As distâncias do Amor e a Ignorância
Eis como se manifestou Zaratrusta, lá no alto da montanha para onde levou seu amor para ouvir.
“Para além da sinceridade talvez pouco possa acrescentar, mas em se havido posto em movimento um planejamento de ternura – obviamente envolvendo risco que se achava mais ou menos calculado, sentindo um enorme receio de se machucar e também machucar o amor de sua vida – parece se apresentar como factível um tímido aceno de retirada, solicitando seja-me a fatura debitada na conta compaixão, previamente aberta e consentida, em cujo conta corrente deve existir lastro para suportar o ônus causado.”
Amar total, plenamente, diz de uma relação madura, vincada no estatuto ético-humano, em que para além do estatuto social proibitivo, onde a relação renasce consciente, senhora de si numa sala – de - estar que lhe autoriza a saborear a libertação de algumas amarras, ou estratagemas, relação já agora como produto final dos vinculativos efeitos do amor total. Uma manifestação de amor e de ternura e não é uma exteriorização de sentimentos conectados com uma patologia – isto é possível de ser assegurado e é o objeto dessa empreitada – a menos que se verifique um desencadear de atitudes claramente patológicas – ai sim, já é loucura.

Caminhar só é muito difícil, mas eu sei fazer isto.

Pude verificar que o desejo de amar plenamente, em casos que se transforma em discussão de patologia, garante logo o malogro da empreitada tão lindamente imaginada, sonhada e desejada. Por outro lado, pode, num a priori violar a regra número um do amor total, ao impor seu amor ao amor. Por isso causa uma reação às vezes raivosa.

Veja a dificuldade, disse Zaratrusta, nas palavras de Freud,

"O ego é “um pobre coitado”, espremido entre tres escravidões; os desejos insaciáveis do id, a severidade repressiva do super-ego e os perigos do mundo exterior. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o ego é a angústia. Se se submeter ao id, torna-se imoral e destrutivo; se se submeter ao super-ego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter à realidade do mundo, será destruído por ele. Cabe ao ego encontrar caminhos para a angústia existencial. Estamos divididos entre o princípio do prazer (que não conhece limites) e o princípio de realidade (que nos impõe limites externos e internos)."

Não há dúvida de que Freud pensou corretamente a questão.

E ai não se vê patologia. Vê-se, isto sim, um nítido juízo sobre a mecânica das coisas. Pensar e ser feliz sempre cabe a cada um, isto é certo.

O modo como lhe desejei não tenho explicar totalmente; sei apenas que envolveu um desejo, um tesão, de te amar plenamente. Plenamente.

Em minha alma humanística persiste uma idéia de que você não foi bem tratada como uma linda criatura; sinto a dor de te ver sofrida, injustiçada, usada pelos homens voluptuosos, os cuais nunca se preocuparam em buscar na linda criatura o grande orgasmo da vida; esses homens menores somente exploraram essa linda mulher; não lhe concederam o orgasmo da vida e as idéias que integram este orgasmo. Eu fui essa tentativa fracassada; e me chamaram de patológico.

Paciência.

Pelo menos continua a ser uma linda mulher.

O amor total, parece-me, não consegui pôr em Prática.

Posso esperar.

Pensando melhor, eu devo ser mesmo louco em julgar que essa linda e tesuda mulher, que ela sabe quem é, pudesse ser capaz de tanta loucura.

Então, deixe-me só.

Eu posso caminhar.

Te amo.

Beijos.”

Zaratrusta desceu da montanha e caminhou pela longa e arenosa estrada, até desaparecer lá na curva que descia para o rio e a caverna.

OBS. Essa linda é a mulher imaginada que me visitou nos sonhos do último verão, chegou como puta e se transformou na criatura mais linda do mundo. No inverno morrem muitas flores, alguns amores também.

Assis Rondônia,

09.12.12, Limeira