Além da Aparência

Hoje aprendi uma lição em minha vida. Que amar é muito mais que ver a aparência de alguém ou mesmo ter uma certa imagem de afinidade com ela. Um homem pode ter músculos, aparentar um aspecto jovem, forte e iluminado, ter uma cabeça boa, cheia de ideais, perspectivas (ou seja, não é um tapado e inútil); pode ter valores maravilhosos e até mesmo um foco diferente dos outros a sua volta, do mundo manipulado, comum, seco, frio e muitas vezes indiferente aos sentimentos do coração. Nesse sentido, idem ao aspecto feminino também.

Mas, meus amigos, percebamos um fator que só a experiência pode nos trazer mais luz: que o amor depende de uma sensação de carinho que vem dentro de uma correspondência que já traz, em si, um pouco de cumplicidade (no aspecto mais prático); e no sentido mais sentimental, um sonho! Mente quem diz não sonhar. A paixão assim parece nascer, mas isso ainda não é amor. Agora, entenda: com ela também nasce a vontade de poder estar junto, sofrer as possíveis dificuldades e ter o desejo quente no íntimo de corresponder, preocupar-se e compreender quem gostamos. Aqui, qualquer jogo não significa sentimento puro. Cabe nesse momento a correspondência.

Essas características parecem determinar uma relação que se sustenta, seja com provações iniciais ou com as incertezas que nós mesmos criminosamente colocamos, e vai criando um vínculo gostoso, prazeroso e fiel. Sem percebermos claramente, já estamos saindo do senso comum, ficamos presos a uma irracionalidade, sofremos com um sorriso estampado na cara e apagamos o passado com a perspectiva vontade de saber o que o merecido futuro nos aguarda: a felicidade. Sem perceber estamos começando a amar, e isso não é algo que vem com o tempo (como muitos incrédulos e pessimistas dizem), pois o começo do amor pode existir com essa relação recíproca de correspondência entre duas pessoas que veem mais do que físico ou de uma possível afinidade; ver também o coração, parte genuína de quem realmente quer se entregar e ter um complemento.

E sem percebermos notamos que o musculoso talvez não nos agrade, e a moça especial não seja a modelo que o mundo todo espera que tenhamos. E o artificial é trocado pela originalidade e os hormônios estão abaixo do sentimento. Isso sim é amor! Não se explica, não se indica, não se opina, apenas se sente, e sente quando a lógica é quebrada, o bom senso é deixado de lado e a sua autonomia e independência começa a existir, longe de amigos, longe de especialistas, apenas com a sua consciência e prazer pessoal, junto ao seu travesseiro, dormindo com um sorriso raro. Não há conselhos que subjuguem o mistério da união com amor entre duas pessoas. A nossa felicidade estará, nesse contexto, quando nós, de forma autônoma, e em nosso silêncio,experimentarmos isso.

O amor é um mistério! Fora disso, somos apenas um produto de mercado pronto para ser usado e já sabendo que vamos ser substituídos um dia, pois os fracos é que dizem com orgulho frases feitas como " a fila anda", "o que passou passou", "bola pra frente". Amar também é uma questão de coragem e o prêmio para isso é a sensação e paz de felicidade, pois é uma conquista; enquanto que para o artificialismo do ato de ficar tem também um outro inevitável prêmio: a depressão ou o vácuo de ser humano, vendido, usado e acabado. A ressaca é para esquecer aparentemente essa triste, mas inevitável, sensação.

14.12.2010
Wallas Cabral d Souza -
Linguista - USP