ANÁLISE DO PERFIL PSICOPEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO
Raimundo Neves dos Santos



Apresentação

As questões que interferem no desenvolvimento do processo educativo não são consideradas de fáceis resoluções. São questões complexas que só se amenizam com esforço dos profissionais competentes e pessoas envolvidas no referido processo. São questões que necessitam de pesquisas, conversações e tomadas de decisões que, às vezes, contrariam determinados interesses pessoais dos envolvidos no sistema educacional. Apesar, de reconhecer que determinadas pessoas estão inseridas no processo e não tem conhecimento de sua importância para o desenvolvimento do referido processo.
A teia de relacionamento humano entre educadores e comunidade cheira problemática. Os ambientes escolares, em determinados municípios, contribuem para a exclusão social, interferindo diretamente na produção do conhecimento dos alunos, bem como, no desenvolvimento das atividades técnico pedagógicas dos professores. Daí a necessidade der se discutir uma forma de amenizar tais problemáticas. Outro fator importante nas análises são as estruturas das escolas brasileiras que deixam a desejar, por possuírem ambientes quentes, sujos, inóspitos, influenciando na qualidade do ensino e na qualidade de vida das pessoas que neles frequentam.
Esses olhares é que nos fazem pensar que a Psicopedagogia pode e precisa intervir para melhorar essa conjuntura. Para se efetivar uma intervenção é necessário que se discuta novos caminhos, novas metodologias, novos conceitos que visem alcançar estratégias que busquem novos conhecimento e transformar as pessoas em cidadãos responsáveis com o destino sustentável de sua comunidade. Essa discussão perpassa pelos problemas que as famílias e escolas enfrentam com os alunos em discussão, que estudam e não conseguem passar de série, por vários anos consecutivos mostrando, assim, a qualidade do ensino brasileiro que necessita urgentemente de intervenção psicopedagógica para se crie um caminho de esperança para crianças, famílias e escola.



Desenvolvimento
A estrutura da educação brasileira permite que casos como os que analisaremos a partir de então, possam ser claros e evidentes na realidade de nossas escolas. Embora se procure culpados para a desordem do desenvolvimento dos processos educacionais, seria leviandade apontá-los já que existem vários problemas que interferem no desenvolvimento sustentável da qualidade do ensino brasileiro e que clarividenciam a falta de transmissão do conhecimento que se necessita para se desenvolver a educação.
Os alunos em análises são vítimas da realidade desestruturada de nossos ambientes e administrações escolares. A maioria dos Conselhos de educação, nos municípios brasileiros, serve apenas para abrigar algumas pessoas com cargos políticos; nossos ambientes escolares quase sempre são quentes e sem estrutura interna; a alimentação escolar na maioria das vezes não supre a necessidade básica dos alunos; o transporte escolar não transmite segurança, deixando alguns alunos sem escola, já que os pais não confiam em mandá-los sozinhos para as escolas; professores sem formação adequada para enfrentar determinados problemas que surgem além da ausência da maioria das famílias no processo em discussão, e etc.
Hoje, presenciar alunos com oito, nove, dez anos de idade, sem saber ler e escrever é caso rotineiro, além de não apresentarem nenhuma vontade de aprender e às vezes até de permanecer na sala de aula. As estratégias pedagógicas aplicadas de forma erradas, a má relação entre Pedagogos e Professores, a cadeia de "fuxicos" existentes nas cozinhas e salas de professores, Diretores que preferem determinados professores à outros, desistindo de aplicar o que se aprendeu dentro das universidades (gestão democrática), são alguns fatores que causam as mazelas na educação brasileira.

A Psicopedagogia desenvolve seus estudos, concretizando seu corpo teórico e aprimorando seus instrumentos, para compreender de forma cada vez mais precisa o processo de aquisição do conhecimento humano. A exigência de uma ressignificação do saber sobre a aprendizagem requer do estudioso um aprofundamento em teorias que dêem conta de um ser humano que se relaciona com um mundo em constante movimento
(OLIVEIRA, 2009, p. 17).

Para entender esta problemática toda, a Psicopedagogia não deve operar sozinha, necessita, portanto, do apoio de outras disciplinas como: psicologia, Sociologia, Pedagogia, Psicolinguística, História, Arte etc. não se pode também esquecer da área da medicina que em alguns casos tem interferência preferencial. Afirmo isso porque alguns casos de crianças necessitam inclusive de internação, para receber atendimento médico e psicológico.
Para elevarmos tais situações é necessário que ao receber uma queixa, se investigue caso a caso para provável estudo. Essa investigação neutra possibilitará a coleta de diagnósticos que se transformarão em ações práticas para se buscar uma solução aos problemas ou pelo menos para amenizar tais situações de desajustes.
Nesse sentido, nossa prática deve desmerecer frases como: "ele não gosta de estudar", "esse aluno não tem jeito mais", "ele não aprende porque é mais burro do que os outros" etc. notar a diferença entre a aprendizagem dos alunos, precisamos entender que são de culturas diferentes, de famílias diferentes, de comunidades diferentes etc. é essa miscigenação a arma preponderante para se afinar com as probabilidades de transmissão de conhecimentos e realizar um trabalho voltado para a sociologia, investida na compreensão e implementação da ética e da cidadania, para transformar o aluno problema em cidadão.

Cada família, como todo sistema, possui uma estrutura determinada que se organiza a partir das demandas, interações e comunicação que ocorrem em seu interior e com o exterior. Esta estrutura forma se a partir das normas transacionais da família, que se repetem e informam sobre o modo, o momento e com quem devem relacionar-se cada um de seus membros.
(OLIVEIRA, 2009, p. 97).

Os sujeitos disgráficos apresentam escrita inelegível com característica lenta; organizando mal as páginas, as letras além de cometer erros de formas e proporções. A Disortografia faz com que as crianças troquem letras, gerem confusão de gênero, número e má pontuação, que depende do nível de escolaridade pode conter alguns tipos de erros merecendo maior ou menor atenção. A problemática apresentada nas operações matemáticas causadas pela Discalculia traz prejuízos significativos em tarefas da vida diária dos alunos, transformando a aprendizagem em insucesso.
A busca de solução para tais problemas implica na necessidade de intervenção psicopedagógica, a fim de contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem dessas crianças, a partir de uma visão social, baseada na ética e na cidadania. Para que dessa forma se possam promover as aprendizagens cooperativas e colaborativas, utilizando as famílias nos processos educativos, compartilhando idéias, colaborando na formação dos professores e assim buscar solução através do compartilhamento de procedimentos e metodologias.

A Hiperatividade é um transtorno neurobiológico que aparece na infância e acompanha o individuo por toda a vida, apresentando sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. A criança com hiperatividade apresenta falta de atenção, não segue regras, não usa força mental, não presta atenção a detalhes, não se concentra, não termina o que começa é desorganizado etc. este e outros transtornos requerem uma forma cuidadosa e criteriosa de atendimento, para que se possa controlar e amenizar tais problemas.
Para a construção de mudanças efetivas devem-se criar ambientes de escuta e fala onde as pessoas envolvidas no processo de escolarização tenham possibilidade de interferir na dinâmica escolar, depois de analisar a realidade, produzir os problemas. Essa construção do novo envolve a Psicologia social que Pichon Riviére nos fala na teoria do Vínculo e no Esquema conceitual referencial de Operatividade, através do conjunto de experiências, conhecimentos e afetos, onde os indivíduos possam construir suas mudanças desejadas.
Caso seja necessária a interferência da Psicopedagogia Clínica, utilizar à instrumentalização da EOCA (Entrevista Operatica Centrada na Aprendizagem), a observação lúdica (sessão lúdica), as provas Operatórias, as provas projetivas psicopedagógicas, as provas pedagógicas, a Anamnese, as entrevistas com a escola, além dos testes complementares. Esse aparato de alternativas dará suporte técnico e clínico para se obter resultados favoráveis diante das questões problematizadas.
No caso de Jorge, 11 anos, que não sabe ler nem escrever, não faz nada na sala de aula e é extremamente desinteressado, apesar de já ter frequentado outra escola em um estado vizinho; Marcos de10 anos que é bagunceiro, destrutivo e agitado, não obedece as diretrizes e só quer saber de jogar futebol e conversar com seus colegas na hora das aulas; Wagner de 9 anos de idade que é hiperativo, não para na carteira, não sabe nem segurar um lápis, tem letra horrível e problemas familiares graves (seu pai não mora em sua casa e seu padrasto é viciado em bebidas alcoólicas).
Nos casos de Fábio, com 10 anos de idade que é lento e não tem memória, o que aprende esquece no dia seguinte, deixando perplexos os professores; Gabriel que tem 9 anos, é um menino largado, vem sempre sujo para a escola, está bloqueado, não consegue dar o clique, aprende até certo ponto e depois não vai mais; Silvia de 10 anos, é apática, fica divagando, no mundo da lua, no seu caderno ao invés de fazer as lições, desenha várias flores e por fim o nosso querido Carlos, que tem 10 anos de idade e é tímido e introvertido, não entende o que a gente fala, não participa de nada, nem de Educação Física, não tem amigos, não faz nada.
Todos os problemas acima mencionados precisam de uma "holística" profissional, pesquisada, analisada e voltada para amenização ou solução dos referidos problemas. O que não pode é esperar que professores mal preparados, diretores desinformados, pais sem formação e comunidade sem sintonia possam resolver tais problemáticas. A Psicopedagogia já possui um alvo para realizar seu trabalho, que deve ser seguidos todos os pontos de seus planejamentos para que se possa colher frutos desse complicado trabalho.
As crianças acima mencionadas necessitam de ajuda familiar, da comunidade e da escola. Seus problemas necessitam de averiguações profissionais competentes para se ter um diagnóstico correta, para então se tomar providencias das intervenções corretas para se obter resultado planejado.



Conclusão
O referencial que nos foi apresentado para realização de nossa Produção do Conhecimento é a realidade de muitas escolas brasileiras, que não tem em seus desenvolvimentos o cumprimento do que nos oferece nossa Constituição. Todavia, consideramos um desafio realizar tais intervenções devidas vários fatores que interferem na aprendizagem.
A má formação de professores, o ambiente escolar inadequado (quente, carteiras quebradas e inadequadas, falta de alimentação escolar, falta de material didático e material alternativo, etc.), a falta de formação da comunidade, a falta de profissionalismo de alguns profissionais da educação, entre outros problemas, são alguns mecanismos que não operam com sustentabilidade, influenciando na apreensão do conhecimento por parte dos alunos.
Alguns autores nos orientam na forma de proceder as intervenções para se buscar solução para alguns casos. Nosso comprometimento, nosso profissionalismo, nossa cidadania e ética, são fatores que podem influenciar de forma positiva para podermos intervir e ajudar na transferência de saberes para os alunos que mais necessitam de nossas intervenções.

O que precisa ser afirmado é que nem tudo está perdido. Podemos ainda, trabalhar com seriedade, competência e comprometimento, a fim de que se possa diminuir os casos de distúrbios da aprendizagem, hoje, apresentado pó um número bastante grande de alunos nas nossas escolas brasileiras.
Somente juntos, buscando um só objetivo, com olhar voltado para o comprometimento e eficiência poderemos salvar algumas crianças que poderão ser no futuro cidadãos responsáveis pelo direcionamento de nossa sociedade. Espero estar aberto para contribuir com essa missão de ajudar nossas crianças que necessitam de nossas intervenções, bem como nossos professores e comunidades que ainda não se encaixaram no desenvolvimento correto de se transmitir conhecimentos através da educação das escolas.






Referencia Bibliográfica


LOPES, Shierlene. O processo de Avaliação e intervenção Psicopedagógica. Curitiba, 2008
SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
OLIVEIRA, Mari AngelaCalderari. Psicopedagogia:a instituição educacional em foco. Curitiba: ibepex, 2009.
MALUF Maria Irene. Diagnóstico e Intervenção Psicopedagógica nos Transtorno de Aprendizagem: Salvador, 2008.
VISCA, J. Psicopedagogia novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.