A ARTE COMO TERAPIA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

 

                Sandra Marcia Mateus Ferreira[1]

 

RESUMO- O artigo busca uma reflexão sobre condição ainda não vivenciada pela humanidade, a pandemia de Covid-19, doença que atingiu todas as nações do mundo e vem causando consequências alarmantes nos aspectos sanitários, econômicos, políticos, sociais, ambientais.  Diante dessa situação, buscou-se avaliar as condições de saúde mental da população, em virtude do isolamento social a que todos, de alguma forma, foram submetidos. Através de uma pesquisa de grupo, foram analisadas as condições e impactos sofridos pelos indivíduos, possíveis transtornos mentais e emocionais, além de identificadas as necessidades de apoio psicológico para lidar com suas dificuldades. O foco principal do trabalho apontou como a arte pode oferecer um resultado terapêutico aos indivíduos e permitir que possam atravessar esse momento e estabelecer novas formas de ser e estar no mundo. Ao final, conclui-se que a arte é uma ferramenta terapêutica com amplas possibilidades e que a conjuntura atual demonstra os grandes desafios colocados à arteterapia.

 

PALAVRAS-CHAVE: Arteterapia. Arte. Pandemia. Isolamento.


 

  1. INTRODUÇÃO

 

Este artigo busca tratar questões relativas à saúde mental das pessoas numa condição de isolamento social causado pela Pandemia de Covid-19, doença que atinge atualmente todos os países do mundo. E pretende considerar de que maneira a arteterapia pode dar a sua contribuição e ajudar nesse processo.

Considerando que as condições em que estamos vivendo são absolutamente novas para todos os envolvidos, ainda que não seja esta a primeira pandemia enfrentada pela Humanidade, todos estamos diante de mais incertezas que respostas.

Em meio a todos os danos causados pela Pandemia, nos aspectos sanitários, econômicos e sociais, o objetivo deste artigo é identificar as dificuldades vivenciadas no campo da saúde mental, dos sintomas psicológicos, emocionais e comportamentais que atingem a maioria das pessoas no mundo. E, especialmente, refletir como a arteterapia, enquanto ferramenta profissional, poderá encontrar os caminhos necessários para contribuir nesses novos modos de ser e estar no mundo que se apresentam.

Para auxiliar na avaliação dos impactos psicológicos identificados e das alternativas experimentadas no contato com as atividades artísticas, foi elaborada uma pesquisa de grupo, com a finalidade de pontuar alguns questionamentos e sistematizar algumas reflexões.

 

  1. PANDEMIA, SAÚDE MENTAL E ARTE

 

Quando se considera os avanços tecnológicos, científicos, políticos e culturais alcançados pelo mundo contemporâneo, difícil imaginar a fragilidade humana diante de um inimigo invisível: uma doença desconhecida, sem cura e sem vacina, com um poder devastador de morte. Neste ano de 2020, a humanidade se viu diante da Pandemia de Covid-19, com sérias consequências em todas as áreas do conhecimento.

 

  1. PANDEMIA DE COVID-19

 

A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), e aproximadamente 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldades respiratórias, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório.

Não é a primeira vez que a Humanidade enfrenta uma pandemia. Porém, desde a Peste Bubônica no Sec. XIV na Europa, passando pela Varíola, em diferentes épocas, desde os séculos II e III,  pela Cólera em 1817, a Gripe Espanhola em 1918 e a Gripe Suína (H1N1) em 2009, a Covid-19 tem um impacto surpreendente, pelo elevado poder de contaminação e número de vidas perdidas em todo o mundo.

Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia. Naquela ocasião a doença havia atingido 114 nações e 4291 mortes no mundo.  Os dados de 24/07/2020 chegam a 15.296.926 doentes confirmados e 628.903 mortos no mundo. No Brasil, os números ultrapassaram 2.400.000 doentes confirmados e mais de 87.000 mortos pela Covid-19.[2]

Por conta da velocidade da propagação do contágio, através do contato com infectados ou superfícies contaminadas, as principais medidas adotadas foram as medidas de higiene pessoal e distanciamento social, este último de proporções jamais vistas.

A experiência de cerceamento da liberdade, as inseguranças quanto ao futuro, o medo, a doença, a morte são situações que, em qualquer condição, isoladamente, causam muitas dificuldades. Imagine-se todas juntas, simultaneamente, vivenciadas coletivamente, em nível mundial. É um cenário ameaçador para qualquer pessoa.

Com um território de dimensões continentais, o Brasil vive situações de restrições de toda ordem, considerando que as regiões vivenciam estágios e políticas diferenciadas no enfrentamento da doença. Escolas fechadas, parques, praias, museus, teatros, shoppings e comércio em geral fechados ou com limitações de acesso, levaram as pessoas para dentro de suas casas, forçadas à limitação dolorosa de sua liberdade, agravada pelas incertezas quanto ao futuro. Perda de emprego, falta ou condições precárias de moradia, dificuldades de acesso às políticas públicas, sobrecarga do sistema de saúde, morte de entes queridos, o excesso de notícias ruins, são inúmeros os fatores de desgaste mental e emocional.

Felizmente, algumas Instituições e Organizações voltaram seu olhar para a saúde mental nesse momento, uma vez que um terço da população mundial (cerca de 2,6 bilhões de pessoas) foi colocada em algum tipo de quarentena. E isso, sem a devida atenção, pode resultar em situações de esgotamento, uma espécie de estresse pós-traumático como os observados em guerras.

 

  1. EFEITOS DO ISOLAMENTO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL

 

Ansiedade, medo, tristeza, raiva são sentimentos inerentes às pessoas e podem ser administrados. Porém, numa condição de isolamento social, com as inúmeras incertezas quanto à condução da vida e ao futuro de modo geral, esses sentimentos podem se agravar e desencadear sérias dificuldades.

Para analisar efeitos desse isolamento social e comportamento das pessoas na tentativa de mitigar possíveis transtornos mentais, foi proposto a um grupo aberto de pessoas, algumas questões relativas ao tema.

A pesquisa foi feita utilizando a ferramenta Formulários Google e, respeitando as regras de distanciamento social, foi enviada por meio de um link para os interessados.

Os dados foram colhidos entre os dias 11 e 18 de julho de 2020, com 27 pessoas, sendo 08 homens e 19 mulheres, com predominância da idade de 51 a 60 anos e moradores de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Na análise das respostas obtidas, foram selecionados alguns gráficos para demonstração do perfil obtido.

 

 

Gráfico 1 – Alteração da rotina

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

Verificou-se que 70,4% mora com familiares, 22,2% mora sozinho e 7,4% mora com amigos e a maioria, conforme gráfico 1, encontra-se em casa, trabalhando ou sem trabalho no momento. Isso demonstra o quanto foi alterada a rotina das pessoas e, por conta disso, a necessidade de adaptação à essa nova realidade.

Ao serem questionados se sofrem (ou sofreram) de algum transtorno psicológico, entre as opções apresentadas no gráfico 2, as respostas indicaram a ansiedade como predominante em quase todos as pessoas, somadas aos sentimentos de medo e tristeza, com ocorrência significativa.

 

Gráfico 2 – Sentimentos em isolamento

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

É importante lembrar que as definições de ansiedade englobam muitos aspectos segundo informações registradas pelo psiquiatra Pércio Ribeiro Gomes de Deus, do Hospital Albert Einstein:

Dicionários “não técnicos” têm diversas definições para ansiedade, como aflição, angústia, perturbação do espírito causado pela incerteza etc. Mas “tecnicamente” o que é a ansiedade? De acordo com o psiquiatra Persio Ribeiro Gomes de Deus, do Einstein, “devemos entender ansiedade como um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, e que se torna prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal)”. A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário - impedindo reações.

(...)

Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do cotidiano.  Eles aparecem como:

•Preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar);

•Sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;

•Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;

•Medo extremo de algum objeto ou situação em particular;

•Medo exagerado de ser humilhado publicamente;

•Falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade;

•Pavor depois de uma situação muito difícil.

 

A pesquisa apresentada, apesar de limitada, reflete um comportamento que se observa na sociedade de um modo geral e, em virtude do contexto mundial, muitos especialistas têm se voltado para essa situação.  Segundo Elke Van Hoof, professora de psicologia da saúde na Universidade de Vrije, em Bruxelas, e especialista em estresse e trauma, estamos diante do "maior experimento psicológico da história". E a falta de atenção das autoridades à assistência psicológica durante a pandemia fará o mundo pagar o preço, diz ela. Em pesquisa online realizada pela especialista, com cerca 50 mil pessoas de todo o mundo, 1 em cada 3 pessoas registrou um aumento nos níveis de estresse tóxico. Isso é um índice muito alto.

Um artigo da Revista Exame, de 2019, já registrava que o Brasil tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno, segundo dados da OMS.

Com vistas a ajudar e apoiar pessoas com dificuldades, foram criados alguns sistemas de apoio psicológico, com atendimento online. A Organização Pan-Americana de Saúde em sua página na Internet, disponibilizou materiais de comunicação voltados para a saúde mental, objetivando ajudar as pessoas (adultos, crianças, jovens, profissionais de saúde) a administrar e minimizar os efeitos do estresse por conta da Pandemia.

 

No Brasil, o Ministério da Saúde tem adotado medidas de suporte psicológico aos profissionais de saúde e criado regras para Teleatendimento às pessoas, em variadas especialidades, inclusive na saúde mental. Diversas Universidades, como a USP - Universidade de São Paulo – USP, a UFPA - Universidade Federal do Pará, a UFF- Universidade Federal Fluminense, entre outras, criaram redes de apoio psicológico de forma remota.

 

Um dado interessante apresentado é que os indivíduos consultados na pesquisa reconheceram a necessidade de ajuda profissional.

 

Gráfico 3 – Apoio terapêutico profissional antes do isolamento

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

Gráfico 4 – Apoio terapêutico profissional durante o isolamento

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

Os gráficos 3 e 4 convergem com os dados apurados e já identificados pelos organismos de saúde, no sentido da necessidade de ajuda profissional para enfrentamento das dificuldades no campo da saúde mental. Entretanto, no gráfico 4 fica evidente que a busca por atendimento profissional individualizado está muito limitada atualmente. É uma questão realmente delicada e permeada por inúmeros condicionantes, na maioria novos para todos os indivíduos envolvidos.

 

 

2.3.  O PAPEL DA ARTE NO ISOLAMENTO

 

Na atual conjuntura, este artigo volta sua atenção para como a arteterapia pode auxiliar na saúde mental durante a Pandemia. Por definição, a arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica (CARVALHO, 1995, apud REIS, 2014). As reflexões sobre a ampliação de suas possibilidades para além do contexto clínico já vem sendo observadas nos campos pedagógicos, comunitários, de arte-educação e hospitalares. E, no presente momento, essa atuação pode tomar formas ainda mais abrangente.

Os autores John Armstrong e Alain de Botton, em seu livro Arte como Terapia (2014), já na introdução ressaltam:

 “Como outros instrumentos, a arte tem o poder de ampliar nossas capacidades para além dos limites originalmente impostos pela natureza. A arte compensa algumas de nossas fraquezas inatas, nesse caso, mais mentais do que físicas, fraquezas que podemos chamar de fragilidades psicológicas.”

 

A função terapêutica da atividade artística tem sido evidenciada intensamente através dos meios de comunicação e das redes sociais. A “arte salva” é um novo bordão, exatamente por sua capacidade de levar o indivíduo a vivenciar novos modos de ser no mundo, de envolver-se emocionalmente através das possibilidades artísticas disponibilizadas atualmente à distância, virtual e remotamente.

 

 

 

 

Gráfico 5 – Atividades artísticas durante o isolamento

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

No gráfico 5, indagou-se sobre quais atividades artísticas foram acessadas durante o isolamento social. É possível ver claramente o quanto as pessoas, a partir de seu ambiente doméstico, com as limitações específicas de cada um e dentro de suas preferências e condições, fizeram uso da arte como uma das principais formas de lidar com as dificuldades emocionais nesse período. Esse universo de possibilidades permite encontros virtuais, participações online em atividades artísticas como corais, danças, espetáculos musicais, aulas de pintura, desenho, colagem e diversas outras.

 

 

  1. AS ABORDAGENS DA ARTETERAPIA

 

A arterapia desenvolveu-se a partir do campo de trabalho do Psicologia e identifica-se em três abordagens principais, a psicanálise, a junguiana e a Gestalt.

Margaret Naumburg foi a pioneira na arteterapia psicanalítica, a partir de uma aproximação com a arte na área da educação. Definia a expressão artística como um espelho, que reflete diversas informações e estabelece uma ponte no diálogo entre consciente e inconsciente (Andrade, 1995).  Nessa abordagem, todo o individuo possui a capacidade de projetar seus conflitos interiores em formas visuais e com a ajuda de um terapeuta, pode descobrir significados e expressar em palavras seus sentimentos e pensamentos projetados em imagens pictóricas.

Já Edith Krammer, artista, professora e psicanalista austríaca, se diferenciava de Naumburg, enfatizando o valor terapêutico do processo criativo, sem necessidade da verbalização. Segundo ela a criação artística é em si mesmo terapêutica, porque contribui para o equilíbrio psíquico e fortalecimento do ego.

Na arteterapia junguiana, a função da atividade artística é mediar a produção de símbolos do inconsciente. Além do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, como referência, o Brasil tem como principal representante a médica psiquiatra Nise da Silveira, que revolucionou o modo de tratamento de doenças mentais no país.

A arteterapia gestáltica foi desenvolvida por Janie Rhyne, que a sistematizou no livro The Gestalt Art Experience, escrito em 1973 e publicado no Brasil com o título Arte e Gestalt: Padrões que Convergem (Rhyne, 2000). Abordando conceitos da psicologia, utiliza materiais artísticos para trabalhar com indivíduos ou grupos e identifica na vivência artística a possibilidade de ampliar a percepção do sujeito sobre si mesmo.

As abordagens apresentadas, embora resumidamente, têm em comum o reconhecimento de que a arte promove o autoconhecimento e potencializa a criatividade. Permite aos indivíduos ampliar a consciência de si mesmo e estabelecer novas relações com o mundo que o cerca.

 

Gráfico 6 – Considera atividades artísticas como terapia

 

Fonte: Pesquisa da autora

 

Como se pode constatar no gráfico 6, que questionou se o contato com a arte era considerado como atividade terapêutica, ficou constatado que quase 100% das pessoas entrevistadas afirma que sim. Seja assistindo ou exercitando, isso tem sido uma prática instintiva das pessoas. Busca-se entretenimento, certamente, mas também o equilíbrio emocional, a saúde mental e a qualidade de vida, fundamentais a todos os seres humanos. Superar as dificuldades enfrentadas pelo isolamento social, minimizar o distanciamento e criar possibilidades de dar solução às suas demandas psicológicas, tem sido um caminho inteiramente novo para todos.

Segundo ARMSTRONG e BOTTON, “a arte promete a completude interior. (...) Grupos e até sociedades inteiras podem recorrer à arte para equilibrar sua existência.” (p.34).

Com a finalidade de auxiliar o enfrentamento das fragilidades humanas, consumidas por seus sentimentos de isolamento, medo e perseguição, os autores apresentam como valores que a serem ser obtidos através da arte:

“um corretivo para a memória fraca, um provedor de esperança, uma fonte de dignidade para o sofrimento, um agente de equilíbrio, um guia para o autoconhecimento e ampliação da experiência e um instrumento de recuperação da sensibilidade”. (p.65).

 

Convidados a falar sobre a relevância da arte durante o período de isolamento social, destacam-se alguns depoimentos espontâneos dos entrevistados na pesquisa. Observa-se que a arte, embora pareça distante do dia a dia das pessoas, serve como elemento de aproximação. “Não faço arte, ou quase nunca. Fiz algumas coisas e sonhei outras, mas não coloquei em prática. Mas considero que é extremamente importante a arte nessa e em todas ocasiões.” Ou ainda, “Quando penso em arte, vem na minha mente trabalhos manuais. Esses não fiz. E considero também muito importantes para desviar o foco de pensamentos negativos.”

 

Confinados em suas casas, os entrevistados tiveram muitas das dificuldades emocionais amenizadas por meio do contato com a arte: “Acho muito importante a arte, faz bem pra alma.” E levaram as pessoas a olhar para si mesmas, como se vê: “A pandemia evidenciou o papel da arte como instrumento de autoconhecimento.” E descreve seu lugar, “Para mim a arte tem tido ainda mais valor nesses dias. Tenho me emocionado ainda mais com tudo que remete à arte e acredito que teremos um novo olhar depois da pandemia.”

Constata-se que, mesmo que de forma intuitiva, os indivíduos reconhecem que a arte serve de ajuda terapêutica. “A arte de todas as formas é imprescindível para o ser humano, isso em tempos de pandemia ou fora. Se expressar através da arte é colocar seu lado bom para o mundo exterior!”.  “Acredito que nunca a arte foi tão importante e necessária, o isolamento social nos fez apreciar muito mais a arte e valorizá-la, acredito que mesmo depois dessa pandemia teremos um outro olhar em relação a arte e sua importância para a sociedade.” “A arte é muito importante para o exercício das funções cerebrais, além de ser de imensa ajuda terapêutica. Em períodos como esse, de pandemia, a arte auxilia no lado criativo, na preservação da consciência e diminuição dos índices ansiosos.”

As pessoas sentem que “A Arte ajuda diminuir a ansiedade, o medo.” E ainda que “A prática de qualquer tipo arte ajuda a vencer esse tempo de pandemia.” “Tempos como esses pedem que nos reinventemos e busquemos novas maneiras de expressão e, mais do que nunca, a arte tem servido como uma ferramenta para externalizar sentimentos que têm nos sufocado durante esse período de isolamento.”

Como se constata, o encontro com a arte parece ser uma busca natural de equilíbrio emocional, paz e um caminho para libertar-se de suas angústias. Nesse sentido, a arte como terapia se apresenta como um meio eficaz de contribuição para a saúde mental da população, ainda que precise identificar, nesses novos tempos, que caminhos ainda precisa percorrer para ampliar esse alcance.

 

  1. CONCLUSÃO 

 

A pandemia de Covid-19, doença que atingiu todo o mundo, trouxe à tona a condição da fragilidade humana diante do desconhecido. Mais uma vez, a humanidade, que ao longo de sua existência vivenciou inúmeros desafios e condições de vida, enfrenta o desafio de sobreviver e descobrir os meios de se reconstruir.

Dentre todas as dificuldades, em todos os campos, sejam sanitários, econômicos, políticos, ambientais, o isolamento social como meio de combate à pandemia, entre outras medidas, evidentemente, provocou uma condição nunca vista. Cerca de um terço da população mundial experimentou (e experimenta) algum tipo de confinamento. Sem dúvida, essa situação tem impactos muito relevantes nas condições de saúde mental da população

Ficou evidenciado, através da pesquisa realizada e dados coletados, os transtornos psicológicos, especialmente em relação à ansiedade, causados pelo medo, o contato com a morte, a tristeza, as perdas em geral. E pelas incertezas quanto ao futuro e ao acesso às políticas que atendam a essa enorme demanda desencadeada pela pandemia.

A atividade artística e sua função terapêutica tem contribuído muito para amenizar as dificuldades experimentadas por todos, especialmente, em função do distanciamento social ao qual todos foram submetidos. A importância de cuidar da saúde mental das pessoas nunca esteve tão evidente e, nesse campo, a arteterapia tem um histórico de grande contribuição social, que deve ser colocado à disposição da sociedade.

É da natureza humana o convívio social, a necessidade de ser parte de um grupo, de se sentir em conexão com seus pares. Isso faz com que tente, de alguma forma, resgatar esse sentimento. As novas tecnologias permitiram às pessoas acessarem, remota e virtualmente, atividades artísticas das mais variadas categorias. Estão descobrindo que é possível fazer arte, vivenciar experiências artísticas e que isso tem um grande e positivo efeito terapêutico.

A arteterapia, com suas inúmeras possibilidades de abordagem, está, cada vez mais, colocada à disposição de ampliar os horizontes individuais promover o desenvolvimento humano, de forma integrada e coletiva.  Aos profissionais, sejam do campo da saúde, da educação ou da arte, cabe o desafio de encontrar novos meios, de redesenhar os caminhos para chegar aos necessitados. Como indicado na canção Nos Bailes da Vida, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, “todo artista deve ir aonde o povo está”, os profissionais da arteterapia devem ir atrás das dores humanas, onde quer que elas estejam.

É o homem, mais uma vez, buscando, através da arte, reorganizar seu caos interior, enquanto o mundo se reestrutura.

 

  1. REFERÊNCIAS

 

ARMSTRONG, John, BOTTON, Alain de.; ARMSTRONG, John. ARTE COMO TERAPIA. Tradução de Denise Bottman. Rio de Janeiro: Intrínsica, 2014.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em 27 jul.2020

 

DEUS, Pércio Ribeiro Gomes. Hospital Albert Einstein. DOENCAS, SINTOMAS. ANSIEDADE. Disponível em <https://www.einstein.br/doencas-sintomas/ansiedade>. Acesso em 27 jul.2020

 

LLORENTE, A. Coronavírus: confinamento é 'o maior experimento psicológico da história', diz especialista em trauma. BBC NEWS BRASIL, 27 jun.2020. disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53204453>, acessado em 27 jul.2020.

 

OMS Organização Mundial da Saúde. Organização Pan Americana da Saúde - OPAS BRASIL. disponível em

view=article&id=6101:covid19&Itemid=875> acesso em 18 jul.2020.

 

REIS, Alice Casanova dos. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo. Disponível em <http://psibr.com.br/leituras/psicologia-clinica/arteterapia-a-arte-como-instrumento-no-trabalho-do-psicologo>. Acesso em 27 jul.2020.

 

RODRIGUES, L. Conheça as 5 maiores pandemias da História, REVISTA GALILEU, 29 mar.2020, disponível em

2020/03/conheca-5-maiores-pandemias-da-historia.html>. Acesso em 18 jul.2020.


[2] Dados atualizados em 08/09/2020 – 27.236.916 casos confirmados no mundo, com 891.031 mortes. No Brasil, 4.162.073 casos, com 127.464 mortes.