Heteronormatividade e o apagamento lésbico
Por Fernanda Lima Mamona Santos | 29/03/2024 | Sociedade1. INTRODUÇÃO
No âmbito da contemporaneidade, a sociedade ainda se depara com desafios significativos relacionados à aceitação e inclusão das diversas orientações sexuais e identidades de gênero. A heteronormatividade, como um sistema de crenças e valores que privilegia e legitima a heterossexualidade como o padrão dominante, continua a marginalizar e oprimir indivíduos que se afastam dessa norma. Essa realidade amplifica o fenômeno do apagamento lésbico, obscurecendo as experiências e identidades que não se alinham com a heterossexualidade.
O presente estudo se propõe a aprofundar a análise do filme "Elisa y Marcela" (2019), dirigido por Isabel Coixet, um trabalho que se inspira em uma história real que se desenrolou no início do século XX. Este filme retrata a trajetória de Elisa Sánchez Loriga e Marcela Gracia Ibeas, duas mulheres que se apaixonaram e viveram um romance na Espanha de 1901. A trama acompanha Elisa Loriga (Natalia Molina) e Marcela Ibeas (Greta Fernández), que se conhecem enquanto estão na formação para professoras e desenvolvem um sentimento forte, a ponto de anos depois, Elisa usar a identidade de um primo falecido para poder se casar com Marcela. A narrativa da obra revela não apenas a luta das protagonistas para afirmar seu amor, mas também expõe o impacto profundo da heteronormatividade na relação entre duas mulheres.
Além disso, este estudo também examinará a forma como o filme aborda a heteronormatividade como um sistema de opressão, evidenciando como as restrições sociais e legais impostas à Elisa e Marcela influenciam seu relacionamento, suas profissões e também, as deixam expostas a situações que colocam suas vidas em perigo. Isso reforça a urgente necessidade de examinar e discutir não somente as histórias de amor lésbico, mas também como essas narrativas são uma força de resistência contra as estruturas de poder que perpetuam a normatividade heterossexual, destacando, assim, a importância do diálogo sobre diversidade e igualdade.
2 PROBLEMÁTICA
Considerando que a heteronormatividade estabelece a heterossexualidade como a norma, resultando com frequência no apagamento de orientações não heterossexuais, como a orientação lésbica, a questão que se coloca é: de que maneira a heteronormatividade tem contribuído para o apagamento lésbico e quais são as consequências disso?
É fundamental reconhecer e problematizar a influência da heteronormatividade no apagamento lésbico, a fim de fomentar a visibilidade, a aceitação e o respeito pelas mulheres lésbicas e por todas as pessoas que se identificam fora da norma heterossexual. Isso implica em questionar as convenções estabelecidas, desconstruir estereótipos e advogar pela diversidade e inclusão em todos os âmbitos da sociedade.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Discutir a causa do apagamento lésbico, bem como as razões pelas quais a heteronormatividade detém tanto poder sobre as mulheres independentemente da sua orientação sexual da e época vivida.
3.2 Objetivos Específicos
Para atingir tal objetivo geral, organizam-se os seguintes objetivos:
• Investigar os métodos e/ou ferramentas utilizadas para restringir as mulheres dentro do heterocentrismo;
• Contestar as estruturas familiares tradicionais, assim como as normas religiosas e patriarcais existentes na sociedade.
4 METODOLOGIA
Quanto aos aspectos metodológicos, além da análise de conteúdo cinematográfico, realizou-se uma pesquisa e análise bibliográfica, utilizando-se de uma abordagem qualitativa. A técnica utilizada na coleta de dados se deu através da leitura e análise dos documentos.
As bases de referência de dados foram Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/), Scientific Electronic Library Online – Scielo
RepositórioUFGD (http://scielo.org/php/index.php) e (https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/). Segundo Almeida (2011), a pesquisa bibliográfica busca relações entre conceitos, características e ideias, muitas vezes unindo dois ou mais temas.
5 JUSTIFICATIVA
A motivação para a realização deste trabalho deriva da importância de compreender e analisar o impacto da heteronormatividade, a fim de promover a visibilidade, aceitação e respeito para as mulheres lésbicas. É crucial reconhecer que a heteronormatividade persiste em subjugar indivíduos que não se conformam com suas normas preestabelecidas, reforçando a necessidade de ação e conscientização sobre esta questão.
O foco deste estudo recai sobre a análise do filme "Elisa y Marcela" (2019), sob a direção de Isabel Coixet, e através da análise dessa obra cinematográfica, será possível refletir criticamente sobre os mecanismos de opressão e os desafios enfrentados pelas personagens principais, bem como as estratégias de resistência e subversão utilizadas para desafiar as normas estabelecidas e reivindicar sua identidade e amor.
A importância deste estudo reside na necessidade de questionar e desafiar a heteronorma, desconstruir estereótipos e promover a diversidade e a inclusão em todas as esferas da sociedade. Compreender a interseção entre a heteronormatividade e o apagamento lésbico é fundamental para combater as desigualdades e injustiças 6
enfrentadas pelas mulheres lésbicas, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva que respeite e acolha todas as orientações sexuais e identidades de gênero.
Além disso, o estudo buscará examinar como o filme aborda a heteronormatividade como um sistema de opressão, evidenciando as restrições sociais e legais impostas às personagens e como essas restrições influenciam seu relacionamento.
6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para a condução da pesquisa proposta neste projeto, utilizamos como base o
referencial de Judith Butler (1990). Em seu trabalho, Butler argumenta que a
heteronormatividade é um sistema social e cultural que favorece e reforça a
heterossexualidade como a norma dominante. Ela desafia a concepção de que a sexualidade é uma característica inata e imutável, sustentando que esta é socialmente construída e performada. Segundo Butler, a heteronormatividade é mantida por meio de normas de gênero rígidas que prescrevem papéis e comportamentos específicos para homens e mulheres, fortalecendo assim a dicotomia de gênero e excluindo identidades e práticas que não se conformam a essas normas.
No que se refere à identidade proposta para a pesquisa, tem-se como referencial Adrienne Rich (1980), que chama atenção para as estruturas sociais e culturais que privilegiam os relacionamentos heterossexuais, enquanto marginalizam e desvalorizam outras formas de afeto e intimidade. Em relação ao apagamento lésbico, Rich argumenta que as mulheres lésbicas são frequentemente invisibilizadas e silenciadas nas narrativas predominantes. Ela enfatiza como a cultura heteronormativa tende a rejeitar ou ignorar as experiências lésbicas, relegando-as a uma posição de inferioridade.
O apagamento lésbico se manifesta por meio da negação da existência lésbica, da redução de suas identidades a estereótipos e da deliberada invisibilidade delas em espaços públicos e na mídia.
7 REFERÊNCIAS
BUTLER, J. Lenguaje, poder e identidad. Madrid: Síntesis, 2009.
BUTLER, J. Gender trouble: feminism and the subversion of identity. New York: Routledge, 1990.
RICH, A. Compulsory heterosexuality and lesbian existence. v. 5, n. 4, p. 631–660, 1980.
FOUCAULT, M. A história da sexualidade. Volume I: Uma introdução . [sl] New York Vintage Books, 1976.