Felipe Pereira Gonçalves

Resumo

Este estudo apresenta uma análise dos diversos problemas educacionais e do real papel da educação, ambos alvos de constante e ampla discussão na sociedade pós-moderna. Para compreender melhor esta discussão, se faz necessário buscar mecanismos, por meio de um esforço coletivo, que viabilize a construção de uma escola pública que eduque de fato para o exercício pleno da cidadania e seja instrumento real de transformação social. A problemática deste estudo em questão, consistiu em apresentar a viabilidade da construção de um Projeto Político-Pedagógico (PPP) elaborado com a participação de todos os atores envolvidos na comunidade escolar de uma Instituição de Educação Técnica, destacando-se o papel social da escola e a melhor forma de organização do trabalho pedagógico. O objetivo principal foi à proposição da elaboração de métodos para implementar um sistema de ações estratégicas planejadas para desenvolver um PPP com a participação de todos os segmentos escolares do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), diretores, docentes, técnicos administrativos, alunos e pais de alunos, a partir de uma pesquisa de campo realizada na própria instituição. O estudo foi realizado por meio de observação social, pesquisa-ação e uma revisão bibliográfica quali-quantitativa aliada a uma pesquisa de campo, no IFES de Vitória/ES. Os resultados mostraram a necessidade de implantação de um PPP com a participação de todos os segmentos do IFES em questão. Conclui-se que existe viabilidade para implantação do PPP com a participação de todos os atores envolvidos na comunidade escolar.

 

INTRODUÇÃO 

Todo PPP dever ser entendido como uma organização global de todas as ações de uma instituição educativa, compreendendo direcionamento, pedagógicas, administrativo e financeiro. Trata-se de um utensílio que busca a promoção da meditação crítica e constante a respeito das práticas das formas, dos valores, da imagem institucional e da cultura organizacional. Sabe-se, que a democracia, como meio para a construção da liberdade em sua dimensão histórica, faz parte dessa herança cultural, tendo em vista, que a democracia é entendida como processo vivo que perpassa toda a vida dos indivíduos, laborando na confluência entre o ser humano singular e sua necessária pluralidade social, ela se mostra imprescindível tanto para o desenvolvimento pessoal e formação da personalidade individual, quanto para a convivência entre grupos e pessoas e a solução dos problemas sociais, colocando-se, portanto, como componente incontestável de uma Educação de qualidade. 

Sendo assim, o processo de participação de todos na elaboração do PPP é uma forma de democracia, pois ao ser construído de forma participativa, o PPP pode possibilitar o resgate humano, científico e libertador do planejamento. E, nesta perspectiva emancipatória, o PPP tem por finalidade promover mudanças nas visões e nas práticas cotidianas, desenhando diretrizes reverenciadoras da caminha educativa. 

A caminhada pelo mundo da Educação formadora para o trabalho compreende as transformações ocorridas nas últimas décadas e, ao mesmo tempo, nos levar a refletir sobre o papel da Educação neste cenário, tendo como objetivo elaborar uma proposta de PPP que inclua Educação problematizadora para a Educação técnica que, com base nos ensinamentos de Freire (1987), proporcionarem ao trabalhador não somente competência tecnológica, mas uma formação que alie criticidade, ética e sensibilidade aos processos sociais, o seja, uma Educação que proporcione uma preparação para o enfrentamento de crescente complexidade e permanente mudança. 

Nesse contexto, surge o questionamento junto aos educadores e demais agentes escolares: qual a viabilidade da construção de um PPP elaborado com a participação de todos os atores envolvidos na comunidade escolar de um Instituto de Educação Técnica, - IFES, Vitória/ES -, destacando-se o papel social da escola e a melhor forma de organização do trabalho pedagógico?

O presente trabalho de pesquisa tem por objetivo principal propor a elaboração de métodos para implementar um sistema de ações estratégicas planejadas para desenvolver um PPP com a participação de todos os segmentos escolares do IFES, diretores, docentes, técnicos administrativos, alunos e pais de alunos, a partir de uma pesquisa de campo realizada na própria instituição. Para melhor atender ao objetivo do estudo, especificamente, propõe-se: elucidação breve da trajetória da instituição de ensino profissionalizante à luz das políticas públicas; investigação da participação dos atores dos seguimentos escolares na discussão e elaboração do PPP e a proposição e elaboração de uma proposta de PPP que inclua Educação problematizadora para a Educação técnica que, com base nos ensinamentos do autor Paulo Freire. 

O estudo se justificativa na medida em que a participação de todos na elaboração de um PPP é uma ação humana transformadora, resultado de um planejamento dialógico, resistência e alternativa ao projeto de escola e de sociedade burocrático, centralizado e descendente. É movimento de ação-reflexão-ação, o qual enfatiza o grau de influência que as decisões tomadas na escola exercem nos demais níveis educacionais. Esta, ao iniciar a construção do seu projeto, inicia um processo de formação continuada da comunidade escolar, demanda que vai surgindo de forma mais evidente dada às características, desse trabalho que, por esse motivo, é, em si mesmo, político-pedagógico e formativo. 

Aprende-se fazendo e, ao se fazer; aprende-se a (re) aprender. O conjunto dessas (re) aprendizagens, reflexões, ações e relações, somadas ao trabalho pedagógico, administrativo, financeiro e comunitário da escola, tudo registrado como resultado da leitura do mundo deve ser traduzido na forma de princípios, diretrizes e propostas de ação. E isso possibilita estruturar o PPP da escola, bem como organizar ou reorganizar o seu currículo. 

O trabalho está estruturado da seguinte forma: a seção 2 descreve os dados e a análise dos resultados alcançados pelo estudo e na seção 3 encontram-se as considerações finais do estudo, com as principais conclusões, limitações e sugestões de pesquisas futuras.

PERCURSO METODOLÓGICO

O estudo foi realizado no IFES instituição de educação destinada à formação de profissionais aptos a exercerem atividades específicas no trabalho, com escolaridade correspondente aos níveis médio, superior e de pós-graduação, a especialização, o aperfeiçoamento e a atualização do trabalhador em seus conhecimentos tecnológicos, a qualificação, a reprofissionalização e a atualização de jovens e adultos trabalhadores, com qualquer nível de escolaridade, visando a sua inserção e melhor desempenho no exercício do trabalho (BRASIL, 1997).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo foi realizado entre janeiro de 2006 a julho 2008, com 270 entrevistados de todos os segmentos escolares do IFES, diretores, docentes, técnicos administrativos, alunos e pais de alunos. A análise do gênero demonstrou a predominância do sexo masculino, 57%. Analisando a faixa etária dos participantes da pesquisa da diretoria executiva, observou que a faixa de 41 a 50 anos apresenta a maior concentração dos entrevistados; dos docentes, a maior parte dos entrevistados estão na faixa etária dos 51 a 60 anos de idade; os técnicos administrativos a maior incidência foi observada entre 41 e 50 anos de idade; os alunos, na sua maioria absoluta estão na faixa etária de menos de 30 anos de idade. Neste estudo, a maior parte dos entrevistados (diretores, docentes e técnicos) alegaram ter mais de 10 anos de serviço e menos de 26 anos de serviços. A instrução da população pesquisada, desdobrou-se em: 10% informaram ter doutorado, 24% informaram ter mestrado, 37% fizeram especialização, 17% finalizaram a graduação e 12% alegam ter ensino médio. Dos alunos entrevistados 62% cursam outros cursos oferecidos pelo IFES, entretanto, não os especificaram; 14% cursaram os cursos de Mecânica e Metalurgia e 10% o curso de Eletrotécnica. E, 50% destes alunos estão cursando o quarto semestre do curso. 

No que diz respeito à autonomia, 43% da população da diretoria afirmam ter total autonomia para execução de suas tarefas e 57% disseram que esta autonomia é parcial. Quanto aos docentes entrevistados, 43% acham que a diretoria executiva tem total autonomia, enquanto 57% deles concordam que a autonomia dos diretores executivos é parcial. Quanto aos técnicos administrativos, 36% consideram total a autonomia dos diretores executivos e 62% responderam que é apenas parcial. No segmento dos alunos, 36% responderam que a diretoria executiva tem total autonomia em seus trabalhos e 76% concordam ser parcial a autonomia da diretoria. Vasconcelos (2002, p. 71) diz que “[...] é necessário analisar cuidadosamente a questão da autonomia das escolas considerando a forma com que vem sendo pretendida e quanto a sua possibilidade real de sucesso”, ou seja, de as escolas assumirem, conscientemente, as consequências decorrentes da autonomia utilizando-a para a construção de um PPP, que refletia as condições concretas do seu contexto mediato e imediato, e que consiga dar à educação o sentido de uma prática social que beneficie as camadas populares da sociedade. 

Com relação à execução do PPP, 100% dos membros da direção entrevistados informaram que sim; 35% dos docentes afirmaram que sim, 25% disseram que não e 32% não sabem da existência do PPP; 26% dos técnicos administrativos concordam com a diretoria executiva, 15% informaram que não executam o PPP, 53% não sabem informar e 6% não sabem a existência do PPP; 14% dos alunos disseram sim, 19% não e 53% revelaram não saber da existência do PPP no IFES. Vasconcelos (2002) salienta que em muitas escolas o PPP não é feito de forma participativa e acaba não se concretizando, ou negando-se enquanto instrumental para a vivência democrática e ou a conquista da autonomia da escola. 

No que diz respeito à organização do PPP do, 14% da diretoria responderam ser excelente, 29% afirmaram ser ótima, 29% informaram ser boa e 28% disseram ser regular. 1% dos docentes afirmaram ser excelente, 33% alegaram ser boa, 51% disseram ser regular e 15% responderam que não sabem da existência desta organização. 8% dos técnicos administrativos revelaram que a organização é ótima, 38% alegaram ser boa, 30% informaram ser regular e 22% informaram não existir organização. Para os alunos: 24% responderam ser boa, 45% disseram ser regular, 29% responderam não existir organização.

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