ESTUDOS PRELIMINARES RELATIVOS AO TEMPO DE GESTAÇÃO DE ÉGUAS DA RAÇA PÔNEI BRASILEIRO

 

Amanda Melo Sant’Anna Araújo

 

Médica Veterinária formada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Especialista em Acupuntura pelo Instituto de Acupuntura do Rio de Janeiro e Mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense.

 

 

 

Resumo

Éguas são poliéstricas estacionais com tempo de gestação conforme literatura pode variar com a raça. O parto é um evento importante e o tempo de gestação imprescindível para o planejamento reprodutivo, principalmente em criações de animais com o tempo de gestação tão longo com nos eqüinos. Objetivamos compilar dados de duas estações de monta e conhecer o tempo médio de gestação de éguas pônei brasileiro de modo a melhorar as taxas de concepção e sobrevivência dos potros recém-natos uma. Foram estudadas 260 gestações de 130 éguas da raça pônei brasileiro, de três haras de em Campos dos Goytacazes no estado do Rio de Janeiro. Nas  éguas da raça pônei do presente estudo foi encontrado um tempo médio de gestação de 315,5 dias.

 

Palavras-chave: ciclo estral, espécie, estacionalidade, gestação, parto

Abstract

Mares are seasonal and many estrus gestation time may vary according to the literature according to race. Childbirth is a major event and the time of pregnancy essential for reproductive planning, especially in breedings with gestation time so long with the horses. We aimed to collect data from two breeding seasons and knowing the average gestation pony mares Brazilian to improve conception rates and survival of newly born foals one. We studied 260 pregnancies in 130 Brazilian pony mares, three studs in Campos in the state of Rio de Janeiro.

Key words: estrous cycle, species, seasonality, pregnancy, childbirth

 

Introdução

O início da gestação em qualquer espécie, e em particular na eqüina, é marcado por vários acontecimentos. Durante esse período o útero e os ovários da égua, assim como o embrião, passam por várias modificações, adaptando-se à nova condição. Entre essas modificações cita-se a alteração dos níveis séricos de progestágenos e estrógenos.

A estacionalidade dos acasalamentos, na maioria das espécies, é dependente da duração da gestação. Nos eqüinos, com gestação próxima a um ano, a cobertura e o nascimento dos potros acontecem na primavera e no verão, período do ano que oferece melhores condições ambientais para a sobrevivência da espécie (disponibilidade de alimentos, temperatura, luminosidade, etc).

O parto é um evento importante e o tempo de gestação imprescindível para o planejamento reprodutivo, principalmente em criações de animais com o tempo de gestação tão longo com nos eqüinos. O tempo de prenhez descrito na literatura é variável, e varia conforme a raça. O tempo de gestação pode variar de acordo com a idade da égua ou ainda ter influencia do sexo da cria segundo Ropiha et al. (1969).

Éguas em boa condição corporal e com disponibilidade de alimento, criadas em regiões próximas à Linha do Equador (menor latitude), onde há pouca variação do fotoperíodo, tendem a ciclar durante todo o ano (poliéstricas anuais). Portanto, nestas regiões, o fator nutricional passaria a ser relevante. Se estas mesmas éguas, fossem transferidas para locais de maiores latitudes e, por conseguinte, com  variações na duração do número de horas- luz nas diferentes estações do ano, provavelmente, passariam a ter um comportamento reprodutivo sazonal (poliéstricas estacionais).

Segundo a Sociedade Irlandesa de pôneis e cavalos miniaturas o período de gestação de éguas varia de 320 – 360 dias, porém muitos criadores de pôneis relatam um período de gestação inferior.

Este trabalho teve como objetivo compilar e relacionar os dados de duas estações de monta para determinar as taxas de nascimento dos potros e conhecer o tempo médio de gestação de éguas pônei brasileiro de modo a melhorar as taxas de concepção e sobrevivência dos potros recém-natos uma vez que estas taxas nesta raça são relativamente baixas e os potros muito sensíveis e dependentes do manejo humano.

Material e métodos

Foram estudadas 260 gestações de 130 éguas da raça pônei brasileiro, de três haras de criação localizados na cidade de Campos dos Goytacazes norte do estado do Rio de Janeiro. As éguas tiveram suas gestações monitoradas por duas estações, desde o dia da última cobertura ou inseminação até a data da parição e os dados anotados em planilhas individuais, onde também eram anotados, se eram primíparas ou multíparas, o sexo do potro a idade da égua, a incidência de alterações teratológicas  e a taxa de sobrevivência do potro . As éguas eram rufiadas diariamente e cobertas ou inseminadas em dias alternados à partir da detecção de folículo ovulatório  de 30mm até apresentar corpo lúteo, para tal foi utilizado aparelho ultrasongráfico Chison 500. O diagnóstico de gestação era feito entre o 12º e 17º dia após a ovulação com o mesmo equipamento utilizado para detecção de folículo ovulatório. As éguas eram mantidas em pastagem formada por forrageira Cynodon dactylon em todas as propriedades além de feno de tífton e ração industrializada aos animais gestantes, sendo ainda fornecido sal mineral e

água ad libitum.

Resultados e Discussão

Nas  éguas da raça Pônei brasileiro do presente estudo foi encontrado um tempo médio de gestação de 315,5 dias, com um tempo de gestação variando de 307 a 331 dias apresentando crias aptas (tabelas 1 e 2), bem diferente dos valores descritos nas  raças Árabe, PSI, Pantaneira e Przewalski (Equus przewalskii), porém Winter et al. Estudando a raça Crioula encontrou um tempo de gestação médio de 339,5, podendo ter um  valor mínimo de 314 dias.

Na raça Árabe, foram descritos valores mínimos de duração da gestação de 330,0 dias (Ponomarenko, 1991) e máximos de 341,7 dias (Vivo et al., 1984). No Brasil, Unanian e Pereira (1991), ao estudarem a duração da gestação em 23 éguas da raça Puro Sangue Inglês e em 20 Árabe cruzadas, observaram médias de 330±6,35 (307 a 363) e 337,5±2,47 (317 a 361), respectivamente. Zúccari et al. (2002) estudando 122 éguas pantaneiras por 5 estações de monta, encontraram após a parição uma duração média da gestação de 327,45±1,89 dias, em conformidade com a variação proposta para a espécie, de 322 a 345 (Ginther, 1992) e, aquelas citadas pela literatura, de 312 a 365 dias (Trum, 1950) e 343,3 dias (Marteniuk et al., 1998). Conforme WINTER (2007) o ciclo estral e características reprodutivas sazonais da égua crioula no Rio Grande do sul a duração média da gestação da égua Crioula é de 339,5 dias, podendo variar de 314 a364 dias Embora sob condições naturais estes dados se assemelham aos observados por WHITWELL & JEFFCOTT (1975), GINTHER (1979), ROSSDALE & RICKETTS (1980) e DAVIES MOREL et al. (2002) para éguas Puro Sangue de Corrida. KURTZ FILHO (1994) relatou a média gestacional de 334 dias de gestação (315-360 dias) sem influências sazonais em éguas Puro Sangue de Corrida numa latitude 25°31’ Sul. A duração de gestações mais curtas (326,2 dias) observadas nos cavalos da espécie Przewalski (Equus przewalskii) no estudo de MONFORFT et al. (1991) indicam que a variação seja uma característica da espécie e que, na mesma espécie, as diferenças de raça, latitude e manejo não influenciariam a duração da gestação de forma significativa.

 Conclusões

            O tempo de gestação médio das éguas da raça Pônei brasileiro da região foi de 315,4 dias. Porém é necessário mais estudos a cerca do tempo de gestação dos animais desta raça. 

 

 Referências Bibliográficas

 

DAVIES MOREL, M. C. G. et al. Factors affecting gestation length in the Thoroughbred mare. Animal Reproduction Science. v.74, n.3-4, p.175-185, 2002.

 

GINTHER O. J. Parturition, postpartum period, and prepuberal period. In: GINTHER O.J. Reproductive biology of the mare. Ann Arbor, MI: McNaughton & Gunn, 1979. Cap.2, p.359.

 

GINTHER, O.J. 1992. Characteristics of the ovulatory season. In: Reproductive biology of the mares - basic and apllied aspects. 2. ed. Wisconsin: Equiservices, 1992. cap. 6, p.

173-232.

KURTZ FILHO, M. Aspectos fisiológicos do pós-parto na égua e do potro recém-nascido. 1994. 58f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria.

Marteniuk, J.V., C.L. Carleton, J.W. Lloyd and M.E. Shea. 1998. Association of Sex of fetus, sire, month of conception, or year of foaling with duration of gestation in standarbred mares. J. Am. Vet. Med. Assoc., 212: 1743-1745.

PONOMARENKO, N. The duration of embryonic development. Konev. Konnyi Sport,

v.4, p.35-36, 1991.

ROPIHA, R.T.; MATTHEWS, R.G.; BUTTERFIELD, R.M. The duration of

pregnancy in Thoroughbred mares. Vet. Rec., v.84, p.552, 1969.

ROSSDALE, P. D.; RICKETTS, S. W. Equine stud farm medicine. London, Bailliere

Tindal, 1980. p. 564.

Trum, B.F. 1950. The estrous cycle of the mare. Cornell Veterinary, 40: 17-23.

UNANIAN, M.M.; PEREIRA, A.C. Gestation and parturition in Thoroughbred and crossbred Arab horses. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL, 9., 1991, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: CBRA, 1991. v.2, p.274. (Resumo).

VIVO, R.; CASTEJAN-CALDERON, F.J.; SANTISTEBAN, R. et al. Gestation length in Arab and Andalusian mares. Zootechny, v.33, z\jp.263-267, 1984.

WINTER, G. H. Z.; Características Reprodutivas Sazonais da égua Crioula em uma Propriedade à Latitude 29º38’S no Rio Grande do Sul – Dissertação de Mestrado –UFSM, 2007.

WHITWELL, K. E.; JEFFCOTT, L. B. Morphological studies on the fetal membranes of the normal singleton foal at term. Research in Veterinary Science, v.19, n.1, p.44-55, 1975.

Zúccari, C.E.S.N., D.B. Nunes e R.A.C. Corrêa Filho. EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE ÉGUAS DA RAÇA PANTANEIRA DURANTE AS ESTAÇÕES DE MONTA 1995/2000Archivos de zootecnia vol. 51, núm. 193-194, p. 144.2002

Tabela 1: número de animais machos e fêmeas nascido nas 3 propriedades no primeiro ano e média do tempo de gestação

Idade da égua

Número de animais nascidos na Propriedade

sexo

1

2

3

Jovem 

< 4 anos

F

07

07

0

M

11

14

02

Adulta 

5 a 9 anos

F

11

12

02

M

23

15

03

Velha 

> 9 anos

F

09

03

01

M

07

03

0

F

27

22

03

M

41

32

05

Total

 

68

54

8

Tempo médio de gestação

 

315,5

316,1

315,5

           

 

Tabela 2: número de animais machos e fêmeas nascido nas 3 propriedades no segundo ano e média do tempo de gestação

Idade da égua

Número de animais nascidos na Propriedade

sexo

1

2

3

Jovem 

< 4 anos

F

05

06

0

M

07

08

0

Adulta 

5 a 9 anos

F

13

17

02

M

26

14

04

Velha 

> 9 anos

F

09

04

02

M

08

05

0

F

27

27

04

M

41

27

04

Total

 

68

54

8

Tempo médio de gestação

 

315,6

314,1

315,6