UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
              PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA

 

"DIZER QUE O CRACK FAZ MAL É SUFICIENTE? HÁ CURA PARA O DOENTE CRÔNICO DE CRACK?”

Por:

Carlos Alexandre da Silva

Prof. Eloiza Oliveira

Rio de janeiro

2012.2

RESUMO:

O objetivo deste estudo é conscientizar à sociedade sobre o consumo maléfico do crack a saúde, através de revisão bibliográfica e as psicopatologias geradas a saúde física, mental cognitiva, além do desconforto da família e da vida social. E que se tratando corretamente, o doente crônico (dependente químico) pode ser curado deste mal? O presente estudo mostra que o indivíduo viciado em crack, pode obter ajuda em vários meios de grupos de apoio e tratamento, como por exemplo, nas redes publicas ou unidades filantrópicas. Onde nestes lugares existem equipes muito bem preparadas e com diversos trabalhos direcionados a essas pessoas que necessita de um aporte sério contra o vício do crack e sim ser curado minimizando de forma direta todos os sofrimentos psicológicos entre familiares e amigos por consequência do crack.

Palavras chaves: crack, psicopatologia, família, dependência química, recuperação. 

INTRODUÇÃO

Estudos afirmam que, frente à globalização na pós-modernidade é assustadora a problemática relacionada ao consumo, dependência e comercialização do “crack” vivenciado em todos os segmentos da sociedade, com isso aumentados os transtornos Psicopatológicos. Acredita-se que o crack é um problema social, tal prática, atualmente, configura-se como uma verdadeira questão de problema de saúde pública. As pesquisas realizadas por estudiosos estão aí. São milhões de dependes químicos em todo país e esse número cresce a cada dia, devido à facilidade da obtenção da substância, preço baixo e seu espantoso poder de causar dependência em um curto período de tempo. A sociedade brasileira está pagando um preço muito alto, pela falta de uma política pública adequada que vise preparar os jovens quanto ao futuro incerto inerente às drogas. Conforme publicado pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas.

O consumo de drogas é uma prática milenar e universal, mas seu uso pode desencadear diversas crises sociais (Graeff e Guimarães, 2005).

Alguns jovens estão fazendo uso do Crack, e apenas a minoria permanece seu uso, mas esse vicio pode ser reversível. Na década de 70, surgiu o Crack, apartir de um aquecimento entre a cocaína, água e bicarbonato de sódio. Para alguns pesquisadores o crack surgiu devido à cocaína ser considerada a “droga dos ricos”, então houve a necessidade da criação de uma cocaína (Crack) mais acessível. Foi na década de 80 que o Crack ganhou força nos Estados Unidos principalmente entre a população mais pobre. E no Brasil o crack ganhou força apartir de 1990 (Leite e colaboradores, 1999).

Todas as drogas psicotrópicas têm efeitos no SNC, modificando seu funcionamento e desencadeando mais vontade em repetir o uso após seu efeito. Quando o usuário passa a ser viciado, esta vontade de repetir o uso de determinada droga, aumenta ainda mais. Os fatores que favorecem a dependência de drogas são inúmeros, e envolvem aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais.

Nappo (1996), diz que o Crack é queimado e sua fumaça passa pelas vias aéreas superiores chegando ate os alvéolos pulmonares e entra na corrente sanguínea e vai até cérebro. Esta droga ao chegar ao Sistema Nervoso Central (SNC), age diretamente sobre os neurônios. Nos espaços sinápticos, o crack interfere na captura do neurotransmissor Dopamina e mantém a substancia química por mais tempo. Deixando as atividades sensoriais e motoras superestimuladas. Ainda para este autor, o Crack é distribuído pelo corpo através da corrente sanguínea e pode levar ao infarto e derrame cerebral além de convulsões, aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Vale ressaltar ainda que esta droga é eliminada na urina.

Pretende-se obter informações sobre um dos fatores psicopatológicos, que direcionem o crack como um mal social, e que atinge a todas as classes do Brasil e do Mundo. Diante desse reconhecimento, necessitamos saber se apenas dizer que o crack mata é suficiente para que a população se conscientize do seu uso.

O presente estudo tem como objetivo, identificar se só dizer que o crack faz mal é suficiente? E se há cura para o doente crônico de crack? Além de explanar as psicopatologias geradas a saúde física, mental cognitiva, além do desconforto da família e da vida social.

Foi elaborada uma pesquisa bibliográfica que segundo Gil (2008), é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.

COCAÍNA

A cocaína, principal alcaloide ativo existente nas folhas do Erythoxylum coca, foi isolada em 1860 por Niemann, que constatou seu gosto amargo e o efeito peculiar que produzia na língua, tornando-a dormente e quase insensível (LEITE et. al., 1999). Ainda para os autores, em 1884, Sigmund Freud fez seu primeiro estudo sobre o efeito fisiológico da cocaína, Carl Koller introduziu a cocaina na anestesia local da córnea, e, Hall na Odontologia. Em 1892, G.Chandler fundou a Coca-Cola Company e colocou a bebida no mercado como um tônico para pessoas debilitadas. Entre os anos de 1903 e 1906 essa bebida continha aproximadamente 60mg de cocaína em 230mL (LEITE et al., 1999).

Apartir de 1900 surgiram medicamentos e bebidas a base de cocaína ou folha de coca, que permaneceram no mercado ate 1914, quando foi editado por Harrison Narcotic Act, tornou ilegal a venda de cocaina nos Estados Unidos da America. Em 1924 houve um estudo realizado pela Associação Americana de Medicina, que atribuiu a morte de 26 pacientes à utilização de cocaína como anestésico, fato que restringiu seu uso nas clinicas. No Brasil, as apreensões de cocaína vêm aumentando, pois o consumo e trafico desta droga estão cada vez maiores.

CONCEITO DO CRACK

Segundo Pedro Gabriel, Crack é uma droga, geralmente fumada, feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É uma forma impura de cocaína e não um sub-produto. O nome deriva do verbo "to crack", que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem (Radis 92 Abr/2010).

EFEITOS PSICOLÓGICOS

O crack é uma substância que afeta o funcionamento do cérebro do usuário: causando euforia, alegria, suprema confiança, perda de apetite, insônia, aumento da energia, ainda, desejo por mais crack, e paranoia potencial (que termina após o uso). O efeito inicial do Crack é estimular a liberação de uma grande quantidade de dopamina (Neurotransmissor) nas fendas sinápticas. Este neurotransmissor é uma química natural do cérebro que causa sentimentos de euforia e de prazer. O efeito geralmente dura de 5-10 minutos, após o qual os níveis de tempo de dopamina no cérebro despencam, deixando o usuário se sentindo deprimido (Pedro Gabriel, 2010).

Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar danos cutâneos graves e sangramento, especialmente quando eles estão delirando, podendo levar esta pessoa a ser mais agressiva, tornando-o a cometer pequenos furtos para manter o vício.

EFEITOS FISIOLÓGICOS, FÍSICOS E PSÍQUICOS DA DEPENDÊNCIA DO CRACK

Um dos efeitos, mas imediatos são os aumentos da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Esses efeitos não são muito perigosos, mas, quando ocorrem em pessoas com problemas cardíacos ou vasculares, podem levar a morte, ou Acidente Vascular Cerebral. As pessoas que utilizam crack antes ou depois de exercícios físicos podem vir a óbito. O uso de crack causa problemas respiratórios e cansaço crônico (Organização Mundial de Saúde, 2001).

Os efeitos fisiológicos em curto prazo do crack incluem além dos citados acima, constituem: constrição dos vasos sanguíneos, pupilas dilatadas, aumento da temperatura. Grandes quantidades (várias centenas de miligramas ou mais) intensificam o efeito do crack para o usuário, mas também pode levar a um comportamento bizarro, errático, e violento. Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos musculares, paranoia ou, com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida com a reação do uso das anfetaminas. Em casos raros, morte súbita pode ocorrer no primeiro uso do crack ou de forma inesperada depois. As mortes relacionadas ao crack são muitas vezes resultado de parada cardíaca ou convulsões seguidas de parada respiratória. Uma tolerância considerável ao uso do crack pode-se desenvolver, há relatos de usuários que procuram, mas não conseguem atingir tanto prazer como fizeram da sua primeira experiência.

O crack eleva a temperatura do corpo, podendo causar no dependente um acidente vascular cerebral. A droga também causa destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo (rabdomiólise), o que dá uma aparência visivelmente alterada aos seus usuários contínuos, bem característica (esquelética): olhos esbugalhados e ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas aparentes. O crack inibe a fome, de maneira que os usuários só se alimentam quando não estão sob seu efeito narcótico. Outro efeito da droga é o excesso de horas sem dormir, e tudo isso pode deixar o dependente facilmente doente (Sapori, 2010).

É bastante comum após o uso, à pessoa apresentar quadros de extrema violência, agressividade que se manifesta a princípio contra a própria família, desestruturando-a em todos os aspectos, e depois, por consequência, volta-se contra a sociedade em geral, com visível aumento do número de crimes relacionados ao vício em referência (Laranjeira, 2003).

RECUPERAÇÃO E TRATAMENTO

A recuperação é um desejo de todos os dependentes químicos, e de suas famílias que sofrem com os transtornos, para se livrar do vício e das consequências trazidas pelas drogas. Pois estas pessoas (viciadas) maltratam seus familiares e amigos, são agressivos, desrespeitam e podem até agredir pessoas que ali estão para ajudá-los, e pode até vender seus bens e furtar bens de seus familiares para manter o vicio.

É importante que o doente consiga opções de tratamento, e que possa escolher aquela que é mais adequada pra si. Pois existem possibilidades de adaptação ou não.

Roeder, afirma que é importante que o indivíduo dependente químico (crack) reconheça que é portador de uma doença crônica, aceitar que é dependente e que precisa de ajuda e que se apresente de forma voluntariada para se tratar (2003). Este autor ainda afirma que existe cura no tratamento contra o vicio do crack.

Segundo Leite e colaboradores (1999), por definição, a dependência constitui, por si só, uma patologia com sua própria psicopatologia e caracterizada por compulsão, perda de controle e manutenção do uso apesar das consequências adversas a ele relacionadas. Trata-se de uma patologia crônica, progressiva, incurável e potencialmente fatal, se não for tratada. Quanto mais tardia for à intervenção terapêutica, mais difícil será o tratamento e menor a chance de sucesso.

Quando se fala em recuperação, o resultado pode ser é impressionante, mas não é fácil. O individuo tem que reconhecer seu próprio erro, mudar seu estilo de vida, mudar conceitos e preconceitos além de trabalhar muito para obter o que almeja. Ele tem que ter muita força de vontade para entrar num programa de recuperação.

Roeder diz que, não há uma receita ou modelo universal para o tratamento da dependência química, e se o dependente estiver disposto realmente a se tratar, tem que se entregar plenamente no tratamento que será em longo prazo, com isso, terá êxito no resultado final (2003).

Para Leite, “a família necessita participar ativamente do tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de suporte fundamental do indivíduo” (2003, p. 132).

Edwards; et al. Cita alguns ambientes de tratamento, tais como: rede primária de atendimento a saúde; unidades comunitárias de álcool e drogas; unidade ambulatorial especializada; comunidades terapêuticas; grupos de autoajuda; hospitais gerais; hospital-dia; moradia assistida; hospitais psiquiátricos; Centros de Atenção Psicossociais (CAPs); sistema judiciário e empresas (1999). 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados mostraram que o crack faz mal sim a saúde do indivíduo, e seu consumo pode desencadear diversas complicações e sequelas, seja nos âmbito físico, psicológico, cognitivo, motor e fisiológico, até o desequilíbrio familiar. Onde o grupo familiar e até amigos mais próximos, podem sofrer um abalo mental por conta da vida daquele ente querido que passa por um processo de desconforto interno e externo

Através dos dados coletados fica clara a intenção de algumas unidades que trata deste assunto com muito afinco, mas as políticas públicas devem olhar mais para aquelas pessoas e famílias que moram nas ruas ou em comunidades carentes, que não tem acesso a um tratamento. Investir mais na prevenção e controle desta pandemia, e unidades que tratam dos doentes, para que todos ou a maioria possam se internar de forma voluntária sem que as justiças interfiram nesta escolha. Com isso, eles consigam concluir seu tratamento de forma prazerosa e digna.

Como podemos observar, foi constatado que existem diversos locais para o tratamento do crack com profissionais qualificados, e pode-se reverter não só o quadro do doente, mais resgatar a lado psicológico de todos os imbuídos na recuperação de viciados em drogas (crack).

Os governantes devem intensificar o olhar nas políticas publicas referente a drogas, e reduzir o gráfico de mortalidade que segundo alguns estudos mostram que o consumo de crack pode levar ao óbito em até um ano. Mas mediante trabalhos realizados em unidades e hospitais de tratamento, foi constatado que existe cura para este vicio.

Esta pesquisa não é conclusiva, é apenas um ponto de partida para outras, devendo haver mais estudos sobre dizer apenas que o crack mata é suficiente? E se há cura contra este mal que nas ultimas décadas vem assombrando o mundo. O porquê do elevado grupo de pessoas praticando o consumo de crack e como pode desencadear psicopatologias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BRAUN, IVAN MÁRIO. Como toda doença, a dependência precisa de tratamento. Artigo. Revista Anônimos. Libélula, 2008.

EDWARDS, G.; MARSHAL, E. J.; COOK, C.C.H. O tratamento do alcoolismo. Porto Alegre: Artmed, 1999.

GRAEFF, FREDERICO G, GUIMARÃES, FRANCISCO S. Fundamentos de Psicoframacologia. São Paulo: Ed Atheneu, 2005.

http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/index.php

LARANJEIRA, RONALDO. ET AL. (COORD). Usuários de substâncias psicoativas. Abordagem, diagnóstico e tratamento. 2 ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina de São Paulo/Associação Médica Brasileira, 2003.

LEITE, MARCOS DA COSTA E COLABORADORES. Cocaína e Crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, 1999.

NAPPO, S. A. Baqueros e Craquêros - Um estudo etnográfico sobre o consumo de cocaína na cidade de São Paulo. 1996. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 1996.

GIL, ANTONIO CARLOS. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, Atlas, 2008.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE ORGANIZACIONAL MUNDIAL DE SAÚDE. Relatório sobre a saúde do mundo, saúde mental: Nova concepção. Nova Esperança: Gráfica Brasil, 2001.

Pedro Gabriel, da Coordenação de Saúde Mental/MSRadis92 • Abr/2010

ROEDER, MAIKA ARNO. Atividade física, saúde e mental e qualidade de vida. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

SAPORI, LUIS FLÁVIO do Instituto Minas pela Paz. Pesquisa. Afirma que o Crack é um fator de risco para a violência urbana. 2010.