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INTRODUÇÃO

O parasitismo é uma relação direta e estreita entre dois organismos geralmente bem determinados (PESSÔA, 1988). Essa relação leva a uma adaptação de cada um, tendendo ao equilíbrio, cuja estabilidade jamais é alcançada, salvo como etapas sucessivas em demandas de novos e contínuos equilíbrios: é a evolução. Porém, se houver um desequilíbrio brusco, rápido ou muito abrangente, não haverá evolução, e sim, destruição das espécies participantes. É o que tem ocorrido nas áreas em que o homem tem feito sentir toda a força modificadora de sua tecnologia atual sobre a Natureza (NEVES, 2000). As doenças parasitárias são freqüentes na população mundial. Segundo a OMS, cerca de 980 milhões de pessoas estão parasitadas pelo Ascaris lumbricoides e 200 milhões pelo Schistosoma mansoni. As infecções parasitárias constituem um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. O último levantamento multicêntrico das parasitoses intestinais revelou 55,3% de crianças parasitadas, sendo 51% poliparasitadas (RHODIA, 1988). Os problemas relacionados a saneamento básico e educação sanitária ajudam a agravar este quadro. A população tem sido atingida por um grande número de parasitoses o que pode afetar o estado nutricional, principalmente, das crianças, podendo prejudicar o seu crescimento e desenvolvimento, devido a distúrbios orgânicos que podem ocasionar, além de afetar negativamente a economia da população. No Brasil as baixas condições sócio-econômicas de uma comunidade e os fatores edáficos favorecem a ocorrência de parasitoses, o que leva a uma alta incidência, principalmente em pessoas da classe social menos favorecidas. A fácil transmissibilidade das parasitoses intestinais se dá especialmente ao contato com ambientes contaminados com cistos de protozoários e/ou ovos e larvas de helmintos (PRADO, 1999). Há vários meios de propagação destas doenças, sendo muito raro encontrar uma pessoa adulta que atualmente não hospede parasitos ou que não os tenha hospedado, pelo menos uma vez na vida, preferencialmente na infância (CARRERA, 1979). Uma vez em contato com o parasito o hospedeiro poderá indicar um estado de ação patogênica do mesmo. Entretanto, a ausência de patogenicidade é rara, de curta duração e, muitas vezes, depende da fase evolutiva do parasito. Em geral, os distúrbios que ocorrem são de pequena monta, pois há uma tendência de haver um equilíbrio entre a ação do parasito e a capacidade de resistência do hospedeiro. (NEVES, 2000). As parasitoses iniciadas manifestam-se de diversas formas: agudas ou crônicas, benignas ou graves e mortais, típicas ou atípicas, nítidas ou imprecisas (CARRERA,1979). Existem vários problemas provocados pelas parasitoses intestinais, sendo os mais freqüentes a desnutrição, problemas gastrointestinais e nervosos, que podem levar a diminuição da capacidade de aprendizagem pelas crianças parasitadas. Problemas fáceis de serem resolvidos com políticas de educação e engenharia sanitárias, além de medidas terapêuticas e mudanças de alguns hábitos culturais. Atualmente, há poucos trabalhos mostrando a realidade das enteroparasitoses sobre a intensidade das infecções e sua relação com indicadores de níveis sócio-econômicos da população em nosso país, especialmente no município de Pará-de-Minas/MG. A esquistossomose (S.mansoni) é uma doença endêmica em Minas Gerais. PASSOS e AMARAL (1998) apresentaram as prevalências estimadas para o Estado, de dados coletados pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), demonstrando um aumento na prevalência em Minas Gerais, em 1997 e 1998, quando comparado a 1996. Os dados apresentados por KATZ e PEIXOTO (2000) indicam prevalência de 8,97% para 1996 e 7,84% para 1997, correspondendo a cerca de um milhão e meio de pessoas doentes com 15 milhões expostos aos riscos da doença no Estado. A elevada taxa de prevalência associada às conseqüências diretas sobre o estado de saúde das populações humanas torna a esquistossomose um importante problema de saúde pública em áreas tropicais e subtropicais. Por ser transmitida através de coleções de água doce, entre diversos outros fatores, a sua ocorrência pode ser potencializado, tanto pela expansão espacial resultante dos movimentos populacionais, quanto pela construção de barragens e o aproveitamento das mesmas para obras subseqüentes, como irrigação (MARTINS JR. & BARRETO, 2003). As modificações ambientais produzidas pela atividade humana têm papel fundamental na cadeia epidemiológica, favorecendo a proliferação dos moluscos (dispersando as espécies, criando novos hábitats como valas de irrigação ou poluindo com matéria orgânica as coleções aquáticas etc.) e, principalmente, promovendo a infecção dos mesmos através do nefasto sistema de descarga de instalações sanitárias nas coleções aquáticas peridomiciliares (NEVES e cols., 2000). Em decorrência dos efeitos deletérios à saúde dos indivíduos e, sobretudo, das repercussões econômicas, vários programas têm sido dirigidos para o controle das parasitoses intestinais em diferentes países, mas, infelizmente, constata-se um descompasso entre o êxito alcançado nos países mais desenvolvidos e aquele verificado nas economias mais pobres. Além do custo financeiro das medidas técnicas, a falta de projetos educativos com a participação da comunidade dificulta a implementação das ações de controle. Há que se considerar, portanto, que além da melhoria das condições sócio-econômicas e de infra-estrutura geral, o engajamento comunitário é um dos aspectos fundamentais para a implantação, desenvolvimento e sucesso dos programas de controle (MELLO; PEDRAZZANI; PIZZIGATTI, 1992). Está bem estabelecido que as parasitoses intestinais são mais freqüentes em regiões menos desenvolvidas, considerado o sentido mais amplo da palavra (SIGULEN, 1988). A freqüência de parasitoses intestinais em nosso país é elevada, assim como nos demais países em desenvolvimento, sofrendo variações quanto à região de cada país e quanto às condições de saneamento básico, o grau de escolaridade, a idade e os hábitos de higiene dos indivíduos que nela habitam, entre outras variáveis. A influência de outros fatores na determinação de parasitoses intestinais, como por exemplo, o sexo do indivíduo e o contato com animais domésticos, não está totalmente estabelecida (CARDOSO, 1995). A Giardia lamblia é, atualmente, reconhecida como um dos principais parasitos do homem, principalmente, nos países em desenvolvimento. Nestas áreas, a giardíase é uma das causas mais comuns de diarréia entre crianças, que, em conseqüência da infecção, muitas vezes apresentam problemas de má nutrição e retardo no desenvolvimento. A freqüência de giardíase sofre variações quanto à distribuição mundial (WOLFE, 1978). Em países em desenvolvimento, sabe-se que a freqüência é muito maior. Considerando a freqüência na população em geral, as taxas de giardíase não são significativamente elevadas, quando comparadas com taxas da população pediátrica. Por exemplo, GIOIA (1992) relata freqüência de 4,5% de giardíase na população de uma unidade básica de saúde, entre os anos de 1986 e 1990, em Campinas /SP. Quando se considera apenas a população pediátrica, as variações são interessantes quanto a distribuição entre as faixas etárias. Sabe-se que crianças em idade pré-escolar são mais acometidas por giardíase. Para se ter idéia, CARDOSO (1995) encontraram taxas de giardíase de até 63,3% em creches de Aracajú/SE; GUIMARÃES (l995) também detectaram taxas de 63,3% em creches de Botucatu /SP. Outros autores demonstraram taxas menores em crianças de idade escolar (CARRANCHO, 1989). A Entamoeba histolytica é o agente etiológico da amebíase, importante problema de saúde pública que leva ao óbito anualmente cerca de 100.000 pessoas, constituindo a segunda causa de mortes por parasitoses. Um dos mais intrigantes aspectos da biologia da E.histolytica é sua inexplicada variabilidade quanto ao potencial patogênico e diferença de virulência. Esse fato parece estar diretamente ligado à natureza de fatores que determinam a virulência do parasito, principalmente o que faz mudá-lo de um tipo comensal para um agressivo, invasor. Apesar da alta mortalidade, muitos casos de infecção assintomática são registrados. No início do século XX, estimava-se que cerca de 12% da população mundial portavam o parasito em seu trato intestinal, mas destes, somente 10% apresentavam sintomas da doença (NEVES, 2000). Dessa maneira, o presente trabalho procurou avaliar de forma preliminar a freqüência de enteroparasitoses e esquistossomose (S. mansoni) em localidades da área urbana no município de Pará de Minas/MG.