A AVALIAÇÃO EM DANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR

NOME: Magda Regina Schneider

ORIENTADORA: Andréa Bittencourt de Souza

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar os significados assumidos pela avaliação da Dança no contexto escolar, bem como, sua função pedagógica e contribuição para o processo de ensino – aprendizagem. Pretende-se refletir sobre o que avaliar, como avaliar e quando avaliar, para que essa etapa seja o momento de repensar a metodologia e os critérios avaliativos utilizados no ensino da dança escolar. Para dar sustentação a esta reflexão, utiliza-se autores renomados como Libâneo, Darido, Rangel Luckesi, Michel Foucault, Isabel Marques, Paulo Freire e Flávia Pilla do Valle. Desta forma chega-se à conclusão que avaliar é uma tarefa complexa que exige uma grande habilidade do professor para executá-la, e necessita de uma grande reflexão coletiva dos envolvidos no processo ensino aprendizagem, sobretudo na dança, em que as características individuais dos alunos devem ser levadas em consideração.

Palavras-chave: Avaliação escolar. Dança na escola. Ensino – aprendizagem.

  1. INTRODUÇÃO

A avaliação escolar tem sido objeto de muitos debates e analises. Idealiza-se a avaliação como uma pratica compreensiva, que funciona como estimuladora, a qual se reflete sobre o (processo de ensino aprendizagem) e verifica-se o que o aluno (aprendeu efetivamente). Mas na prática, muitas vezes a avaliação evidencia sua servidão à seleção, hierarquização e controle de conduta.

Sacristán (1999) nos mostra que avaliar se refere a qualquer processo por meio do qual alguma ou várias características de um aluno de um ambiente educativo, de objetivos, de materiais, professores, programas, etc. Recebem a atenção de quem avalia, analisam-se e valorizam-se suas características e condições em função de alguns critérios, ou pontos de referencia para emitir um julgamento que seja relevante para a educação.

Por essa razão, busca-se uma aprendizagem significativa, atrativa por si mesma, num clima de relações pedagógicas assentadas sobre confiança e comunicação e não autoritarismo. A avaliação torna-se mais humana, levando em conta a personalidade do aluno. Na dança, a avaliação é muito subjetiva, pois se deve considerar a as singularidades de cada sujeito. E, se faz necessário respeitar o tempo de aprendizado do aluno.

O presente artigo pretende refletir sobre o conceito e importância da avaliação escolar, sobretudo na área da dança, com a finalidade de alertar os professores dos possíveis equívocos que ocorrem dentro de sala de aula no momento da avaliação. Este tema é muito pertinente, pois atualmente a avaliação escolar é vista como uma ferramenta de punição e castigo para muitos alunos, e não como um modo de verificar o seu aprendizado. Entretanto, seu papel é redirecionar o caminho do processo de ensino, analisando os erros e possibilitando uma correção dos métodos até então utilizados pelo professor, a fim de, torná-los eficazes para alcançar os objetivos de ensino – aprendizagem.

Nas minhas práticas de estágio em dança no ensino formal, houve a necessidade de se pensar em avaliação. Então, surgiram alguns questionamentos que me fizeram refletir e investigar este tema. Afinal, qual é o papel da avaliação escolar? Medir o desempenho dos alunos e classificá-los ou servir como um feedback para auxiliar na construção de conhecimento do aluno e redirecionar a metodologia utilizada pelo professor. Porque existe avaliação? Para comparar os indivíduos ou fazê-los capazes de se superar. Como avaliar em dança? De maneira qualitativa ou quantitativa? Durante o período que permaneci em sala de aula, estas indagações nortearam o meu pensamento e todo o trabalho realizado na escola. E, com o decorrer do tempo e das experiências vividas com os alunos, vislumbro algumas respostas. Contudo, considero pertinente pesquisar e debater este tema, buscando referências de outros autores.

Além de discutir as problemáticas acima citadas, pretendo também aprofundar a temática da avaliação em dança, pois acredito que seja o mote principal de todas as indagações, que tive no período de docência e que muitos professores de dança no ensino formal, possam vir a tê-lo. Identificar quais são os métodos avaliativos em dança no contexto escolar e de que maneira estes contribuem para a alteração dos objetivos de ensino e dos procedimentos pedagógicos, utilizados pelo professor. Promovendo assim, uma educação em Dança de qualidade nas escolas de ensino formal.

Para discorrer sobre o tema do artigo, trago concentrações de diferentes autores, assim como o meu relato de experiências adquiridas durante a vivência nos estágios em escolas publicas, lecionando na disciplina de Artes. A abordagem desse trabalho constitui-se predominantemente bibliográfica.

Inicialmente, debate-se o conceito e a importância da avaliação, por que e como avaliar e por fim, discute-se sobre a avaliação na Dança.

  1. CONCEPÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO ESCOLAR

A avaliação é uma etapa do processo de ensino-aprendizagem que deve acontecer durante todas as etapas do ensino, onde cabe ao educador uma  reflexão sobre os valores que lhe penetram e que são muitas vezes compartilhados com outros docentes, escolas, livros e sistema social, e que de certa forma afetam o seu processo de avaliação.

Essa é a etapa na qual os professores podem verificar o nível de aprendizagem, o nível de desenvolvimento dos alunos e usar esses resultados para corrigir e direcionar o processo ensino aprendizagem. Conforme Libâneo (1994, p.196),

 [...] Podemos, então, definir a avaliação escolar como um componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, dai orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes.

Na realidade, muitos professores fazem uso da avaliação, cobrando conteúdos aprendidos de formas mecânicas, sem muito significado para o aluno. Muitas vezes, o professor utiliza métodos para repreender os alunos mais desinteressados, inquietos e desrespeitosos, gerando uma mudança no caminho da avaliação. Já Darido e Rangel (2011, p. 126) relatam que:

[...] A avaliação não deve ser um instrumento de pressão e castigo, mas mostrar-se útil para as partes envolvidas – professores, alunos e escola – contribuindo para o autoconhecimento e para a análise das etapas já vencidas, no sentido de alcançar objetivos previamente traçados. Para tanto, constitui-se em um processo contínuo de diagnóstico da situação, contando com a participação de professores, alunos e equipe pedagógica.

A reflexão desse tema é fundamental para todos os professores, pois de acordo com Freire (2009, p. 174) “[...] boa parte dos problemas que preocupam os professores nas escolas refere-se à questão da avaliação”. Como avaliar o aluno ao final de um processo de aprendizagem, isto é, como saber se o aluno aprendeu a respeito dos conteúdos apresentados?

A principal função da Avaliação é a possibilidade de alteração dos conteúdos ensinados, pois através dela verifica-se o nível em que se encontram os alunos. E assim tomar decisões do que será feito para ajudar os alunos a compreenderem o que se está ensinando, selecionar os procedimentos metodológicos adequados a cada turma e fazer as adaptações nos planos de aula e de curso.  (FREIRE).

Essa etapa do processo ensino-aprendizagem não é o momento de punição aos alunos, de castigá-los, mas sim de fazê-los enxergarem onde se pode melhorar e a partir daí construírem seu conhecimento, de observarem o estudo sobre outra ótica. A avaliação é, sem dúvidas, a etapa do processo de ensino que mais exige habilidade e competência do professor para executá-la, pois não se restringe apenas a aplicar exames e aprovar ou reprovar alunos. É o momento de verificar se o trabalho docente está conseguindo alcançar os objetivos que foram traçados (SACRISTÁN).

Ao traçar os objetivos a ser atingido pelo aluno, o professor tem a intenção de fazer a avaliação da aprendizagem dos alunos sobre estes. Mas é preciso esclarecê-los ao alunado, afinal o que se espera da turma? Todos conseguiram alcança-los com êxito ou não? Os resultados da avaliação serão comparados com os objetivos inicialmente escolhidos.

Não se pode falar de avaliação, sem mencionar a palavra critério. Necessitamos de parâmetros que apontarão se o conhecimento foi compreendido pelo aluno. Os critérios de avaliação apontam as expectativas de aprendizagem, considerando os objetivos para a disciplina, a organização lógica e interna dos conteúdos, as particularidades de cada momento da escolaridade e as possibilidades de aprendizagem decorrentes de cada etapa do desenvolvimento cognitivo, afetivo e social em uma determinada situação, na qual os alunos tenham boas condições de desenvolvimento do ponto de vista pessoal e social, além de as experiências educativas que os alunos devem ter acesso e são consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e socialização. (DARIDO)

Precisamos lembrar que a avaliação não é uma prática neutra, pois ela busca controlar a aprendizagem do aluno, ao mesmo tempo em que é um processo continuo, isto é, que está sempre em desenvolvimento. Ao avaliar, verifica-se o que o aluno aprendeu, se o mesmo progrediu em relação aos conteúdos e valores que já possuía. Procura-se alcançar o sucesso do educando.

A avaliação é um mecanismo de controle, que permite avaliar o planejamento e objetivos, o desempenho do aluno, do professor, a metodologia, os recursos didáticos, o sistema escolar, a comunidade e os currículos e programas.

  1. A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO ESCOLAR

Conforme Darido e Rangel (2011, p.150) a avaliação se torna importante, pois

[...] Para o professor ter feedback do processo em andamento, para os alunos terem uma ideia mais precisa do estágio atual de seu processo de ensino aprendizagem, para ambos poderem discutir e criticar o processo global afim de aperfeiçoá-lo.

O que se percebe atualmente é que a avaliação escolar se restringe apenas medir o desempenho dos alunos através de uma avaliação formal, chamada de “prova”. Darido e Rangel (2011, p. 122) afirmam que em uma perspectiva mais tradicional de ensino, a avaliação tem uma função bastante seletiva, pois consiste em separar os que têm condições de superar os obstáculos da nota e do vestibular daqueles que não chegam lá.

Essa visão de avaliação por ser mais fácil é comumente a mais utilizada, mas não reflete o real conhecimento que o aluno adquiriu, ele pode conseguir uma nota máxima utilizando-se de meios fraudulentos e não adquirindo os conhecimentos necessários e outro aluno conseguir uma nota muito inferior ao seu conhecimento por estar no dia do exame doente, com problemas em casa ou por nervosismo, mas conseguir assimilar o conteúdo.

Como relata Freire (2009, p. 174) de maneira alguma posso admitir que essa forma de avaliar é suficiente, não basta medir para avaliar, pois isso não leva em conta os meios que o aluno utiliza para chegar aos resultados, meios esses que são os elementos mais indicativos do progresso de seu conhecimento.

Atribuir nota é sem dúvidas uma das coisas mais difíceis do processo de avaliação, pois avaliar é verificar a aprendizagem, e transformá-la em número é uma tarefa muito complexa e muito mais complexa que o próprio processo de avaliação, é transformar esse processo em matemática. Para tanto, Luckesi (1998, p.245) relata que:

[...] No caso dos resultados da aprendizagem, os professores utilizam como padrão de medida o "acerto” de questão. E a medida dá-se com a contagem dos acertos do educando sobre um conteúdo, dentro de certo limite de possibilidades, equivalente à quantidade de questões que possui o teste, prova ou trabalho dissertativo. Num teste com dez questões, por exemplo, o padrão de medida é o acerto, e a extensão máxima possível de acertos é dez. Em dez acertos possíveis, um aluno pode chegar ao limite máximo dos dez ou a quantidades menores.

Um aspecto muito importante para a prática avaliativa é o “erro”, que muitas vezes é associado ao fracasso do aluno, só levando em consideração o acerto. “Tradicionalmente, erro é tudo aquilo que afasta, perturba, nega, transgride, aquilo que se opõe ao que é dado como verdadeiro em um determinado sistema.” (VERISSÍMO E ANDRADE, 2001, p. 74) O erro pode ser ferramenta indispensável na aprendizagem se usado de forma construtiva, como diz Silva (2008, p. 102):

[...] Logo, a virtude do erro, na visão psicopedagógica, está na possibilidade de constituir se em fonte de crescimento, para alunos e professores, uma vez que permite o reconhecimento de sua origem e dos procedimentos e mecanismos que o produziram. Desde que conscientemente elaborado, o erro torna possível a oportunidade de revisão e avanço.

Tudo depende de como se vê os fatos, se observarmos o erro sob a ótica do fracasso, do incorreto ou da falha nunca poderemos contribuir para o sucesso e desenvolvimento dos alunos, mas se enxergarmos o erro como uma maneira de ajustar o que precisa ser melhorado, de maneira construtiva estaremos dando um grande passo para avaliarmos os alunos de maneira coerente e contribuindo para o seu sucesso escolar.

  1. POR QUE AVALIAR E COMO AVALIAR?

Sem a avaliação o professor não sabe se o processo de aprendizagem está sendo efetivado, não se sabe até que ponto o aluno está se desenvolvendo, é uma forma de verificar e acompanhar o aprendizado. Para Darido e Rangel (2011, p.127) “[...] A avaliação pode e deve oferecer ao professor elementos para uma reflexão contínua sobre a sua pratica, no que se refere à escolha de competências, objetivos, conteúdos e estratégias”. Ela auxilia na compreensão de quais aspectos devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual e de todo o grupo de alunos.

Do ponto de vista do estudante, a avaliação é instrumento de tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades. Dessa forma, o ato de avaliar cria a possibilidade constante de reflexão sobre o projeto pedagógico, suas metas, suas possibilidades e a localização de cada aluno, suas aprendizagens e necessidades em relação às metas estabelecidas. Já para o aluno a avaliação tem função de torná-lo ator e autor de sua aprendizagem. Nessa mesma linha de pensamento Libâneo (1994, p.201) comenta que:

[...] Todas as atividades avaliativas concorrem para o desenvolvimento intelectual, social e moral dos alunos, e visam diagnosticar como a escola e o professor estão contribuindo para isso [...] A avaliação deve ajudar todas as crianças a crescerem: os ativos e os apáticos, os espertos e os lentos, os interessados e os desinteressados. Os alunos não são iguais, nem no nível socioeconômico nem nas características individuais.

A avaliação deve ocorrer no início do processo de aprendizagem (avaliação diagnóstica), ao longo desse processo (formativa ou processual) e ao final (Somativa), e para isso vários instrumentos de avaliação devem ser usados, como: Observação dos alunos no dia-a-dia, avaliação formal escrita, seminários, pesquisas, redações, atividades práticas, participação nas aulas, etc. Como aponta Darido e Rangel (2011, p. 127): [...] Os alunos podem ser avaliados em termos de instrumentos como o uso de registros sistemáticos em fichários cumulativos, reservando um período em algumas aulas para que o grupo de alunos analise seu próprio desempenho, no processo importantíssimo intitulado auto avaliação, assim como o da equipe pedagógica.

Avaliar de forma muito positiva alunos que participam muito da aula, falam mais e avaliar de forma muito negativa alunos que participam menos da aula é um equívoco como considera Darido e Rangel (2011, p.27): “Para alunos com dificuldades em alguma forma de expressão não sejam prejudicados pelo tipo de avaliação, é muito importante que as formas de verificação do conhecimento sejam as mais diversificadas possível”.

A avaliação é permanente, ou seja, atuante em todas as etapas do ensino. É necessário detectar o nível de conhecimento dos alunos, assim como conhecer suas condições pessoais.

O aluno deve ser avaliado pelo o que faz ou cria em sala de aula. Para isso, o professor precisa desenvolver critérios e princípios de avaliação. Para as Artes, envolver o aluno com provas teóricas e praticas, em seminários, relatos de aula, debates e participação em aula, são alguns exemplos. Avaliar não é um processo simples, pelo contrario do que se pensa é um tanto complexo. Deve-se considerar o crescimento individual de cada aluno e quais as habilidades necessárias para a competência desejada. Existem métodos para avaliar o sujeito, cabe ao professor encontrar o que melhor se encaixa com a realidade da turma.

Na avaliação em dança escolar, podemos utilizar vários instrumentos avaliativos: provas teóricas, provas praticas, relatos de aula (diários de bordo), debates sobre temas pertinentes a dança e o cotidiano dos alunos, seminários, auto avaliação, questionário e entrevistas com os discentes.

Devemos acompanhar o desenvolvimento do aluno pela avaliação, através de diversos instrumentos avaliativos, para que tenhamos uma base maior, se o aluno está ou não desenvolvendo suas habilidades. Precisa-se pensar em como avaliar, quais instrumentos há de se utilizar para isto? Provas, seminários, relatos? Quais deles servem para analisar o desenvolvimento do aluno e facilitar a compreensão dos conteúdos.

  1. AVALIAÇÃO EM DANÇA

Neste tópico abordarei a importância da avaliação escolar em dança, bem como, sua função pedagógica no processo de ensino – aprendizagem, fazendo uma reflexão sobre as escolhas metodológicas feitas pelo professor e que interferem na construção de conhecimento do aluno. A avaliação escolar em si, nos mostra se os objetivos foram atingidos pelos métodos de ensino escolhidos pelo docente, buscando alcançar o sucesso e avanço do alunado. Para refletir sobre os caminhos da avaliação, sobretudo em dança, farei uma síntese das minhas experiências com a dança dentro do universo escolar, relatando-as, a fim de, compartilhá-las com os demais professores da área da dança e das artes em geral.

5.1.         Síntese da experiência das práticas de Estágio em Dança

Durante o período de vivência na escola, realizando os estágios surgiu à necessidade de se pensar na prática avaliativa. O principal dilema era compreender como avaliar o aluno, considerando as suas características individuais. E para tirar essas dúvidas, precisei ir a campo. Era imprescindível que eu fizesse uma coleta de dados para solucionar este problema, que me instigava.

 A sondagem é primeiro passo do estágio e da prática docente, é nesse momento que o professor terá a oportunidade de conhecer e se aproximar da realidade dos alunos. Este procedimento faz parte da avaliação diagnóstica, que nos permite obter conhecimento sobre o local de trabalho (a escola) e a população (pais, alunos, corpo docente e gestão escolar) para que se faça um trabalho harmonioso, que gere bons resultados. É preciso compreender que a avaliação ultrapassa as paredes da sala de aula e que tudo que interfere na vida do aluno, automaticamente vai refletir no seu aprendizado.  Portanto, é preciso conhecer o cotidiano do seu aluno, identificar suas dificuldades, seus dilemas e suas aptidões.

A sondagem diagnóstica é a etapa do processo, que faz o docente estabelecer os objetivos de aprendizagem, deixando claro o que ele espera do discente. Porém, considero importante salientar que a sondagem por si só não basta. É durante a prática escolar, isto é, do estar dentro de sala de aula que se conhece o aluno. Contudo, é fundamental que se constitua este conhecimento prévio, afinal de contas, é através dele que se institui a metodologia de ensino- aprendizagem.

Em todas as praticas de estagio precisei realizar a sondagem diagnostica, que possibilitou a aproximação com a turma, onde tive a oportunidade de conhecê-los melhor, para assim decidir o que seria feito. Procurei por uma ferramenta que pudesse me auxiliar, e resolvi que faria um questionário com os alunos. Este, por sua vez, esclareceu algumas dúvidas relacionadas aos meus dilemas sobre o que e como fazer, para introduzir a dança na disciplina de artes. Lembro-me que nos dois últimos estágios que realizei, procurei fazer perguntas bem diretas e pertinentes a pratica de dança, o que auxiliou nas minhas escolhas metodológicas.

No que se refere à dança é fundamental que se verifique, se o aluno possui alguma experiência com a mesma, se já praticou alguma técnica de dança e tempo de duração desta pratica. Em casos de indivíduos que não tenham experiência alguma em dança, é importante analisar as suas habilidades predominantes. Pois, o individuo pode não ter em sua bagagem corporal a pratica da dança, mas isto não o torna incapaz de adquirir novos conhecimentos. Considero como competência do educador, respeitar as individualidades e o tempo de aprendizagem de cada aluno e, sobretudo, suas experiências corporais e de vida.

Para avaliar é necessário conhecer o sujeito, o que pensa e o que sente, como vive e como são as suas relações no dia a dia. Estes fatores interferem no aprendizado e, por consequência na avaliação. Acredito que é o dever do professor, pesquisar sobre cada discente, procurar saber mais sobre a sua realidade. Não se pode trabalhar de maneira “esquizofrênica”, as atividades precisam produzir sentidos para quem as elabora e para quem as executa.

Ao entrar em uma sala de aula, o professor de dança já tem a ideia de montar uma coreografia, ou em algumas ocasiões é pressionado a cria-la, pela direção da escola ou pelos próprios alunos, isto pode fazer com que o docente não consiga planejar as aulas e acabe ficando sem objetivos. Por alguns momentos, principalmente quando iniciei a minha prática docente em dança, precisei repensar os meus objetivos e esclarecer para que e como seriam realizadas as aulas de dança.  

Isabel Marques retrata em seu texto Metodologia para o ensino da dança: luxo ou necessidade, algumas questões pontuais sobre a dança no contexto escolar, sobretudo o que se refere à didática do professor de dança e as escolhas metodológicas feitas por ele, durante a prática de ensino. Estas escolhas interferem no processo avaliativo.

Segundo Marques (2003) confundimos a metodologia de ensino de um professor, com seu estilo de ensinar. Mesmo que haja uma afinidade entre a escolha metodológica do professor com seu estilo de ensino, uma coisa não determina a outra. A autora ainda nos coloca que o professor mais exigente e rígido, pode ser tomado como tradicional, quando na verdade esse é o seu estilo de ensino e não a sua metodologia.

Uma metodologia de ensino é primordialmente definida pelas crenças, pelos conceitos, pelos pontos de vista e ideias do professor (MARQUES, 2003). Ou seja, é o que determina as escolhas conscientes ou não do professor, é o seu estar no mundo, que reflete o seu pensar e agir em sociedade. Para se pensar no ensino da dança na escola, o professor precisa definir os conceitos de corpo, dança e educação.  O modo como o docente pensa reflete na sua prática de ensino, nas suas escolhas metodológicas e, sobretudo na avaliação.

Isabel Marques propõe uma metodologia de ensino para o ensino da dança que indique e construa caminhos de forma que os professores possam trabalhar com os conteúdos específicos da dança, em consonância com conceitos de corpo, dança, educação, professor-aluno, relevantes para o cidadão contemporâneo. Para o sujeito que vive, dialogam e têm possibilidades de (re) construir o mundo atual.  O professor de dança assume a responsabilidade de transmitir o conhecimento ao aluno, para isso necessita ter didática para desenvolver suas aulas, de modo a atingir os objetivos inicialmente traçados. Nesse aspecto, a avaliação nos mostra se os métodos utilizados pelo professor foram eficazes, alcançando os tais objetivos.

Outro fator importante na avaliação escolar, principalmente na dança, é deixar bem claro aos discentes o que se espera deles, bem como, o que será avaliado. Sempre que inicio as aulas de dança na escola, procuro dialogar com as turmas sobre o que vamos trabalhar naquele período, os objetivos de ensino-aprendizagem e os procedimentos avaliativos. Procuro esclarecer aos alunos, o que será avaliado e como será avaliado. Considero fundamental este dialogo entre professor-aluno, para que não permaneçam duvidas sobre a avaliação em si. Pois na maioria das vezes, o aluno não compreende porque tirou determinada nota, por essa razão, esse esclarecimento é necessário.

Sabemos que a avaliação é um feedback, ou seja, uma resposta do aluno para o professor, que por sua vez, obtendo a resposta do discente poderá intervir, modificando a sua metodologia de ensino. Dessa maneira, surge a metodologia problematizadora, onde o principio filosófico que a norteia é a inexistência de verdades absolutas, de normas e regras estabelecidas para sempre. Não existe, portanto, consenso universal daquilo que é bom ou ruim na dança, na educação, na sociedade (MARQUES, 2003).

Tomamos como exemplo, as aulas de improvisação, onde problematizar significa tentar diferentes formas a mesma proposta. Podemos, por exemplo, mudar a música, o figurino, as dinâmicas de movimento e perceber, questionar a imensa gama de possibilidades presente na arte. Nas aulas de dança, procuro inserir músicas de interesse dos alunos, as que eles se identificam e gostam, mas também levo outras que eles desconheçam, para despertar o interesse pelo novo. Esta atitude faz com que o aluno interaja mais e se torne participativo nas aulas.

No parágrafo acima, discutimos sobre as diversas possibilidades de se trabalhar a improvisação, dando ênfase às escolhas das musicas usadas nas aulas de dança. Cada professor tem suas estratégias de ensino, fazendo com que seus objetivos com relação a aprendizagem sejam alcançados. Para desenvolver as minhas aulas, utilizo várias estratégias de ensino da dança, por exemplo, pesquisa histórica, observação de apresentação dos próprios colegas, os recursos disponíveis (TV, DVD, Datashow.), memorização de sequencias, praticas corporais de improvisação (a partir de diversas ideias. Ex.: imagens, poemas, músicas,...) ou relacionadas ao cotidiano do aluno e tarefas de realização individual ou coletiva. Usufruir de vários métodos de ensino possibilita ao professor avaliar o aluno de maneira mais ampla, e ao aluno desenvolver suas aptidões de inúmeras formas.

Sacristán (2000, pg.299) salienta ainda que se busca uma aprendizagem significativa, atrativa por si mesma, num clima de relações pedagógicas assentadas sobre confiança e comunicação e não autoritarismo. A avaliação torna-se mais humana, levando em consideração a personalidade do aluno.

Sabe-se que muitos são os empecilhos para implementar alguns ideais de avaliação, como os que Sacristán nos propõe. Valle (2005) coloca o número de alunos por classe, divergência entre os próprios, pouco tempo de contato entre professor e aluno, pouca carga horaria destinada a troca de informações entre os próprios professores envolvidos, diferente visão dos próprios docentes, pais, alunos e demais envolvidos, necessidade de expressar os resultados num modelo quantitativo universalmente aceito, como empecilhos para uma boa avaliação em dança.

Considerando os estágios que realizamos nas escolas de ensino formal, muitos fatores interferem negativamente no processo avaliativo. Primeiramente, o tempo em que permanecemos dentro do ambiente escolar é pouco, portanto não se conhece o aluno e nem se estabelece um vinculo com ele. Outro fator relevante é a desvalorização da disciplina de artes na escola. Se tratando da dança, ainda se tem a visão de que ela serve apenas para descontrair o aluno, ou seja, faze-lo relaxar. Já que, as outras disciplinas exigem demais dele. Este ponto de vista torna ainda mais complexa a avaliação em dança no contexto escolar. Pois na maioria das vezes, vemos a própria coordenação pedagógica desmerecendo a disciplina, utilizando a sua carga horaria para campeonatos e eventos da escola. Esta atitude negativa interfere no processo de ensino-aprendizagem, consequentemente no crescimento do aluno e na avaliação a ser realizada pelo docente.

5.2.           Então, como avaliar o aluno de dança no contexto escolar?

Esta pergunta instiga a todos os professores de dança. Então, como avaliar o aluno de dança no contexto escolar? Eis, a questão.

Durante a minha vivência na escola como professora de artes, precisei avaliar os discentes. Procurei por instrumentos avaliativos que pudessem colaborar no processo avaliativo e que favorecessem o alunado, considerando suas necessidades individuais, como o período de aprendizagem e absorção dos conteúdos de dança.

Coloco em pauta, as turmas as quais trabalhei nos estágios III e IV, 7º e 8º séries do ensino fundamental do ensino regular e as totalidades 4 e 5 da EJA (Educação de Jovens e Adultos), respectivamente. Nas duas ocasiões necessitei de dois planos de avaliação, pois o modo de avaliar se difere entre os sistemas de ensino (regular e EJA).

Em ambos os estágios utilizou-se de diversos instrumentos de avaliação, tornando-a dinâmica. Entretanto, a maneira de avaliar os alunos foi diferente, devido o sistema de ensino regular, que nos pede uma avaliação somativa, onde o professor dá uma nota ao seu aluno. Podemos afirmar que esta é a maneira tradicional de se fazer avaliação.

Na avaliação com as turmas de ensino fundamental, precisei estabelecer o que seria avaliado, como a participação (bom comportamento, responsabilidade, assiduidade, pontualidade e realização das atividades) do aluno nas aulas de dança. A realização das tarefas práticas, o seminário sobre o tema escolhido pela turma e uma prova teórica sobre os assuntos que foram abordados em aula, foram alguns dos critérios avaliativos. Após a decisão das escolhas avaliativas, precisei determinar o quanto valeria cada um destes quesitos. Ao fechar as notas, pude observar se os objetivos foram ou não atingidos pelos alunos, e o que não ficou muito claro para eles, para desta maneira modificar a metodologia de ensino e estabelecer novos objetivos a serem alcançados pelos discentes.

Com as turmas 4c e 5d a avaliação seguiu outros caminhos, até porque, a avaliação da EJA é qualitativa, isto é, não requer que o educador avalie o aluno, dando-lhe uma nota. Trata-se de uma avaliação mais complexa, mais trabalhosa, porém mais eficiente, porque se pode acompanhar o processo de ensino-aprendizagem minuciosamente. Nesta avaliação, o professor tem a oportunidade de identificar as dificuldades dos alunos e trabalhar em cima deles. Este tipo avaliativo na dança requer do professor muito estudo, domínio de conteúdo, análise profunda de sua prática de ensino, identificação dos conhecimentos que o aluno já possuía e o que foi aprendendo durante as aulas, sobretudo o que se espera do discente.

Na avaliação da EJA analisei a participação e interesse dos alunos nas aulas de dança, a compreensão dos conteúdos teóricos e práticos da disciplina, a entrega das atividades de EAD na data estipulada, bom comportamento entre colegas e professores, responsabilidade com os materiais didáticos.

Durante o processo de ensino-aprendizagem realizei anotações, referentes aos tópicos avaliativos, para verificar como e quanto o aluno estava desenvolvendo-se.  No final do estágio reuni os trabalhos dos educandos e avaliei-os separadamente. Utilizei também os meus relatos de aula, os quais serviram para recapitular as atividades já realizadas e a auto avaliação com as turmas. Nesta auto avaliação, os alunos puderam repensar todo o processo de aprendizagem, pelo qual passaram. O que deu certo e o que não deu. O que foi bom e o que poderia melhorar. Neste momento, puderam não apenas fazer uma avaliação de si mesmos, mas da metodologia e didática do professor.

Pelos diversos momentos, pelos quais passei durante as minhas práticas de estágio em dança nas escolas de ensino formal, sobretudo no que diz respeito a avaliação escolar, sempre considerei  as características individuais dos meus alunos, procurando acompanhar o desenvolvimento deles nas aulas de dança. 

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chega-se a conclusão que avaliar é uma tarefa muito complexa que exige muita habilidade do professor para executá-la, que exige uma profunda reflexão crítica e coletiva dos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem: alunos, professores e escola. O erro deve ser usado de forma a possibilitar a construção do conhecimento e não de forma a punir o aluno. Assim sendo, o erro deve servir de estimulo para o acerto.

A auto avaliação é outro aspecto que deve ser encorajado, pois é ferramenta extremamente importante e valiosa para o crescimento. A avaliação deve ser feita no começo de um processo de ensino-aprendizagem, no decorrer e ao final desse processo, afirma-se ainda que os professores não devem cair no equívoco de usar apenas uma avaliação formal pois ela certamente não refletirá o real desenvolvimento dos alunos.

Para a Dança escolar ela se torna ainda mais difícil de ser realizada e mensurada, é preciso verificar se os alunos estão aprendendo, para isso deve ser avaliado três dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal para promover a desejada superação das dificuldades e o desenvolvimento de cada aluno e para o crescimento de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

 

 

 

 

 

 

 

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DARIDO, Suraya Cristina, RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação Física na Escola: Implicações para uma Prática Pedagógica. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Koogan, 2011.

FREIRE, Jõao Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física. – 5.ed. – São Paulo: Scipione, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. – 28ª Ed. - São Paulo: Cortez, 1994. -(Coleção Magistério: série formação do professor)

LUCKESI, Cipriano Carlos. Verificação ou Avaliação: O que Pratica a Escola? Série Idéias n. 8, São Paulo: FDE, 1998.

SILVA, Eleonora Maria Diniz. A virtude do Erro: uma Visão Construtiva da Avaliação. – Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008

VERISSIMO, Danilo Saretta; ANDRADE, Antônio dos Santos. Estudo das representações sociais de professores de 1ª. a 4ª. série do ensino fundamental sobre a motivação dos alunos e o papel do erro na aprendizagem. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. vol.11, n.21, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MARQUES, Isabel. Lições de dança. Rio de Janeiro: Univercidade Editora, 2003.

VALLE, Flávia Pilla. Recreações e diversões- dança. 2. Educação Física. Caderno Universitário II. Canoas: Editora Ulbra, 2005.

GIMENO SACRISTÁN, José. O aluno como invenção. Porto Alegre: Artmed, 2005.