Assessoria de Comunicação: A Evolução do Jornalista

Diego Gianni

6° período, Módulo Mercado B

Resumo

Por meio de uma pesquisa empírica e estudos relacionados com as disciplinas Assessoria de Imprensa; História da Comunicação; Semiótica, este presente artigo tem por objetivo analisar o atual perfil de um jornalista assessor de imprensa em comparação com as décadas anteriores, com base na ruptura entre relações públicas e assessoria de imprensa na década de 80. Partindo do hipótese de que a evolução da Comunicação está relacionada às relações humanas (em âmbito pessoal e profissional), qual o perfil (ou qual deveria ser o perfil) de um assessor de imprensa na atualidade? Hoje as informações são diversas e instantâneas. Os meios para a comunicação são múltiplos. As fontes, amplas e diversificadas. Considerando esses elementos, o assessor de imprensa deve se limitar ao papel de disseminador da informação? Este artigo propõe, além do comparativo, mostrar o assessor de imprensa atual como um novo profissional denominado “assessor de comunicação”, profissional este munido de uma visão estratégica que transpassa o mero “agir operacional”. Se por um lado, a priori,  a necessidade do assessor de imprensa ser um profissional mais amplo (e até mesmo ter as condições para isso) é uma discussão antiga, a crescente velocidade dos meio midiáticos  parecem transformar o que antes era uma opção em uma obrigatoriedade para que o jornalista assessor de imprensa possa se desenvolver na profissão e atender as vigências de um mercado de informações cada vez mais múltiplo e competitivo.

 

Palavras - chave: Assessoria; Comunicação; Jornalismo; Jornalista; Imprensa.

Introdução

 

A comunicação, desde os seus primórdios, envolve todo um contexto histórico, social, geográfico e cultural. A necessidade de comunicar sempre esteve intrínseca no homem, e na medida em que os meios para a comunicação se transformam e evoluem, também mudam os homens e suas relações pessoais e profissionais.

O livro Evolução na comunicação (1.984), apesar de “antigo” (considerando o progresso tecnológico acelerado das últimas duas décadas), apresenta uma linguagem atual na análise da evolução comunicativa da humanidade - traçando uma linha do tempo que principia na era paleolítica e segue até a era do computador. E é curioso observar como um livro escrito há quase trinta anos apresenta uma série de discussões atuais no que se refere aos avanços tecnológicos e a mudança no perfil de determinados profissionais da comunicação - no caso deste presente artigo, a analogia pode ser feita aos jornalistas do terceiro milênio.

No referido livro, o pesquisador e comunicólogo Enrico Carità escreveu que:

O acontecimento central que permitiu às técnicas de elaboração das informações jornalísticas passarem de um estado de relativa imobilidade a uma rápida aceleração evolutiva é devido ao progresso dos últimos vinte anos nas tecnologias eletrônicas, com todas as suas incontáveis variantes que, partindo da realização de circuitos cada vez mais compactos (ou integrados), permitiram que se chegasse a um leque amplíssimo de produtos e aplicações.

Nos dias de hoje, a comunicação tem um contexto distinto de outros tempos. Se na década de 90 costumava-se dizer que “o mundo tornou-se globalizado”, podemos aludir que na década seguinte o mundo se tornou on-line. Um profissional da comunicação deve estar atualizado e inserido nos novos meios midiáticos, de forma a aprimorar sua atuação na área. O jornalista atual não se limita a apenas informar, uma vez que as informações são muitas e instantâneas, os meios para a comunicação são múltiplos e as fontes são amplas e diversificadas.

Portanto, para analisar o perfil do jornalista de hoje, inserido em um mundo que exige dos profissionais de comunicação uma atualização constante em paralelo ao progresso tecnológico, o presente artigo objetiva identificar a transformação do jornalista assessor de imprensa em um profissional da assessoria de comunicação.

 

Assessoria de Imprensa no Brasil

No artigo “O surgimento da assessoria de imprensa no mundo”, a jornalista Kika Cirra resume a evolução da assessoria de imprensa também no Brasil. A primeira iniciativa com características semelhantes à assessoria de imprensa ocorreu no ano de 1.909, no mandato do presidente Nilo Peçanha. Em uma época onde o café era o ponto mais forte da economia brasileira, criou-se um setor ligado ao Ministério da Agricultura para distribuir informações a imprensa. Já no Estado Novo de Getúlio Vargas (1.937), foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) - um serviço de atendimento a imprensa ligado ao gabinete civil. Mas somente após a II Guerra Mundial, quando as grandes multinacionais voltaram os olhos para o Brasil, é que surgiram as práticas de assessoria de imprensa.  A partir da década de 70, tornou-se evidente para os empresários o quanto a assessoria de imprensa era importante. As assessorias se expandiram, abrindo um interessante mercado de trabalho para os jornalistas.

Na década de 80, houve uma ruptura entre relações públicas e assessoria de imprensa, fator que diferenciou o Brasil dos outros países (nos quais não se considerava a assessoria de imprensa como uma prática jornalista).

A respeito disso, a jornalista Maristela Marfei, autora do livro Assessoria de imprensa – como se relacionar com a mídia (2.004), escreveu que:

Ao longo da década de 80, a velha prática de despejar press releases sobre as redações voltou à tona, partindo desta vez das empresas privadas, dentro de um modelo esgotado. Embora a vanguarda em termos de assessoria fosse pensar e agir mais como jornalista do que como relações públicas, dentro das assessorias ainda era muito forte o modelo predominante das relações públicas – voltado para a administração de relacionamentos e não para a informação jornalística. Essa situação motivou a Fenaj (Federação nacional dos Jornalistas) a publicar, em 1.986, o Manual de Assessoria de Imprensa.

Como será apresentado no próximo tópico, foi também na década de 80 que os jornalistas viram ampliadas às possibilidades de atuação na área.

 

A Assessoria de Comunicação

 

Jorge Duarte, doutor em Comunicação Social, escreveu em seu livro Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia (2.003) sobre como na década de 80 as grandes organizações valorizaram e ampliaram as atividades de comunicação. Com isso, Duarte fez referência à atuação conjunta de jornalistas, publicitários, relações públicas, profissionais do marketing, planejamento, entre outros, “dentro de diretrizes e políticas estabelecidas previamente”. E como forma de articular esse sistema conjunto, a solução seria a criação de uma estrutura denominada “assessoria de comunicação”, em muitos casos a própria assessoria de imprensa ampliada.

O jornalista, portanto, no papel de assessor de imprensa, passa a ter a partir da década de 80 um papel mais amplo. Deixa de ter apenas um “agir operacional” e passa a ter um “agir estratégico”. Por agir meramente operacional, entende-se por um jornalista assessor de imprensa que cumpre a mera função de enviar releases, controlar o mailing, organizar o clipping, etc. Tais funções, quando desprovidas de um agir estratégico, ficam limitadas a um tipo de jornalista que não mais se encaixa em um mundo cada vez mais acelerado. O jornalista assessor de imprensa que age estrategicamente amplia as próprias perspectivas e também as de sua fonte. Uma vez rompida as fronteiras que existem entre a assessoria de imprensa e a assessoria de comunicação, o jornalista (enquanto assessor de imprensa) deve atuar com base nos objetivos da organização para a qual trabalha – e não se limitar apenas ao papel de jornalista operacional. Como mencionado, isso é uma conseqüência de uma crescente evolução tecnológica das últimas décadas referente à comunicação. Os meios de comunicação se ampliaram e, como decorrência disso, o papel do jornalista também. O jornalista que opta por trabalhar como assessor de imprensa deve agir como um assessor de comunicação e ter um agir estratégico. Do contrário, fica limitado.

Um exemplo prático do quanto as diferentes áreas de Comunicação Social se mesclaram na última década pode ser conferido no próximo tópico, por meio dos resultados da pesquisa empírica aqui apresentada.

Pesquisa com Estudantes de Comunicação

Objetivando demonstrar de maneira mais prática a evolução do jornalista na categoria de assessor de comunicação, fizemos uma pesquisa com estudantes de Comunicação Social da Faculdade Facinter (Curitiba / PR). Considerando que na faculdade Facinter os estudantes de comunicação de diferentes áreas (Jornalismo; Publicidade e Propaganda e Produção Editorial) têm a maior parte das disciplinas em comum (em comparação com o número de disciplinas específicas), apresentamos para dez estudantes de jornalismo do 6º período um breve questionário com o levantamento de algumas questões abertas: a opinião de cada um dos estudantes sobre dividir as mesmas disciplinas com estudantes de diferentes áreas de comunicação; se há interesse por parte de cada estudante de Jornalismo em estudar as disciplinas específicas de Publicidade e Propaganda e Produção Editorial; como cada um dos estudantes entrevistados enxerga o papel do jornalista nos dias de hoje.

90% dos estudantes entrevistados demonstraram entender que a maioria das disciplinas estudadas são relevantes para todas as áreas da comunicação, por mais que o foco de cada um para a inserção no mercado de trabalho seja diferente. Por exemplo: um estudante de jornalismo objetiva trabalhar em alguma redação, enquanto o estudante de publicidade e propaganda objetiva trabalhar em uma agência; porém, a maior parte das disciplinas apresenta pontos em comum para ambos os casos.

40% dos estudantes entrevistados manifestaram interesse em estudar as disciplinas específicas dos outros cursos após o término do curso de jornalismo.   

Por último, reforçando os conceitos teóricos apresentados neste trabalho, a totalidade dos entrevistados enxerga o jornalista atual, acima de tudo, no papel de um empreendedor – de um comunicador que não pode se limitar a dominar a apenas uma área do jornalismo. O estudante de jornalismo deve pelo menos saber o básico dos conceitos de publicidade e propaganda e buscar o aprimoramento na qualidade de um profissional da comunicação.

Os Signos em Comum

A disciplina de semiótica (a qual os alunos do 6º período da faculdade Facinter cursam) é um exemplo de matéria em comum para os estudantes de diferentes áreas que dividem a mesma sala de aula. A semiótica, na condição de ciência que estuda os signos da comunicação, tem como base teórica uma série de conceitos que servem tanto para estudantes de jornalismo como para os de publicidade.

No livro O que é semiótica(1.983), a autora e pesquisadora Lúcia Santaella escreveu que:

 As linguagens estão no mundo e nós estamos nas linguagens. A semiótica é a ciência que tem por objetivo de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo os exames dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido.

Quando a autora escreve sobre “a investigação de todas as linguagens possíveis” (em não por acaso, também um livro da década de oitenta), caracteriza muito bem o tipo de estudante de comunicação dos dias de hoje, bem como o amplo papel que o jornalista inserido no mercado de trabalho deve ter.

 

   Conclusão

 

Por meio dos nossos estudos teóricos e também de nossa pesquisa restrita, com este trabalho concluimos que: analisando o papel do jornalista enquanto assessor de imprensa na década de 80 em comparação com os dias de hoje, com a ruptura entre assessoria de imprensa e relações públicas, e também considerando a crescente e acelerada evolução tecnológica dos meios de comunicação, o perfil do jornalista hoje envolve uma visão estratégica e empreendedora. Algumas faculdades, por meio da grade de disciplinas, preparam seus estudantes para estarem mais aptos e preparados para esse perfil de comunicador -  e não mais apenas o perfil de um jornalista. As empresas e organizações que buscam por um assessor de imprensa, buscam cada vez mais por um profissional que domine diversas áreas da comunicação. A evolução tecnológica das últimas décadas faz essa demanda aumentar. Os meios de comunicação se enovam e os jornalistas devem seguir juntos. A diferença entre ser um assessor de imprensa operacional e um assessor de comunicação estratégico é o que qualifica o jornalista para o vasto mercado de trabalho de assessoria de imprensa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS      

GIOVANNI, Giovannini. Evolução na comunicação (do sílex ao silício). Rio de Janeiro / RJ, Editora Nova Fronteira, 1.984.

MAFEI, Maristela. Assessoria de imprensa (como se relacionar com a mídia). São Paulo / SP, Editora Contexto, 2.004. 

DUARTE, Jorge. Imprensa e relacionamento com a mídia. São paulo / SP, Editora Atlas, 2.003.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São paulo / SP. Editora Brasiliense, 1.983.