A ABERTURA METAXOLÓGICA À ALTERIDADE SAGRADA

 

De acordo com Desmond, estar desiludido é estar livre, e essa desilusão refere-se ao eu civilizado como pré-condição para que o humano possa de fato se abrir metaxologicamente. Esse pré-requisito que é a desilusão, parece se contrapor ao religioso, ao contrário se apresenta como uma abertura à alteridade sagrada. Pois essa desilusão medeia um sentido antropomórfico menos fechado ao divino. Sobretudo, que resista a toda e qualquer redução antropomórfica da alteridade divina.

A abertura proposta por Desmond propõe um caminho intermediário do mistério sem que com isso fique comprometido à afinidade metaxológica com a alteridade. A abertura metaxológica à alteridade sagrada, parte do princípio de que a projeção humana do divino, não é um ato deliberado de antropomorfismo. Pois essa projeção humana, nunca é uma simples autoprojeção, como uma atitude unilateral que mira no nada para estabelecer sua imagem. Contudo, não se nega que o humano faça essa auto projeção, no entanto o que Desmond propõe, é que se observe que o ato de projetar possui uma ação dupla. Essa ação é percebida no ato de projetar, pois o humano não se projeta rumo ao nada, ele lança-se rumo à alteridade como se essa fosse uma tela capaz de assimila-lo.

A abertura metaxológica consiste justamente na perspectiva de que nesse processo, não seja acentuada apenas um aspecto da imagem. Nem o acento forte do antropomorfismo como no caso dos deuses gregos, ou em outro extremo o Deus Absconditus dos judeus, nem mesmo uma mera imposição externa de uma divindade alheia, extrínseca alheia à realidade humana. Segundo Desmond, trata-se de uma comunidade metaxológica do ser, pois nela não percebemos primeiramente a alteridade do sagrado, mas primordialmente a nós mesmos. Essa comunidade propicia uma intermediação entre a imagem religiosa que o humano faz da divindade e a própria alteridade divina.

Sobretudo, o autor concebe que uma verdadeira imagem não é apenas uma mediação da autorreflexão, mas se constitui verdadeiramente como imagem nossa, diante de uma intermediação metaxológica da alteridade divina. Diante disso Desmond apresenta a possibilidade de nomear ou não a divindade, Se por um lado corremos o risco de tentar reduzir o infinito ao finito, confinando-o dentro de uma nomenclatura. Por outro lado, corre-se o risco de lidarmos com divino apenas em seu aspecto inominável, om isso a experiência com o sagrado poderia ser dissolvida em uma nebulosa. Em vez de uma identidade unívoca do sagrado, teríamos somente uma diferença equívoca.

REFERÊNCIAS

DESMOND, William. Philosophy and its others: ways of being and mind. Albany: State University of New York Press, 1990.