É de partir o coração ver uma criança desnutrida, com as bochechas esquálidas. A evidência da fome, da necessidade que ela passa estampada na sua aparência, no seu olhar. É desumano olhar e não sentir uma angústia, não sofrer diante disso. Mas se mudar esse quadro só depende de nós, cidadãos, por que ainda existem pessoas, pior, ainda existem crianças que se encontram nesse estado?
Infelizmente, há seres humanos (e não são poucos) que são frios e desumanos o suficiente para encararem o olhar amargurado de uma dessas crianças e não sentirem nada. Nem piedade, nem compaixão, nem angústia, muito menos revolta. E quem realmente pode fazer algo pra mudar essa situação, quem tem maior poder para tal, na sua grande maioria, compõe o grupo dessas pessoas ?sem coração?. Que podem até se sentirem mal com a situação, mas acabam se acostumando com a mesma e achando comum, corriqueiro.
Isso não quer dizer que no Brasil não exista uma preocupação social com a concentração de renda. Existe sim, e o problema é exatamente esse. A preocupação dos brasileiros se restringe à renda. Economicamente falando, é isso que realmente importa e interessa. Por pura insensibilidade ou frieza, a saúde e condições físicas e sociais da criança são menos importantes que assuntos da economia.
A distribuição de renda não garante acesso aos bens e serviços essenciais aos quais todos deveriam ter direito. Não garante uma boa educação, valores sociais, ou um olhar de carinho e amor que uma criança merece receber. A prioridade deveria ser sua qualidade de vida, saúde e bem-estar social. Nota-se que os rostos tristes e desnutridos de nossas crianças representam o resultado de políticas econômicas mal planejadas, de valores com prioridades invertidas.
Mas é possível que essa situação seja revertida. Se um sistema de proteção à infância fosse implementado, se houvesse um maior investimento em ONGs direcionadas para tal, ou até mesmo uma maior crítica e fiscalização por parte da mídia, entre inúmeras outras medidas que são economicamente viáveis ao nosso país, aos poucos essa triste realidade iria mudar.
O que ainda impede essa mudança, como disse o autor Cristovam Buarque, é "a miopia moral, que não permite aos ricos verem as bochechas das crianças pobres, e a miopia lógica, que amarra este problema à economia". É preciso mudar a visão da nossa elite dirigente.
Portanto, para reverter a situação temos que nos conscientizar, não nos acostumarmos ou acomodarmos diante do triste e amargurado olhar de uma criança sem saúde, e sim nos revoltarmos, cobrarmos de quem pode mudar essa situação consideravelmente, para que essas pessoas de poder sintam a dor dessas pequenas criaturas, levando em consideração seu sofrimento e infelicidade, e não reduzir isto a uma simples desigualdade de renda.