Sempre escutei esse conselho dos meus avós: “cuida bem desses joelhos, mocinha, senão eles vão te deixar na mão rapidinho”. Eu vivia dando saltos na escada, pulando do galho da goiabeira ao invés de descer direitinho, dava pulos super altos nas brincadeiras de amarelinha... ou seja, meus joelhos levavam golpes formidáveis várias vezes ao dia. E sempre vinham meus avós falando pra eu pegar leve. Mas, ora, eu estava só com 12 anos e meus joelhos eram umas das partes mais confiáveis do meu corpo! “Bobagem, velho preocupa à toa”, eu pensava. E continuava fazendo todas aquelas coisas divertidas.

Aí aconteceu que cresci. Obviamente eu já não brincava daquelas coisas todas, nem dava pulos das escadas, mas jogava basquete quase todos os dias num time do bairro. Quando não estava jogando, estava correndo na pista da universidade. E um dia meus joelhos realmente cobraram seu preço: aos 28 anos, comecei a sentir dores importantes neles e fui ao médico: as cartilagens deles estavam moídas feito carne. Fui impedida de jogar basquete e de correr, e liberada apenas para dar umas caminhadas e fazer natação. Eu nunca gostei de natação, mas já que era só o que eu podia fazer, escolhi uma academia (achei uma que fazia a higienização da água com um gerador de ozônio, muito legal) e fui embora no novo estilo de vida.

Não pensa muito, não pensa muito!

nunca-nadarEu já falei que não curtia muito natação? Pois é, na verdade eu não curtia nadinha. Quando era mais nova, minha mãe me matriculou num curso, mas larguei na segunda semana. Ai, que coisa mais chata! Eu já sabia nadar até no fundo! Ficava um tempão debaixo da água, encostava a mão no fundo e voltava, atravessava a piscina como se estivesse caminhando fora dela... pra que isso de “aprender a nadar” se eu já sabia?

Por isso, a decisão de entrar pra natação naquela altura da vida parecia uma coisa mais sem sentido ainda – se não fosse pelo motivo. Meus avós sempre pegavam no meu pé pra eu cuidar melhor dos joelhos e eu não escutava, mas uma coisa eu gravei a fundo na mente e passei a usar muito nessa época de joelhos fracos: “não pensa muito, senão você não faz”. É aquela história: se a água está fria, pula logo de uma vez, senão vai tentar entrar aos pouquinhos e não vai dar certo. Já parou pra reparar que é verdade?? Se a gente fica pensando muito, relutando, demoramos tanto que acabamos não fazendo a coisa, ou não fazendo direito. Se o problema for a água fria, então... a gente só molha até as canelas e não entra. E foi assim que decidi fazer minha matrícula logo de uma vez, comprar o maiô e a touca e pronto. Consumado.

Efeito inesperado

cartucho-de-polipropileno-limpar-aguaMas sabe que foi uma coisa boa? Desde a aula experimental, eu senti a água de um jeito diferente, me “relacionei” com ela de um jeito diferente; ela parecia mais “macia”. Acho que era porque ela não estava lotada de cloro, já que usavam um tal de cartucho de polipropileno para limpar a água – com cloro ela parece ficar “dura”, sei lá. As instruções do professor eram passadas com um jeito mais tranquilo – e na minha infância, a professora falava de um jeito meio infantilizado que eu não gostava. Será que foi por isso que não gostei? E a água parecia mais gostosa dessa vez; vai ver que era porque a piscina estava mais vazia.

E comecei a gostar daquilo de verdade. Os joelhos foram melhorando e a fisioterapeuta dizia que logo eu poderia largar a natação se quisesse. Mas quando ela falou isso, me deu até um aperto no coração, sabe? Eu estava realmente gostando e praticar aquele esporte! O basquete já não me fazia tanta falta mais, apesar de eu ainda ter vontade de voltar a correr. Bati um papo com ela e ela disse que era até melhor que eu ficasse na natação, mesmo – mas como ela sabia que eu não gostava, achou que eu gostaria da notícia. Hehehe! É uma fofa.

Passados quase 11 meses, meus joelhos estavam bons outra vez, pra eu praticar o que quisesse. O pessoal do basquete nunca mais me viu em quadra, só na arquibancada ou nos nossos encontros costumeiros no barzinho perto da quadra (a amizade se manteve, claro!). Já a galera da piscina passou a me ver cinco vezes por semana, pulando “bomba” pra entrar na piscina e enchendo a paciência de todo mundo (eles enchiam o meu também, ora). Novos amigos!