Um olhar estranho, um sorriso diferente. Falta-me aquele abraço, que mesmo sendo tão breve, me fazia feliz.
Os nossos momentos de histórias, quando ouvíamos atentamente a tudo que contava-nos.
Os medos, as alegrias, as poucas palavras, disciparam-se pelas mágoas proferidas pelo tempo. Estando tão pertos, mas tão distantes. Sei que tudo que queríamos era poder estar juntos, tudo que queríamos era poder simplesmente voltar a ser como antes, cúmplices e companheiros.
E quando olho para o presente tenho a angústia de quem não consegue dizer o que sente.
Os sentimentos estão presos, acorrentados pela repressão à que me submeti.
Tantas lágrimas querem sair de uma alma que está abatida, e que de tanta tristeza, já não consegue chorar.
Os erros cometidos, pela impureza de nós, humanos, fizeram-nos afastar, e travar a relação que, de minha vontade, seria eterna.
O arrependimento toma conta do ser que de tanto sentir-lhe não consegue se desculpar.
Olhar em teus olhos, não consigo, porque sei que sua soberba maldita não te faz enxergar o que deveras se passa.
Sei que o erro é não só de um, mas de todos. Mas o acerto também é de todos.
Os membros de nosso corpo estão destituídos de si, afastados pela ausência da compreensão do sentido de nossa união.
Já não me tens como a princesinha do brilho de seus olhos. Aquele encanto e aquele orgulho que sentias por mim, foram quebrados, porque não aceitastes que eu sou também errante pecadora, por que idealizastes a hierarquia perfeita, onde só um pode ser perdoado.
A responsabilidade que tens com a vida, te enfada e te faz ainda mais incompreensível. Ser que não tolera a ignorância dos seus, mas que por si, se faz ignorante.
És o cérebro que comanda todo o corpo, mas não se dá conta do câncer de caráter que em pouco, pode matar-lhe.
Contudo, és comandante que cuida e coordena o seu exercito de descendentes.
És a raiz que segura o tronco da árvore florida, que gerou os frutos viventes.
Não escolhemos estar neste mundo, nem tampouco passar pelos obstáculos que nos proporciona.
Sei que tudo que queremos é estar juntos, é poder voltar aos velhos tempos. Tudo que queria era poder olhar em seus olhos, e dizer que tudo que fizemos não foi por maldade, foi conseqüência de nossas experiências de nossos desejos e instintos humanos.
Queríamos aceitar que nada mudou, que no fundo, ainda somos os velhos cúmplices e companheiros.
Somos parceiros no amor e na dor, parceiros distantes, mas tão próximos.
Queríamos assumir o sentimento em comum que ainda existe entre nós.
Tudo que eu queria era conseguir dizer que te amo, pai.