A natureza contra o homem

Por Alfredo Mello

 

        No inicio da historia da humanidade a natureza sempre se mostrou impiedosa e indiferente em relação à existência do homem. Atualmente esse quadro se inverteu. Hoje é o homem que é uma ameaça à natureza. Os homens, devido à sua ganância por riqueza, não se importam com as agressões e transgressões que comete com sua antiga algoz.

        Assim poderia relatar um cientista a relação que o homem tem com a natureza desde os primórdios da humanidade. Contudo, as linhas que se seguem defendem outro ponto de vista que, acreditamos, responde de modo coerente com a realidade das coisas.

       Pois bem, as duas maiores catástrofes da ultima década – a tsunami que arrasou vários países na Ásia e o terremoto no Haiti - nos mostra claramente duras realidade: nós não somos onipotentes como nos induz a nossa arrogância; a ciência não resolve todos os problemas do homem. O homem sempre se glorificou por ter o estatus de animal racional. E esse estatus o coloca em um pedestal, onde o qual o homem olha pra natureza como se não fizesse parte dela. Nessa posição que o homem se vê ele conceitua tudo em sua volta denominando esse “tudo” de natureza. Aos seres da natureza com vida uma parte ele chama de vegetação e a outra animais. A “consciência” animal o homem denomina instinto e ao seu “instinto” denomina consciência. Sua soberba o faz esquecer-se do que há de semelhante com o resto dos seres vivos da natureza e que a natureza trata todos de igual modo. Ao tomar a consciência como a coisa mais relevante que se pode pertencer à essência de um ser vivo o homem comete um erro gravíssimo, a saber: que a posse da consciência o faz mais importante que o resto dos animais e, com isso, a ignorar a relação intrínseca que tem com a natureza.

         O homem não esta acima da natureza e nem tão pouco abaixo dela. Ele é a natureza como parte integrante, ou seja, ele faz parte da natureza como todos os outros animais e está desse modo submetido as suas leis imutáveis. A consciência disso é de vital relevância para que o homem possa se prevenir dos efeitos devastadores da natureza e fazer um melhor usufruto dos seus benefícios. Mas se o que dissemos acima procede, o que faz com que o homem seja negligente a essas considerações e tome uma postura soberba?

        Verificamos que um dos motivos é a crença ingênua do homem pelo progresso da ciência – progresso esse que leva o homem no seu meio social a acreditar que se pode prever grandes catástrofe – que nos induz a tamanho erro. Não podemos ignorar que a ciência se desenvolve em alguns aspectos relevantes como na medicina e na tecnologia. Mas quando se trata de prevenções a terremotos, maremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e tempestades elétricas a ciência esta muito aquém do que precisamos para nos prepararmos com antecedência a esses fenômenos.

        Além das debilidades das ciências existe outro empecilho, a saber: a economia ou o sistema econômico. Mas como e por que uma pratica humana ajudaria na sua própria destruição? O homem não sempre se orgulhou de sua racionalidade?

        Pois bem, as relações econômicas, o modo de produção vigente contribui para falta de prevenção do homem por seguir uma lógica própria que ignora os interesses do homem. O sistema econômico vigente deixou o homem alienado, ou seja, o homem segue as regra de um sistema que ele projetou e como esse sistema não atende os interesses humanos, mas econômicos, o homem se vê obrigado a seguir as suas regras e não se importa com que meios devem seguir para cumprir esses interesses econômicos.

        Recordemos a recente reunião dos G8 – grupo dos oito países mais ricos do mundo – e os países em desenvolvimentos para discutir o protocolo de Kyoto. Em pauta estava a redução da emissão de gases na atmosfera dos países ricos liderados pelos Estados Unidos. Os americanos foram os primeiros a declarar que estava fora de cogitação essa atitude por parte deles, pois acarretaria na redução da economia americana dastricamente. E essa atitude por parte dos americanos é aceita sem questionamento pelos demais países por terem as mesmas opiniões. A crença ingênua que o homem tem pela ciência – postura seguida pelos positivistas desde o século XIX – e a alienação sofrida pelo atual sistema econômico – que culmina, inclusive, na ilusão da neutralidade da ciência - são os principais inimigos dos homens na sua trajetória.

        O homem não deve sentir medo da natureza. Ela não é seu algoz como indica o titulo desse texto, mas sim sua auxiliar na luta pela sobrevivência. Já que a natureza deu ao homem a faculdade da inteligência, que a use com prudência em seu beneficio, mas sem esquecer que é parte integrante da natureza e que não está acima dela. A ciência e a filosofia serão de grande ajuda para o homem fazer escolhas e agir com consciência das possíveis reações da natureza. O mundo dos homens será bem diferente se os homens se redimirem da postura que ocupam hoje. Devemos ser mais humilde perante a natureza e ver que podemos sim nos preparar com antecedência se agirmos de acordo com os interesses da vontade do homem e não de um sistema que obedece a uma lógica sobre humana.

 

10/02/10