AMBIENTE URBANO: PESQUISA QUALITATIVA SOBRE A VISÃO DOS ALUNOS AOS PROBLEMAS AMBIENTAIS ROSANE ALVES RESUMO Os avanços rumo ao desenvolvimento estão acabando com o meio ambiente, uma vez que as catástrofes ambientais divulgadas pelos meios de comunicação estão presentes no cotidiano das pessoas, e o planeta continua sendo cada vez mais destruído por ações antrópicas. Diante disso, o presente trabalho preocupou-se em investigar se os alunos do ensino fundamental tem conhecimento sobre os problemas ambientais, e avaliar a visão dos mesmos frete as problemas encontrados. Justificando-se pela importância de se conhecer as atitudes de Educação Ambiental dos alunos nessa fase da vida que é onde os conceitos estão sendo moldados pela vivência diária de atitudes e conceitos. Pois o âmbito escolar é bastante propício para o trabalho da Educação Ambiental, no processo de mudança, de transformação, sendo necessário introduzir a questão ambiental cada vez mais cedo para sensibilizar e motivar os alunos na conservação ao meio ambiente e com isso, formando cidadãos mais conscientes e com uma visão crítica sabendo que serão responsáveis pelo rumo do futuro. Palavras-chave: Ambiente urbano, Educação Ambiental, ensino fundamental. 1. Introdução O planeta foi formado há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, quando uma nuvem de gás interestelar ruiu, formando protoestrelas e sistemas planetários. Aproximadamente 2 bilhões de anos depois, a vida começou aqui, desde então, afetou significamente o planeta. Desde o aparecimento da vida, muitos tipos de organismos evoluíram, desabrocharam e morreram, deixando apenas seus fósseis para recordar seus lugares na história. Alguns milhões de anos atrás, as forças da evolução entraram em ação para garantir o eventual domínio do ser humano no planeta (ZILBERMAN, 1997). Em um primeiro momento é importante ressaltar que a espécie humana sempre se caracterizou por uma tendência gregária, isto é, pela formação de grupos, tribos, hordas e comunidades. A inteligência, além de possibilitar ao homem o desenvolvimento de instrumento de caça, de trabalho e da arte de cultivar o solo, permitiu-lhe perceber que seu maior recurso defensivo era manter-se agrupado em aldeias, e aos poucos foram sendo transformadas em cidades, que passaram a se desenvolver progressivamente. A cidade é um produto da presença e das atividades do homem, e surgiu para atender às suas conveniências, com sua completa organização cultural e estrutural, gerou um estilo de vida mais voltado à preservação e ao desenvolvimento das atividades intelectuais do que às atividades físicas. Com isso, é estabelecida uma noção de conforto bem mais exigente do que no campo, sendo que assim, esse maior grau de conforto e opções de vida acabou criando um sério problema para a sociedade moderna. O ser humano está adaptado a quaisquer dos ambientes habitados pelas outras espécies; este não depende de adaptações inatas, hereditárias, são capazes de adaptações espontaneamente, usando recursos artificiais, construindo o seu próprio ambiente (BRANCO, 2003). Pautado nesta mesma visão, Dias (2004), fala que devido a essa fácil adaptação do homem, as cidades tornaram-se superpovoadas, imersas em seus problemas crônicos de saneamento e serviços, abrigando legiões de desempregados, subnutridos, doentes e analfabetos em favelas, regadas a drogas, prostituição e violência. Além disso, começaram ocorrer às alterações ambientais globais, induzidas por dimensões humanas - alterações climáticas, destruição de habitats, desflorestamento, perda de solo, extinção das espécies e de diversidade de ecossistemas, poluição, escassez de água potável, erosão cultural e outros. Acrescendo-se a isso, os ciclos naturais hidrológicos e químicos vêm sendo perturbados pela devastação de terras, diminuição da diversidade genética, inclusive entre espécies com grandes populações. As atuais ameaças biológicas não tem precedentes: nunca, na história natural, tantas espécies estiveram ameaçadas de extinção em períodos tão curtos (PRIMACK, 2001). Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades, está se transformando o mundo de forma que este ficará insustentável para as próximas gerações, Dias (2004), expõe que a equidade socioeconômica é um elemento crítico para a sustentabilidade, assim como o materialismo e a crescente ignorância das pessoas, a abordagem tecnocentrica, a retração econômica e o débito internacional. Essa visão é em parte corroborada por diversos autores. Na Declaração da Reunião dos Líderes Espirituais da Terra, produzida e divulgada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92 , promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas), cita-se que a crise ecológica é um sintoma da crise espiritual do ser humano, que vem da ignorância. Ao lado do desenvolvimento sustentável segundo Carvalho (2001) também surgiu a Educação Ambiental (EA) que vem sendo incorporada como uma prática inovadora em diferentes âmbitos. A Educação Ambiental (EA) é um processo permanente o qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros (DIAS, 2004). Salienta-se ainda, que Guimarães (2000), define Educação Ambiental crítica como aquela que "aponta para as transformações da sociedade em direção a novos paradigmas de justiça social e qualidade ambiental". Para se entender como surgiu à Educação Ambiental se faz necessário um breve relato histórico e cronológico dos principais acontecimentos no mundo e no Brasil sobre a EA. Segundo Dias (2004), em 1934 o professor Felix Rawitscher introduziu a pesquisa e o ensino de Ecologia no Brasil, e suas idéias representam os passos pioneiros do atual movimento ambientalista nacional onde o Decreto 23.793 transforma em lei o anteprojeto do código Florestal de 1931; em 1962, Rachel Carson, jornalista, lança o livro Silent spring , que viria a se tornar um clássico na história do movimento ambientalista; no ano de 1974 realizou-se em Haia, na Holanda, o I Congresso Internacional de Ecologia, onde foi dado o primeiro alerta por organismos internacionais sobre a possibilidade da redução da camada de ozônio, causada pelo uso dos CFC?s (clorofluorcarbonetos). Um ano mais tarde em 1975 foi realizado a Conferência de Estocolmo com a participação de especialistas de 65 países objetivando a elaboração de formular princípios e orientações para um programa internacional de EA; mais tarde em 1977 em Tbilisi (Geórgia) foi realizado um prolongamento do que planejou-se em Estocolmo; em 22 fevereiro 1989, a Lei nº. 7.335 criou o IBAMA , com a finalidade de formular, coordenar executar a política nacional do meio ambiente; em 14 de maio de 1991 a Portaria nº. 678 do MEC decide que os sistemas de ensino, em todas as instâncias, níveis e modalidades, contemplem, nos seus respectivos currículos, entre outros, os temas/conteúdos referentes à Educação Ambiental (DIAS, 2004). Ainda, segundo esse mesmo autor, em 1992 no Brasil foi realizado a Conferência Rio-92, como ficou conhecida, e teve como objetivos: examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da Conferência de Estocolmo; identificar estratégias regionais e globais; aperfeiçoar a legislação, a Declaração afirma o Princípio poluidor pagador que é assegurada pela Lei Federal de Crimes Ambientais (Lei n°. 9.605/98) que estabelece formas de punição para determinado dano contra o meio ambiente. E nomeou-se a Agenda de Desenvolvimento Sustentável a "Agenda-21 ", como um Plano de Ação para a sustentabilidade humana, reconhecendo a Educação Ambiental como o processo de promoção estratégico desse novo modelo de desenvolvimento (DIAS, 2004). Segundo Rodrigues (2001), desde 1997, os professores brasileiros contam com um instrumento oficial de apoio à implementação da Educação Ambiental nas escolas: os PCNs . Neles, o tema transversal Meio Ambiente sugere a abordagem da EA em todos os ciclos da educação fundamental, sendo enfocada nos PCNs de forma a fortalecer sua prática e intensificar a aplicabilidade nas instituições escolares. Sobre a Educação Ambiental Silva (2009), ressalta que: As crianças, os jovens e até mesmo adultos, compreendem a preocupação com o meio ambiente pela vivência diária com a poluição e a degradação do meio, porém, só compreender não basta é preciso que haja a preservação desde o micro, suas casas, escolas, bairros, ao macro, suas cidades, florestas, rios, montanhas, desertos e todo o planeta como ser único e interdependente. Neste sentido, destaca-se tanto sua internalização como objeto de políticas públicas de educação e de meio ambiente em âmbito nacional, quanto sua incorporação num âmbito mais capilarizado, como mediação educativa, por um amplo conjunto de práticas de desenvolvimento social.(SILVA, 2009). Este processo de mudanças no mundo, tende a gerar novas práticas sociais e culturais em que se verifica a assimilação de um ideário de valores ambientais. Práticas estas que estão muitas vezes associadas a ações de EA, tanto na sua difusão como na valorização da paisagem socioambiental. Sendo a Educação Ambiental a ciência que ajuda a compreender o meio em que se insere todas as espécies, é a partir dela que se pode utilizar melhor os recursos da natureza a favor dos seres vivos e do meio ambiente. Com isso, é importante transformar os problemas em desafios e encará-los (CARVALHO, 2001). Neste diapasão, a informação assume um papel cada vez mais relevante, uma vez que o ciberespaço, a multimídia, a internet, a educação para a cidadania representam a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Ainda, cabe destacar que a Educação Ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003). Nas escolas existem espaços significativos para o exercício e a construção de cidadania, e nelas encontra-se apoio na busca de soluções junto aos educadores, alunos e comunidade do entorno, pois o processo de produção de conhecimento é coletivo, e baseado no surgimento de novas propostas e experiências (BAILÃO, 2001). Sobre a temática da Educação Ambiental, sabe-se que a mesma possui ação transformadora, e dessa forma, questiona-se se os alunos do Ensino Fundamental estão apreendendo estes conhecimentos e colocando-os em prática? Com isso acredita-se que os alunos possuem conhecimento sobre Educação Ambiental, mas falta incentivo para colocá-los em prática. Enfatizando que é necessário ensinar Ciências colocando o aluno em contato com o objeto de estudo, realizando trabalhos de pesquisa científica, por meio da Educação Ambiental. Esse contato permite ao educando a construção do seu conhecimento, que então passará a fazer parte de sua cultura, deixando de se tornar uma mera memorização, relacionando o que está sendo estudado com o cotidiano do aluno para uma melhor formação do conhecimento (DELIZOICOV et al. 2002). Vive-se numa época de grandes preocupações com a proteção do meio ambiente, uma vez que as catástrofes ambientais divulgadas pelos meios de comunicação estão presentes no dia a dia das pessoas/cidadãos, e o planeta continua sendo cada vez mais destruído por ações antrópicas, como as queimadas, o desmatamento, o consumo das matérias-prima, bens não renovados, poluição das águas, do solo, do ar, lixo a céu aberto, acabando com o equilíbrio dos ecossistemas. Este trabalho justifica-se pela importância de se conhecer o que os alunos pensam a respeito dos problemas ambientais, de como eles veem as inter-relações do homem com o meio que o cerca, visto que a preocupação a respeito da Educação Ambiental é geral, tanto por parte das autoridades como dos cidadãos. Diante disso, faz-se necessário a realização de pesquisas para divulgar se realmente os jovens tem atitudes ecológicas corretas com o meio ambiente. 2. Materiais e métodos O presente estudo foi conduzido em uma escola da rede pública da cidade de Itumbiara ? GO, sendo desenvolvido com quinze alunos que cursam o 8º ano do Ensino Fundamental e foram identificados da seguinte forma: A-X. Para elaborar a proposta metodológica desse trabalho, baseou-se em pesquisas exploratório-descritiva de acordo com o autor Silva e Menezes (2001). Na investigação do conhecimento sobre os problemas ambientais utilizou-se um questionário semi-estruturado (Apêndice I) a fim de analisar o conhecimento dos alunos sobre a Educação Ambiental. Logo em seguida foi analisada a visão desses mesmos alunos sobre os problemas ambientais encontrados no local em que estes estão inseridos por meio de uma caminhada nos interiores do colégio e no bairro da escola. Foi avaliado se os alunos eram capazes de detectar os problemas ambientais e propor soluções viáveis para resolver os mesmos (Apêndice II). A coleta de dados foi realizada a partir de questionário semi-estruturado com os alunos, aulas de campo, observações, registros fotográficos em pontos estratégicos a fim de chamar a atenção dos alunos para alguns aspectos, promovendo discussão com o grupo e observando os apontamentos dos alunos, atividades práticas sobre a temática ambiental, painéis sobre a conscientização da comunidade escolar, com exemplos de ações de EA visando à sustentabilidade ambiental. Os resultados da pesquisa foram avaliados de forma quantitativa e qualitativa em todos os momentos devido às múltiplas inteligências dos alunos à cerca do assunto Educação Ambiental. 3. Resultados e discussão No que se refere ao conceito de Educação Ambiental dos alunos avaliados, observou-se que a maioria dos alunos (71,4%) não apresentou um conceito definido para o termo, porém colocaram exemplos de problemas ambientais considerados como sinônimos entre os quais citaram a poluição do Planeta Terra, lixo, meio ambiente, reciclagem: "É você ajudar a preservar o meio ambiente, cuidar da sua casa, sua rua, a casa dos amigos, vizinhos enfim, ajudar a preservar o planeta."A-04 "A separação do lixo, preservação da área verde, reciclagem, reutilização e etc." A-11 O restante dos alunos (26,6%) definiu Educação Ambiental como não poluir o Planeta: "Cuidar do meio ambiente e não jogar lixo." A-02 Entretanto, numa análise geral das respostas pode-se perceber que os mesmos tem conhecimento da Educação Ambiental. E segundo Jacobi (2003), a EA como tantas outras áreas de conhecimento pode assumir "uma parte ativa de um processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas". Trata-se de um aprendizado social, baseado no diálogo e interação em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. As respostas dos alunos deixam claro que os problemas existem, que conseguem detectar os mesmos, mas o foco central de todas as respostas é o lixo, com isso, poderíamos especular que estes conhecimentos já podem até estar na consciência dos alunos, mas que eles não os colocam em ação ? consciência + ação = conscientização, uma vez que relatam o lixo como o centro das atenções. Com relação aos problemas ambientais encontrados dentro e fora da escola, pediu-se que os mesmos exemplificassem de acordo com sua visão os problemas por eles detectados (Tabela 1). Tabela 1: Exemplos de problemas ambientais conhecidos pelos alunos dentro da escola Problemas citados Porcentagem Falta de agricultura (horta) 8,4% Falta de áreas verdes 16,6% Falta de lixeiras 25% Lixo 50% Total 100% Diante da Tabela 1 é importante que o aluno tenha conhecimento sobre os vários tipos de problemas ambientais que ocorrem no mundo. Entretanto devem ser valorizados principalmente os problemas locais, pois segundo Dias (2004), de nada adianta trabalhar com os alunos problemas como matança de baleias, destruição da Amazônia, se não considerar a realidade do ambiente local, pois é ali que se encontra a sua chance imediata de fazer valer os seus direitos, de lutar pela qualidade de vida, de avaliar decisões e de fazer a sua parte para assegurar um ambiente saudável para todos. Frisa-se ainda que, Layrargues (2005), expõe que a questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves problemas ambientais da atualidade, a ponto de ter-se tornado objeto de proposições técnicas para seu enfrentamento e alvo privilegiado de programas de educação ambiental. Por outro lado, a Tabela 2 expõe os problemas detectados pelos alunos nos arredores da escola, nos seus caminhos diários até o colégio. Esses resultados ressaltaram que os mesmos tem uma percepção de problemas ambientais, já que evidenciavam principalmente o problema do lixo e o de falta de áreas verdes. Tabela 2: Exemplos de problemas ambientais conhecidos pelos alunos fora da escola Problemas citados Porcentagem Esgoto 17,6% Falta de área verde 5,9% Lixo 41,2% Lixeiras 23,5% Poucos varredores de rua 11,8% Total 100% Verifica-se que o lixo foi citado novamente, presente em 41,2% das respostas, e a falta de lixeira com 23,5% seguido do esgoto com 17,7% das respostas. Guimarães (2000), destaca as seguintes diferenciações das duas correntes de EA (conservadora e crítica). Na sociedade há diferentes projetos educacionais que provocam diferentes visões de mundo e que delas decorrem. São entendidas como conservadoras aquelas visões de mundo comprometidas com o interesse em manter o modelo atual de sociedade; e como críticas, as propostas voltadas para as transformações de sociedade em direção à igualdade e à justiça social (GUIMARÃES, 2000). Portanto, de forma contrária à Educação Tradicional, a Educação Ambiental Crítica volta-se para uma ação reflexiva (teoria e prática ? práxis) de intervenção em uma realidade complexa; é coletiva; seu conteúdo está para além dos livros, está na realidade socioambiental derrubando os muros das escolas (GUIMARÃES, 2004). Essa visão crítica pose ser evidenciada no momento em que os alunos foram observados diante do objeto de estudo na saída a campo, pois os alunos receberam uma ficha com um quadro comparativo evidenciando os problemas ambientais e suas possíveis soluções, onde estes focaram os problemas do ambiente urbano. Quando se trata do urbano, a complexidade do que denomina problemas ambientais exige tratamento especial e transdisciplinar. As cidades não são apenas espaços onde se evidenciam problemas sociais, nelas também são encontramos os problemas ambientais. É importante ainda destacar que Boff (2003) apud Oenning e Cavinato (2009), fala que estudar o próprio meio é atividade fundamental para desenvolver a percepção ambiental aliada a atitudes de respeito ao meio em que se vive, ou seja, trabalha-se com a sensibilização e afetividade, já que as pessoas cuidam daquilo que amam e amam aquilo que conhecem. Considerando que Dias (2006), argumenta que inquietantes mudanças ambientais que anunciavam para 2050 já estão presentes, trazidas por profundas alterações climáticas, perda de solos férteis, desaparecimento das florestas e dos animais, surgimento de novas doenças, perda da qualidade de vida e uma profunda sensação de que o tempo encolheu. Estamos envolvidos de tal forma em nossas tarefas sempre urgentes, que não paramos para refletir sobre o suicídio coletivo que representa o atual estilo de vida, no qual está imersa a maior parte das pessoas. Aumentamos a produção, estimulamos o consumo, intensificamos a degradação ambiental e estamos sempre prontos a justificar mais os problemas ambientais, desde que criemos novos empregos para atender cada vez mais pessoas que nascem e começam a consumir, produzir resíduos e aumentar a pressão sobre os recursos naturais. Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida. Para Leff (2001) apud Jacobi (2003), a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. E Sorrentino (1998) apud Jacobi (1998), chama a atenção para a necessidade de se articularem ações de educação ambiental baseadas nos conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação de práticas interdisciplinares. Cabe sempre enfatizar a historicidade da concepção de natureza, o que possibilita a construção de uma visão mais abrangente (geralmente complexa, como é o caso das questões ambientais) e que abra possibilidades para uma ação em busca de alternativas e soluções (CARVALHO, 2001 apud JACOBI, 2003). Outro ponto observado foi que, quando os alunos estão no contato direto com os problemas ambientais eles apontaram para os mesmos, sem ter dúvida do que estão afirmando, evidenciando o conhecimento desses problemas, isso fica claro quando Boff (2003), fala que o ser humano precisa incorporar uma nova visão sobre o planeta, levando em conta que não é habitante exclusivo do mundo em que vive, e afirmou ainda que o homem só alcançará sustentabilidade quando entender a Terra como um prolongamento do próprio corpo. Por isso é que se faz necessário esclarecer a questão da complexidade da discussão sobre o que é Educação Ambiental e de que modo a mesma envolve diferentes formações, conhecimentos, representações sociais e visões de mundo e, também, vivências de diferentes grupos sociais. Diversos trabalhos no campo ambiental (REIGOTA, 1995; SATO, 1997, 2002; GUERRA, 2001) indicam essas contradições nas práticas de que as atividades de Educação Ambiental, na maioria das escolas, seguem uma "pedagogia tradicional" ou comportamental (GUIMARÃES, 2004), uma vez que são realizadas de modo pontual (datas ecológicas, palestras) e de forma fragmentada, com pequeno envolvimento comunitário. É nesse sentido que Konder (1992) apud Loureiro (2005), fala da importância que a práxis tem como atividade concreta pela qual o sujeito se afirma no mundo, modificando a realidade objetiva e sendo modificado, não de modo espontâneo, mecânico e repetitivo, mas reflexivo, pelo auto questionamento, remetendo a teoria à prática (Tabela 3). Tabela 3: Problemas encontrados pelos alunos e as possíveis soluções Problemas Possíveis soluções Porcentagem Boca de lodo entupidas Recolher toda a semana 9,6% Desperdício de água Conscientização dos moradores 1,9% Entulho de construção em terrenos Reaproveitamento, caçambas 9,6% Esgoto no córrego Destino certo para o esgoto (tratar) 7,7% Falta de lixeiras Doação da prefeitura 5,8% Lixo (PET, sacolas, papel, papelão, resto de comida etc.) Caçambas, conscientização dos moradores, reciclagem 19,3% Materiais de construção Guardar em local apropriado 7,7% Pichação Repreensão para não pichar 3,8% Poucas árvores nas ruas Plantio de árvores nas ruas 11,5% Queimadas Não queimar 7,7% Outros Reciclagem 15,4% Total 100% Quanto aos problemas encontrados dentro de casa, foram citados o lixo, a falta de áreas verdes e materiais não reciclados como: papel, papelão e garrafa PET. Leff (2001), fala que o ensino tradicional básico falha não tanto por ser disciplinar, mas por não impulsionar e orientar as capacidades cognitivas, inquisitivas e criativas do aluno, e por estar desvinculado dos problemas de seu contexto sócio-cultural e ambiental. Nestes níveis, a pedagogia ambiental deve fomentar um pensamento da complexidade que seja crítico, participativo e propositivo uma vez que os alunos só apontaram o lixo, reciclagem e poucas áreas verdes. Por outro lado, Rodrigues e Cavinatto (2003), definem como lixo domiciliar aquele originado nas residências que resulta de atividades cotidianas como: limpar a casa, cozinhar, ir ao banheiro, estudar, criar animais domésticos, usar medicamentos, entre outras atividades. Já sobre a falta de áreas verdes Branco (2003), afirma que o primeiro fator de modificação do clima é o desmatamento. As sombras das árvores refrescam o ambiente, mas não é só isso, a cor verde das folhas das árvores absorve, isto é, retira do ambiente uma enorme quantidade de radiações quentes produzidas pelo Sol. A clorofila desempenha, assim, uma função de filtro: recolhe as luzes de cor avermelhada, que são quentes, e deixa as de cor esverdeada, que são mais frias. Branco (2003), ainda explica que as plantas também são verdadeiras bombas de sucção, a extrair continuamente água do solo para devolvê-la ao ar. Essa devolução é feita por transpiração através das folhas, que é um processo de evaporação. Explica que em toda evaporação há consumo de calor e, portanto, resfriamento do ambiente. Quando perguntados como resolver os problemas ambientais, os estudantes demonstraram bastante franqueza e apresentaram como solução ações cotidianas: reciclar lixo, não cortar as árvores, plantar mais árvores. Falaram também em conscientização, tratamento de esgoto, controle no uso de agrotóxicos. "As soluções para esses problemas é plantar árvores, reciclagem de lixos como: garrafa, papel, papelão."A-01 "Aumentar a área verde, dar um destino correto ao lixo."A-11 "As soluções plantar árvores verdes, fazer varia reciclagem, como garrafas, papelão, papel e os destino corretos do lixo."A-03 Diante dessas soluções, Dias (2001) expõe que a educação ambiental é um processo que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. E Delevatti (2003) apud Rossi e Manzano (2005), alerta para o perigo eminente de destruição da biosfera pela utilização descontrolada e irracional da tecnologia avançada, causando graves, e talvez irreversíveis, conseqüências ao ecossistema. O autor ainda diz que o presente modelo de sociedade transforma o homem em "robô", capaz de consumir vorazmente, da eficiência produtiva, vinculado à produção em massa, fazendo-o abdicar de sua condição de cidadão, vindo a deteriorar, sem piedade, o meio ambiente para alcançar a sua meta fundamental (o lucro), limitando as condições básicas para a manutenção da nossa espécie no planeta. Diante desse contexto, cabe a cada cidadão dar sua parcela de colaboração, pois são as pequenas ações que resultam em grandes mudanças. Desta forma, acredita-se estar na educação o meio mais eficaz para amenizar a atual problemática ambiental. Assim, cabe aos educadores, enquanto colaboradores na formação de indivíduos, desenvolverem projetos que levem os educandos a compreenderem o seu meio vivido e o que fazer para amenizar os problemas ali evidenciados E quando questionados sobre atitudes de Educação Ambiental desenvolvidas dentro de suas casas, surgiram respostas como: "Separar os lixos em cestas de reciclagem como: papel, papelão, garrafas pets, de vidro, orgânico etc."A-03 "Separação das latas, uso de óleo já utilizado para fazer sabão."A-11 "Não jogando lixo no chão, economizando água etc."A-10 "Separar os lixos em sacolas diferentes como lixo: orgânico, papel, vidros."A-01 Isso evidencia que a conscientização já está inserida nas atitudes da família e no cotidiano dos alunos, seja ela devido ao fator econômico como o fato da economia da água ou utilizando óleo na fabricação de sabão. De acordo com Grippi (2006) o lixo é matéria prima fora do lugar, e ressalta que a reciclagem não pode ser vista como a principal solução para o problema do lixo. Ela deve ser uma atividade econômica inserida dentro de um conjunto de soluções ambientais. Por outro lado, a separação de materiais do lixo aumenta a oferta de materiais recicláveis. Faz-se necessário argumentar que aquele aluno que, por ter discutido estas questões na escola, souber propor na sua casa um processo de seleção do lixo que redundar na facilitação do trabalho dos catadores, não apenas para que estes consigam material mais limpo e organizado, mas para que corram menos riscos, quando manusearem os nossos rejeitos estará exercendo uma cidadania mais crítica (CHASSOT, 2006 apud HAMES; FRIZON; ARAÚJO, 2009). 4. Considerações finais Identificou-se que os alunos possuem domínios conceituais que favorecem para uma consciência em relação à Educação Ambiental e aos problemas urbanos, porém também observou-se que em algumas falas houve paradigmas que norteiam a visões limitadas sobre o meio ambiente. Conclui-se que o âmbito escolar é bastante propício para o trabalho da Educação Ambiental, principalmente nas turmas do ensino fundamental, pois nesse segmento do ensino os alunos estão em processo de mudança, de transformação, sendo necessário introduzir a questão ambiental cada vez mais cedo para sensibiliza-los e motivá-los na conservação ao meio ambiente e com isso, formando cidadãos mais conscientes. Nesta perspectiva, esses cidadãos passam a ter uma visão crítica e serão responsáveis pelo futuro, seja de sua rua, de seu bairro partindo para o Planeta Terra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAILÃO, C.A.G. 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