A MECÂNICA DO MOVIMENTO SOCIAL

 

A ciência Física que estuda o movimento é a Mecânica. Ela estuda o movimento e o agente que o faz iniciar ou cessar. A descrição do movimento fica por conta da cinemática. As causas do movimento, que definem as forças que iniciam ou cessam os movimentos dos corpos, depende da dinâmica. Os corpos parados ficam por conta da estática, que na realidade trata de um evento muito especial, pois está relacionado a referenciais específicos uma vez que a qualquer objeto e a qualquer tempo, pode se atribuir um movimento.

Ela também estuda quando um evento qualquer é conseqüência de um evento anterior, e a relação entre eles passa a ser definida como casualidade, ou seja, as maneiras como os eventos se relacionam ou surgem. A causa e efeito relacionados aos eventos, também podem estar ligados a situações, propriedades, variáveis, fatos ou estados de coisas.

 A entropia é uma grandeza que busca mensurar como matéria e a energia encontram-se armazenadas e distribuídas num sistema definido pelos respectivos limites. Mede o grau de irreversibilidade de um sistema, geralmente associada ao que se denomina por "desordem” de um sistema. A entalpia, outra grandeza física da termodinâmica, mede a totalidade de energia que de alguma forma está atrelada ao sistema - energia do sistema e a das relações que o sistema estabelece com a sua vizinhança.

 O movimento aleatório de partículas num fluido qualquer parecendo ter vontade própria resultante de choques entre si, denominado movimento browniano, é um estudo da física que explica uma grande diversidade de movimentos de partículas e que serve de modelo na descrição de flutuações que ocorrem nos mais diversos e inesperados tipos de sistemas.

 

Atualmente no cenário das manifestações e protestos procuram-se as razões dos movimentos que casualmente se repetem em função dos anteriores, e sem motivo aparente. Não se sabe ao certo a que eles estão referenciados, talvez ao estado das coisas.  È possível que a física tivesse meios para explicar os acontecimentos com que a sociedade em geral e especificamente os políticos se surpreendem.

 O estado das coisas não tem definição, mas pode ser sentido pela insatisfação de todos - de mamando a caducando, ou seja, reivindicando de creches a asilos. Alguns alienados pensam que o movimento custa R$ 0,20 centavos. De fato começa por aí e na verdade custa, R$ 3,20 de ida e volta, vezes os dias do mês, trabalhados ou não, multiplicado por cem e dividido pelo valor do salário de todos os usuários de transporte público, percentual esse a ser pago para a manutenção de contratos e licitações de empresas por período (15 anos) acima da legislatura de uma administração qualquer, de forma a serem compensadas pelos empréstimos pré-eleitorais realizados sob promessa de recebê-los por meio de uma planilha de custos bem planejada, a longo prazo. A esse valor deve ser acrescido o asfalto, o meio fio, a praça e os contratos de serviços terceirizados dos simpatizantes e colaboradores da manutenção da máquina administrativa, o dos estacionamentos privados beneficiados pelo poder público no ordenamento do transito, a remuneração de indicados por interveniência externa com custos acima dos concursados do serviço público.

 E assim vai...! Os impostos sonegados e desviados, cobrados indiscriminadamente e aplicados inadequadamente, os projetos administrativos dirigidos para determinadas práticas social e eticamente reprováveis, a não distribuição correta, adequada e republicana assim como o acesso democrático e equânime, dos bens e serviços sociais, são outros fatores a serem acrescidos aos centavos iniciais.

 Isto é apenas uma parte do despertar, é a saída da inércia! A razão precípua do movimento uma vez iniciado, é a indignação, que aumenta a temperatura quando submetida a uma pressão produzida pela própria razão. O reconhecimento de que quem não tem padrinho, morre pagão e que viverá ao Deus dará, não adiantando falar como bispo!

 Um professor que cuida das cabeças dos futuros da humanidade que deve vender alguma quinquilharia para sobreviver. Um policial que mora e deixa sua família a mercê de bandidos, sendo obrigado a fazer segurança em baile funk dominado. Um cobrador que busca produtividade e se julga detentor de um grande emprego ao incomodar um desempregado que deve a um banco juros e correções aviltantes. Um painel que mostra a receita absurdamente arrecadada, e outro com aquela e sonegada vergonhosamente, em contraposição à multa para quem não faz sua declaração ao fisco no dia aprazado.

 O movimento sem dono, políticos, representantes ou partidos, sabe por si só que o Brasil é rico. Sabe também, que o governo não tem dinheiro e, portanto o tesouro arrecadado representa o bem estar do povo, que por deferência especial designa em eleições, os gerentes das suas contas. A ordem natural nos diz que o patrão é o povo; os capatazes, os administradores públicos e os peões, as empreiteiras, embora elas tenham maquiavelicamente invertido o processo.

 A manifestação reflete a insatisfação com o status quo instalado na república das babanas e das Copas de há muito tempo e sempre com uma ajudinha externa. Esse movimento tem vida e vontade própria, sujeito indefinido, e se move pela ação da energia represada e das energias vizinhas. Sempre esteve fervilhando embora visto de referênciais específicos e dando a impressão de estático, mas sujeito inicialmente ao movimento interno das partículas e aos choques aleatórios. As causas são diversas e, portanto a entropia tende a aumentar.

 Muitos especialistas opinam, dão suas impressões, mas se esquecem que suas interpretações dependem dos seus “modus vivendi”, e que certamente não é aquele representativo do povo.

 A física não explica tudo, embora estude os sistemas complexos e dinâmicos e que apesar determinísticos, são instáveis e função das condições iniciais. Com a observação e a recorrência, a longo prazo, podem ser previsíveis. A isto ela chama de Teoria do Caos, quando alguns resultados são causados pela ação e interação de elementos aleatórios, e é utilizada para descrever e entender diversos fenômenos de movimentos e flutuações como o das nuvens, do crescimento populacional, das variações de mercado, inclusive o chamado efeito borboleta.

 Apesar de alguns formadores de opinião basear suas assertivas na aleatoriedade do movimento, e a não previsibilidade dos acontecimentos futuros, uma coisa é certa, o caos ainda não se instalou. O que existe é uma a crise de autoridade representativa, onde uns pensam que mandam apesar de não serem reconhecidos por quem realmente dá o tom do terreiro.

 De resto, a física estatística que lida padrões estocásticos (aleatórios) e cujas aplicações podem se estender à sociologia do comportamento humano, do meio, e dos processos que interligam os indivíduos em grupos, teria previsões a fazer sobre esses movimentos e, ou seja, explicar o que pode ocorrer quando um meio é submetido a uma pressão externa.