O Brasil vive um tempo oportuno para realizar as suas reformas. Sim, estamos falando de política, da possibilidade de se ter reforma na política também. Mas não se combate o câncer com aspirinas. E por isso, interessante será a Sociedade Civil promover reformas culturais, sociais, filosóficas que perpassam pela Família, pela Escola, pela Igreja, pela Imprensa, por todas Autoridades e seus procedimentos. Temos visto a ética escandalizada pelas práticas sociais atuais que escancaram números, valores, pessoas, índices de corrupção que mancham derrubam nossas perspectivas, nossa auto-estima. Mas que também nos trazem a grande oportunidade para reformar o que está errado ao nosso redor.  A ética está na moda.

As reformas políticas deixaram o nível de necessárias e passaram ao grau máximo da urgência, frente aos acontecimentos recentes, que na verdade são práticas antigas e conhecidas por todos. Em verdade, a corrupção é mais encontrada no setor público, mas longe da exclusividade, pensar assim, seria fechar um dos olhos para o cotidiano. Público e Privado travam essa luta de lama na cara.  Na política vemos amplas e escancaradas demonstrações do vício, de crimes, de conchavos, de traições, tudo que são noticiados tempos depois do dinheiro, da vergonha  ter ido para longe de seu devido lugar na sociedade. E o setor privado ao apontar as falhas do outro setor, aparenta querer esconder o seu lado frágil que é a nossa cultura brasileira, nossos antigos e questionáveis costumes, nossos vícios que sustentam e amparam essa nuvem suja, chamada corrupção.

O ideal é que a honestidade e a ética fossem qualidades inteiras, que classificassem o indivíduo como sendo ou não portador dela. E se possível, de fácil identificação.  Mas não é assim que se opera. Os indivíduos por serem humanos, são falíveis, onde cada um tem o seu “livre arbítrio”, o seu ponto de vista para seguirem mais à esquerda ou à direita em determinadas escolhas durante a vida. Sendo assim o grau de honestidade se torna complexo numa sociedade que por alguns a considera históricamente “colonizada e criada por indivíduos expulsos de seus país de origem”. O Brasil tem lá suas características, mas que em resumo, refletem o que somos nós, cada um de nós. A todo instante, escrevemos a própria história que refletem ao final somando tudo, nosso comportamento, costumes e a nossa realidade.

No nosso cotidiano quem é que não se deparou com algum dos verbetes seguintes? (Colocar no Caixa Dois - Comprar e vender de Votos - Sonegar o INSS – Pagar bola para o Comprador ou Fiscal – Molhar a mão - Pagar por fora - Receber por fora – Constituir um Laranja – Mandar uma Mala branca para o time – Colocar a Empresa no nome de parente – Precisar de um Sócio pró-forma – Contratar apenas na gaveta – Tirar Férias de gaveta - Isso é só para Inglês ver - Ninguém precisa saber disso - Se não cola não sai da Escola – E é  só pobre que fica preso – Não existe Justiça - É só usar o charme - O esquema é simples – Comprar e vender recibos médicos para abater no IR – Que tal furar a fila? – Podemos dar um jeitinho nisto, mas...) enfim são tantos e você já deve estar o bastante enjoado.

É a nossa realidade. Não temos como fingir ou fugir da dura verdade que muitos indivíduos estão sendo treinados nesse momento a serem sujeitos dependentes dessas más condutas. Na sua sala mesmo, agora ou no horário mais nobre existe uma janela aberta para um verdadeiro curso de bandidismo, quase de graça, popular, aos seus filhos e com índices de audiências garantidores da sua permanência. O dinheiro sujo compra e paga tudo isso e está instalado nas mentes de formas objetiva ou subliminar. 

Mas a inquietude desse artigo é simplesmente questionar senão estamos agora, diante uma excelente oportunidade de reformar a nossa cultura, por quem acredita no futuro.  E se olharmos um dia nossos livros digitais de histórias e lembrarmos que ficamos felizes por eliminarmos ou reduzimos nossos índices de violência cultural e social. Muitos ficam presos à questão prisional, direito do Estado em punir, como se fosse o único remédio, a solução, que mais parece fuga do exercício de olharmos primeiro para dentro de nós e criarmos em nós um firewall (muralha de fogo) para combater e repelir o que não mais queremos em nossa volta. Não seria um bom começo?

Reformar não é destruir tudo, ou construir algo do zero (tudo de novo). Reformar é mudar o que se tem, do jeito que está. Primeiro é preciso coragem para olhar o que temos em nós e a nossa volta, e este será o nosso ponto de partida, precisaremos corrigir  e qualificar nossas ações e aceitações da realidade. Pois é esperado uma mudança geral de práticas, costumes, hábitos. E não existe há uma dica salvadora, uma bomba atômica imaginária que pudesse recomeçar tudo, não será necessário. Talvez o mais eficiente seja acreditar que precisamos começar a fazer a reforma primeiro conosco, individualmente. Sim, esse duro questionamento sobre a própria honestidade, sobre a melhor forma ética das coisas, tudo aquilo que aprendemos e ensinamos, e buscarmos uma revisão profunda, interna e corajosa da maneira de aceitar as coisas, num processo de qualificação, onde a Ética esteja sempre na moda. E se aceitarmos que podemos mudar a nós mesmos, ficará mais fácil acreditar que poderemos contaminar o próximo. Sendo paciente, porém diligente na busca de criarmos um mundo melhor, com o sentido para o bem. Primeiro eu, onde tudo de bom e ético começa comigo e eu sou o maior responsável pelas minhas práticas, e se eu espero a honestidade do outro, ela precisa começar comigo.

Caso contrário, continuaremos sendo manipulados, enganados na sala,  no noticiário, na novela, na aula, no escritório, pelo chefe, pelo “amigo” ao acreditar que não somos capazes de mudar, de reformar, de fazer melhor. E teremos pela frente os previsíveis pessimistas dizendo que essa geração não verá dias melhores.

E senão somos capazes de mudar, do que valerá essa nossa geração então?