RESUMO
A sedimentoscopia urinária é de grande importância no diagnóstico de patologias do trato urinário. Através dela pode-se detectar a presença de hemácias, leucócitos, cristais, células epiteliais, bactérias, leveduras e artefatos na urina. O Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), determina que todos os laboratórios clínicos do Brasil devem adotar a NBR-ABNT 15.268, referente a padronização do exame de urina, porém muitos laboratórios que possuem algum selo de qualidade não seguem a norma imposta pelo PNCQ. Este estudo teve por objetivo verificar se os Laboratórios Clínicos demonstram discrepâncias em relação à expressão de resultados nos laudos de urinálise de acordo com a norma (NBR-ABNT 15.268). Para tanto, amostras de urina foram enviadas para laboratórios clínicos da cidade de Montes Claros com o intuito da realização de urina rotina do jato médio ou segundo jato com a primeira urina da manhã. Após o recebimento dos laudos a análise foi processada e exposta em forma de gráficos. Dentre os 15 laboratórios analisados, nenhum dos 12 que possuíam alguma certificação de qualidade seguiam a norma de forma correta e os 3 restantes que não participavam de nenhum tipo de controle de qualidade também não seguiam a norma adequadamente. De acordo com os resultados nenhum dos 15(100%) laboratórios testados obedecem à determinação do PNCQ.

Palavras - Chaves : laboratórios clínicos, urinálise, qualidade.

1 INTRODUÇÃO

A Organização Internacional de Normalização (International Organization for Standardization) - ISO, cria normas nos mais diferentes segmentos, variando de normas e especificações de produtos, matérias-primas, em todas as áreas (existem normas, por exemplo, para classificação de hotéis, café, usinas nucleares, laboratórios de análises clinicas, etc). A ISO ficou popularizada pela série 9000, ou seja, as normas que tratam de Sistemas para Gestão e Garantia da Qualidade nas empresas (ISO, 2000).

A acreditação de laboratórios de análises clínicas é concedida com base nos requisitos estabelecidos na norma ABNT NBR NM ISO 15189, sendo aplicável a laboratórios onde se realizam exames com materiais biológicos, microbiológicos, imunológicos, químicos, imuno-hematológicos, hematológicos, biofísicos, citológicos, patológicos ou de outros materiais provenientes do corpo humano, com a finalidade de fornecer informações para o diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças, ou para a avaliação de saúde de seres humanos e que podem oferecer serviços de consultoria e acompanhamento que abrangem todos os aspectos das investigações em laboratório, incluindo a interpretação de resultados e conselhos sobre investigações adicionais apropriadas (INMETRO,2007).

O Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) é uma empresa técnico-científica, que tem como objetivo ajudar e testar os laboratórios clínicos e bancos de sangue, com a finalidade de promover uma maior confiabilidade dos clientes em relação aos laboratórios clínicos e bancos de sangue através da melhoria ou aprimoramento dos serviços prestados pelos mesmos, para isso eles dispõem de pessoal técnico especializado. Durante a avaliação a instituição avaliada é comparada a laboratórios de referência, visando assim à melhoria dos resultados apresentados pela empresa. A avaliação é realizada através de kits controles que são enviados aos laboratórios inscritos (PNCQ, 2007).

A urinálise foi o primeiro exame a ser realizado na medicina laboratorial. Foram encontradas varias alusões ao estudo da urina em desenhos de homens das cavernas e em hieróglifos egípcios, como o papiro cirúrgico de Edwin Smith, onde eram encontrados quadros que demonstravam médicos da antiguidade observando um frasco de urina (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006).

A realização do exame de urina rotina ou urinálise é composto normalmente por três etapas: o exame físico, o exame químico e a microscopia do sedimento respectivamente. Os métodos utilizados para a realização das duas primeiras etapas são mais simples, em comparação com os utilizados na terceira, que possui uma metodologia mais complexa, os elementos que podem ser encontrados em cada uma das etapas possuem valores definidos (COSTAVAL et al.,2001).

Dentre os parâmetros analisados a sedimentoscopia é considerado a etapa mais importante, pois seus resultados são mais precisos no diagnóstico e prevenção de infecções do trato urinário. O exame microscópico do sedimento urinário tem a finalidade de detectar, identificar e quantificar os elementos insolúveis provenientes do sangue, rins, parte inferior do sistema urogenital e contaminação externa. Entre esses elementos encontram-se hemácias, leucócitos, cilindros, células epiteliais, bactérias, leveduras, parasitas, muco, espermatozóides, cristais e artefatos. Na maioria dos casos, quando elementos anormais são encontrados durante a análise do sedimento urinário, poderão estar associados a distúrbios das vias urinárias ou reprodutivas e a descrição desses achados no laudo é muito importante, pois eles auxiliaram no diagnóstico (COSTA et al.,2006).

Através da análise dos sedimentos urinários podemos adquirir informações que auxiliarão na verificação do funcionamento dos rins. A urinálise é um exame realizado com muita freqüência pelos laboratórios. Possui uma padronização mínima e a análise poderá apresentar resultados diversos que poderão variar de acordo com o observador. Para que os resultados sejam confiáveis é necessário que os profissionais que irão realizar os exames sejam bem treinados (BOTTINI; GARLIPP, 2006).

Os exames podem ser realizados em caso de suspeita de infecção do trato urinário, sendo pesquisado nesse caso a presença ou não de leucócitos e/ou bactérias com o auxilio da tira reativa, da sedimentoscopia e/ou da cultura de urina (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006).

Vários estudos foram realizados para a pesquisa das causas do surgimento de eritrócitos na urina, sendo a lesão glomerular e as alterações na permeabilidade dos túbulos, ductos e trato urinário restante os mais estudados. As hemácias que se originam dos glomérulos apresentam variação na sua forma, dimensão e conteúdo de hemoglobina (VASCONCELOS; PENIDO; VIDIGAL,2005).

Devido a problemas como falta de tempo, preparo ou de custo os Laboratórios de Análises Clínicas, acabaram criando um problema, confeccionar e liberar laudos de urinálise sem seguir as normas da NBR-ABNT 15.268, prática cada vez mais comum para alguns laboratoristas. Mesmo com as imposições das normas este problema vem sendo constante. Para muitos Técnicos, Biomédicos, Biólogos e Bioquímicos adaptar-se há algumas mudanças não é uma tarefa fácil, pois exige mais atenção, cautela e aprendizado na hora de confeccionar um laudo padronizado. Portanto resolvemos realizar esse projeto com a intenção de verificar se as normas estabelecidas pela NBR-ABNT 15.268, para a confecção de laudos de urinálise, estão sendo seguidas pelos laboratórios.

Este estudo teve por objetivo verificar se os Laboratórios Clínicos demonstram discrepâncias em relação à expressão de resultados nos laudos de urinálise de acordo com a norma (NBR-ABNT 15.268) determinada pelo PNCQ da SBAC.