A sociologia é filha do capitalismo...

 

O pressuposto para entender a sociologia é a compreensão que temos do ser humano. Tanto que podemos dizer que sem o homem não há nem sociologia nem as demais ciências do homem. E, como o homem vivem em sociedade, outro elemento indispensável para a compreensão da sociologia é a forma como entendemos a sociedade em que esse homem se situa.

Além disso, para entender a sociologia precisamos entender como foi que a reflexão filosófica sobre o homem e a sociedade se transformou na ciência da sociedade. O que podemos adiantar é que ela nasceu com a sedimentação da capitalismo, na sociedade Europeia no contexto da revolução industrial. Vejamos, então como isso se deu.

Sabemos que a sociedade humana sofre contantes mudanças e transformações. Uma dessas grandes transformações é o fenômeno da Revolução Industrial. Mas o que ela trouxe da tão especial? Essa seria o objeto da sociologia nascente.

Entretanto não podemos deixar de observar que os primeiros sociólogos mais do que explicar a sociedade, queriam justificá-la. Segundo Martins, (1994, p. 18):

Não podemos perder de vista o fato de que a sociologia surgiu num momento de grande expansão do capitalismo. Alguns sociólogos assumiram uma atitude de otimismo diante da sociedade capitalista nascente, identificando os valores e os interesses da classe dominante como representativas do conjunto da sociedade

Além da mudança de perspectiva de produção, pois como sugere Marx, no pós renascimento e mais especificamente a partir da Revolução Industrial instala-se um novo modo de produção. O mundo feudal ruíra completamente e em seu lugar a burguesia se instala e instala e uma sociedade que se fundamenta no lucro. O mundo do capital é o universo do lucro. E, para isso, se faz necessário aumentar constantemente não só os investimentos em tecnologia, como, principalmente, em mecanismos pelos quais o trabalhador produza mais a custos cada vez mais baixos. E essa foi uma das grandes contribuições dessa Revolução: transformar o artesão em proletário dependente.

Essa situação é comentada por Cristina Costa (2005) nos seguintes termos:

A expansão da industrial, resultante das Revoluções Burguesas que atingiram os países europeus durante o século XIX, trouxe consigo a destruição da velha ordem feudal e a consolidação da nova sociedade – a capitalista – estruturada no lucro e na produção ampliada dos bens (COSTA, 2005, p. 64)

Essa situação, que vinha se estruturando desde o século XVII, evidentemente, se por um ado aumentou os lucros, por outro provocou inúmeras crises sociais. Como se tratava de um fenômeno novo, eram necessárias novas explicações. Como entender o aumento dos suicídios? Como explicar os trabalhadores se revoltando? Por que aumentava a prostituição? E assim por diante vários outros problemas demandavam explicação.

De acordo com Martins (1994), já no século XVIII, vários pensadores apontavam para os problemas que se manifestavam na sociedade. Segundo o autor, esses filósofos:

Não viam nenhum progresso numa sociedade cada vez mais alicerçada no urbanismo, na indústria, na tecnologia, na ciência e no igualitarismo. Lastimavam o enfraquecimento da família, da religião, da corporação etc. Na verdade, julgavam eles, a época moderna era dominada pelo caos social, pela desorganização e pela anarquia. (Martins 1994, p. 19)

Como dissemos esse conjunto de problemas demandava explicação. E vários filósofos se dedicaram a eles. Entretanto a perspectiva não era de condenação da nova ordem mas de acomodação. Queria-se saber das causas dos problemas não para mudar a sociedade que os estavam produzindo, mas para criar mecanismos que seriam usados pelos burgueses na busca da manutenção do sistema, do abrandamento dos problemas sem a eliminação das causas dos conflitos.

Com essa perspectiva foi que os filósofos se lançaram a campo. E, deve-se observar, no primeiro momentos não havia a sociologia como ciência, mas filósofos que se ocupavam de problemas ou causas sociais. Era, no primeiro momento, uma filosofia social, como sugere Cristina Costa (2005), dizendo que foi dessa “filosofia social” que se desenvolveu a sociologia como ciência.

Na realidade surgiram várias correntes de pensamento buscando explicar/justificar a nova realidade social. Cristina Costa afirma que “foi, entretanto o positivismo que logrou, de forma pioneira, sistematizar o pensamento sociológico”. E a autora continua dizendo que foi o positivismo:

O primeiro a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação e, além disso, a definir a especificidade do estudo científico da sociedade. Conseguiu distingui-lo de outras áreas do conhecimento, instituindo um espaço próprio à ciência da sociedade (Costa, 2005, p. 72).

E de onde vem o Positivismo? De uma das inúmeras preocupações de explicar a sociedade e seus conflitos, sem criar a perspectiva da transformação. Sabendo que positivismo vem de positivo, somos levados a concluir que sua preocupação é a manutenção e não a busca de alternativas. “Positivismo é uma palavra que vem do latim, do particípio passado do verbo por, colocar” (Guareschi, 2011, p. 24). Podemos dizer, portanto, que a sociologia que nasceu positivista, nasceu para justificar e preservar o capitalismo.

A sociologia é filha do capitalismo. Mas foi gerada no seio da filosofia positivista. Pelo menos metaforicamente podemos dizer que a sociologia tem pai e mãe.

 

MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. 38 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

COSTA, Cristina Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2005

GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia Crítica. 63ed Porto Alegre. Edipucrs, 2011

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, Filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - Ro