CIÊNCIA  DETECTANDO  O  ESPÍRITO    

            (balanço do século vinte)

 

Quem dera um tão modesto articulista como este que, afinal, estou a representar, pudesse fazer um balanço geral de tudo quanto houve de estudos e de pesquisas da moderna Ciência no campo do Espírito; não só não tenho competência para tal, como não tenho tempo e recursos financeiros para acompanhar tudo o que se passa em tão complexos estudos acadêmicos e universitários.

 

Mas não custa tentar fazer uma breve retrospectiva, conquanto suas lacunas, do que se passou em tal campo no decurso do século vinte (20) que se findara. Isto é, pois, o que tentarei fazer. Assim, sem nenhuma pretensão de infalibilidade, vamos a tal.

 

Desde tempos muito recuados a humanidade tem previsto a existência de outro corpo, um corpo sutil, não detectável pelos poderes da vista humana, mas que atua como elo ou ponto de ligação entre a mente e a totalidade do corpo carnal propriamente falando. A mente, ou Espírito, em minha concepção, parece atuar sobre o sofisticado aparelhamento cerebral e ramificações nervosas que se estendem às mais distintas províncias orgânicas, por intermédio desse organismo unificador que Paulo, o apóstolo dos gentios, como se sabe, designava Corpo Espiritual em sua segunda Epístola aos Coríntios.

 

Para citar apenas algumas de suas denominações, os ingleses o chamam Corpo Etérico, os egípcios Kha e os gregos Ochema. Paracelso o chamava Corpo Astral, Pitágoras: Carro Sutil da Alma e Kardec, em suas pesquisas no campo do Espírito no século dezenove (19), o designou Perispírito; e a Ciência russa, no século vinte (20), o detectando por meio da câmara kirlian, o rotulou Corpo Bioplásmico, ou Bioplasmático, organismo energético que, segundo suas prolongadas pesquisas, é detentor do grande enigma da vida, nele incluindo as funções psíquicas ditas normais e paranormais da pesquisa parapsicológica do grande e mais confiável pesquisador dos fenômenos insólitos da mente humana: Joseph Banks Rhine.

 

Conquanto escape ao nosso entendimento por situar-se em plano vibratório específico à sua condição mesma, sendo, portanto, não impressionável aos obtusos sentidos físicos, estudos modernos revelam existir esse Corpo de Energia intimamente entrosado ao corpo de matéria e constituindo-lhe a base de campos biológicos, sendo ele, portanto, uma matriz unificadora, um campo com funções diretivas e organizadoras que lhe são a característica mesma. Assim, para que se forme o corpo físico e material durante a gênese do ser, preciso é que se ajuste à célula-ovo o organizador da forma: o Corpo Espiritual, Bioplasmático ou Perispirítico da concepção espírita.

 

Hoje, portanto, se reconhece oficialmente os efeitos notórios desse Organismo Vital, suas propriedades, suas funções, sendo ignorância negar sua existência como estruturador da máquina física, biológica, material.

 

É, pois, deveras constrangedor pensar que herdamos tantas e tão boas coisas do conhecimento metafísico e as recusamos por não terem o aval da Ciência que, mais cedo ou mais tarde, sempre as tem confirmado em suas pesquisas. É o nosso excesso de prudência ou descaso para com as coisas eternas, para não dizer incredulidade mesmo que o materialismo, dito científico, meteu em nossas cabeças. Hoje, por conseguinte, sabe o homem contemporâneo, quando bem informado, que todos os seres vivos, das plantas ao homem passando pela inumerável série dos animais, possuem não apenas um corpo material composto de átomos, moléculas e células, senão também um corpo energético equivalente, distinto daquele outro, o referido corpo de tantas denominações ao longo dos séculos percorridos.

 

Pois bem: se a Ciência provou a existência do corpo sutil, energético, cujo estado plásmico reage de imediato às mínimas alterações de nossos pensamentos e diferentes situações emocionais, seria ele realmente o Corpo Espiritual? E a Alma, ou Espírito, em seu conjunto de funções psíquicas, seria um epifenômeno, um mero acessório de forças nervosas e cerebrais ou ele realmente existe como sede da inteligência e do senso moral? E, se existe, é imortal?

 

Até que ponto a Ciência hodierna, com seus métodos justos da experimentação objetiva avançou neste sentido? Ora, é fato incontestável que, na medida em que as Ciências avançam, novas idéias e novas descobertas vão surgindo no propósito de melhor explicar a gênese de todas as coisas, da vida e do pensamento humano. A Física do século vinte (20), penetrando os domínios do imponderável, do infinitamente pequeno, decretou que uma vez aí, outras noções de realidade se impõem porquanto as partículas atômicas, imperceptíveis a olho nu, são desprovidas de significado enquanto sejam unidades isoladas.

 

O que implica garantir que não podemos decompor coisas e objetos tangíveis de nossa realidade comum em entidades atômicas portadoras de existência própria e independente como anteriormente se pensava. Em nível microscópico e sub, pois, a lógica do mundo material objetivo, com suas leis, sua massa e condições de espaço e tempo se desfazem, deixam de existir... O prêmio Nobel de 1932, Heisenberg, bem expressara ao afirmar que os átomos não são coisas, pois, indiscutivelmente, eles não são coisas que a solidez e a tangibilidade da matéria podem proporcionar por suas impressões físicas. À luz da teoria quântica, tais partículas se apresentam como abstrações decorrentes da matéria verdadeira, de nossa observação cotidiana. (Vide: “Problemas da Física Moderna” – W. Heisenberg e outros – Edt. Perspectiva).

 

Isto é: no fundo, mas bem no fundo de si mesma, a Física Quântica declara não saber das certezas da própria matéria densa do mundo, já não sabe se ela existe, se é uma ilusão ou se é algo verdadeiramente real, pois que, em seus fundamentos, nós a veremos dissolver-se no campo abstrato de outra realidade, de aspecto um tanto ilusório ou imaterial. No último termo da materialidade, portanto, não há mais o objeto de conteúdo físico, e sim, repiso, apenas abstrações derivadas da matéria real que se dispersa na energia, segundo recentes indagações físico-matemáticas propostas pelos mais renomados sábios do século vinte (20). 

 

 

 

Pelo que emerge da Física atual, pelo menos em seu paradigma quântico, percebe o leitor que nunca o nosso conceito de matéria esteve tão abalado, pois se cogita de estruturas desprovidas de fisicalidade, caindo no puro conceito de uma formulação matemática. O modelo de construção teórica da Física Clássica newtoniana está inteiramente remodelado por cientistas do porte de um Minkowski, Einsenberg, Einstein e tantos outros contemplados pelo Nobel, tornando possível conceber pelo menos três Modelos de Física distintos entre si: a Newtoniana, a Quântica e a Relativística que, embora todas elas sejam verdadeiras para os fenômenos que explicam, elas, paradoxalmente, se excluem umas em relação às outras.

 

E o fato é que, nos estudos da matéria, de suas fundamentações, ou, nos da antimatéria, os físicos, para a perplexidade de todos nós, tem aproximado suas teorias de uma visão algo metafísica, em que afrontam os princípios da Física Clássica, pois que tocam as fronteiras de um mundo invisível, em antagonismo às coisas do nosso cotidiano comum, de ordem fisicalista e material. Um novo modelo de universo, o das coisas fluídicas ou imateriais (ou espirituais) já é do domínio da Física Moderna há algum tempo. A própria Teoria einsteiniana comporta especulações em torno dos mundos paralelos, da quarta dimensão (espaço-tempo?) e da quinta, sexta, e etc, etc.

 

E o fato é que toda uma geração de novos cientistas teoriza que o universo, do átomo aos conjuntos galácticos, não pode ser obra de uma mecânica pura, do simples acaso, e, sim, que ele foi gerado de um vasto projeto, de uma vasta e extraordinária rede de informações ordenadas e precisas, sendo que o átomo, suas aglomerações, e a vida, em suma, resultam de manifestações energéticas imateriais, de uma intenção, pois, que é Lei, que tudo organiza ordenadamente.

 

Convivendo com um estado de coisas tão promissor, Chardin, que admitia a existência do psiquismo no íntimo das coisas, dizia que uma interpretação do cosmos, mesmo de conotação positivista, deveria abranger o seu interior e o seu exterior, ou seja, o Espírito e a matéria.

 

Neste sentido, pois, vale reverenciar um expoente físico teórico cujo labor intelectual esmerou-se em acatar, apesar de suas interpretações pessoais, a existência do Espírito num espaço-tempo específico, dentro das coisas animadas e inanimadas. (Vide: “O Espírito – Este Desconhecido” – Jean E. Charon – 1977 – Melhoramentos).

 

E, do outro lado do ocidente, como se sabe, os soviéticos também estudaram e estudam, conheceram e conhecem os fatos da paranormalidade bem como conseguiram fotografar outras dimensões da realidade material e biológica: a aura ou irradiação energética das coisas por meio da revolucionária câmara kirlian. Ora, se existe tal irradiação envolvendo todo ser vivo, existe alguma coisa para justificar tal fenômeno, e, segundo os russos trata-se de um sistema estruturalmente organizado, o que eles definiram por uma espécie de Corpo Energético, ou Bioplasmático.

 

Mas tal estrutura interna do ser vivo tem a propriedade de emitir para além dos limites do corpo físico não apenas sua luminosa irradiação bioplásmática como também os seus campos eletrodinâmicos como ficou constatado pelas experiências do Dr. Harold Saxton Burr.

 

Este, a rigor, confirmara a existência do Corpo Bioplásmico ao provar que por detrás das leis da genética que regem o fenômeno biológico, existe um modelo eletrodinâmico que não só orienta o crescimento ordenado do corpo físico como lhe especifica o tipo biológico, definindo sua forma geral. Tais posturas, independentes e complementares, portanto, reafirmaram e reafirmam os dados da pesquisa parapsicológica dos Drs. Rhine e Mc Dougal que provaram a natureza não-física da mente.

 

Nos tempos transcorridos do século que se findara, portanto, importantes obras de filosofia científica, lastreadas, umas, em sérias teorizações, e outras, em rigorosas pesquisas de laboratório, permitiram-nos saber que a Ciência está devassando outros aspectos da realidade concebida como matéria.

 

 

Obras citadas, e outras não citadas, como as dos Drs. Rhine e Louise Rhine confirmaram indubitavelmente tais aspectos. Outras ainda, de Bob Toben e Fred Wolf, em “Espaço-Tempo e Além” (1975 – Cultrix) buscaram unificar os domínios da Física moderna com os fenômenos parapsicológicos.

 

E vai por aí...

 

Mas penso, contudo, que o Dr. Capra, importante físico e autor de obras tais como: “O Tao da Física”, “O Ponto de Mutação”, dentre outras, esteve à frente dessa poderosa corrente de brilhantes cientistas, filósofos, humanistas, e etc, que estiveram revolucionando a conceituação mecanicista do mundo, que se infiltrara em praticamente todos os ramos do conhecimento e da cultura.

 

Outra obra de filosofia científica por mim acatada, e de algum interesse aos estudiosos espiritualistas, é a de Renée Weber: “Diálogos Com Cientistas e Sábios” (1986 – Cultrix). Dentre outros assuntos, o livro viera enfatizar aspectos alusivos à unidade das coisas, do microcosmo ao macrocosmo (mais uma confirmação científica do Monismo ubaldiano), e tratara de nos mostrar uma nova Ordem Universal em que só parte dela se nos manifesta com a percepção de fenômenos e coisas do ambiente que nos cerca. Este nosso ambiente, como Ordem Explícita, seria, ou é, segundo tal, a manifestação de outra ordem, a Implícita, oculta aos nossos olhos, mas que se desdobra em nossa realidade comum. Em fenômeno inverso, a Ordem Explícita retornaria à Implícita que é o seu substrato original, fonte de todas as coisas materiais.

 

A Teoria da Ordem Abrangente, de David Bohm, um dos físicos mais influentes do século vinte (20), surgiu da Física experimental mesma, das variáveis ocultas e definições muito superficiais do aparente caos das partículas elementares descritas pela mecânica quântica; teoria que, no campo da Ciência mesma, está a ratificar o conhecimento espiritista-kardequiano que temos do mundo onde a vida prossegue se alternando, se revezando, em sucessão infinita, ora aqui, ora acolá.

 

 

Tal como preconizam os cientistas Ian Stevenson (“Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação” – Editora Cultural), Andrade (“Reencarnação no Brasil” – Editor: O Clarim), Banerjee (“Vida Pretérita e Futura” – Editora Nórdica), e etc, etc.; ou então “A Memória e o Tempo” (Edicel) do pesquisador Hermínio Miranda.

 

Mas na obra de Weber, ainda, veremos renascer com Rupert Sheldrake um novo e bem fundamentado vitalismo com os estudos do Campo Morfogenético, um princípio equivalente, em suas funções, ao Corpo Bioplasmático dos russos. Referido Campo vai explicar e inserir-se naturalmente na Ordem Abrangente de David Bohm e seus holomovimentos. Dentre outras considerações de ordem prática, Sheldrake comenta a fragilidade da teoria mecanicista ao tentar explicar a evolução embrionária que, por lógica matemática, deverá envolver mais que apenas, e tão somente, os materiais físico-químicos do código genético das espécies.

 

Ora, como admitir um organismo que vem ao mundo, cujas funções vão sendo derivadas de funções menores, e assim sucessivamente, até atingir-se um indivíduo completo para cada espécie em particular?

 

O fato é que órgãos mais complexos vão surgindo de órgãos menos complexos que, por sua vez, aparecem praticamente do nada, de proteínas elementares residentes nas estruturas cromossomiais. Não havendo equivalência entre causa e efeito norteados pelas leis físicas de causalidade, é preciso reconhecer a existência de causas metafísicas para uma tão perfeita funcionalidade embrionária em que se conjugam crescimento e ordenada construção de órgãos. Não seria essa causa, o Organismo Bioplasmático: “base de campos biológicos”, segundo os russos? (Vide: “Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro” – S. Ostrander e L. Schroeder – Cultrix).

 

Assim, a Ciência do século vinte (20), sem dúvida, pois, esteve detectando o Espírito; ela o descobre e o admite nas entranhas da matéria, da própria química neuro-cerebral, em cuja estrutura se inserem partículas e sub-partículas do átomo que, definitivamente, estão impossibilitadas de engendrar nosso tão complexo Sistema Intelecto-Moral.

Sistema este com seus atributos de Inteligência, Lógica, Criatividade, Intuição, Memória, Sentimentos e Razões Éticas que conferem ao homem a mais plena e exata noção de sua existência e responsabilidade. O Espírito, pois, parece vibrar noutra dimensão, porém agregada ao tridimensional da matéria vias desconhecidas, energéticas, e no cérebro parece sintonizar-se mais exatamente com a estruturação bio-psíquica da glândula pineal.

 

Tais atributos do Espírito, pois, tem nos facultado alguma noção do infinito, de nossa continuidade espiritual e, portanto, da existência de um Criador, de Sua Imanência na ordem da criação.

 

Motivos estes que, indubitavelmente, são mais que suficientes para nos deixar atônitos ante os mistérios do universo, da consciência (Espírito) e da organização biológica (corpo físico) cuja origem transfísica, ou bioplasmática (perispirítica), estão eu, você e os homens de Ciência, começando a investigar.

 

Finalizo com os dizeres de que pouco, ou quase nada sabemos de nós mesmos – do Espírito e da matéria - mas estamos caminhando com Kardec, com a Ciência que lhe completa, e, sem dúvida, com as instruções excelsas dos enviados de Jesus nas pessoas missionárias de Pietro Ubaldi, Chico Xavier, Divaldo e tantos outros brilhantes exemplos de verdadeiros cristãos da modernidade. Assim, muito se realizara espiritualmente e, cientificamente, nesse notável século vinte! Quanto mais não se realizará nos séculos porvindouros? Quanto ainda não se fará neste mesmo século vinte e um (21) de nossas expectativas mais otimistas de um novo tempo, de uma nova era planetária?

 

É esperar para ver! Mas não de braços cruzados e sim no trabalho construtivo, na caridade, no amor em ação que fará da prova um breve arranhão que em nada afeta nossa imortalidade espiritual.

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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