A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NA CLÍNICA DE PSICOLOGIA APLICADA – C.P.A. – ULBRA. – ITUMBIARA - GO

 

 

 

 

 

Anália Franco P. Simões Andrade

Elizângela Marques Lacerda

Jéssica Batista Almeida

Josilene Maria Tobias

Kamila Cristina Oliveira Silva

Nayara de Freitas Garzone¹

Profª. Msc. Sheila Maria Pereira Fernandes ²

 

 

 

RESUMO

 

Este artigo mostra como é a atuação do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica na Clínica de Psicologia Aplicada – C.P.A. – ULBRA da cidade de Itumbiara – GO. Apresenta como metodologia a pesquisa qualitativa. Aplicamos um questionário com perguntas semiestruturadas referentes ao trabalho do psicólogo junto às mulheres vítimas de violência, o qual foi respondido por profissional da área de psicologia. A partir de então verificamos como se dá o trabalho de atendimento psicológico às vítimas do referido assunto. Aprendemos que o papel do psicólogo no auxilio a mulheres vítimas de violência doméstica é de suma importância, pois este profissional é capaz de não só realizar um trabalho de acolhimento, mais também contribuir para a compreensão da construção do sujeito e abordar sua relação com a sociedade.

 

 

Palavras-chave: violência doméstica, encaminhamento, acolhimento, auxílio psicológico, autoestima, escolhas, relacionamentos, família.

 

 

 

1. Introdução

 

 

Segundo Declaration on the Elimination of Violence against Women (1993) (Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher) a violência contra a mulher é qualquer ato de violência com base no gênero, sexo, que resulte em dano físico, sexual, mental ou sofrimento para a mulher, incluindo as ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade, ocorrida em público ou na vida particular.

Hanada et al, (2010) esclarece que a mulher vítima de violência doméstica conta hoje com vários tipos de serviços assistenciais que vão desde serviços médicos, psicológicos a aconselhamento jurídicos. A multidisciplinaridade no atendimento se faz fundamental para que aja uma melhor eficiência e que para todas as necessidades das vítimas sejam atendidas e que se sintam seguras para não só denunciar o agressor mais também de procurar ajuda para si e para todos os envolvidos.

Ainda segundo Hanada et al, (2010) o papel do psicólogo é fundamental no auxilio a mulheres vítimas de violência doméstica, pois ele é capaz de não só realizar um trabalho de acolhimento, mais também contribuir para a compreensão da construção do sujeito e abordar sua relação com a sociedade.

Fazendo uso deste trabalho, levantamos a problemática: Como é a atuação do profissional de Psicologia junto às mulheres vítimas de violência doméstica. Na prática mesmo, queremos saber, o que acontece nesses atendimentos psicológicos, como funciona a terapia.

Visamos assim demonstrar a importância do papel do psicólogo junto às mulheres vítimas de violência doméstica e como um trabalho bem planejado, estruturado e executado pode contribuir para o processo de atendimento dessas mulheres.

 

Sendo assim o presente trabalho tem como objetivos:

Principal:

  • Descrever como se processa os serviços oferecidos pelo psicólogo às mulheres vítimas de violência doméstica na C.P.A.

Específico:

  • Explicar como se dá o atendimento do profissional de psicologia junto às vítimas na C.P.A.

Assim sendo não temos a pretensão de esgotar o assunto, mas sim de proporcionar mais uma oportunidade de reflexão sobre o mesmo, exemplificando que o psicólogo tem um papel importante e significativo no atendimento e apoio às mulheres vítimas de violência doméstica.

 

 

2. Referencial Teórico

 

 

A criação de um projeto interdisciplinar deve integrar as demais disciplinas por meio de um tema debatido socialmente como, em nosso caso: a atuação do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica na clínica de psicologia aplicada – C.P.A. – ULBRA. O que segundo Fazenda (1999) não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se. O que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança no exercício de pensar e de construir. Essa insegurança pode se diluir na troca, no dialogo e no aceitar o pensar do outro. Exige a passagem da subjetividade para a intersubjetividade. Neste sentido, a prática interdisciplinar, implica na vivencia do espírito de parceria, de integração entre teoria e prática, conteúdo e realidade, objetividade e subjetividade, ensino e avaliação, professor e aluno, reflexão e ação, etc.

 

 

2.1  Violência contra a Mulher

 

Houaiss (2001), explica que violência é a ação ou efeito de violentar, de empregar força física contra alguém ou algo ou intimidação moral contra alguém; ato violento, crueldade, força.

Na perspectiva de gênero, a violência contra a mulher é entendida como o resultado das relações de poder entre homem e mulher, tornando-se visível a desigualdade que há entre eles, onde o masculino é quem determina qual é o papel do feminino, porém esta determinação é social e não biológica. Para distinguir este tipo de violência pode-se defini-la como qualquer ato baseado nas relações de gênero que resulte em danos físicos e psicológicos ou sofrimento para a mulher, entendendo-se que tal conduta é muitas vezes usada conscientemente como um mecanismo para subordinação, como o que ocorre nas relações conjugais (WATTS, ZIMMERMAN, 2002).

Osório (2001) conceitua a violência como o ato, ou sucessão de atos, consciente ou inconscientemente determinados para causar dano físico, psíquico, moral ou social a outrem e que, por sua natureza e intensidade não permite a evitação imediata ou mediata de seus efeitos.

Já Maldonado (1997) explica que quando a violência psicológica é constante, prejudica a formação da boa autoestima e consolida a rejeição, desvalorizando a si próprio e a tendência é de submeter-se a situações de abuso em outros relacionamentos.

 

 

2.2 Histórico da Violência Doméstica

 

É importante para os investigadores conhecerem o histórico da violência doméstica. Nesta direção, o trabalho explana a respeito do conhecimento obtido através de dados bibliográficos.

Saffioti (1997), explica que a violência contra a mulher está presente desde os primordios. E a família é o grupo primordial, é nela que encontramos as primeiras manifestações de violência entre seres humanos; e tais práticas foram universais e presentes ao longo de toda a história humana.

De acordo com Puleo (2004), na Grécia Antiga, os mitos contavam que, devido à sua curiosidade, Pandora tinha aberto a caixa de todos os males do mundo e, em consequência, as mulheres eram responsáveis por haver desencadeado todo o tipo de desgraça. A religião é outro dos discursos de legitimação mais importantes. As grandes religiões têm justificado ao longo dos tempos os âmbitos e condutas próprios de cada sexo. Ainda na Grécia Antiga havia muitas diferenças entre homens e mulheres. As mulheres não tinham direitos jurídicos, não recebiam educação formal, eram proibidas de aparecer em público sozinhas, sendo confinadas em suas próprias casas em um aposento particular chamado de Gineceu, enquanto aos homens, estes e muitos outros direitos eram permitidos.

Vrissimtzis (2002) elucida que o homem era polígamo e o soberano inquestionável na sociedade patriarcal. Não apenas gozava de todos os direitos civis e políticos, como também tinha poder absoluto sobre a mulher.

O autor FUNARI, (2002), explica que na Roma Antiga as mulheres nunca foram consideradas cidadãs e, portanto, não podiam exercer cargos públicos. A exclusão social, jurídica e política colocavam a mulher no mesmo patamar que as crianças e os escravos. Sua identificação enquanto sujeito político, público e sexual lhe era negada, tendo como status social a função de procriadora. Contudo com o a inserção da cultura judaico-cristã tal situação pouco se alterou. O Cristianismo retratou a mulher como sendo pecadora e culpada pelo desterro dos homens do paraíso, devendo por isso seguir a trindade da obediência, da passividade e da submissão aos homens, seres de grande iluminação capazes de dominar os instintos irrefreáveis das mulheres como formas de obter sua salvação. Assim a religião judaico-cristã foi delineando as condutas e a natureza das mulheres e incutindo uma consciência de culpa que permitiu a manutenção da relação de subserviência e dependência. Mas, não foi só a religião que normatizou o sexo feminino, a medicina também exerceu seu poder, apregoando até o século XVI a existência de apenas um corpo canônico e este corpo era macho. Por essa visão a vagina é vista como um pênis interno, os lábios como o prepúcio, o útero como o escroto e os ovários como os testículos.

A crença da mulher como um homem invertido e inferior, perdurou durante milhares de anos como se pode observar, na passagem em que Laqueur (2001), comenta a visão de Aristóteles:

O kurios, a força do esperma para gerar uma nova vida, era o aspecto corpóreo microcósmico da força deliberativa do cidadão, do seu poder racional superior e do seu direito de governar. O esperma, em outras palavras, era como que a essência do cidadão. Por outro lado, Aristóteles usava o adjetivo akuros para descrever a falta de autoridade política, ou legitimidade, e a falta de capacidade biológica, incapacidade que para ele definia a mulher. Ela era como o menino, em termos políticos e biológicos uma versão impotente do homem, um arrenagonos. (LAQUEUR, 2001, p. 68)

 

O modelo de sexo único prevaleceu durante muito tempo por ser o homem o ser humano nascido com o sexo biológico masculino, ou seja, pênis; o alvo e construtor do conhecimento humano. Dentro dessa visão, a mulher consistia em uma categoria vazia. Apenas quando se configurou na vida política, econômica e cultural dos homens a necessidade de diferenças anatômicas e fisiológicas constatáveis é que o modelo de sexo único foi repensado.

Ainda, conforme Laqueur (2001) o antigo modelo no quais homens e mulheres eram classificados conforme seu grau de perfeição metafísica, seu calor vital, ao longo de um eixo cuja causa final era masculina, deu lugar, no final do século XVIII, a um novo modelo de dimorfismo radical, de divergência biológica. Uma anatomia e fisiologia de incomensurabilidade substituíram uma metafísica de hierarquia na representação da mulher com relação ao homem.

A visão naturalista que imperou até o final do século XVIII determinou uma inserção social diferente para ambos os sexos. Aos homens cabiam atividades nobres como a filosofia, a política e as artes; enquanto às mulheres deviam se dedicar ao cuidado da prole, bem como tudo aquilo que diretamente estivesse ligado à subsistência do homem, como: a fiação, a tecelagem e a alimentação. Um exemplo desta posição paradigmática pode ser observado em Rousseau (1817):

A rigidez dos deveres relativos dos dois sexos não é e nem pode ser a mesma. Quando a mulher se queixa a respeito da injusta desigualdade que o homem impõe, não tem razão; essa desigualdade não é uma instituição humana ou, pelo menos, obra do preconceito, e sim da razão; cabe a quem a natureza encarregou do cuidado com os filhos a responsabilidade disso perante o outro. (ROUSSEAU apud EGGERT, 2003, p. 03).

 

Tal eixo interpretativo começou a mudar neste mesmo século, a partir da Revolução Francesa (1789). Nela as mulheres participaram ativamente do processo revolucionário ao lado dos homens por acreditarem que os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade seriam estendidos a sua categoria. Ao constatar que as conquistas políticas não se estenderiam ao seu sexo, algumas mulheres se organizaram para reivindicar seus ideais não contemplados. Uma delas foi Olympe de Gouges, que publicou em 1791, um texto intitulado Os Direitos da Mulher e da Cidadã no qual questiona:

Diga-me, quem te deu o direito soberano de oprimir o meu sexo? [...] Ele quer comandar como déspota sobre um sexo que recebeu todas as faculdades intelectuais. [...] Esta Revolução só se realizará quando todas as mulheres tiverem consciência do seu destino deplorável e dos direitos que elas perderam na sociedade. (ALVES, PITANGUY, 1985, p. 33-34)

 

No século XIX há a consolidação do sistema capitalista, que acabou por acarretar profundas mudanças na sociedade como um todo. Seu modo de produção afetou o trabalho feminino levando um grande contingente de mulheres às fábricas. A mulher sai do locus que até então lhe era reservado e permitido o espaço privado, e vai à esfera pública. Neste processo, contestam a visão de que são inferiores aos homens e se articulam para provar que podem fazer as mesmas coisas que eles, iniciando assim, a trajetória do movimento feminista, que pode ser assim definido:

A grosso modo pode-se dizer que ele corresponde à preocupação de eliminar as discriminações sociais, econômicas, políticas e culturais de que a mulher é vítima. Não seria equivocado afirmar que feminismo é um conjunto de noções que define a relação entre os sexos como uma relação de assimetria, construída social e culturalmente, e na qual o feminismo é o lugar e o atributo da inferioridade. (GREGORI, 1993, p. 15)

 

Ao questionar a construção social da diferença entre os sexos e os campos de articulação de poder, as feministas criaram o conceito de gênero, abrindo assim, portas para se analisar o binômio dominação-exploração construído ao longo dos tempos.

A violência contra a mulher traz em seu seio, estreita relação com as categorias de gênero, classe, raça e etnia; e suas relações de poder. Tais relações estão mediadas por uma ordem patriarcal proeminente na sociedade brasileira, a qual atribui aos homens o direito a dominar e controlar suas mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência.

 

2.3 Perfil dos Agressores

 

Osório (2001) explana que o perfil dos agressores é basicamente: baixa autoestima, alta vulnerabilidade à humilhação, freqüentes sentimentos de impotência, ausência de projeto de vida, fator cultural, inabilidade no autodomínio e deficiente controle de seus impulsos, situação de rejeição parental e sofreram agressões no passado ou tem histórico familiar violento. Estes indivíduos praticam a violência física como: chutes, beliscões, empurrar, bater e morte. A violência psicológica como: falar mal, humilhar, agredir com palavras. Esta, por sua vez, é a mais difícil de ser diagnosticada, pois o corpo não fica marcado, mas ficam marcas profundas em seu psiquismo. E acaba levando inúmeras vitimas aos setores de emergência dos hospitais.

Por conseguinte, Maldonado (1997) explica que é comum entre as vítimas, além do medo e da revolta sentir pena do agressor e renova a esperança de que a agressão não se repita. Porém, um trabalho psicoterápico com as famílias para compreender os sentimentos e esclarecer os circuitos de comunicação, pode ser o inicio de reversão desse quadro.

 

2.4 As consequencias que a violência doméstica pode acarretar nas mulheres vítimas e em seus familiares.

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito (GROSSI, 1996).

Cada tipo de violência gera, segundo Kashani e Allan (1998), prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, como as inflamações, contusões, hematomas, ou crônicas, deixando sequelas para toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de deficiências físicas, entre outras.

Os sintomas psicológicos frequentemente encontrados em vítimas de violência

 doméstica são: insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998).

O fenômeno da violência contra as mulheres acarreta sérias e graves consequências não só para o seu pleno e integral desenvolvimento, comprometendo o exercício da cidadania e dos direitos humanos, mas também para o desenvolvimento socioeconômico do país. Conforme Bravo (1994), a violência contra as mulheres não é mais uma questão privada, mas objeto de preocupação social. A violência tem sido concebida como toda relação em que há abuso de poder podendo manifestar-se de diferentes formas.

As consequências da violência doméstica são delicadas e podem permanecer durante muito tempo. Além das marcas físicas, a violência doméstica costuma causar também vários danos emocionais, como: Influencias na vida sexual da vitima; baixa autoestima e dificuldade em criar laços.

 

 

 

3. Procedimento Metodológico

 

 

Está pesquisa, foi realizada sob referencial bibliográfico e aplicação de um questionário semiestruturado. Segundo Gil (1991), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

Conforme Tozoni-Reis (2005), a análise e interpretação dos dados consistem nos resultados obtidos na coleta dos mesmos, que se deu por um questionário semiestruturado respondido por uma psicóloga que supervisiona estagiários do Curso de Psicologia no que tange atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica.

Visitamos e participamos de orientação na CPA (Clínica de Psicologia Aplicada) do Iles Ulbra da Cidade de Itumbiara-GO, onde o serviço de atendimento psicológico às mulheres vítimas de violência doméstica está sendo oferecido e para aprendermos com este profissional sobre como se dá a terapia. Na sequencia, descrevemos como o psicólogo trabalha em suas terapias no específico atendimento.

O presente estudo foi caracterizado de cuidados éticos de modo que o sujeito participante, antes da aplicação do questionário, assinou um termo de livre esclarecimento, concordando com a participação, os objetivos da pesquisa bem como o caráter sigiloso das informações obtidas, conforme previsto na Resolução 0196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL 1996).

 

 

 

4. Resultados e Discussões

 

 

Relato da entrevista semiestruturada:

 

A entrevistada trabalha com mulheres vitimas de violência domestica a cerca de um ano, começou com casos encaminhados pelo núcleo de pratica jurídica da Ulbra e a cerca de oito meses devido a demanda do serviço fez uma parceria com a delegacia da mulher da cidade de Itumbiara - GO.

O processo de encaminhamento se da quando o Núcleo de Prática Jurídica ou a Delegacia da Mulher envia os dados e marca o atendimento junto a clinica para as vitimas de violência. Os atendimentos são imediatos sem que seja necessário passar por uma triagem previa como são feitos com os demais casos atendidos na clinica.

O numero de ocorrências semanais de vitimas que procuram atendimento são poucos, mais aos que procuram recebem atendimento imediato, pois as mesmas chegam muito vitimadas e necessitando de auxilio. Além de que o contato com essas mulheres pode ser dificultado, pois muitas deixam os seus domicílios em busca de um lugar seguro e longe do agressor.

Segundo a entrevistada o atendimento se da primeiramente com uma sessão individual de acolhimento, onde a mulher vitima de violência tem o espaço para contar sua historia, expor suas queixas, falar de seus sentimentos, sofrimentos e até mesmo das humilhações e abusos sofridos. Em um segundo momento o terapeuta começa a traçar algumas hipóteses para o comportamento dessas mulheres vitimas de violência, submissão, criação, modelos de relacionamento, historia de violência em relacionamentos anteriores, baixa autoestima, drogas, álcool, dependência emocional e financeira relacionada ao parceiro agressor, entre outros são considerados.

Os atendimentos são breves e focais, durante as sessões se cria muita angustia para que a vitima possa confrontar seus sentimentos em relação à violência sofrida, ao parceiro, a relação ao qual esta inserida e em relação a si mesma. O objetivo maior é mostrar a essa mulher suas potencialidades, seu valor como individuo, e que ela tem varias possibilidades e escolhas.

As vitimas são muito fieis durante o tratamento, mais a desistência também é grande, pois quando a vitima se sente mais fortalecida ela acaba se modificando e até mesmo assumindo novas responsabilidades o que contribui para o abandono das sessões.

Ainda segundo relatos da entrevistada nesse tempo em que trabalha com mulheres vitimas de violência, não houve a participação de nenhuma das famílias das vitimas no acompanhamento psicológico.

 

            Diante das informações obtidas ao longo deste artigo e ao relato descrito à cima, pudemos observar e compreender que a mulher vítima de violência doméstica, chega à C.P.A. fragilizada, vitimada, envergonhada, muitas vezes se sentindo culpada, sentimentos confusos em relação a ela mesma e muitas vezes para com o agressor. A vítima, antes desta condição, é um ser humano, sendo assim, é dotado de raciocínio lógico. O terapia busca resgatar na cliente o sentimento de autoestima, superação, auto conflito para que a mesma busque em si respostas para situações em que está vivendo. Conforme é citado no relato da entrevistada, os atendimentos psicológicos em questão são realizados de forma breve e focal e o objetivo é mostrar que essa mulher possui potencialidades, valor como indivíduo e que além de tudo, ela possui várias possibilidades de escolhas.

 

 

 

5. Conclusão

 

 

Como foi mostrado na introdução deste artigo, a violência doméstica contra a mulher é um problema social grave que faz milhares de vítimas todos os anos, e os principais agressores sãos: os maridos, namorados ou os próprios familiares.  É qualquer ato de violência com base no gênero, sexo, que resulte em dano físico, sexual, mental ou sofrimento para a mulher, incluindo as ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade, ocorrida em público ou na vida particular.

Baseando-se nesta perspectiva, a violência contra a mulher vem sendo entendida como o resultado das relações de poder entre homem e mulher, tornando-se visível a desigualdade que há entre eles, onde o masculino é quem determina qual é o papel do feminino, porém esta determinação é social e não biológica.

A mulher vítima de violência doméstica conta hoje com vários tipos de serviços assistenciais que vão desde serviços médicos, psicológicos a acompanhamentos jurídicos.

O profissional de psicologia, ao que tange auxilio as mulheres vítimas de violência doméstica é capacitado para não só de realizar um trabalho de acolhimento, mais também contribuir para a compreensão da construção do sujeito e abordar sua relação com a sociedade. Abordando questões como: Trabalhar a rigidez da cliente; A não vitimização; Trabalhar a autoestima. Ajudar com que a cliente se conheça; Trabalhar a questão da identidade com a cliente; auto questionamento; Colocar questões à cliente para a fazerem refletir; Investigar a sexualidade da cliente; Em casos de reincidência: o que leva a cliente a se relacionarem com homens muito parecidos; O que leva a cliente a fazerem as suas escolhas; Baseado em que tipo de sujeito à cliente escolhe suas relações.

A multidisciplinaridade no atendimento se faz fundamental para que aja uma melhor eficiência e que para todas as necessidades das vítimas sejam atendidas e que se sintam seguras para não só denunciar o agressor mais também de procurar ajuda para si e para todos os envolvidos. Pois, a violência contra as mulheres não é mais uma questão privada, mas objeto de preocupação social. A violência tem sido concebida como toda relação em que há abuso de poder podendo manifestar-se de diferentes formas.

As consequências da violência doméstica são delicadas e podem permanecer durante muito tempo. Além das marcas físicas, a violência doméstica costuma causar também vários danos emocionais, como: Influencias na vida sexual da vitima; baixa autoestima e dificuldade em criar laços.

 

 

 

6. Referências Bibliográficas

 

 

ALVES, Branca M.; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 1. Ed. São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1985.

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BALLONE G.J.; ORTOLANI I.V. Violência Doméstica, in. Psiqweb, Internet, disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/infantil/violdome.html.

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PULEO, Alicia. “Filosofia e gênero: da memória do passado ao projeto de futuro”. In: GODINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia (Orgs.). Políticas públicas e igualdade de gênero. 1. ed. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p.13.34

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TELES M. A. A. e MELO M.; O Que é Violência Contra a Mulher. São Paulo. Brasiliense. 2002.

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WATTS, C. , ZIMMERMAN, C., 2002. Violence against women: Global scope and magnitude London. Lancet, 359:1232-1237.