Vivemos em uma sociedade capitalista, por isso – em maior ou menor grau – somos consumidores, a questão deste estilo de vida é que com o numero de propagandas e a influência das mídias sociais consumir é como uma inscrição na sociedade, ou seja, se não tenho condições de consumir, sou marginalizado. Então nos ocupamos de trabalhar e ganhar dinheiro o suficiente, muitas vezes mais que o necessário, para consumir. Consumir o que muitas vezes nem desejamos, mas achamos que desejamos, pois só possuindo tal carro ou roupa de marca estaremos ‘dignos’ de permanecer em sociedade.

Este estilo de vida, claro, é passado para as crianças, ou seja, as crianças cada vez mais cedo, se tornam consumidoras, e o que é ainda mais alarmante, consomem não por ‘querer brincar’ com tal brinquedo, mas simplesmente pelo próprio ato de consumo, não pelo objeto da compra em si, mas pelo ato de comprar, e muitas vezes o que se compra nem mesmo é utilizado.

Vamos então citar três problemas do consumismo infantil: padronização, pais como vilões, perda da infância.

A padronização: Por muito tempo as pessoas tentavam de alguma forma se diferenciar das outras, hoje o que importa é usar o que está na moda, estar igual aos outros, para ser aceito. Assim as diferenças são ridicularizadas, e onde está o espaço para que a criança desenvolva sua identidade, seus gostos próprios e saiba valorizar as diferenças? Pelo contrário a padronização troca a identidade individual pela coletiva, não que a identidade coletiva não seja importante, mas a individualidade precisa ter o seu espaço, os gostos das crianças são os impostos pelas mídias e o que é aprendido é deixe o outro de lado se ele não tem produto A, B ou C, ou ainda todos os três.

Pais como vilões: É injusto culpar os pais dizendo que eles não têm controle sobre os filhos quando existe uma indústria bilionária por trás de milhares de propagandas que chegam às crianças todos os dias através das mídias, principalmente da televisão. Os pais, com a culpa de terem que sair boa parte do tempo para trabalhar, acabam colocando os bens materiais no lugar do afeto, que lhes falta tempo para dar. O fato dos pais saírem a maior parte do tempo para o trabalho abre ainda mais espaço para as mídias, ou seja, é uma disputa desleal com os pais. O estímulo desenfreado pelo desejo que acontece nas propagandas coloca os pais como vilões. Porque muitas vezes os pais não têm condições de dar tudo o que a criança pede e mesmo quando tem dinheiro esta não é uma atitude positiva olhando pela perspectiva da educação da criança. Enfim, a indústria das propagandas utiliza da inexperiência e imaturidade da criança para que ela seja promotora dos seus produtos em casa e assim dificulta a relação pai e filho.

Perda da infância: Como a mídia passa muitas vezes mais tempo com as crianças do que a família, ela – a TV principalmente – é a maior influenciadora dos desejos, ‘valores’ e estilo de vida das crianças. E o que é passado para as crianças é um mini mundo adulto. É a representação constante de um mundo adulto na infância, brincar de ser a mamãe ou o papai sempre existiu e é saudável, o problema reside no fato de que deixou de ser a brincadeira para ser a realidade de muitas crianças. Realidade até certo ponto, porque é a fantasia que elas vivem constantemente, porém, ao viver uma reprodução do mundo adulto perde-se a infância. Ao viverem neste imaginário perdem não só a infância, mas perdem o amadurecimento. O amadurecimento não acontece, pois ele só é possível nas frustrações e ao permitir que a criança viva uma fase antes da hora retira ela automaticamente da fase que precisa ser vivenciada, no caso a infância.

E tudo isso é apenas uma parte dos malefícios do consumismo infantil. Então se percebe a importância de cuidar o máximo possível para que seja reservado o direito da criança de ‘ser criança’, e ensinar-lhes o verdadeiro valor de ser, em todas as suas diferenças, e não do ter.