RELATO DE CASO
______________________________________________________________________

A INFLUÊNCIA DAS ALTERAÇÕES PROSÓDICAS NA SEMÂNTICA EM UM INDIVÍDUO COM SÍNDROME DE ASPERGER

THE INFLUENCE OF PROSODIC CHANGES IN THE SEMANTICS IN AN INDIVIDUAL WITH ASPERGER SYNDROME

Ana Tereza de Almeida Costa¹

RESUMO

A síndrome de Asperger caracteriza-se como uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas semelhantes às observadas no autismo. Apresentamos aqui o caso de um paciente encaminhado a clinica escola de Fonoaudiologia do UniCEUMA em São Luis - Maranhão, com síndrome de Asperger, apresentando sinais de alterações na linguagem oral. O indivíduo foi submetido a um protocolo de anamnese e duas avaliações fonoaudiológicas uma de linguagem e outra de voz, onde foi constatado grande alteração a nível prosódico na semântica no discurso desse paciente.
Unitermos: Prosódia; semântica; síndrome de Asperger

ABSTRACT

Asperger syndrome is characterized as a qualitative change in reciprocal social interactions similar to those seen in autism. We present the case of a patient sent to the school clinic Speech Therapy UniCeuma in Sao Luis do Maranhão, with Asperger's syndrome, showing signs of changes in oral language. The individual was referred to a memorandum of interview and two speech-an evaluation of language and other voice, where it is detected major change to the semantic level prosodic speech in this patient.
Keywords: Prosodic; Semantics; Asperger syndrome
_____________________________________________________________________________



A síndrome de Asperger (SA), nome dado em homenagem ao pediatra vienense Hans Asperger (1906-1980), é um transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhantes às observadas no autismo, com um repertório de atividades e interesses restritos, estereotipados e repetitivos (1). O primeiro relato foi feito em 1944 pelo próprio Hans Asperger, mas ele a intitulou na época como psicopatia autistica e somente em 1981, Lorna Wing introduz o termo síndrome de Asperger (2). Por não ter uma etiologia confirmada, esta síndrome pode levar a diagnósticos tardios, muitas vezes errados, pois a SA facilmente pode ser confundida com outras síndromes, com conseqüências devastadoras para os pacientes, principalmente no que se refere ao desenvolvimento da linguagem desses indivíduos (3). Em sua primeira descrição Asperger caracterizou o uso estereotipado, desajeitamento, interesses obsessivos e déficits no comportamento social duradouros de personalidade, afetando preferencialmente meninos (4).


A SA ainda caracteriza-se pela alteração a nível prosódico, com a fala pedante desses indivíduos e dificuldades na semântica como, o sujeito é incapaz de realizar uma representação de uma representação, ou seja, uma metarepresentação com dificuldade em dar significado ao significante e até mesmo de identificar e diferenciar sentimentos (5).
Nesse artigo, apresentamos um caso de um paciente portador de síndrome de Asperger. Paciente sexo masculino, 18 anos, natural e procedente de São Luis - Maranhão, com déficit intelectuais e alterações em nível de linguagem, o mesmo foi encaminhado a clinica escola de Fonoaudiologia do UniCEUMA. O paciente foi submetido a um protocolo de anamnese e avaliação fonoaudiologica, onde foi observado alteração a nível prosódico acometendo o ritmo, entonação, altura, timbre e velocidade da fala, na semântica o sujeito não entende frases e expressões com sentido metafórico, apresentou dificuldade em reconhecer e diferenciar sentimentos como, tristeza, alegria, zangado e bravo, apresentando uma fala sem inflexão devido as alterações na prosódica causando a dificuldade desse indivíduo em comunicar apropriadamente as suas emoções.


DISCUSSÃO


A síndrome de Asperger caracteriza-se com uma alteração na linguagem oral do indivíduo (6). Essas alterações na linguagem requerem um enfoque metodológico especial e para diagnosticar o problema, inicialmente é feito uma anamnese, ou seja, uma conversa inicial onde essa anamnese deve seguir toda história clinica, definindo ao máximo todos os dados da enfermidade atual, os antecedentes pessoais, aspectos fisiológicos, patológicos e sociais, pois uma história completa e detalhada evita erros, assim obtendo um diagnóstico correto e preciso (7,8).
Outro passo importante é a avaliação fonoaudiológica, no que se refere ao exame da linguagem são avaliados os aspectos semânticos e a voz, onde é observada a organização do discurso, manejo da informação e linguagem como forma de intervir na relação social (9,10). No caso relatado para avaliar a semântica do indivíduo utilizamos álbum fonético, seqüência lógica, figuras que identificam estado emocional das pessoas, como: carinha feliz, triste, bravo e zangado onde o paciente teve que identifica-las, a fonoterapeuta também disse frases como "João come como passarinho" e "Esta chovendo canivete" onde o indivíduo teve que interpreta-las, pois a importância e eficácia desse tipo de exercício para avaliar a linguagem foram demonstradas em várias investigações, uma vez que essas atividades puderam identificar se a semântica de um indivíduo está alterada ou não (11, 12,13).
A avaliação da voz foi feita para avaliar aspectos como: velocidade da fala, ritmo, entonação, intensidade vocal e altura vocal. Outros aspectos avaliados foram respiração, articulação, postura e estruturas de fonação, para essa avaliação utilizamos o método de emissão de sons o máximo que o paciente conseguir emitir /a/, /i/, /u/, /s/, /z/, pudemos avaliar a prosódia do indivíduo pedindo para ele cantar uma musica, já à respiração avaliamos pedindo para ele inspirar e expirar pelo nariz, a mobilidade dos Órgãos fonoarticulatório foi avaliada com a vibração, estação e lateralização da língua e lábios, já que com esses métodos podemos identificar a qualidade dos mecanismos motores da fala, onde uma vez alterados pode vir a influenciar na linguagem do indivíduo principalmente em se tratando de prosódia alterada onde pode ocorre uma imprecisão semântica (14,15).
O tratamento indicado para alteração a nível prosódico e semântico são as terapias fonoaudiológicas onde o fonoaudiólogo vai observar e estimular um melhor desenvolvimento no processo comunicativo interacional no discurso desses indivíduos suavizando a prosódia e automaticamente melhorando e adequando a semântica (16,17).




CONCLUSÃO


Pudemos evidenciar e concluir que as alterações da prosódia influenciam na semântica de um indivíduo portador de SA. predispondo uma não utilização da linguagem dentro de um processo comunicativo interacional, onde o mesmo necessita de acompanhamento fonoaudiólogo.


REFERÊNCIAS


1. Who. Síndrome de Asperger. In: Fernandes MDF, Pastorello ML, Sehuer IC. Fonoaudiologia em distúrbios psiquiátricos na infância. Lovise, 1995; p. 46-3.

2. Pastorello ML. Fonoaudiologia em distúrbios psiquiátricos na infância. Lovis. 1995; p. 45-3.

3. Fernandes MDF, Pastorello ML, Sehuer IC. Fonoaudiologia em distúrbios psiquiátricos na infância. Lovise. 1995; p. 55-3.

4. Schwartzaman JS. Síndrome de Asperger. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento. 2ª ed. Revinter. 1995; p. 132-5.

5. Cox AD. Temas sobre desenvolvimento. Lovise. 1995; p 55-3.

6. Tantam D. Fonoaudiologia em distúrbios psiquiátricos na infância. Lovise. 1995; 57-3.

7. Casanova JP. Manual de fonoaudiologia. 2ª ed: Disfasia infantil e afasia congênita. Artmed. 1997; 9-1.

8. Arantes LO. O fonoaudiólogo, este aprendiz de feiticeiro. 2ª ed. Cortez. 1997; p. 29.

9. Gerber A. Problemas de aprendizagem relacionados à linguagem. Lovise. 1996; p. 53-2.

10. Zorzi J. O fonoaudiólogo, este aprendiz de feiticeiro. In: Lier- DVFM. Fonoaudiologia no sentido da linguagem. 2ª ed. Cortez. 1997; p. 30.

11. Behlau M. Voz o livro do especialista. 1ª ed. Revinter. 2005; p. 238.

12. Monfort M. Disfasia e Afasia congênita. In: Manual de fonoaudiologia. 2 edª: Artmed. 2002; 216-15.

13. Paimes MP. Afasia infantil. In: Manual de fonoaudiologia. 2ª ed. Artmed. 2002; 281-18.

14. Pinho RMS. Fundamentos em fonoaudiologia tratando os distúrbios da voz. 2ª ed. Guanabara. 2003; p. 27-30.

15. Bagnya J. Disartrias. In: Manual de fonoaudiologia. 2ª ed. Artmed. 2002; 121 à 128 ? 9.

16. Aguado G. Atraso de linguagem. In: Manual de fonoaudiologia. 2ª ed. 2002; 203-14.

17. Sangorrín J. Disartrias. In: Manual de fonoaudiologia. 2ª ed. Artmed. 2002; 124-9