O desejo da transformação social. 

O desejo das transformações sociais que esperamos aconteçam no mesmo nível  dos investimentos que estão sendo feitos em infraestrutura para melhorar a dinâmica de acesso da população nas cidades sedes dos futuros eventos esportivos nos próximos anos, possa nos estimular a crer que as dificuldades serão menores do que estamos esperando. As inquietações que nos afligem são cabíveis. O pouco tempo para que as modificações ocorram e ocorram de forma a não maximizar a opinião mundial sobre as reais dificuldades do país é uma  das preocupações .

Não sou big fã de futebol e meu conhecimento limitado se revela uma vez que ainda não sei o nome dos estádios onde acontecerão os jogos e também não gravei o nome das cidades sedes.

O fato do  Brasil ainda ser visto como “o país do Samba e do Futebol” não é suficiente para nos  credenciar no exercício competente de recepcionar as milhares de pessoas aguardadas para estes eventos.

Não parece ser uma fórmula eficiente o bastante para encobrir nossas dificuldades, nossas desigualdades sociais. Nossos jovens candidatos a craques e atletas ainda hoje jogam as “peladas” no fundo dos quintais dos subúrbios recheados de crianças que passam a maior parte do tempo nas ruas do que nas escolas.

O orçamento  para esta empreitada é de longe maior que o necessário para adequar as escolas e remunerar decentemente o professor da rede pública, eu suponho. E isso não se modificará em alguns anos somente.

Os maiores investimentos que hoje acontecem no nordeste visam somente o turismo. As belezas naturais e ainda inexploradas exigem um preparo relâmpago de uma população absolutamente desinformada e despreparada. O turismo mundial sofisticado difere da simplicidade que será oferecida pela hotelaria, pelos restaurantes, aeroportos e demais serviços públicos.

 É bem verdade que se busca essa diferença, menos sofisticação mais natureza, mais contato humano.

Não sou contrária como possa parecer a que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos aconteçam no meu país.

Quero sim é que todos estejam incluídos nesta festa, nesta celebração. Quero que todos tenham seus direitos respeitados. Quero que a população  seja beneficiada, a maioria, não somente os privilegiados com acesso garantido aos ingressos e lugares de destaque nos eventos e nos jogos. Que não sejam afastados dos olhos do  mundo como aquilo que não se quer mostrar aos visitantes.

Somos um povo alegre e hospitaleiro, vivemos em harmonia sem grandes confrontações com nossas diferenças sociais, até aqui. No entanto, este passo talvez não seja suficiente para que a população compreenda seu lugar, seu papel de cidadão inserido na realidade do país,  da América Latina, no mundo globalizado e possa usufruir de todas as facilidades anunciadas e disponíveis .

A esperança de conscientizar nossos governantes sobre a responsabilidade social que a população necessita está em jogo.  Os investimentos necessários para os hospitais e as escolas são urgentes e para esses eventos que talvez não devolvam benefícios  significativos só saberemos após pagarmos a conta que virá ao final.

Jane Cotts

04/05/2013