzanne e Smeltzer (2005), que defendem a idéia de que as alterações celulares e extracelulares do envelhecimento provocam uma mudança em sua aparência física e um declínio no desempenho de sua função, no envelhecimento fisiológico as células se tornam menos capazes de ser repostas e acumulam um pigmento chamado de lipofucsina, havendo assim, uma degradação da elastina e do colágeno fazendo com que o tecido conjuntivo se torne mais rígido e menos elástico.
De acordo com Veras (2002), viver mais e morrer em idade mais avançada são uma vitória para ser comemorada e, talvez esse fato seja um dos maiores feitos do século passado. Por isso, não podemos ser simplistas e achar que o aumento do tempo de vista em nada impacta no cotidiano da sociedade.
Diante desta realidade, tornou-se importante desenvolver um trabalho com os idosos matriculados na oficina Fisiologia do Envelhecimento da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), na Universidade Estadual de Feira de Santana, a fim de conhecer como estes vivenciam as transformações fisiológicas do envelhecimento e as modificações psicossociais que passam no desenvolvimento da vida no processo de envelhecer.
A relevância da realização deste artigo é devido à atual situação populacional do Brasil, tendo em vista que este país passa por uma transformação demográfica, em que é observado claramente o aumento da faixa etária de pessoas idosas entre a população nacional. O conhecimento sobre a fisiologia do envelhecimento deve ser esclarecido e levado em consideração tanto para os idosos como para as demais pessoas, pois todos estão inseridos no processo de envelhecimento e devem solidificar os conhecimentos nesta área. Para isso, faz-se necessário ampliar os conhecimentos das alterações fisiológicas provocadas pelo envelhecimento.

ENVELHECIMENTO POPULACIONAL: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

Estamos diante de um cenário em que podemos observar o alvo de atenção no Brasil com o envelhecimento populacional, uma vez que está ocorrendo um aumento significativo do número de idosos no país. Vários autores consultados ao evidenciarem a relevância do envelhecimento na sociedade, suas políticas públicas e as doenças incapacitantes, apontam essa situação como um problema de saúde pública; discutem dentre outras questões, o processo natural do envelhecimento, as mudanças internas nas estruturas das famílias e o acometimento de demência em idosos.
Segundo Veras (2003), o Brasil é um país que envelhece a passos largos. No início do século XX, um brasileiro vivia em média 33 anos, ao passo que hoje sua expectativa de vida ao nascer constitui 68 anos. Vale ressaltar que o processo de envelhecimento não é uma questão vivenciada somente no Brasil, mas sim, uma realidade mundial.
O envelhecimento populacional não se refere nem a indivíduos, nem a cada geração, mas sim, à mudança na estrutura etária da população. O que produz um aumento do número da proporção de pessoas acima de determinada idade, considerada como definidora do início da velhice que varia de sociedade para sociedade, dependendo não somente de fatores biológicos, mas, também, econômicos, ambientais, científicos e culturais.
O idoso é caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, para países em desenvolvimento, como indivíduo com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, esse limite para países desenvolvidos é de 65 (sessenta e cinco) anos.


O QUE É ENTÃO A VELHICE?

As limitações corporais e a consciência da temporalidade são problemáticas fundamentais no processo de envelhecimento, aparecendo de forma reiterada no discurso dos idosos, embora possam adquirir diferentes mudanças e intensidades dependendo da sua situação social e da sua própria estrutura psíquica. Corpo e tempo se entrecruzam no devir do envelhecimento, e das formas desse entrecruzamento nascerão às múltiplas velhices. Mas não podemos deixar de considerar que esta articulação ocorre em um determinado contexto social e político que a influencia e determina nosso particular modo de abordagem.
Queremos então salientar que ao falar de velhice percebe-se que aquilo que supúnhamos saber não é suficiente para defini-la, e mais ainda, verifica-se que esse saber precário é produto de uma visão parcial engendrada na prática de cada profissional e de preconceitos fortemente enraizados no cultural. Devemos fazer uma análise geral dos tipos de velhices existentes no espaço e no tempo.
Então, de que realmente falamos quando falamos de velhice? E quando falamos do velho? Do velho reivindicativo que briga com todo mundo e por tudo, ou do velho passivo que aceita seu destino sem reclamar? Do velho engajado, ativo e divertido, ou do outro deprimido e solitário? Daquele que vive em família ou do que foi depositado em um asilo? Da velha elegante que passeia nos bairros nobres, ou da faxineira que ainda ajuda a criar os netos? Do velho que trabalha a nosso lado ou daquele que renunciou a lutar? Dos que renunciaram à sexualidade ou dos que reivindicam seu direito ao prazer? Dos que vemos na fila do banco ou no banco da praça? Da velha "bruxa"? Do velho "sábio"? Do doente? Dos poderosos ou dos marginalizados?
Definimos, frequentemente, sem perceber que todos estes exemplos citados acima já são notáveis e são personagens conhecidos na nossa cultura; falamos de um velho em particular e da velhice como categoria, mas fundamentalmente, através de todos eles falamos do velho que temos dentro de cada um de nós, do velho de nossa família, daquele que entrou muito cedo na nossa história e que direciona nosso olhar para todos os outros. Falando de todas as velhices (dos outros) sempre falamos de uma velhice (a nossa) e dos muitos velhos que poderemos chegar a ser. Da velhice que desejamos e da que tememos. Mas se cada sujeito tem sua velhice singular, as velhices são incontáveis.
Nos vários trabalhos apresentados por Paulo Freire (1965-1979) podemos perceber sua defesa em relação à construção de um ensino voltado para ação-reflexão-ação e a postura pedagógica do professor como um dialogizador na sala de aula. Diante desses estudos fica claro que, para se atuar com a terceira idade, é preciso ter em mente uma proposta que se adeque a essa realidade, pois os idosos já trazem conhecimentos construídos, anteriormente, concepções, valores e atitudes já solidificadas.
Por isso, pautados no pensamento freiriano pudemos problematizar, exercer a crítica, refletir, agir e dialogar ao desenvolver a oficina para oportunizar aos idosos que freqüentam a UATI o estar discutindo, aprendendo e reelaborando suas idéias sobre o seu próprio processo de envelhecimento, vivenciando essa fase com veracidade, e assim estes poderão se adaptar melhor às novas limitações da idade.

METODOLOGIA

Este estudo tem caráter descritivo cujo objetivo prima pelos dados obtidos através de coletas de dados com questionário respondido pelos idosos que participam da oficina Fisiologia do Envelhecimento. No questionário foram feitas duas questões abertas sobre o entendimento do processo de envelhecimento.
Todas as entrevistadas pertencem ao sexo feminino, no total de oito. A faixa etária destas é de 57 a 80 anos. O tempo que participam de atividades na UATI varia de 01 a 16 anos.

RESULTADOS

Compreensão do que é velhice

Os resultados dos questionários apontam que as idosas entendem que velhice é: A ? "uma fase da vida". (3); B ? "uma fase de transformação e às vezes discriminada"; C ? "decorrer do tempo em nossa vida"; D ? "É a maneira do envelhecimento"; E ? "É sentir dificuldade e falta de ânimo e esquecimento"; F ? "É uma etapa da vida que analisa fatos passados e presentes".
Percebemos que pelos depoimentos aqui retratados a velhice é vista pelas idosas como uma fase natural da vida em que o processo de transformação traz algumas dificuldades como o desânimo e a falta de memória, o que está já acordado em diversos estudiosos. Além disso, estas indicam que toda essa passagem é vista com discriminação pela sociedade.
Muitos foram os fatores que impediram o progresso deste conhecimento levando a sociedade a agir com discriminação e descaso com os idosos espalhando mitos e excluindo-os do meio sócio-cultural, mas o mais importante, indiscutivelmente, foi à constância com que o envelhecimento natural foi erroneamente caracterizado como um estado patológico, o que estimulou muito mais a tentativa de combatê-lo sobrepondo a necessidade de conhecer o processo natural do envelhecimento.
No entanto, com o crescimento populacional idoso e a evolução dos estudos nesta área os idosos estão vencendo os preconceitos impostos pela sociedade e os cientistas das mais diversas áreas voltaram sua atenção e interesse para um entendimento mais profundo da geriatria e gerontologia.

O processo de envelhecimento

As idosas vivenciam o processo de envelhecimento de acordo com as respostas dadas, como sendo um período de: A ? "Me adaptando às novas limitações, mas confesso que estou feliz com tudo e agradeço a Deus por já está chegando à velhice em paz e ativa" (A1); "Sinto-me muito satisfeita" (A2); "Ótima, com saúde, disposta e ativa" (A3). B ? "Muito bem, depois que entrei na UATI"; C ? "Estou vivenciando, maravilhosa, pois as outras fases tive uma vida muito sofrida. Fiquei órfã de mãe cedo e casei com um alcóolotra"; D ? "Numa boa"; E ? "Regularmente, enfrentando alguns problemas de saúde"; F ? "Eu me sinto bem apesar de enfrentar algumas dificuldades como enfermidades, inclusive procuro desfrutar dos benefícios desta idade".
Nas respostas dadas são evidenciadas questões relacionadas à saúde, o que denota que quando se pensa em envelhecimento, vêm à tona as enfermidades como ponto alto de toda essa transformação físiológica. A partir disso, seria interessante que todos pudessem conhecer o processo de nascer, crescer, envelhecer e morrer. Para isso, faz-se necessário ampliar os conhecimentos das alterações fisiológicas provocadas pelo envelhecimento, pois existe atualmente, um amplo e diversificado estudo que abrange os mecanismos celulares e moleculares que determinam mudanças comportamentais do indivíduo.
Essas peculiaridades anatômicas e funcionais do envelhecimento no processo de discernimento dos efeitos naturais de senescência e da senilidade são aportes passíveis de serem aprendidos pelos idosos, pois
No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas. Pelo contrário, aquele que é ?enchido? por outros de conteúdos cuja inteligência não percebe; de conteúdos que se contradizem a forma própria de estar em seu mundo, sem que seja desafiado, não aprende. (FREIRE (1977, apud SILVA, 2008, p. 57)

As considerações dadas pelo autor referendam ainda mais a necessidade dos idosos se apropriarem do conhecimento para que este sirva de instrumento de reflexão e provocação de mudanças em sua vida e na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos estudos feitos as idosas percebem as transformações relacionadas à evolução natural do envelhecimento humano como um processo que começa ao nascer e perdura até o amadurecimento. Isto é inevitável, pois provoca mudança a nível fisiológico e psicossocial. No entanto, algumas idosas se manifestam como felizes e dispostas a viverem de bem com a vida mesmo enfrentando as possíveis enfermidades do período.
Neste caso, se torna necessário ampliar os conhecimentos das alterações fisiológicas provocadas pelo envelhecimento para qualquer pessoa, pois assim fica mais fácil lidar com as transformações ocorridas durante a vida de cada indivíduo. Assim, fica claro que, na oficina Fisiologia do Envelhecimento são desenvolvidas atividades relacionadas ao estudo e a efetivação de uma educação dialógica, co-participativa e reflexiva, a fim de esclarecer as dúvidas e os mitos acerca desse período da existência.
O envelhecimento da população é uma aspiração natural de qualquer sociedade, mas não basta por si só. Viver mais é importante desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais de vida.
A educação, então deve ser entendida como um processo permanente na vida de todo ser humano e servir como ponte para novos significados construídos pelo pensamento crítico, capaz de levar os idosos a se sentirem sujeitos partícipes da sua aprendizagem.

REFERÊNCIAS

CARVALHO FILHO, Eurico Thomaz de. Fisiologia do Envelhecimento. Revista São Paulo. Atheneu, 2007. p. 105 ? 119. Disponível em: www.scielo.br/scieloOrg/php/reference

DEBERT, Guita Grin. A Reinvenção da velhice: Socialização e processo de Reprivatização do Envelhecimento. Atheneu. São Paulo, 1999.

MONTEIRO, Pedro Paulo. Envelhecer: histórias-encontros-transformações. Belo Horizonte. Autêntica, 2001. p. 27 ? 36.

PRADO, Shirley Donizete, SAYD, Jane Dutra. O ser que envelhece: técnica, ciência e saber. Ciência e Saúde Coletiva. 2007, v. 12, n. 1, p. 247-252. Disponível em: www.scielo.br/pdf/csc/v11n2/30436.pdf. Acesso: mai 2009.

SUZANNE C. SMELTZER. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 2005. p. 200 ? 215.

SILVA, Teresinha Maria Nelli. O Idoso, a Educação Popular e a Política Social. Uma Leitura a partir de Paulo Freire. Rev. A Terceira Idade. São Paulo, 2008. v. 19, n.42, p.52 ? 62.

VERAS, Renato. Terceira Idade: Gestão Contemporânea em Saúde. Rio de Janeiro, 2002. UnATI ? Universidade Aberta da terceira Idade. p. 81 ? 86.Cap.3, p.61-81.

____________. A novidade da agenda social contemporânea: a inclusão do cidadão de mais idade. A Terceira idade, v.14, n.28, p.6-29, 2003.