PROFESSORA ORIENTADORA ALINE BORGES PENNA

CÉLIO MENDES DO VALE
ELIANE DIONÍSIO DE OLIVEIRA
8° PERÍODO DE ENFERMAGEM
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS
BARBACENA-MG
DEZEMBRO - 2008

RESUMO

A presença do acompanhante junto à parturiente durante o processo de trabalho de parto, parto e pós-parto, tem sido discutida em estudos científicos onde são abordados seus efeitos, não só em relação às parturientes, mas também aos profissionais envolvidos diretamente na assistência.
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, cujo foco é analisar os questionamentos relacionados à presença do acompanhante no setor obstétrico e suas conseqüências para o período de internação da gestante.

PALAVRAS-CHAVES: Acompanhante. Gestante. Humanização.

1 INTRODUÇÃO

Séculos anteriores, a assistência ao parto era dada por mulheres intituladas "aparadeiras" ou parteiras, de total confiança e conhecimento da família, juntamente com a presença de familiares das gestantes. Tempos posteriores, no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, passou-se a existir a hospitalização como o local para realização de partos. A institucionalização tornou-se fator significativo para que ocorresse o afastamento da família durante todo o processo de parto e nascimento da criança e conseqüentemente o apoio e segurança às mães.
Sabe-se que o período gestacional é uma fase da vida da mulher onde surgem vários sentimentos: medo, alegria, ansiedade, que são experimentados diferentemente por cada uma. Portanto a presença de um acompanhante pode se tornar para a mulher uma fonte de segurança e ligação com o elo onde vive.
A importância da presença do acompanhante é firmada conforme observamos nos dispositivos preconizados pelo Ministério da Saúde (2004, p.6), onde se lê:

[...]Quando uma pessoa fica doente e é internada em uma unidade de tratamento, ela tende a perder parte ou, até mesmo, toda sua capacidade de se reencontrar. Nesse sentido, tudo aquilo que vier do exterior e puder ajudar no restabelecimento de sua confiança, contribuirá na sua reabilitação[...] Quando uma pessoa é internada em um hospital, ela perde os laços e os vínculos estabelecidos, no seu cotidiano, com o mundo exterior e que confirmam sua própria existência. Tudo o que, vindo desse contexto exterior, puder permitir esta confirmação, vai contribuir no seu tratamento [...]

Sabe-se que o acompanhante no setor hospitalar pode ser visto como fator negativo ao trabalho da equipe de saúde, pois o mesmo pode se tornar fonte de infecções, desespero e preocupações exaustivas e desnecessárias para a parturiente. Por outro lado, percebe-se que quando preparado para desempenhar seu papel, o acompanhante realiza uma função importante na elaboração qualificada da assistência à gestante, encorajando a mulher ao autocuidado e autoconfiança, auxiliando-a em seu período de internação.
A presente pesquisa consiste em uma revisão bibliográfica sobre a inserção do acompanhante no setor obstétrico, bem como sua influência durante o período de internação das parturientes. Tal temática é de fundamental importância para obtenção de conhecimentos à equipe de saúde, uma vez que são poucos os estudos científicos publicados na área de Enfermagem.

2 O DIREITO AO ACOMPANHANTE: CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL

Para algumas mulheres, o período de gravidez é um tempo constituído por tensões e neuroses constantes. Como podemos destacar em afirmações relatadas por Carvalho (2006,p1):

[...] Os medos ocorrem devido à expectativa das grandes mudanças que acontecem. Elas envolvem diversos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. A mulher passa por uma revolução hormonal e por profundas alterações em sua estrutura corporal. Passa a se ver e a ser vista de uma maneira diferente, em um novo papel social: o de mãe. Esta reorganização de identidade pode assustar e causar alterações de comportamento.

Com a presença de um acompanhante por ela escolhido, a gestante manterá seu vinculo afetivo, mesmo encontrando-se internada. Dá-se, portanto a importância do acompanhante de sua livre escolha.
As formas de acompanhamento têm variado segundo o contexto social e histórico, sendo moduladas a partir de diferentes valores culturais. Foi apenas com o advento do parto hospitalar que a mulher passou a ser afastada do seu meio e de seus entes queridos durante esse evento. Nesse ambiente, muitas mulheres passaram a associar a vivência do parto ao sentimento de isolamento e abandono.
Diversas pesquisas indicam que a ausência de suporte emocional interfere na fisiologia do parto, sendo que evidências científicas assinalam que a presença de acompanhante contribui para a melhoria dos indicadores de saúde e do bem-estar da mãe e do recém-nascido, como encontramos em publicação da Rede Nacional Feminista de Saúde (2002, p.21), onde está registrado que:

A presença de acompanhante aumenta a satisfação da mulher e reduz significativamente o percentual de cesáreas, a duração do trabalho de parto, a utilização de analgesia/anestesia e de ocitocina (para apressar o parto) e o tempo de hospitalização dos recém-nascidos [...]

Tais evidências fizeram com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendasse, na Conferência sobre Tecnologias Apropriadas para o Nascimento e Parto em 1985, a presença de acompanhante durante o parto. Concomitante a tal recomendação foi iniciada uma campanha ao direito a um acompanhante de escolha da parturiente através da Rede pela Humanização do Nascimento (ReHuNa).
Em maio de 2000, em São Paulo, a campanha lançada pela ReHuNa passa a receber o apoio das Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras e da União dos Movimentos Populares de saúde de São Paulo.
No dia sete de abril de 2005, o direito ao acompanhante às mulheres é finalmente resguardado pela Lei nº 11.108, como se lê em Brasil (2005, p.1), que trás em seu texto:

Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
§ 1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado pela parturiente.
§ 2o As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício dos direitos de que trata este artigo constarão do regulamento da lei, a ser elaborado pelo órgão competente do Poder Executivo.

3 A PRESENÇA DO ACOMPANHANTE

Inserir o acompanhante no contexto hospitalar durante a assistência ao parto, e sendo este de escolha da parturiente, além de outros desejos da OMS, no Brasil, são recomendações baseadas em evidências para que seja implantada a humanização do parto em serviços de saúde.
Mesmo amplamente divulgadas aos profissionais de saúde e maternidades, tais recomendações tem sido implementadas de forma lenta, seletiva e gradativa. Na tentativa de estimular que as práticas obstétricas mudem, o Ministério da Saúde (MS), em 1998, instituiu o Prêmio Galba Araújo, onde reconhece todas as Instituições integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS) que se esforçam para que suas ações sejam voltadas para a humanização do Nascimento, sendo uma delas a presença de um acompanhante.
Contudo, a realidade mostra que a maioria das gestantes são privadas da presença de uma pessoa de sua escolha, mesmo que esta tenha a função exclusivamente apoiadora durante toda institucionalização do parto.
Ao revisar a literatura observamos que a opinião dos profissionais dá-se não somente em relação à assistência prestada, mas também em relação a todo o processo de trabalho de parto, assistência médica e intercorrências durante o parto, bem como os benefícios relacionados ao binômio mãe-filho e sentimento de segurança pela parturiente, como se observa em Hoga e Pinto (200_, p.1):

[...] "A evolução do parto normal e os vínculos que se formam são melhores com a presença do acompanhante" [...] O acompanhante supre necessidades que o profissional não consegue suprir[...]

Dentre as maneiras de auxiliar a mulher durante o parto, destacamos principalmente, o apoio emocional, referente à calma da parturiente, bem como o auxílio relacionado ao conforto físico e redução do nível de dor das mulheres.
Estar presente em todo o processo de parto proporciona aos acompanhantes conhecimentos específicos sobre tal natureza, além de ser para a parturiente fonte de segurança, conforto, uma vez que possibilita percepção rápida de intercorrências e atendimento minucioso, garantindo uma melhor assistência não somente à mulher, bem como ao recém-nascido. Acredita-se também que com a presença do acompanhante no contexto hospitalar faz com que a relação dos profissionais em relação à mulher se torne mais afetuosa.(HOGA e PINTO)
Em estudo realizado por Sosa et al(1980 apud BRÜGGEMANN, 2005) num hospital da Guatemala, pode-se observar que a presença de uma doula durante o período de internação de uma mulher fez com que reduzisse a frequência de complicações decorrentes do trabalho de parto, parto e para o recém-nato, bem como menor duração do trabalho de parto
Posteriormente , em novo estudo com as mesmas características descritas acima, pode-se observar queda no número de cesáreas, diminuição do uso de ocitócitos e redução de admissões de recém-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal. Klaus et al (1986 apud BRÜGGEMANN, 2005) Evidencia-se também que a presença do acompanhante faz com que o número de episiotomias sofra uma queda, bem como a existência de depressão pós-parto. Hodnett (2002 apud BRÜGGEMANN, 2005)
O acompanhante, muitas vezes, não é visto positivamente dentro dos hospitais por parecer que sua presença representa uma idéia de fiscal da assistência prestada ao paciente ao invés de colaborador e aliado da equipe, o que o torna um gerador de desgaste emocional para a mesma. Como destaca Florentino e Gualda (2007, p. 321): "A equipe tem medo da pressão, de alguém estar checando o seu serviço do dia-a-dia."
Outro fator importante é frisar que devido à falta de tempo, formação e informação da equipe em relação à presença do acompanhante, sendo este despreparado para tal função, torna a presença do mesmo negativa visto que este pode interferir, questionar ou recusar os cuidados e/ou procedimentos da equipe de saúde , bem como normas e rotinas da instituição, contribuindo para que o relacionamento com a equipe torne-se frio e indiferente. Tal situação pode fazer com que surja uma dicotomia onde o comportamento do acompanhante é visto como de obediência e aceitação e o da equipe de saúde como de "autoridade", detentora do poder e saber.

4 CONCLUSÃO

Através deste estudo pudemos entender que estar presente durante todo o período de internação da parturiente, não requer apenas ao acompanhante, a importância de ser "alguém conhecido", mas a responsabilidade de mediador de uma melhor qualidade na atenção, pois o mesmo se torna fonte de segurança, conforto e apoio à mulher, bem como meio de informações à equipe de saúde.
A inserção do novo modelo de assistência, mesmo que definida por lei é um processo lento e gradativo nas instituições de saúde. Sendo observado que onde este foi implementado o acompanhante, muitas vezes, não é visto como fator contribuinte conseqüente de não saber qual papel e postura a serem desempenhados.
Portanto, entendemos que cabe às Instituições o papel de educadora, para que o acompanhante se torne mais um aliado na assistência humanizada e qualificada dirigida à gestante.


ACCOMPANY OBSTETRIC: SOLUTION OR PROBLEM? - A LITERARY REVIEW


ABSTRACT

The presence of a close to the mother during labor, delivery and postpartum, has been discussed in scientific studies where its effects are addressed, not only for women but also to the professionals directly involved in assistance.
This study is a literature review, which focuses on examining questions related to the presence of a sector in obstetrics and its consequences for the period of hospitalization of pregnant women.


KEYWORDS: Accompany. Pregnant. Humanization.


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