A VERDADEIRA RIQUEZA DE UMA NAÇÃO 

Uma análise sobre a obra A Riqueza das Nações de Adam Smith 

 

Tiago Suchecki1 

Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG 

“Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade.” 

(Abraham Lincoln) 

 

 RESUMO: O presente trabalho busca analisar a partir da obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, popularmente conhecida como “Riqueza das Nações”, escrita pelo filósofo e economista britânico Adam Smith, os fatores que desencadeiam a prosperidade de uma nação. Além da obra como fonte, a pesquisa se respaldará em bibliografias que estudaram a temática levantada neste trabalho, para que por síntese tenhamos uma compreensão abrangente do objeto de estudo. 

Palavras-Chaves: A Riqueza das Nações; Adam Smith; Economia. 

 

1. INTRODUÇÃO 

O presente trabalho busca analisar a partir da obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, popularmente conhecida como “Riqueza das Nações”, escrita pelo filósofo e economista britânico Adam Smith, os fatores que desencadeiam a prosperidade de uma nação. 

Adam Smith nasceu em 1723, na Escócia, dedicou parte de sua vida aos estudos, se formou na Universidade de Glasgow, onde fora discípulo de Hutcheson, e teve seu primeiro contato com o mundo ideológico da economia política. Em 1752 Smith conseguiu uma vaga para dar aula na Universidade de Glasgow, momento que o autor ascendeu e obteve contato com grandes pensadores contemporâneos, entre eles David Hume, de quem se tornara amigo, Voltaire e Burke. A partir desse contato com grandes intelectuais da época cunhou importantes obras, tais como: Teoria dos Sentimentos Morais publicada em 1759; Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações publicada em 1776 ; Ensaio sobre Temas Filosóficos publicada em 1795. (FOLGONI, 2019). 

Estas obras cunhadas em meio a significativas transformações sociais, tanto na ordem intelectual com os iluministas, quanto que na ordem econômica com a Revolução Industrial, essa nova configuração trouxe anseios antes não vistos. Essa mudança no âmbito econômico, teve como berço a Inglaterra, haja vista o conjunto de práticas políticas adotadas pelos ingleses que levaram aos mesmos, serem pioneiros nesse processo de industrialização. Com a migração dos camponeses para os burgos teve como consequência a crise dos cereais, ou seja, faltava alimentos para abastecer as cidades, nesse contexto anômico Adam Smith aparece trazendo uma solução para o mercado, essa concepção foi sendo construída ao longo de 12 anos, nomenclaturando essa série de estudos e textos em um tratado de economia política, como “Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, popularmente conhecida como Riqueza das Nações. Essa obra é um marco historiográfico, sendo frequentemente analogada a bíblia no meio económico, principalmente no século XIX. (SMITH, 1996). 

Em face dos dados apresentados ligados a importância do autor e da respectiva obra, o presente trabalho buscará por meio de uma revisão bibliográfica a resposta para o questionamento: Qual a verdadeira riqueza de uma nação? segundo a ótica do filósofo e economista Adam Smith. 

 

2. REVISÃO DA LITERATURA 

Como todo ser histórico é fruto de seu tempo, Adam Smith não é diferente, nasceu em 1723 e faleceu em 1790, tendo perpassado nesse século XVIII por concepções econômicas mercantilistas e pelo início da maior transformação econômica história ocidental, a Revolução Industrial. Nesse cenário Smith apresenta uma outra alternativa econômica que ia em desencontro da defendida pelos fisiocratas2.  

Ao discutir sobre economia no início da Revolução Industrial, Smith se debruça a uma análise da riqueza e prosperidade de certos países como Inglaterra e Holanda, debatendo sobre diversas questões, tais como: divisão do trabalho, o mercado, o dinheiro, a natureza da riqueza, o preço dos bens no trabalho, os salários, os lucros e a acumulação de capital. Debruçando sua análise a principalmente os sistemas econômicos mercantilista3 e fisiocracia. (SMITH, 2017). 

Cabe-se destacar que a concepções mercantilistas não teve previamente teóricos, todavia comentadores, que viam a riqueza de uma nação interligada ao comércio exterior (a euforia da expansão marítima), e é medida pela quantidade de moeda que dispõe. Como a Europa não tinha metais preciosos em quantidade, tinham que obtê-lo por uma balança comercial favorável, momento em que se inicia a exportação, adquirir colônias para escoar a produção e o monopólio comercial, restringindo ao máximo as importações. Em linhas gerais esses mercantilistas mediam a riqueza de uma nação com o acúmulo de metais preciosos e a produção em alto escala. (SMITH, 2017) 

Paralelo a esse momento destaca-se a França (potência não marítima), com um sistema agrícola derivado do feudalismo, na qual filósofos viam nos recursos naturais e na agricultura a verdadeira riqueza. Essa perspectiva fisiocrata ou riqueza efetiva derivada diretamente da natureza, apresentava a terra como único meio que dá mais do que se aplica. (SMITH, 2017) 

Smith tinha uma concepção econômica avessa ao monopólio, mais próximo aos fisiocratas, todavia diferente, visava a liberdade comercial, tanto que é visto pela historiografia como o pai do liberalismo econômico. Em sua obra Riqueza das Nações, o autor aponta que o comércio é algo que beneficia ambas as partes envolvidas. Diferente dos mercantilistas, que queriam exportar sem importar. Ou seja, o vendedor ganha tanto quanto o comprador quando ele realiza uma troca comercial. Por que isso ocorre? Segundo Smith pela própria natureza humana. Quando nós somos livres para comprar o que o mercado internacional pode fornecer, não precisamos nos especializar em construir tudo aquilo que demandamos. Como consequência, o homem pode direcionar os seus esforços e saberes para as coisas que ele mais gosta. (FOLGONI, 2019). 

Em muitas vezes foi criticado pelos mercantilistas, que viam a importação como antieconômica, todavia respondeu da seguinte forma: 

Não existe nenhum país comercial europeu cuja ruína iminente não tenha sido muitas vezes predita pelos pretensos doutores desse sistema mercantil, como decorrência de uma balança comercial desfavorável. No entanto, depois de todas as preocupações e temores que levantaram em torno desse assunto [...], não há sinais de que alguma nação européia, sob qualquer aspecto, tenha empobrecido por esse motivo. Ao contrário, cada cidade e cada país, na medida em que abriram seus portos a todas as nações, ao invés de serem arruinados por esse comércio livre [...], enriqueceram com isso (Smith, 1985, p. 411). 

Adam Smith defendia os pilares de individualidade, liberdade e igualdade, fatores que vão além da economia, devem estar associados a política e a cultura, para que uma nação possa se desenvolver, independente do estágio em que se encontrem. 

 

3. METODOLOGIA 

A metodologia empregada é uma revisão bibliográfica, tendo como fonte principal deste trabalho é a obra A Riqueza das Nações do filósofo e economista britânico Adam Smith, visto que a temática engloba a perspectiva do autor, agregado a esta obra que se destaca como a principal deste autor, além de ser reconhecida mundialmente como um produto historiográfico clássico de extrema relevância.  

Além disso, se fará uso de fontes secundárias como livros e artigos que contemplam a temática em questão, já que estes trazem informações que auxiliaram na compreensão do cenário histórico em que a presente pesquisa se situa. Desta forma, a metodologia empregada permeia tanto a análise textual e intertextual. 

Visto que devido a hermenêutica e a subjetividade nos dias atuais muitas vezes nos levam ao senso comum, mas em contraponto fazer uma dialética entre as historiografias, seria a saída mais cética a se fazer a medida que o fruto final será mais corpóreo e abrangente, rompendo laços do senso comum ou de apenas uma vertente ideológica.  

 

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 

De acordo com Adam Smith, o aumento significativo visto no sistema produtivo era desencadeado pelo sistema de divisão do trabalho, sendo mais racional,  já que dividindo os processos produtivos consegue acelerar o sistema e se produzir mais em menos tempo, como destaca no exemplo clássico da fábrica de alfinetes: “um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas”. (SMITH,1985). 

Essa divisão permitiria a mão de obra se tornar mais especializada, além do tamanho do mercado que possibilitaria as trocas de produtos de consumo produzidos. Esse valor de troca substituído pela moeda, acaba por trazer mais autonomia aos indivíduos, visto que, trocar moeda por produtos é muito mais prático do que trocar produto por produto. Corroborando com Smith cabe citar o sociólogo Émille Durkheim, que também vê a divisão do trabalho como positiva, à medida que a mesma propicia aos indivíduos criar uma mentalidade coletiva, ou seja, os indivíduos partindo dos seus anseios individuais traria uma harmonia social.  

SMITH (2009, p.747) diz que “não é da benevolência do açougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse”. Nessa ótica os indivíduos partindo dos seus desejos egoístas são o que movem na sociedade, em um exercício de reflexão podemos pensar um padeiro que ame fazer pão, certamente não o faria todos os dias a menos que fosse recompensado, assim é graças ao interesse individual do padeiro que podemos ter pão sob a mesa. 

Numa outra possível analogia, podemos citar uma passagem da obra “O Economista Clandestino” de Tim Hardford (2007) “Eu, de forma egoísta, compro cuecas, mas ao fazê-lo transfiro recursos para as mãos dos fabricantes de cuecas e não faço mal a ninguém. Os trabalhadores na indústria têxtil da China, onde a cueca é fabricada, buscam de forma egoísta o melhor emprego, enquanto os empresários buscam, também de maneira egoísta, contratar os empregados mais capazes. Tudo isso beneficia a todos. Os bens são manufaturados apenas se as pessoas quiserem comprá-los e são produzidos pelos mais aptos a fazê-lo. Motivos talvez egoístas são postos a serviço de todos”. 

Para compreender essa ótica de harmonia, Adam Smith utiliza o conceito de mão invisível, visto que apesar das pessoas serem regidas por seus desejos egoístas, se harmonizam ajudando umas as outras, mas isso não é intencional. É essa mão invisível que orquestra a harmonia social, no livre comércio. (SMITH, 2009). 

Mas em linhas gerais como podemos responder a pergunta motora desse trabalho, qual a verdadeira riqueza de uma nação, segundo o filósofo e economista Adam Smith? 

A resposta não é tão simples, como podemos observar até este momento, engloba muitas questões nas esferas políticas econômicas e sociais, entretanto a chave está nessa divisão do trabalho defendida por Smith. Agregada a economia de mercado, por permitir que cada cidadão possa focar naquilo que ele sabe fazer de melhor, se torna agente de criação de riqueza. Livres, somos capazes de escapar da miséria em direção à prosperidade. 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Em face dos dados apresentados podemos perceber que as discussões dos geradores de uma nação rica e poderosa não é nova, que acompanha a história. Os mercantilistas viam o desenvolvimento econômico com a fechada das fronteiras comerciais, produzindo o máximo possível e vendendo para o maior número de lugares, mesmo que precisasse de força, esse monopólio, acabaria por acumulando a riqueza para si, não deixando-a escoar. Smith coloca-se numa posição contrária e através da obra A Riqueza das Nações, explica como é importante romper o monopólio, abrir o comércio, já que quem vende ganha e quem compra também ganha. 

Na concepção de Adam Smith a divisão do trabalho atrelada ao liberalismo econômico, permitiria uma maior especialização da mão de obra, maior produção de bens de consumo, e a harmonia e desenvolvimento de uma nação. Tendo em vista que os indivíduos movidos por seus desejos egoístas acabam por mesmo sem quere contribuir para a harmonia social, essa é segundo o autor a mão invisível, atuando no livre mercado, além da coesão social ela acarreta o progresso econômico. 

Liberdade, Individualidade e Igualdade, atreladas para o sucesso econômico. 

  

REFERÊNCIAS  

FOLGONI, Iago. Resenha do livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith. Disponível em: https://medium.com/insper-liber/resenha-do-livro-a-riqueza-das-na%C3%A7%C3%B5es-de-adam-smith-32f0d0c8ce05, acesso em 26 de fev de 2020. 

HARFORD, Tim. O economista clandestino. Tradução de Fernando Carneiro. Rio de Janeiro: Record, 2007. 

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações.1 ed, São Paulo: Madras, 2009.  

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Trad. Luiz João Baraúna. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. 

SMITH, Adam. A RIQUEZA DAS NAÇÕES: Investigação sobre sua natureza e causas. Com a Introdução de Edwin Cannan. Vol. I Apre. de Winston Fritsch Trad. de Luiz João Baraúna. Edit. Nova Cultura, São Paulo, 1996. 

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Seleção de Norberto de Paula Lima. Ed. Nova Fonteira, 3ª ed. Rio de Janeiro, 2017.