Relatório apresentado pelas acadêmicas Cleonice Rodrigues, Jaqueline Mélo e Maria José da Silva, à disciplina Dificuldades de Aprendizagem, referente ao curso de Psicologia.

 

*INTRODUÇÃO

            Somos seres singulares e com subjetividades distintas, principalmente no que se refere ao modo de compreender, pensar e expressar algo. Cada um de nós, temos um tempo de processamento de informação diversificado, e este fator é concomitantemente alterado quando englobamos aspectos ambientais, emocionais e afetivos do indivíduo em formação.

            Sabemos que o ensino de forma geral ainda deixa a desejar e que muitas vezes perante a falta de estímulos e motivação "adequados" para os professores, esse quadro fica ainda mais agravante, pois eles refletem sua baixa autoestima na sala de aula. Não podemos esquecer do velho sistema de ensino que também é outro fator que ao invés de contribuir plenamente com esse processo de ensino/aprendizagem, se contradiz no momento em que impõe regras incongruentes na área educacional, de que por exemplo, mediante uma certa faixa etária não se pode reprovar.   

                Podemos compreender então, que muitos discentes são aprovados sem atingirem a meta necessária, tendo que adequar-se a outra série e deste modo consequentemente abarcando suas dificuldades na aprendizagem.  É muito comum encontrarmos um grande percentual  de casos semelhantes a esse e que são rotulados como preguiçosos, desleixados, com déficit de atenção, dentre outras nomenclaturas pertinentes. Como diz Visca (1987), "os vínculos afetivos que o indivíduo fixar com o objeto da aprendizagem, possibilitam impedimentos ou possibilidades".  Complementando o pensamento do autor anteriormente citado, Kaplan (1990) enfatizam que: " a aprendizagem pode ser definida como mudança no comportamento que resulta tanto da prática quanto da experiência". Em outras palavras, fazendo a ponte de entendimento perante as definições de aprendizagem ditas acima,  salienta-se que este desenvolvimento ocorre independentemente da faixa etária da pessoa e  está estritamente relacionada com as vivências diárias, seja ela positiva ou negativa, pela qual perpassa.

            É importante a equipe pedagógica juntamente com o professor, ficarem atentos com as crianças principalmente na fase de alfabetização, pois é neste período que se identifica possíveis problemas relacionados a dificuldade ou distúrbio de aprendizagem. Em comentário a essa questão o autor aponta que

A dificuldade de aprendizagem pode ser caracterizada sobre duas perspectivas: dificuldade de aprendizagem decorrente de desordens neurológicas que interferem na percepção, integração, ou até de informação, caracterizando-se no aluno e na realização escolar; dificuldades de aprendizagem relacionada na aprendizagem que reflete numa incapacidade na leitura, escrita, desenvolvimento de cálculos para aquisição de aptidões sociais. (PILETTE, grifo nosso, 2002)

                Como já comentado, é na escola que grande maioria dos casos são detectados. Por isso, torna-se primordial que assim que diagnosticado os primeiros sinais da dificuldade e/ou distúrbio, a escola juntamente com os pais formem uma parceria ainda mais findada com o objetivo de buscar auxílio profissional adequado, seja ele o psicopedagogo, psicólogo, neurologista, médico, entre outros,  para melhores orientações a respeito das metodologias ou possíveis tratamentos.

            Em breves palavras, ressalta-se que a dificuldade é distinta do distúrbio de aprendizagem. Isto interfere na definição de ambos e no processo relacionado a dinâmica educacional que cada discente necessitará, caso apresente aspectos congruentes a este fator. É preciso, mesmo que haja ainda uma defasagem estrutural escolar, mediante várias facetas, que sejam identificados com mais atenção na educação infantil, os primeiros comportamentos que levem a suspeita da problemática neste trabalho abordada, pois quanto mais cedo se "descobre", melhores resultados poderão ser atingidos com as orientações assertivas, tendo como subsídio para tal procedimento, a escola, a família e a equipe de profissionais específicos que darão o apoio mediante o quadro apresentado.  

 

Dificuldades de Aprendizagem:

-Um olhar pedagógico e psicológico sob a perspectiva de ensino/aprendizagem-

            Embora tenha ocorrido muitas mudanças nos últimos tempos em termos de avanços tecnológicos dentre outros, podemos ainda pontuar um dos problemas pelo qual infelizmente ainda perpassa-se na atualidade, que é a falta de informações básicas a respeito da distinção do que é dificuldade e distúrbio de aprendizagem. Em muitos casos, até mesmo a própria escola não consegue identificar nos primeiros anos do educando a problemática, pois às vezes não possui capacitação para lhe dar com esse tipo de situação no âmbito educacional. Levamos em consideração que a família por sua vez, apesar de ser a principal referência na constituição do ser, também na maioria dos casos não consegue diagnosticar se a criança têm ou não o distúrbio e/ou a dificuldade de aprendizagem. Giurlane (2004) afirma que a influência familiar é significativa tanto sobre os problemas de comportamento como sobre as dificuldades no aprendizado acadêmico.  Em virtude do que foi mencionado, vejamos o que Smith fala sobre esse contexto:  

O desenvolvimento individual das crianças também é maciçamente influenciado por sua família, pela escola e pelo ambiente da comunidade. Embora supostamente as dificuldades de aprendizagem tenham uma base biológica, com frequência é o ambiente da criança que determina a gravidade do impacto da dificuldade. [...] Embora as dificuldades de aprendizagem sejam consideradas condições permanentes, elas podem ser drasticamente melhoradas, fazendo mudanças em casa e no programa educacional da criança. (pág. 20 e 21, 2001)

            Podemos complementar o discurso inicialmente enfatizado relevando a hipótese de quando o diagnóstico é feito tardiamente ou quando não se é realizado os procedimentos adequados, a criança sofrerá consequências mais severas, porém nada impede que essas "dificuldades de aprendizagem" sejam sanadas. Correia e Martins (2005), cita que: "numa perspectiva educacional, as dificuldades de aprendizagem refletem uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou cálculo para aquisição de aptidões sociais".  Aproveitando fio da meada da concepção dos autores anteriormente ressaltados, vale destacar que todo distúrbio de aprendizagem acarreta consequentemente a dificuldade de aprendizagem, pois está ligado a fatores neurológicos, genéticos, etc., porém nem toda dificuldade de aprendizagem pode ser considerada um distúrbio. A dificuldade pode está sendo ocasionado por aspectos ambientais, sociais, familiares, biológicos, culturais, dentre outros.  Acerca do tema em apreço, contemplemos a seguinte definição, que abrange de modo mais "concreto" o que fora abordado até o momento:

Distúrbio de Aprendizagem (DA) como um grupo heterogêneo de transtornos que se manifesta por dificuldades significativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocínio ou habilidade matemática. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se ocorrerem devido à disfunção do sistema nervoso central, e que podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de auto-regulação, percepção e interação social, mas não constituem, por si só um distúrbio da aprendizagem. Podem ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes ou com influências, extrínsecas porém não são o resultado dessa condição. (HAMMILL, 1988/1991)

            Através das rápidas pinceladas descritas sobre os fatores e as distinções que englobam as dificuldades e o distúrbio de aprendizagem, co-relacionaremos  neste momento a "teoria" com a prática, por intermédio de duas entrevistas realizadas na qual serão relatadas a seguir. Vale apena frisar que os trechos são algumas informações relevantes das entrevistas e que por questões de sigilo, os nomes das profissionais serão substituídos por siglas fictícias.

            J. S. é professora de História e está atuando há 20 anos na área.  Através de suas experiências, diz que a maior causa das dificuldades de aprendizagem geralmente  se dá pela falta de interesse e mal comportamento de alguns alunos e pela ausência de acompanhamento adequado dos pais na carreira estudantil de seus filhos.  Já em contrapartida, para G. M. que está atuando no ramo de educação infantil há 7 anos, realça em seus relatos experienciais, que compreende as causas da dificuldades de aprendizagem como um desafio, que pode superar com os próprios esforços. Sabendo das dificuldades que todos discentes passam independente se estudam na rede pública ou privada, é interessante e primordial distinguir se este problema está sendo gerado por algum motivo de base emocional/afetiva ou se tem resquícios de origem biológica/orgânica ou neurológica. Destacando e interligando esta vertente, questionamos as professoras, se o distúrbio é distinto da dificuldade de aprendizagem. Para J. S.: “-Não, dificuldades surgem no decorrer do processo em estudo, onde pode aparecer algumas dificuldades que são sanadas. Enquanto distúrbios são características específicas que o aluno apresenta”. Mas, para G. M.: “- Não, quando o aluno tem dificuldade, o professor pode ajudar. Mas quando é um distúrbio precisa também da ajuda de outras pessoas.” Em comentário a esta questão referida, Mazer et. all sugere que:

“ Uma criança que apresenta dificuldade de aprendizagem, provavelmente, já passou por diversas cadeias de circunstâncias desfavoráveis para o seu desenvolvimento  e essa dificuldade, se persistir, também acarretará novos prejuízos psicossociais, que, por sua vez, também contribuirão para a manutenção ou intensificação dos problemas de aprendizagem”. (pág. 15, 2009)

            Cabe neste instante, também verificar os esclarecimentos de Vallet (1977), que em seu dizer expressivo, menciona que “o termo distúrbio de aprender tem sido usado para indicar uma perturbação ou falha na aquisição e utilização de informações ou na habilidade para solução de problemas”. Vimos através das reflexões teóricas expostas nas citações, a contextualização mais específica de cada resposta dada pelas docentes quando se referiram as divergências de dificuldades e/ou distúrbio de aprendizagem. Em outro ponto da entrevista, quando focado sobre a compreensão acerca do fracasso escolar e/ou problemas de aprendizagem, os relatos foram bem contraditórios com olhares peculiares a respeito. Para J. S.:  “- o problema da aprendizagem ou fracasso escolar pode ser compreendido através de vários  fatores, depende da visão de quem conceitua, porém o maior está na família". Na perspectiva de G. M., ela diz que:  “- vejo o fracasso escolar como espelho que reflete em situação da escola causando a dificuldade de aprendizagem. Se a gestão pedagógica não procurar ajuda adequada, isto tenderá a crescer e causar outros problemas.” Ciasca (pág. 29, 2003), traça o seguinte esclarecimento:

Ensinar e aprender são processos lentos, individuais e estruturados, quando não se completam por alguma falha interna ou externa surgem os distúrbios e as dificuldades de aprendizagem, levando a criança não só à desmotivação quanto ao desgaste e à reprovação, transformando-a num rótulo dentro da escola, "perturbando" pais e professores que buscam, a partir daí, de classificá-las e, se possível, encontrar uma solução objetiva para o quadro. Assim, o processo de avaliação e intervenção deve ser considerado com preocupação, levando-se em consideração esses e outros fatores importantes para se resolver o problema do não aprender na escola.

            Por todos os argumentos apresentados, torna-se nítido os pontos discrepantes perante as entrevistas. Porém, vale lembrar que a diferença entre o tempo de atuação e formação das professoras varia em média 13 anos. Isto já é um detalhe a ser destacado, pois mostra a necessidade dos profissionais da educação irem em busca de novas especializações e não se prender as "mesmices" que absolveu em sua graduação.

            Nos dias atuais, é considerável ter uma visão mais ampla e sistêmica dos fatos, principalmente quando se trata da área educacional. Posta assim a questão, refletimos sobre os métodos de ensino, sobre as concepções emocionais, psíquicas e afetivas, interpessoais, estrutura econômica e familiar, dentre outros exemplos que tanto o professor, aluno, pai/mãe, perpassam. Em razão disso, é de suma relevância a procura de conhecimentos/informações confiáveis além de profissionais adequados e capacitados, para conseguir diferenciar e possivelmente diagnosticar a problemática causadora do fracasso escolar nas crianças em seus primeiros anos como discentes, corroborando da melhor forma cabível em seu processo de desenvolvimento escolar e pessoal. 

*METODOLOGIA

            O presente trabalho foi construído a partir de uma entrevista desenvolvida pelas acadêmicas e aplicada em duas profissionais da área escolar. Foram realizadas pesquisas em artigos e outros referenciais, estudo de caso mediante as informações obtidas (na entrevista) sobre as dificuldades no contexto escolar e consequentemente, a integração discursiva entre a teoria e a prática, quanto aos temas abordados nas aulas da atual disciplina.

*CONCLUSÃO

            Em vista dos resultados obtidos da entrevista, ficou evidente que é necessário a atualização constante dos profissionais da área da educação, para capacitar-se melhor mediante situações de alunos que apresentem dificuldades e/ou distúrbios da aprendizagem.

            Em outra interface da problemática, percebemos através dos relatos e de pesquisas que, quando o profissional da educação identifica o distúrbio e/ou a dificuldade de aprendizagem juntamente com a família e não buscam informações adequadas, esse quadro pode resultar em rotulações, exclusões sociais, evasões escolares, dentre outros aspectos que afetam de forma significativa seu desempenho intelectual, emocional e psíquico.

            Em virtude das considerações supracitadas, chega-se a uma análise sucinta de que estamos constantemente expostos a estímulos que nos levam a atualizar nossos conhecimentos. Ou seja, o processo de aprendizagem é contínuo, individual, acumulativo e integrativo. Nesse sentido, deve-se dizer que as diferenças singulares levam algumas pessoas a serem mais lentas no desenvolvimento de aprendizagem, enquanto outras nem tanto. Por esta razão é importante salientar o quão ponderoso e perspicaz os profissionais da área escolar e as famílias passarem a ter conhecimentos de pelo menos alguns dos detalhes que distinguem se a criança têm problemas de adquirir novos saberes, e também quando detectado, onde de fato se enquadram, em termos de possuírem ou não, evidências características de dificuldades e/ou de distúrbios de aprendizagem, para então a criança ser encaminhada aos profissionais cabíveis a situação que se encontra.    

*REREFÊNCIAS

CIASCA, S. M. Distúrbios da aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo, Casa do Psicólogo®, 2003.

CORREIA, L. M. e MARTINS, A. P. Dificuldades de Aprendizagem: o que são? como entendê-las?. Biblioteca Digital. Coleção Educação. Portugal, Porto Editora, 2005. Disponível em: www.educare.pt/BibliotecaDigitalPE/Dificuldades_de_aprendizagem.pdf    

HAMMILL, D. D.; LEICH, T. E.; McNUTT, G. & LARSEY, S. C. A new definition of learning disabilities. Journal of Learning Disabilites 20(2): 109-113, 1998.   

KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J. Compêndio de Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

PILLETE, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática, 2002.

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.