ALLAN KARDEC:

ESTUDAR, DIVULGAR E AMPLIAR

 

A razão, como tudo em nosso mundo se transforma o tempo todo. O que ontem eu pensava, refletia, raciocinava, hoje eu já não penso mais, não reflito e não raciocino mais, como ontem eu raciocinava, refletia, pensava. Somos, com isso, pois: uma metamorfose mental, ou, intelecto-moral consolidando as duras escaladas do progresso de nós mesmos, que, indiscutivelmente, se faz. O que significa dizer que somos mutáveis por natureza, por essência da Lei, notoriamente: Evolutiva. Somos, pois, um vir-a-ser, aquilo que um dia há de ser, que certamente, será.

 

Relativamente ao Espiritismo, doutrina de minha predileção, creio que, de imutável nele, seja tão somente os seus alicerces básicos como, por exemplo:

 

-Existência de Deus,

-Imortalidade do Espírito,

-Vidas Sucessivas ou Reencarnação,

-Comunicabilidade Mediúnica, e etc.

 

Quanto ao resto, do amplo leque doutrinário que nasce de tais princípios, tudo é de caráter essencialmente evolutivo. E, portanto, no que se refere a tal propriedade, não se pode, em tempo algum, se deixar de estudá-lo, se deixar de refleti-lo constatando seu dinamismo, sua perenidade.

 

Mas nossos estudos de tal, entrementes, não devem restringir-se tão somente ao nosso campo doutrinário; e, isto pelo fato de que, tal campo, se abre e se refere aos mais diversos setores da atividade humana, entrosando-se com múltiplas áreas do conhecimento já estabelecido, constituindo, com isso, um campo cultural multidisciplinar, bastante vasto e bastante interessante. Com isso, pois, constato que nosso aprendizado é constante e, humildemente afirmo, com serenidade e convicção que: estou aprendendo sempre e, por isso mesmo, penso que os espiritistas deveriam e devem estudar sempre, ampliando seus horizontes culturais, espirituais e morais.

 

Mas o fato é que alguns se acomodam e, outros, chegam ao ponto de pensar e de dizer que já sabem tudo, que já viram tudo, ou, que já viveram o bastante para tudo saber, e que, portanto, chegou a hora de parar.  O que é deveras lamentável! Ora, é preciso recapitular e recomeçar sempre, pois que nada para, e, portanto, não podemos parar.

 

Podemos até frear um pouco nossas atividades físicas, mentais e profissionais, em função das contingências naturais da vida; mas parar quando tudo está em movimento, quando tudo muda e está mudando o tempo todo, é estar mal informado, é expressar-se de forma equivocada ante o dinamismo de tudo, o qual, recusa a blindagem de nossos Espíritos às tantas motivações de mudança, às tantas injunções de renovação e de progresso incessante, de tudo e de todos nós.

 

No tocante a tal aspecto do Espiritismo, pois, à sua notável abrangência doutrinária, que não para, que não cessa jamais, penso que o espiritista, além de estudar ontem, hoje e sempre, deveria se esforçar, na medida do possível, e sem fanatismo, para a sua divulgação! E isto pelo fato de que o trabalho de Kardec, mesmo nos moldes do estritamente codificado, ainda será alvo de nossos estudos e reflexões por constituir base insubstituível, apesar de todo o progresso nele mesmo consolidado no Século 20 passado.

 

E, por isto, defendo que a Codificação, e obras suplementares à mesma, devam manter-se como foram concebidas no Mundo, sem modificações, e adulterações, e que deva ser divulgada sempre, hoje e amanhã, por todas as editoras que dela tenham a sua licença de divulgação. O Mundo precisa e vai conhecer Kardec, sua obra, sua missão, que se consolidara com o Espiritismo: Doutrina dos Espíritos Superiores.

 

Em nossos estudos de grupo tenho tentado fazer alguma coisa.

 

Estudando Kardec, estudando a obra por ele consolidada (Vide: nosso e.Book: “Kardecismo e Espiritismo”) tenho procurado mais que estudá-los. Venho tentando, como sempre, mostrar sua poderosa correlação com os novos tempos por meio do desenvolvimento doutrinário e científico já estabelecido. Por exemplo: a questão sexual tratada em “O Livro dos Espíritos”. Ora, como resolver o tão complexo problema da sexualidade humana e dos Espíritos em apenas três itens (200, 201 e 202) de sua indagação maiêutica junto aos seus instrutores espirituais?

 

Que eu saiba, a “Revista Espírita”, de janeiro de 1866, também estampa em suas páginas um determinado artigo do Codificador respeitante a tal; porém, trata-se de um trabalho genérico, estando longe das análises mais aprofundadas, das particularidades e conclusões que o assunto demanda.

 

E, daí, a necessidade de se trabalhar pelo estudo, pela divulgação e, digo mais: pelo desenvolvimento do pensar espiritista, seja de Kardec, seja dos Espíritos codificadores, por meio de trabalhos mais recentes que trazem novos enfoques da questão aprofundando a mesma, lhe atualizando, como, por exemplo, nas obras de que faço as seguintes citações:

 

1-“Forças Sexuais da Alma”, Jorge Andréa, Feb;

2-“Sexo e Destino”, André Luiz, Feb;

3-“Palingênese: A Grande Lei”, Jorge Andréa, Sociedade F. V. Lorenz;

4-“Vida e Sexo”, Emmanuel, Feb;

5-“Sexo e Evolução”, Walter Barcelos, Feb;

6-“Evolução Em Dois Mundos”, André Luiz, Feb, e tantas outras mais.

 

Assim, penso que o nosso procedimento, nos dias que se passam, seja de ordem tríplice, firmado pela sentença de:

 

“Estudar, divulgar e ampliar Allan Kardec”.

 

E não só com a farta literatura espírita mais recente, mas também, e, como já me referi, e, até onde for possível, com a literatura e pesquisa de renomados especialistas humanos de tais áreas. Obviamente que não se trata de tarefa fácil, nem para o expositor e tampouco para os seus aprendizes. Toda tarefa de ordem intelectual e pedagógica é um tanto complexa, e, sobretudo nos tratos de uma Doutrina cujos tentáculos culturais invadem e são invadidos por outras áreas tão complicadas como a nossa mesma.

 

Mas é preciso fazer alguma coisa para melhorar e, por isso, se requer dos profitentes, dentro do que for possível, algum esforço intelectual, pois que a Doutrina recomenda boa vontade e disposição.

 

Conheço uma casa espírita em que só estudam “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e mais nada. E não adianta insistir. Um de seus integrantes chegou a confessar-me que o Espiritismo não precisa de mais nada; só do Evangelho, alegando: “é no estudo e na prática do mesmo que está a nossa salvação”. O que, em parte, concordo; mas, no todo, discordo.

 

-É preciso estudar, sim; e não só o Evangelho, mas toda a Codificação e todas as obras suplementares, de Kardec a André Luiz.

 

-É preciso estudar e aculturar-se sempre, criando vias de maior discernimento em nossas mentes para que saibamos separar o joio do trigo, o ruim do que seja genuinamente bom.

 

Já, no que se refere àquela palavra do integrante da casa espírita citada, penso que:

 

“O Evangelho tem mesmo é de ser vivenciado”.

 

Mas é claro que existem outros equívocos e distorções doutrinárias bem mais graves às quais me recuso, por agora, de comentar. Já pude até mesmo produzir alguns artigos de desabafo, pois que certas coisas não podem ficar entaladas em nossa garganta. Mas acredito ter produzido uma crítica séria e desapaixonada, fundamentada naquilo que a lógica doutrinária nos permite detectar e, por fim, construtivamente, denunciar.

 

Contudo, se diria que aquele nosso confrade citado até que está bem encaminhado pelo Evangelho. Mas isto não encerra tudo. A Doutrina pede mais aos seus profitentes:

 

“Pede fé sintonizada com critérios de racionalidade; preconiza que se esforce pelo aprimoramento moral sim, mas que se reforme pelas luzes da razão recomendando o esforço pelo aprendizado e incessante aculturamento”.

 

Como já o disse:

 

“O Evangelho, e seus princípios norteadores de conduta ética junto aos seus semelhantes, precisam sim, serem aplicados, colocados em atividade, como o fazia Jesus: o Mestre do Amor em Ação”.

 

Mas como não nortear, igualmente, nossos raciocínios ao âmbito de uma Doutrina tão abrangente e tão complexa como a nossa? E não faltaram advertências de Kardec como, por exemplo, em seu “Espiritismo Experimental” esclarecendo:

 

“... que o Espiritismo é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra Ciência, ser aprendido a brincar”. (Vide: “O Livro dos Médiuns” – AK - 1861).

 

Nada obstante, devo repisar que: não podemos exigir das pessoas, espiritistas ou não, mais do que elas podem dar e compreender em termos de uma Doutrina que abrange uma corrente tão caudalosa de novos conhecimentos como a codificada por Kardec e pelos nossos maiores da Espiritualidade. Doutrina esta que se ampliara vastamente no último Século com a vinda e reencarnação dos grandes médiuns psicógrafos tais como: Francisco C. Xavier, Ivonne Pereira, Divaldo Franco e o notável intuitivo das úmbrias: Pietro Ubaldi, e tantos outros a quem podemos dar crédito por sua disciplina e grande seriedade doutrinária.

 

E, por outro lado, não se pode implantar uma ditadura espírita preconizando o que está certo e o que está errado; conquanto não seja muito difícil detectarmos o que seja fraudulento, ruim e mistificado.

 

Ora, óbvio está que não somos iguais em termos de evolução espiritual, ou seja, somos de infinitas variantes psíquicas, intelectuais e morais. Justamente por isto, creio, se deva esclarecer com o que há de melhor e mais sério em termos doutrinário e espiritista que implicam uma vasta transformação na psicosfera do ambiente espiritual terreno.

 

Este, pois, é o meu apelo: o de se estudar Kardec, mas também de se divulgá-lo, bem como, na medida do possível, se desenvolvê-lo com os progressos concomitantes de tudo, e, do qual, o Espiritismo toma parte em sua unidade de amplo aspecto, se completando e se harmonizando com os saberes intelectuais de todas as áreas humanas, que, aos poucos, se vão patenteando.

 

Que Jesus seja convosco!

 

Fernando Rosemberg Patrocinio:

Fundador de Casa Espírita Cristã, Coordenador de Estudos Doutrinários, Articulista, Palestrante e Escritor de diversos e.Books gratuitos em seu blog:

 

-filosofia do infinito-, ou, eletronicamente:

 

https://fernandorosembergpatrocinio.blogspot.com.br

 

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