Analisar a conjuntura econômica atual com base na dinâmica do crescimento econômico brasileiro dos últimos é o grande erro de grande parte dos analistas financeiros e dos departamentos econômicos das instituições financeiras.

Uma das principais questões refere-se às projeções de inflação.

Segundo a pesquisa FOCUS, desde o primeiro trimestre de 2013, os bancos vêm apostando na aceleração da inflação no segundo semestre. Na verdade, esta aposta vem sendo negada pelos fatos.

Os indicadores de preços, mesmo os híbridos, como o IGPM, vêm mostrando desaceleração da inflação.

A principal razão desta mudança é que o Brasil passa pela crise de um modelo de crescimento que foi a tônica dos últimos 10 anos e que garantiu ampla popularidade ao Presidente Lula e elegeu a Presidente Dilma.

Este modelo teve como pilares os seguintes pontos:

  1. Forte expansão da renda  via programas de transferência e aumento real do salário mínimo;
  2. Ampliação do crédito;
  3. Programa de desonerações fiscais para incentivos ao consumo de bens duráveis.

Ao contar com capacidade ociosa na indústria, esta política produziu efeitos imediatos e importantes sobre o crescimento econômico, nível de renda e emprego nos últimos dez anos.

Porém, isto só foi possível devido ao financiamento do setor externo brasileiro, sobretudo devido às condições de juros baixos e de incentivos monetários na economia americana e ao forte crescimento da locomotiva econômica chinesa que trouxe um bônus ao Brasil com a alta de preços das commodities.

O paradigma deste modelo morreu, mas pensamento econômico do país ainda raciocina sobre a mesma lógica.

As condições hoje são muito distintas pelas seguintes razões:

  1. A recuperação da economia norte americana vem drenando recursos das economias emergentes para oportunidades mais atrativas  de investimento nos EUA, ou seja , as fontes externas de financiamento estão secando;
  1. A China vem crescendo menos por conta dom menor ritmo de crescimento da economia mundial e por  “nova industrialização” norte americana reduzindo os ganhos extraordinários dos países exportadores de commodities como o Brasil;
  1. O dinamismo do consumo das famílias vem caindo devido ao menor aumento da renda real devido à inflação e pelo esgotamento do crédito para financiar o consumo;
  1. As tentativas do Ministério da Fazenda em aumentar o consumo viam isenções fiscais e gastos também vem se mostrando cada vez mais inócuas apenas aumentando o desiquilíbrio externo.
  1. A apreciação cambial dos últimos anos pela vantagem comparativa brasileira em commodities erodiu a capacidade de investimento e modernização da indústria nacional.

Deste modo, não há como manter a demanda como anteriormente. Não há possibilidades de financiamento  para que a economia cresça com base no paradigma anterior.

Não é por outra razão que os juros de longo prazo na economia brasileira estão caindo, desde o stress de junho quando o FED anunciou o fim dos estímulos monetários. Não há tomadores futuros, pois o volume de crédito está caindo fortemente. Este é um indicativo da desaceleração forte da demanda que o mercado já está precificando.  

Ainda não sei a decisão que o COPOM tomará em sua reunião de julho, mas se for pelo aumento de 50 base points como o mercado precifica, fica claro que a decisão ou não é pautada por razões técnicas ou está ainda presa a um modelo que já foi superado pelas suas próprias contradições.

Melhor seria se o Governo produzisse um esforço fiscal maior, uma vez que a demanda gerada pelo gasto governamental só desiquilibra o lado externo na economia sem propiciar nenhum crescimento.

Vitor Bellizia, 46 anos , é executivo financeiro, consultor, professor, graduado e pós- graduado pela FGV/SP. Foi Vice Presidente da ANFAVEA.