As Pessoas com Deficiência (PcD) e sua Invisibilidade.

Assim como a maioria dos moradores de rua, as pessoas com deficiência, que integram fortemente esse viés social, são imperceptíveis, invisíveis à maioria da população, excetuando-se, naturalmente, parentes e pessoas próximas.

O problema é histórico. Desde os tempos em que se dependia exclusivamente da condição física para sobrevivência, a luta pelo alimento, muitas vezes disponíveis, mas inacessíveis, as migrações e a fragilidade ante a natureza, quase sempre hostil. E ainda era necessário levar em conta a inadiável necessidade de escapar de predadores.

A evolução humana, felizmente, demonstrou que são possíveis o desenvolvimento e a contribuição para um estágio superior de vida, para todo o conjunto da sociedade. E não são tão raras as contribuições das PcD, seja na ciência (Stephen Hawking; Ralph Brown; Gustav Kirchhoff); nas artes e - nesse caso um número grande (Homero; Antônio Francisco Lisboa; Caquinho; Beethoven); além de esportes e inúmeras outras disciplinas.

A questão em tela passa também pela frequente exigência de a PcD ser continuamente instada a provar sua capacidade e competência, bem como sua desenvoltura para executar atividades que, em muitos casos, são totalmente alheias à condição da pessoa. Assim, para atividades que não dependem de determinadas capacidades as oportunidades deveriam, no mínimo, serem equitativas.

Cumpre observar, todavia, que muitas vezes, no nosso cotidiano, ainda encontramos famílias que não podem ou não querem dispender algum tempo ou recurso na formação e cuidados indispensáveis a algum membro PcD desse núcleo familiar. O comprometimento físico, sensorial ou intelectual, pode ser um desafio insuperável para determinados extratos da sociedade. E o poder público nem sempre se mostra suficiente para dar respostas tempestivas às diversas demandas de todos os segmentos sociais. Há que se avaliar e priorizar as pautas levando-se em conta, além da conjuntura, todo o arcabouço de opções e de programas, projetos, verbas disponíveis e uma infinidade de variáveis que devem nortear o gasto público.

Dessa forma, muitas PcD, não são capazes de abraçar alguma rara oportunidade, por não ter a formação, o conhecimento, as habilidades e as competências exigidas para muitas das funções dispostas no mercado. A estatística da baixa escolaridade ou mesmo analfabetismo, corrobora a percepção de que as janelas de oportunidades podem ser inacessíveis à maioria das PcD. E esperar que o poder público assuma integralmente a responsabilidade de integração desse recorte social consolida uma utopia negativa. Vale mais a conscientização da população como um todo, acerca do problema e prover condições para que, tanto os tutores/família quanto a própria PcD, se envolvam no processo de seu desenvolvimento e independência, com todas as ferramentas disponíveis.

A segregação, concomitantemente, deve ser evitada ao máximo, pois a integração das PcD ao convívio social tem o condão de oferecer-lhes novas perspectivas e para seus problemas e, com isso, novas possibilidades de soluções que atendam às suas demandas e também de outros com deficiências similares ou análogas.

Mais que piedade ou óbolos, as pessoas com deficiência demandam oportunidade de aprendizado e de trabalho.

A citação bíblica: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” encerra em seu bojo, entre outras tantas possíveis interpretações, a máxima de que Liberdade descende de bens imateriais, de altíssimo valor e, ao mesmo tempo, de baixo custo: VERDADE e CONHECIMENTO.



MARIO SERGIO RODRIGUES ANANIAS

Escritor, Palestrante, Administrador e Gestor Público