Platão (428/427 - 347 a.c.) disse que a primeira atitude de um filósofo é admirar-se, ou seja, estar aberto ao mundo, ao seu redor e perceber nas pequenas coisas problemas que os demais homens não conseguem vislumbrar. Para esses homens “desatenciosos”, tudo resulta muito comum, muito fácil de entender, muito óbvio, bastando confiar nas suas próprias opiniões e (pseudo) conceitos. Reconhecer a própria ignorância em relação ao conhecimento da realidade, portanto, não faz sentido para esses homens. A arrogância humana (entendida aqui no sentido de resistência ao conhecimento por já se julgar conhecedor), mais do que a pura ignorância (esta pelo menos é ingênua), já era um grande empecilho desde os primórdios da Filosofia para o desenvolvimento desta e de todas as ciências, as quais clamavam pela humildade do homem diante da natureza e diante de si mesmo! Séculos depois, um filósofo francês, René Descartes (1596 – 1650), também notava a persistência da arrogância humana.... em seu livro Discurso do Método, logo no primeiro parágrafo, ele diz: “O bom senso é, das coisas do mundo, a mais bem distribuída, já que todos se contentam com a cota que julgam ter, e, mesmo pessoas difíceis de se contentarem em relação às outras coisas são bastante satisfeitas com as suas cotas de bom senso”. Ironicamente, Descartes constatava em sua época essa “pedra” no caminho da Filosofia e das ciências - a satisfação do homem com o parco uso de sua capacidade de fundamentação e aprofundamento de conhecimentos, como se o senso comum pudesse abarcar a realidade e encontrar verdades seguras. E se passaram mais alguns séculos. O avanço científico, então, denota o fim da arrogância e presunção humanas? Finalmente a Filosofia pôde se desenvolver e se expandir por entre todos os homens? Infelizmente, qualquer um pode testemunhar que talvez o efeito tenha sido o contrário... ignorância e arrogância sempre permearam e fizeram parte do mundo dos homens, mas, com a globalização do século XX e XXI (que tem sua origem a partir dos descobrimentos e seu desenvolvimento com a Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX), encontraram meios eficazes para se difundirem e se multiplicarem velozmente, criando uma espécie de paradoxo, já que a globalização também possibilita a difusão das ferramentas do conhecimento. O que prevalecerá?

                                       

                        Paloma de França Ramos