A RECREAÇÃO NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS ESPECIAIS

 

Ana Flávia da Silva *¹
Daniela Cristina da Silva *¹
Jéssica Fernanda de Paula *¹
Larissa Stéfani de Castro Santos *¹
Naiara Regina Alves da Silveira *¹
Vanessa Rodrigues Carvalho *¹
Ana Paula Barbosa *²

 

Resumo: A recreação é um componente essencial para promover a socialização. O presente trabalho objetivou compreender como atividades recreativas influenciam na socialização de crianças especiais do ensino infantil da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Franca-SP. As crianças foram observadas tanto na presença de estímulos recreativos quanto na ausência destes e, ao final da pesquisa, através de dados obtidos por questionários aplicados, é notável que a recreação influencie diretamente na socialização. Dentre as recreações oferecidas e aquelas que a própria instituição promove, destacam-se como mais importantes e de maior preferência das crianças as atividades como educação física, teatro, fantoche e música. A partir dessas preferências, este estudo conclui que quando uma atividade recreativa é preposta com um objetivo, estimula a socialização e colhe benefícios, pois uma criança mais socializada se desenvolve melhor em aspectos tanto físicos quanto cognitivos.

 Palavras-chaves: Recreação; Socialização; APAE.

 

Abstract: The recreation is an essential component to promote socialization. This study aimed to understand how recreational activities influence the socialization of special children of infant education at APAE in Franca- SP. The children were observed in the presence of recreational stimulus and in the absence of the stimulus. In the end, through information obtained from questionnaire, is noteworthy that recreation directly influences the socialization. Among the recreation offered and those own institution promotes, stands out as more important and most preferably by children activities like: physical education, theater, puppet and music. From these preferences, this study concludes that when a recreational activity is proposed with an aim, encourages the socialization and collects benefits, because a more socialized child will be to develops better, in physical and cognitive aspects.

Keywords: Recreation; Socialization; APAE.

 

 

Introdução

 

A partir da influência dos fatores biológicos e sociais na educação, levando ambos em consideração, o presente artigo é derivado de uma pesquisa que procurou compreender a influência da recreação na socialização de crianças especiais do ensino infantil da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) da cidade de Franca - SP.

Aplicando atividades recreativas, foi possível a observação do comportamento social infantil assim como o nível de socialização perante os estímulos e na ausência deles. A socialização tem início cedo, estabelecendo uma dependência direta com os demais aspectos do desenvolvimento, como o físico, cognitivo e psicológico, possuindo extrema importância.

 

Revisão Bibliográfica

 

 A perspectiva de recreação utilizada neste artigo focaliza o entretenimento com objetivos culturais, sociais e pedagógicos, ou seja, segundo Cavallari e Zacharias (2003 p. 59) “toda atividade recreativa, qualquer que seja, sempre será uma brincadeira ou jogo” e “o fato de aprender não é aleatório, é uma consequência planejada (...), trata-se de educar dentro de um modelo que permita desenvolver a liberdade em relação à dependência com os outros (WAICHMAN, 2001, p. 130).

Já o conceito utilizado de socialização, considera-a como um “processo pelo qual, ao longo da vida, a pessoa humana aprende a interiorizar os elementos socioculturais de seu meio, integrando-os na estrutura da sua personalidade, sob a influência de experiências de agentes sociais significativos, e adaptando-os ao ambiente social em que deve viver” (ROCHER, 1971 apud RAMOS, 2009).

A importância da socialização é relevante no desenvolvimento infantil, pois ela tem inicio cedo, para Bernard et al. (1974, p. 334) “a reação para com a sociedade começa, no bebê comum, por volta das quatro semanas de idade, quando se fixa num rosto que se inclina rapidamente sobre ele e modifica a expressão, indicando conhecer o rosto como pertencendo a algo diferente dos objetos inanimados que o cercam.”

Igualmente, Cassidy (1988) apud Matos (1994, p. 16) defende que:

 "As crianças com uma vinculação segura parecem adaptar-se muito melhor à vida social, no que diz respeito a tarefas cognitivas, parecem desde o ano e meio mais envolvidas no jogo simbólico, mais entusiastas, mais fáceis de ensinar, com mais resistência à frustração, mais capazes de coordenar soluções de problemas com a mãe. São ainda crianças mais populares no infantário, tomam mais vezes a iniciativa de estabelecer contactos sociais, e são mais competentes a ajudar os outros. Estas características refletem-se na sua auto-estima e na sua auto-avaliação da competência cognitiva e popularidade."

 Sendo assim, a recreação serve de grande influência para a socialização infantil, tanto na escola quanto em outros ambientes, pois “o jogo faz aceitar prazenteiramente as responsabilidades. Dá hábitos de autossuficiência, de expansão do eu e de iniciativa” (SCHMIDT, 1969, p. 39), assim os estímulos recreativos satisfazem a personalidade e o autoconceito da criança e consequentemente influencia o seu lado social.

Os termos crianças especiais, deficientes e excepcionais segundo Ferreira (1993) são conceitos que reúnem no mesmo significado, porém que foram utilizados em épocas diferentes para designar a mesma condição. Assim, historicamente existiram numerosas conceituações desses termos, com intuito de unifica-los, a ONU (Organizações das Nações Unidas) em 1975, aprovou a Declaração dos Direitos dos Deficientes que trazia em seu artigo 1: “O termo ‘pessoas deficientes’ refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesmos, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais.” (RIBAS, 1985, p. 10).

Com isso, os conceitos dos três termos estão relacionados, como afirma Ferreira (1993), com os processos de autonomia e independência pessoal de um individuo, porque a excepcionalidade estará sempre associada às impressões de dependência, imaturidade e infância, são pessoas que precisam de uma atenção em especial.  

Em síntese, observamos que a recreação é essencial para que haja a oportunidade de socialização, assim como para Rego (2002), mesmo diante de possíveis defasagens físicas e cognitivas, a recreação induz a motricidade, estimula a linguagem, a convivência grupal e a autonomia. Com outras palavras, é correto afirmar que:

"O jogo e a brincadeira são experiências que podem oportunizar a aprendizagem da criança portadora de NEE (Necessidades Educacionais Especiais) na busca da sua interação com a cultura vigente. A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda a formar um conceito eficaz de mundo, em que a afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados, valorizando também o direito de ser diferente, de ter suas próprias potencialidades e de poder interagir com o mundo através das oportunidades que lhe são oferecidas, respeitando seu direito de estar junto com seus pares." (PITANGA, 2011, p. 20)

Compreendendo assim, que a recreação é um influente mecanismo na socialização das crianças especiais, tanto entre as crianças em si quanto entre os professores, pais e funcionários, pois trata-se de uma integração que visa a melhoria na qualidade da vida biopsicossocial da criança especial.

 

Metodologia

 

O método utilizado foi pesquisa bibliográfica, pois foi necessário conhecer o assunto pra dar inicio ao projeto e uma pesquisa de campo, para reter os dados e analisá-los utilizando a interação e observação através do método dedutivo, em que as amostras foram recolhidas e analisadas.

As informações também foram obtidos através de entrevista, que para Garret (2001) é definida como a colocação de questões na tentativa de selecionar dados significativos a partir de suas respostas verbais e não-verbais (gestos, reações, etc) e também foi utilizado um questionário especificamente elaborado para a pesquisa.

 

Resultados e Discussões

 

A partir da análise dos resultados obtidos na aplicação do questionário, observamos a influência das atividades recreativas na socialização das crianças especiais. Dentre as questões, é importante enfatizar que indagamos se a instituição possuía atividades especificas para a socialização das crianças, bem como as atividades consideradas como mais importantes para a socialização, entre as alternativas se sobressaiu a educação física, teatro, fantoches e música.

Sendo assim, a recreação é uma ferramenta importante para a socialização infantil, auxiliando-as na aprendizagem e na convivência com outras crianças, professores e com o ambiente externo, pois essas se mostram mais comunicativas nas situações de diferentes tipos de recreação.

 

Conclusão

 

A recreação quando utilizada como componente para promover a socialização se torna exitosa se praticada com objetivos, pois os estímulos recreativos inseridos no meio infantil devem conter funções especificas para que os resultados obtidos sejam funcionais tanto para o executor ou educador quanto para a criança e seu grupo. Entretanto, a própria recreação aplicada de forma grupal já atribui-se como uma tentativa de socialização, ou seja, a socialização e a recreação são fatores diretamente relacionados.

Portanto, conclui-se que a recreação é um componente determinante na socialização das crianças especiais do ensino infantil da APAE de Franca, tanto que a própria Instituição promove atividades recreativas que visam uma maior socialização, pois acreditam que uma criança mais socializada desempenha com maior êxito as funções propostas, aprende regras e se desenvolve melhor. As crianças precisam descobrir o mundo e nada melhor que fazer isso através de brincadeiras, jogos e o auxílio de pessoas que as querem bem.

 

Referências

 

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*¹ Alunas do 4º semestre A do curso de graduação em Psicologia da Universidade de Franca.

*² Professora Orientadora do projeto de pesquisa dos alunos do 4º semestre A, Docente da Universidade de Franca, Especialista em Didática, Mestre em Educação pela UFSCAR e Doutora em Serviço Social pela UNESP de Franca.