A INTER-RELAÇÃO ENTRE OS GÊNEROS OBSERVADOS EM CRIANÇAS DE 5 E 6 ANOS

Fabíola Degasperin*
Maria Letícia Vilaça Ambrósio*¹
Renata de Oliveira Pimenta*¹
Ana Paula Barbosa*²

RESUMO

Neste artigo pesquisamos a inter-relação entre gêneros observado em crianças de 5 a 6 anos, a partir da interação entre meninas e meninos com a intenção de uni-los a fim de perceber como seria a socialização entre ambos os sexos através de jogos e brincadeiras, uma vez que nessa faixa etária as crianças são capazes de aceitar regras e jogar em equipe. O método utilizado na pesquisa foi o de observação e questionário, sendo que a observação foi registrada por meio de relatórios e os questionários realizados tanto com as professoras como com alguns alunos. Sendo assim, concluímos que a socialização entre os gêneros nessa faixa etária é de grande importância, refletindo no brincar e ainda contribuindo para o desenvolvimento social da criança.
 


Palavras chaves: Socialização, gênero, brincar, crianças.


ABSTRACT

In this article we studied the interrelationship between genders observed in children 5-6 years, from the interaction between girls and boys with the intention of uniting them to see how it would be socializing between the sexes through games and play since at this age children are able to accept rules and play as a team. The method used in this research was the observation and questionnaire, and the observation was recorded by means of reports and questionnaires conducted both with teachers and with some students. Thus, we conclude that playing in the school environment contributes to the social development of the child.

Keywords: Socialization, gender, play, children.









INTRODUÇÃO

Este trabalho teve como finalidade compreender, na prática, como os meninos e as meninas socializam-se nas mais diversas brincadeiras infantis. A escolha da utilização das brincadeiras se deu pelo fato de que a socialização através do brincar pode ajudar tanto na aceitação do outro, quanto na aprendizagem da própria criança.
A socialização se define pelo ato de se adaptar ao meio e também de interagir com ele, sendo assim uma pratica diária, uma possível construção de saberes onde indivíduos e objetos se interagem, como afirma Oliveira (2002, p. 126), “ao mesmo tempo em que a criança modifica seu meio, é modificada por ele”.


DESENVOLVIMENTO

Antes de nascer uma criança, os pais, tios, avós, e toda a sua família já sabe qual será sexo desta. A criança é reconhecida pela cor da roupa que veste pelo que brinca e como brinca.
Enquanto essa criança vai crescendo, ela é inserida, aos poucos no mundo em que vive, na sociedade que a rodeia e, na cultura que compõe o universo familiar. É na família que ocorre o processo de socialização primária, segundo SOUSA e FILHO (2008) “a família funciona como primeiro e mais importante agente socializador, sendo assim, é o primeiro contexto no qual se desenvolvem padrões de socialização”, ou seja, infere-se que é na família que a criança tem o primeiro contato com o mundo externo. A família deixa de ser o centro e passa a compartilhar com a escola os ensinamentos, a educação, a aprendizagem, etc.

Quando vai a escola a criança descobre uma infinidade de mundos possíveis não mais restritos ao ambiente familiar, mas nem por isso abandona o mundo da casa, dos seus pais e dos seus brinquedos prediletos, apenas emerge descobrindo as diferenças que marcarão profundamente uma nova vida, carregada com a poesia da vida por inteiro. (POOLI, 2001, pg.99)

A escola, por sua vez, passa a ser junto com a família um agente socializador, que tem papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, psicológico, social da criança. De acordo com BORSA (2007) “é na escola que se constrói parte da identidade de ser e pertencer ao mundo”, assim como os papeis de gênero e, posteriormente, a tipificação de gênero.

O termo papéis de gênero tem como significado os comportamentos e interesses, habilidades e traços de personalidade que uma cultura considera apropriada para cada sexo e se desenvolve pelo processo de socialização, conhecido por tipificação de gênero, em que a criança, ainda pequena, aprende a se apropriar dos papeis de gênero (PAPALIA, 2009 p.285).

A cultura na qual estamos inseridos influencia no papel que a criança desenvolverá na construção tanto do seu pensamento quanto do seu ser social. A criança representa várias funções para muita gente e é julgada por seu êxito em dominar a conduta típica nas várias funções (Garrison, Karl C. 1974, p.330).
Sendo assim, é prescindível ressaltar a importância da escola para que a criança continue em desenvolvimento, construindo sua identidade e esteja em contato com o outro, segundo Vygotsky (1987, 1989) “é na interação com outros sujeitos que formas de pensar são construídas por meio da apropriação do saber da comunidade em que está inserido o sujeito”.
Uma das formas que encontramos para entender como se dá essa socialização secundária e, concomitante, a socialização entre os pares, foi explorar o universo de brincadeiras e jogos dentro da escola, mais precisamente brincadeiras em que a interação entre estes é mais radicada, tendo como premissa de que as brincadeiras possam ajudar em tal socialização.

METODOLOGIA

A pesquisa que concerne este trabalho, foi aplicada em crianças de 5 e 6 anos de idade, de uma Escola da cidade de Franca – SP. O material coletado para tal se deu através de um estágio voluntário que foi realizado por meio de observação, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e questionário. Este, por sua vez, contemplou tanto os alunos quanto as professoras.

RESULTADO E DISCUSSÃO

De acordo com as respostas obtidas, o que foi respondido tanto pelos alunos e alunas quanto pelas professoras, no que concernem as brincadeiras e jogos como um meio de socialização dentro do ambiente escolar, podemos inferir que na socialização entre os pares ainda existe uma segregação da parte de ambos.
No entanto, essa visão pode ser modificada desde que seja trabalhada com alunos e alunas, professores e demais membros da instituição escolar, para que o modelo imposto – de relações- diminua, e o espaço para agregar valores e respeito para com o outro, aumente.

CONCLUSÃO

Sabemos que a segregação entre os pares ainda existe e, possivelmente, continuará existindo, a diferença consiste em como é tratada, do modo como é explicitado e trabalhado com crianças, sobretudo no ambiente escolar, onde está em contato não só com crianças da mesma idade e, sim, de várias faixas etárias.
A pesquisa delineou-se pelos questionários aplicados, estes nos deram a base para inferir que a segregação entre pares é observável tanto no papel quanto no real, no concreto. Observamos que, assim como ALAMBERT (apud VALENZUELA; GALLARDO, 1999), as crianças aprendem o sexismo na escola ao se defrontar com a hierarquia do sistema escola onde os papéis feminino e masculino estão determinados.
Mas a escola, que é um dos meios de socialização da criança, através de jogos e brincadeiras, é capaz de reduzir bruscamente essa segregação existente entre feminino e masculino. Uma das formas dessa redução é através das brincadeiras, sobretudo as de grupo, pois faz com que essas crianças exercitem a capacidade de respeitar o seu próximo – independente da cultura- sendo do mesmo gênero ou não.


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