1.   INTRODUÇÃO

No âmbito da contemporaneidade, a sociedade ainda se depara com desafios significativos relacionados à aceitação e inclusão das diversas orientações sexuais e identidades de gênero. A heteronormatividade, como um sistema de crenças e valores que privilegia e legitima a heterossexualidade como o padrão dominante, continua a marginalizar e oprimir indivíduos que se afastam dessa norma. Essa realidade amplifica o fenômeno do apagamento lésbico, obscurecendo as experiências e identidades que não se alinham com a heterossexualidade.


O presente estudo se propõe a aprofundar a análise do filme "Elisa y Marcela" (2019), dirigido por Isabel Coixet, um trabalho que se inspira em uma história real que se desenrolou no início do século XX. Este filme retrata a trajetória de Elisa Sánchez Loriga e Marcela Gracia Ibeas, duas mulheres que se apaixonaram e viveram um romance na Espanha de 1901.  A trama acompanha Elisa Loriga (Natalia Molina) e Marcela Ibeas (Greta Fernández), que se conhecem enquanto estão na formação para professoras e desenvolvem um sentimento forte, a ponto de anos depois, Elisa usar a identidade de um primo falecido para poder se casar com Marcela. A narrativa da obra revela não apenas a luta das protagonistas para afirmar seu amor, mas também expõe o impacto profundo da heteronormatividade na relação entre duas mulheres.


Além disso, este estudo também examinará a forma como o filme aborda a heteronormatividade como um sistema de opressão, evidenciando como as restrições sociais  e legais  impostas  à  Elisa  e  Marcela  influenciam  seu  relacionamento,  suas profissões e também, as deixam expostas a situações que colocam suas vidas em perigo. Isso reforça a urgente necessidade de examinar e discutir não somente as histórias  de  amor  lésbico,  mas  também  como  essas  narrativas  são  uma  força  de resistência  contra  as  estruturas  de  poder  que  perpetuam  a  normatividade heterossexual,  destacando,  assim,  a  importância  do  diálogo  sobre  diversidade  e igualdade.

2 PROBLEMÁTICA

Considerando que a heteronormatividade estabelece a heterossexualidade como a  norma,  resultando  com  frequência  no  apagamento  de  orientações  não heterossexuais, como a orientação lésbica, a questão que se coloca é: de que maneira a heteronormatividade tem contribuído para o apagamento lésbico e quais são as consequências disso?
É fundamental reconhecer e problematizar a influência da heteronormatividade no apagamento lésbico, a fim de fomentar a visibilidade, a aceitação e o respeito pelas mulheres  lésbicas  e  por  todas  as  pessoas  que  se  identificam  fora  da  norma heterossexual. Isso implica em questionar as convenções estabelecidas, desconstruir estereótipos e advogar pela diversidade e inclusão em todos os âmbitos da sociedade.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral 
Discutir a causa do apagamento lésbico, bem como as razões pelas quais a heteronormatividade detém tanto poder sobre as mulheres independentemente da sua orientação sexual da e época  vivida.
3.2 Objetivos Específicos 
Para atingir tal objetivo geral, organizam-se os seguintes objetivos: 
•        Investigar os métodos e/ou ferramentas utilizadas para restringir as mulheres dentro do heterocentrismo; 
•        Contestar as estruturas familiares tradicionais, assim como as normas religiosas e patriarcais existentes na sociedade.

4 METODOLOGIA

Quanto  aos  aspectos  metodológicos,  além  da  análise  de  conteúdo cinematográfico, realizou-se uma pesquisa e análise bibliográfica, utilizando-se de uma abordagem qualitativa. A técnica utilizada na coleta de dados se deu através da leitura e análise dos documentos. 
As     bases     de     referência     de     dados     foram     Google     Acadêmico (https://scholar.google.com.br/),    Scientific    Electronic    Library    Online    –          Scielo 
RepositórioUFGD (http://scielo.org/php/index.php) e (https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/). Segundo Almeida (2011), a pesquisa bibliográfica busca relações entre conceitos, características e ideias, muitas vezes unindo dois ou mais temas.

5 JUSTIFICATIVA

A  motivação  para  a  realização  deste  trabalho  deriva  da  importância  de compreender  e  analisar  o  impacto  da  heteronormatividade,  a  fim  de  promover  a visibilidade, aceitação e respeito para as mulheres lésbicas. É crucial reconhecer que a heteronormatividade persiste em subjugar indivíduos que não se conformam com suas normas preestabelecidas, reforçando a necessidade de ação e conscientização sobre esta questão.
O foco deste estudo recai sobre a análise do filme "Elisa y Marcela" (2019), sob a direção  de  Isabel  Coixet,  e  através  da  análise dessa  obra cinematográfica,  será possível  refletir  criticamente  sobre  os  mecanismos  de  opressão  e  os  desafios enfrentados pelas personagens principais, bem como as estratégias de resistência e subversão utilizadas para desafiar as normas estabelecidas e reivindicar sua identidade e amor. 


A importância deste estudo reside na necessidade de questionar e desafiar a heteronorma, desconstruir estereótipos e promover a diversidade e a inclusão em todas as esferas da sociedade. Compreender a interseção entre a heteronormatividade e o apagamento  lésbico  é  fundamental  para  combater  as  desigualdades  e  injustiças 6
enfrentadas pelas mulheres lésbicas, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva que respeite e acolha todas as orientações sexuais e identidades de gênero.
Além  disso,  o  estudo  buscará  examinar  como  o  filme  aborda  a heteronormatividade como um sistema de opressão, evidenciando as restrições sociais e  legais  impostas  às  personagens  e  como  essas  restrições  influenciam  seu relacionamento.

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para a condução da pesquisa proposta neste projeto, utilizamos como base o 
referencial  de  Judith  Butler  (1990).  Em  seu  trabalho,  Butler  argumenta  que  a 
heteronormatividade  é  um  sistema  social  e  cultural  que  favorece  e  reforça  a 
heterossexualidade  como  a  norma  dominante.  Ela  desafia  a  concepção  de  que  a sexualidade é uma característica inata e imutável, sustentando que esta é socialmente construída e performada. Segundo Butler, a heteronormatividade é mantida por meio de normas de gênero rígidas que prescrevem papéis e comportamentos específicos para homens e mulheres, fortalecendo assim a dicotomia de gênero e excluindo identidades e práticas que não se conformam a essas normas.


No que se refere à identidade proposta para a pesquisa, tem-se como referencial Adrienne Rich (1980), que chama atenção para as estruturas sociais e culturais que privilegiam os relacionamentos heterossexuais, enquanto marginalizam e desvalorizam outras  formas  de  afeto  e  intimidade.  Em  relação ao  apagamento  lésbico,  Rich argumenta que as mulheres lésbicas são frequentemente invisibilizadas e silenciadas nas narrativas predominantes. Ela enfatiza como a cultura heteronormativa tende a rejeitar  ou  ignorar  as  experiências  lésbicas,  relegando-as  a  uma  posição  de inferioridade.
O apagamento lésbico se manifesta por meio da negação da existência lésbica, da redução de suas identidades a estereótipos e da deliberada invisibilidade delas em espaços públicos e na mídia.

7 REFERÊNCIAS

BUTLER, J. Lenguaje, poder e identidad. Madrid: Síntesis, 2009. 
BUTLER,  J.  Gender  trouble:  feminism  and  the  subversion  of  identity.  New  York: Routledge, 1990. 
RICH, A. Compulsory heterosexuality and lesbian existence. v. 5, n. 4, p. 631–660, 1980. 
FOUCAULT, M. A história da sexualidade. Volume I: Uma introdução . [sl] New York Vintage Books, 1976.