RESENHA: COMPORTAMENTO HUMANO

ANDREA ROSA DA SILVEIRA

A etologia se caracteriza por ter uma perspectiva biológica sobre o comportamento. O comportamento humano está registrado no nosso cromossomo. Porém, considerar os principais aspectos biocomportamentais da espécie humana não é questão fácil de abordar devido a sua complexidade.
Alguns eventos constituíram a nossa biologia em se tratando de características estruturais da espécie, como por exemplo, a postura bípede propiciando alguns problemas anatômicos para o parto, sobretudo referente à diminuição da abertura pélvica por onde o bebê deveria passar. Neste sentido, o retardamento do parto foi a solução evolutiva para o problema.
O autor Fernando A. R. Pontes afirma que os bebês nascem totalmente indefeso. No meu ponto de vista, acredito que em termos biológicos, os bebês não são totalmente indefesos quando nascem. Por exemplo, a criança recém-nascida suporta mais o frio, ou seja, a questão de ficar de baixo da água fria, a glote fecha e a água não vai para o pulmão, cessam quase as atividades metabólicas que se normalizam depois quando a criança sai desse estado, volta para a temperatura ambiente, com o aquecimento do corpo.
Apesar da bastante imaturidade apresentada pelos bebês, eles surpreendem na questão que envolvem suas predisposições para a interação social: capacidade perceptual, expressiva, dando indicadores de estrategia de interação.
Recém-nascidos, segundo Langlois e Roggman (1990) preferem estímulos semelhantes à face humana. Eles procuram seu "espelho" que é a mãe, ou seja, os bebês recém-nascidos reconhecem a face da mãe, preferindo-a.
Em torno de três meses de idade, a criança demonstra preferência por faces sorrindo. No âmbito biológico, para o processamento de expressões indicada pelos rostos, é suposto que existem mecanismos neurais especializados.
Os recém-nascidos, no 1º ou 2º dia de vida já identificam e reconhecem a voz da mãe. As vozes alcançam o útero, matriz estimuladora de som e vibrações onde o feto vive. Principalmente para a voz humana, a capacidade auditiva das crianças é melhor que a acuidade visual.
Em relação ao aprendizado da língua, crianças tem a capacidade de discriminar sons da fala não nativa, sugerindo-se que crianças podem fazer as mesma discriminação de sons, expostas a diferentes línguas, das diversas culturas, propiciando a elas uma abertura a qualquer grupo cultural. Neste sentido, pode-se dizer que a criança tem o "instinto para aprender", segundo Pontes.
Para o desenvolvimento do vínculo, especificamente, estas capacidades perceptuais dos infantes se caracterizam, assim como também da alta prioridade da interação. Por volta da terceira semana do bebê surge o "sorriso verdadeiro", diferente do "sorriso reflexo". Na evocação desse comportamento, os estímulos mais eficientes são associados a um indivíduo afetuoso. O estímulo mais poderoso, inicialmente, é a voz materna afetuosa.
O homem sendo um ser social, ou socializável. Desta maneira a criança está neurologicamente preparada para identificar os eventos sociais significativos no ambiente, estando a criança socialmente ativada, e consequentemente sua aprendizagem desenvolve-se no seu processo de interação. "A partilha parece abrir um canal de comunicação com inúmeras outras possibilidades. Colocar-se no mesmo ritmo, entrar em sintonia com o outro, criar níveis de ativação semelhantes, possibilita sentir o que o outro sente ou ao menos facilita uma percepção comum a qual permite à criança adquirir mais facilmente a linguagem e, de modo geral, a cultura".
Constata-se que a díade mãe-bebê como atividade proximal e intensa, serve de fundamento onde tal interação é essencial para o desenvolvimento infantil sendo condição até para o estabelecimento de estratégias futuras de relacionamento.
Os indicadores da preferência das crianças pelos seus pares advém da psicologia evolucionária (necessidade de viver em pequenos grupos, de afiliação) e social, além da antropologia e não simplesmente da etologia.
Neste sentido, em um contexto de brincadeira, as interações infantis tendem a ocorrer privilegiadamente dentro de um grupo.
"A brincadeira social é um fascinante tópico que combina estudos da área da cooperação, comunicação e aprendizagem [?]. A inteligência é uma adaptação para a vida social (BYRNE & WHITHEN, 1988)".
Pressupõe-se com esta afirmativa que a brincadeira social influi nas habilidades cognitivas que ocorrem nas interações. Assim, é através da brincadeira que a criança desenvolve suas habilidades e conhecimento social.