Está a decorrer o Euro 2012 e ontem foi o primeiro jogo da Seleção Portuguesa contra a Alemanha. Portugal perdeu por 1-0 e eu arrisco dizer – em consonância com a maioria dos entendidos desportivos, inclusive muitos alemães – que o resultado foi injusto, que Portugal merecia pelo menos ter marcado um golo para terminar o jogo com um empate...Unanimemente concluímos “Foi falta de sorte!”.

Muito mais dramático que esse resultado foi no entanto um outro do mesmo grupo de Portugal jogado no mesmo dia : Holanda 0 – Dinamarca 1. Aqui, muito mais do que falta de sorte, a mesma maioria concluiu que foi mesmo muito azar : a Holanda dominou o jogo, técnica e estrategicamente jogou bem, teve dezenas de ocasiões claras de golo, mas a bola nunca entrou para esse lado. Do lado da Dinamarca, que estrategicamente fez um bom jogo, mas com muitas falhas técnicas, poucas jogadas vistosas e muito menos oportunidades de golo – no máximos talvez 2 ou 3. Uma dessas oportunidades foi aproveitada (a primeira que tiveram no jogo), e foi com esse golo, marcado no início do jogo, que se decidiu o vencedor.

Quem segue com alguma frequência jogos de futebol, sabe que estes casos não são isolados. Acontece muitas vezes que há uma equipa que joga muito melhor, que domina o jogo, mas não consegue marcar, de modo que é a outra que, com muito menos oportunidades tem uma eficácia muito maior e ganha.

Verdadeiramente é no caso da Dinamarca que isso aconteceu já algumas vezes - que eu saiba – nomeadamente em vários jogos que esta seleção fez contra Portugal. Quando foi pela qualificação do Mundial 2010 aconteceu provavelmente o jogo mais traumático para os portugueses: dominaram a partida do início ao fim e as oportunidades de golo claras somaram-se continuamente. Foi no mínimo 5 ou 6 vezes que se gritou “GOLO” em vão, porque a bola afinal não entrara, ao contrário do que parecia.. Ainda assim, aos 90 minutos, Portugal vencia 2-1 o que, embora não fosse a goleada merecida, parecia um bom resultado... O que já ninguém esperava, era que após os 90 minutos, os dinamarqueses avançassem com 2 ataques seguidos, nos quais marcaram 2 golos. Portugal perdeu 2-3, após ter feito um dos jogos mais vistosos desde havia muito tempo, enquanto que a Dinamarca jogou mal, e nem sequer defendeu bem – mesmo assim, a bola não quis entrar.

Outro exemplo de alegada sorte massiva em vários jogos seguidos, verificou-se com o campeão de Europa 2004, a Grécia. Neste caso, em tudo semelhante ao caso acima referido, é de salientar que os gregos tinham jogadores que tecnicamente eram bons. Foi no entanto graças à organização defensiva e um tipo de jogo muito destrutivo que os gregos conseguiram somar as vitórias necessárias para se tornarem campeões europeus, mas mais uma vez, a “sorte” nunca lhes faltou em todos os jogos, quer fosse contra Portugal, contra a França (várias bolas no poste), a Republica Checa (vários falhanços incríveis), etc.

É notório que nestes casos se fale por vezes numa “estrelinha da sorte”, enquanto que as equipas contrárias parecem ser perseguidas por uma “onda de azar”...

 

Mas será que isto é possível ?

 

Se nós pensarmos naquilo que nós definimos como “sorte”, então estamos a sugerir que algo de bom acontece casualmente. Uma casualidade é por definição uma ocorrência esporádica, pontual, sem causa concreta e sem lógica de ser. O acaso não é previsível, porque não surge de nenhum padrão concreto. É um acaso, porque simplesmente surge, por vezes do nada.

 

Com esta definição, uma equipa que está constantemente a gozar de sorte, logicamente já não está a beneficiar de uma ocorrência pontual. Quando a Grécia foi campeã, ela teve sorte em 4 jogos seguidos. Outras equipas apresentam padrões semelhantes.

 

Se olharmos para lá do desporto, encontramos igualmente padrões de ocorrências que nós definimos como “sorte”, embora ao analisar mais profundamente, percebemos que eles se repetem. Conheço pessoalmente uma pessoa que, sempre que joga no totoloto ganha um prémio. Não costumam ser valores muito altos, mas sempre são 100 Euros, por vezes mais, por vezes menos. Eu confio nele, e acredito que isto é verdade, e admitimos que não seja exatamente sempre que ele ganhe prémios... Imaginemos que em 10 vezes que joga, ganha 6. Trata-se de um padrão, que nada tem a ver com o acaso, e por isso não pode ser sorte.

 

Todos conhecemos pessoas que nós definimos como “pessoas sortudas”. Trata-se de indivíduos que apostam em variadíssimos negócios ou projetos, e por norma safam-se bem. Um exemplo de ficção para um caso destes é o Forrest Gump, porém há pessoas que são do mesmo género e existem na vida real.

Em muitos dos casos são otimistas inatos, que simplesmente avançam com os seus projetos, sem sequer questionar-se sobre os riscos. É natural que aquelas pessoas que assumem muitos riscos, e por consequência fazem muita coisa, terão maior probabilidade em sair-se bem com alguns dos projetos. Pelo contrário, um pessimista que nunca arrisca e por isso nunca faz nada na vida, terá muito menos probabilidade de fracassar e provavelmente nenhuma probabilidade de ter grandes sucessos na vida...

Nós exageramos com a avaliação de sorte para muitas situações. Nos exemplos referidos dos otimistas versus pessimistas, por certo tendemos a designar o otimista como sortudo e o pessimista como “azarento”. Na prática o que acontece é que um arrisca e o outro não, logo é muito mais provável que o que arriscou tenha “sorte” do que outro.

 

Uma vez entrevistaram um importante golfista, que recentemente começara a ter muito sucesso, e às tantas o jornalista terá perguntado :

“Como é que explica que nos últimos torneios tem tido tanta sorte para ganhar todos os prémios que ganhou?”

A resposta do golfista foi algo do género:

“Sabe, desde que comecei a treinar 10 horas por dia a jogar golfe, comecei a ter mais sorte...”

 

É cada vez mais comum tomar-se conhecimento de várias teorias em volta da sorte, sendo que existem muitos “gurus” a sublinhar, que a sorte não existe : a sorte faz-se.

Pessoalmente tendo a subscrever cada vez mais esta teoria, que fundamenta que nada acontece por acaso, tudo tem uma razão de ser e tudo depende da nossa mentalidade. Se nós estamos atentos às oportunidades que nos surgem e as aproveitamos, “temos sorte”. Se ficamos à espera que tudo nos caia do céu, por norma temos mais azar...

 

Uma parte importante do livro “O Segredo” sobre a Lei de Atração é justamente no contexto da sorte. Lá, a Rhonda Byrne defende igualmente que a sorte não existe. Ela diz que somos nós próprios que através das nossas emoções e crenças influenciamos o nosso destino de tal modo, que o Universo se encarrega de fazer surgir aquilo que nós “pedimos”. Por exemplo, quando pensamos, acreditamos e sentimos que estamos a ganhar muito dinheiro, segundo a Lei da Atração, os acontecimentos surgirão de modo a que o dinheiro aparecerá. O que nós temos que fazer é “apenas”: NÃO DUVIDAR MÍNIMAMENTE de que vamos obter o dinheiro e TOMAR A AÇÃO para fazer aquilo que nos surge, ou seja, aproveitar ativamente as oportunidades que aparecem...

 

Para o exemplo inicialmente referido das equipas de futebol, a teoria do “Segredo” é igualmente simples: quando há duas equipas equivalentes em jogo, ganhará sempre aquela que estiver mais convicta na vitória. Aquela que apresentar mais força de vontade, motivação e a certeza durante todo o jogo, conseguirá ganhar. A equipa que tiver alguma dúvida se irá ganhar, perde. Neste caso basta haver apenas alguns elementos da equipa que não acreditem, e toda a equipa acabará por perder...

 

Eu acho que esta explicação encaixa na perfeição nos resultados acima referidos. Basta lembrar que a confiança de uma equipa que começa por falhar golos tende sempre a baixar, enquanto que a equipa que não sofre tende a aumentar a sua confiança e fé na vitória.

No exemplo de Portugal versus Alemanha do Euro 2012 existia um histórico extremamente desfavorável à equipa portuguesa, o que afetou claramente a população e os média portugueses, e provavelmente também afetou os próprios jogadores. Os alemães por certo acreditaram sempre que iriam vencer, enquanto que alguns dos nossos por certo duvidaram.

Em ultima instância, no próprio golo da Alemanha houve um “toque do Universo” que fez a bola embater num jogador português e ser falseada diretamente para a cabeça do Mario Gomez. Esse, por sua vez, foi durante todo o jogo controlado pelo Pepe, mas nesse fatídico momento, Pepe estava a mover-se no sentido oposto, justamente porque não percebeu logo que a bola fora desviada. O golo só surgiu por todas estas “casualidades”... Tantas casualidades, que na realidade parecem mais uma vez seguir algum padrão ou vontade própria...

 

Desta feita, para Portugal invertir o feitiço da falta de sorte, vai ter que aumentar em muito os seus níveis de confiança e a certeza da vitória.

Isto até poderá ser mais fácil agora, porque da última vez que começámos um Euro a perder o primeiro jogo, em 2004, seguidamente começamos a ganhar todos os jogos até à final. Se os portugueses encaixarem essa convicção, quem sabe se ainda chegamos à final, e desta vez ganhamo-la mesmo – contra os alemães....

Os holandeses até costumam ser "fregueses" da nossa seleção, o único senão é que vamos igualmente cruzar-nos com os Dinamarqueses...

 

Veremos o que vai acontecer.

 

De qualquer das formas, ao desligar a “Sorte” do jogo, transformando-a num padrão racional que se consegue combater de forma lógica, tudo será mais fácil...