"Houve sempre prêmios polpudos e atraentes. No entanto, os dois Wright nunca apareceram para conquistá-los ou disputá-los publicamente, claramente. Até mesmo quando houve a afamada Exposição de Aeronáutica de Saint Louis, cujo prêmio maior era de 200 mil dólares, ou um milhão de francos, lá nos Estados Unidos mesmo, os dois irmãos não apareceram" (VEADO: 1973, 140).

"E foi só no dia 21 de setembro de 1908, em Auvours, na França, que Orville Wright e Wilbur Wright fizeram um vôo. Mas era assim: deslizavam sobre trilhos e uma máquina chamada ?catapulta? os jogava aos ares!... Ainda não voaram com os próprios meios, quando na França isto já era comum... Enquanto Santos Dumont voava a 23 de outubro de 1906, os dois irmãos só o faziam, de modo muito duvidoso, 22 meses e 28 dias depois. E o brasileiro subiu e desceu em Bagatelle num aparelho de três rodas: duas na frente e uma atrás, o que existe até hoje!" (VEADO: 1973, 142).

Mas não foram somente os irmãos Wright que tentaram ludibriar a opinião mundial. "O octogenário general Mensier declarou que em 1897 vira ?nitidamente? o Avion de Clément Ader deixar o solo, e depois ?seguir assim a pista durante cerca de duzentos metros?. Portanto, segundo o general, foi Ader o primeiro homem que executou um vôo num aparelho ?mais pesado do que o ar?. À vista disso, os franceses se encheram de orgulho. Ernest Archdeacon, comentando o fato, publicou um artigo sob o título ?Qui a volé lê permier??, onde solicitava, se fosse verdade o que se dizia, ?uma reparação para Clément Ader?. Devido ao barulho provocado pelo caso, o general Brun, ministro da Guerra, divulgou um relatório de 1897, o qual afirmava, de modo inequívoco, que o Avion não havia voado. O documento, com a data de 21 de outubro de 1897, tinha as assinaturas do próprio general Mensier, presidente da comissão destinada a apurar o fato, do general Grillon, comandante de Engenharia do Governo Militar de Paris, do general Delambre, inspetor-geral permanente dos Trabalhos de Engenharia de Costa, e dos senhores Sarreau e Léauté, membros do Instituto e professores de mecânica da Escola Politécnica. Foi como ?água em cima da fogueira?: o entusiasmo arrefeceu. Mesmo assim, até hoje, muitos franceses acreditam que Clément Ader, antes de Santos Dumont, realizou o vôo num ?mais pesado do que o ar? " (JORGE: 2003, 230-231). Que feio, monsieur Mensier!


A invenção do relógio de pulso

Relógio "Santos", de Louis Cartier
(http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/13-estilo/1-garboso.htm)

Muitos historiadores afirmam que Santos Dumont foi o criador do relógio de pulso. Puro engano, pois relógios de pulso já existiam na segunda metade do século XIX. "Nosso pai da aviação usava um relógio amarrado ao pulso e, dândi que era, lançava moda em Paris. Louis Cartier desenhou um relógio de pulso e batizou-o com o nome Santos. Era o suficiente para garantir o sucesso de vendas. (...) Os historiadores de guerra falam dele como objeto grosseiro, criado pelo exército prussiano e usado por comandantes de pelotões, que podiam coordenar seus ataques ao marcar a hora exata das ações. O relógio de bolso não seria prático o suficiente para quem estivesse num campo de batalha. A partir daí, o relógio de pulso passou a ser utilizado na vida civil e, apesar de ameaçado nos últimos tempos pelo telefone celular ? que substituiu vários objetos cotidianos, como agenda, despertador e até lanterna ? não saiu da vida da maioria" (Revista Florense, pg. 13).


A "Casa Encantada" de Petrópolis

Em Petrópolis, RJ, Santos Dumont começou a construir, no início de 1918, a "Casa Encantada", localizada num terreno íngreme, à Rua do Encanto. Para o projeto, foi contratado Eduardo Pederneiras, que construiu no Rio o Copacabana Palace.

Casa de Santos Dumont
http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/11-encantada/a%20fazer/RJ_Ptropolis13_2004Jun12.JPG

"A Casa Encantada não tinha paredes internas. As divisões dos cômodos são feitas por sua localização nos diferentes planos do terreno. No plano mais baixo fica uma pequena oficina mecânica e uma câmara escura para fotografias. No segundo, a sala de estar-jantar e biblioteca. Desse plano sai uma escada que teve seus degraus desenhados como meio degrau, de forma que só é possível subir começando com o pé direito. Dizem que a disposição atende a uma proverbial superstição do inventor. (...) No terceiro plano fica o banheiro e um misto de escritório e dormitório. É que ele não tinha cama: usava a mesma superfície onde trabalhava, desenhava e escrevia durante o dia para colocar um colchonete à noite. (...) O banheiro, aliás, tinha uma grande novidade: um chuveiro feito com um balde colocado ao contrário, furado, e que tinha a água aquecida a álcool e duas alavancas: uma para abrir e fechar o registro, outra para regular a temperatura. Muitos autores, por desconhecerem registros de outros chuveiros até esse momento, atribuem a ele mais essa invenção. Desse plano sai uma porta dos fundos. Dali, uma passagem de madeira liga ao terraço de onde sai outro acesso, esse de folha de flandres, para a cobertura com um observatório astronômico" (Gazeta Mercantil, pg. 12).

O livro de Wilson Veado, Santos=Dumont ? o menino de Cabangu em Paris, comete um equívoco ao dizer "Essa escada era, porém, diferente: os degraus foram recortados de tal maneira que, para se subir no primeiro, forçosamente tinha-se que usar o pé esquerdo" (VEADO: 1973, 233). Na verdade, a superstição de Santos Dumont mandava que se começasse a pisar primeiro com o pé direito, como se pode observar na figura abaixo.

Escada com meio degraus
http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/11-encantada/degraus_ext.jpg

"Vários objetos podem ser admirados na casa-museu. Alguns quadros mostram o 14-bis, a Demoiselle, e os diversos balões construídos pelo aeronauta. O retrato de uma bela jovem, cercado por moldura de prata, é a única figura de mulher que se vê na residência. A foto apresenta uma dedicatória quase ilegível, que nos obriga a fazer um esforço visual:

?Uma admiradora chilena.
Luiza Villagran Imar
14 de junho de 1916 ? Santiago? "
(JORGE: 2003, 257)

"Aqui há um mistério. Por que Santos Dumont guardou o retrato desta beldade? Ela foi ?a mulher fatal? de sua vida? Peter Wykeham acha que Alberto ?pertencia àquele tipo de homem raramente descrito, e não infreqüente entre os ricos e vencedores, que é sexualmente neutro?. Mas o comandante Amadeu Saraiva, amigo íntimo do inventor, afirmou com segurança: ?Santos Dumont não se casou porque desejava ser livre para arriscar a vida como entendesse, sem causar dano a ninguém. Como todo gentleman, ele não saía a contar a todo mundo as suas aventuras. Mas bem que ele as teve. Ele amou apaixonadamente uma atriz francesa, de certa projeção, com a qual chegou a viver algum tempo. Seu nome só quem sabe é André Gasteau, antigo mecânico de Santos Dumont? " (JORGE, 2003, 257).

Armando de Paiva Lacerda, autor do livro O médico e a serra, disse que Santos Dumont "não se contentava em apenas descrever as ?arriscadas experiências aviatórias?, pois também se comprazia na evocação das suas aventuras nos cabarés de Paris, aventuras ?bem menos perigosas e mais agradáveis e divertidas? Só aos jovens patrícios, acrescenta Paiva Lacerda, o aeronauta se dispunha a soltar essas confidências, utilizando-se de um fino humor" (JORGE: 2003, 258).

Santos Dumont também arrastou suas "asas" para cima Yolanda Penteado, dama da sociedade paulista, autora de Tudo em cor-de-rosa, livro de memórias, e a convidou para uma visita em sua casa, em Petrópolis. A moça foi com a mãe e uma prima. "Santos Dumont a cortejava, revela a memorialista. Trazia-lhe flores e bombons, saindo com ela a passeio: ?As pessoas que o conheciam melhor diziam que, quando ele me via, ficava elétrico. Ele andava muito a pé. Fazia alpinismo, e quando o conheci tinha por hábito subir e descer a pé o morro do Corcovado?. Yolanda e a tal prima, acompanhadas do inventor, costumavam tomar chá na Colombo, a tradicional confeitaria do Rio de Janeiro. A mãe da jovem, entretanto, pelo fato de enxergar isto de cenho franzido, sempre resmungava: ?Esse velho, mais velho do que eu, e namorando a minha filha, só porque pensa que voa!? " (JORGE: 2003, 259).

A namorada platônica de Santos Dumont também afirmou que o inventor possuía "uma elegância refinadíssima" e que lançou a moda da bainha alta nas calças, chamada de "elevadores". Segundo Yolanda, "Alberto era, sobretudo, muito supersticioso. Não pegava em nota de cinqüenta mil réis, tinha horror ao número treze. Contou-me que, quando voava, levava em volta do pescoço uma meia de Madame Letellier, que foi uma das mulheres mais famosas da Europa e tinha tido muita sorte na vida? " (JORGE: 2003, 259).

Santos Dumont, que era amigo também de Rodin e da Princesa Isabel, nunca se casou e há três interpretações para o fato: 1º) sofreria de uma homossexualidade não assumida; 2º) teria romances proibidos ? o nome mais citado é o da rica cubana Aída D?Acosta, moradora de Nova York, e que freqüentou seu hangar em Paris, ocasião em que Santos Dumont a ensinou na arte de dirigir balões; e 3º) outros acham que os grandiosos projetos de Santos Dumont impediram uma vida familiar, que iria atrapalhá-lo nos inventos. Pelo que conhecemos de Santos Dumont, apresentado até aqui, a terceira hipótese é a mais aceitável. Embora tivesse alguns maneirismos e fosse um sujeito um tanto esquisito, a prova é que sempre correu atrás de mulheres e até propôs casamento, não aceito pela mãe da moça, devido à grande diferença de idade.

A TV Globo, na minissérie Um só coração, conta um pouco dessa história, em que Cássio Scapin, sósia do inventor, compete com o intérprete de Assis Chateaubriand, pelo amor de Yolanda Penteado (http://pt.wikipedia.org/wiki/Um_S%C3%B3_Cora%C3%A7%C3%A3o).


Outros inventores brasileiros

Santos Dumont nunca quis registrar seus inventos. Mão aberta que era, distribuía os prêmios conquistados entre seus empregados e pobres de Paris. Se ele tivesse registrado a patente de seu 14-Bis, com o qual recebeu dois prêmios em Paris, em frente a centenas de testemunhas, feito homologado pela Federação Internacional de Aeronáutica, além de efetivamente ser o "Pai da Aviação", sem contestação dos irmãos Wright, teria trazido enormes benefícios ao Brasil. Infelizmente, Santos Dumont era apenas um rico jovem romântico, descuidou-se de patentear o invento, e logo outros o fizeram, iniciando a criação de várias empresas de construção de aviões e empresas de transporte aéreo. O mesmo descuido não teve, p. ex., Graham Bell, inventor do telefone, que patenteou o invento e o resultado foi a criação de um gigante das comunicações mundiais, a ITT. O Brasil é campeão mundial do desleixo neste sentido.

Outros brasileiros foram também inventores pioneiros. O Padre Landell de Moura, muito antes do invento do italiano Marconi, fez uma demonstração de comunicação sem fio (ondas rádio) ao imperador D. Petro II, no Rio de Janeiro, que apenas achou que o invento era uma simples "curiosidade", coisa de "padre maluco". O Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o "padre-voador", tornou-se famoso na corte de D. João VI com seu balão dirigível, a "Passarola". Francisco João de Azevedo inventou uma máquina de escrever em 1861 e apenas recebeu uma medalha de ouro de D. Pedro II. Os irmãos José de Sá Bittencourt Accioli e Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt criaram inovadora tecnologia de mineração, quando o mundo todo usava a bateia. Um francês estabelecido em Campinas, Hercules Florence, criou um processo fotográfico cinco anos antes que Daguerre o fizesse na França, a daguereotipia. Florence tinha a vantagem de já utilizar o negativo ? como ocorre hoje em dia, pelo menos nas câmaras não-digitais -, para cópias múltiplas, ao contrário do processo daguereótipo, que utilizava um processo "positivo", ou seja, uma chapa de cada vez, sem possibilidade de cópias. Quantos benefícios esses inventos genuinamente brasileiros poderiam ter trazido ao País, se seus inventores tivessem tido uma visão prática da criação de suas obras extraordinárias! Ou que, pelo menos, o Governo tivesse se interessado por algumas dessas criações!

O mesmo se pode dizer do criador do identificador de chamadas telefônicas, o "bina", criado por Nélio Nicolai. Até agora, de prático, Nicolai recebeu apenas o reconhecimento através de um selo comemorativo da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos). "Nicolai patenteou o aparelho em 1981, e 11 anos depois atualizou o sistema para ser empregado em aparelhos celulares. Segundo o inventor, o Brasil está deixando de receber mais de US$ 1,3 bilhão por mês em royalties, pois não briga pela patente industrial do identificador de chamadas. ?O mundo tem cerca de 1,3 bilhão de celulares. As operadoras de telefonia cobram de US$ 6 a US$ 10 mensais dos usuários pelo identificador. Se recebêssemos US$ 1 em royalties por cada celular, poderíamos faturar US$ 15,6 bilhões por ano?, afirmou"
(http://si3.inf.ufrgs.br/HomePage/noticias/noti04082.cfm).

Em 1966, "o cientista cearense Expedito Parente criou o biodiesel, um óleo combustível devivado de plantas oleaginosas capaz de substituir, com vantagens, o diesel derivado de petróleo usado pelas indústrias pesadas, caminhões, usinas geradoras e outros equipamentos. (...) A pesquisa era tão séria que o então ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Matos, entusiasmado, mandou que as pesquisas de Expedito continuassem no Centro Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos" ("Os novos irmãos Wright", in jornal Inconfidência, nº 100, outubro 2006, pg. 15). Em 1991, quando caducou a patente, a Alemanha e a Áustria "ressuscitaram a idéia. E aí a Europa passou a produzir o biodiesel" ? disse o inventor em entrevista à repórter Olga Bardawil, da Agência Brasil.

O inventor brasileiro do biodiesel também criou a "vaca mecânica", para fazer leite de soja, e o bioqueresene para aviões, o "prosene": "Primeiro, nós fizemos ensaios em turbinas estacionadas, em bancada. Depois de muitos testes, nós decidimos fazer o teste num vôo. Usamos um Bandeirante, da Embraer, que saiu de São Jose dos Campos no dia 23 de outubro de 1984. Era o Dia do Aviador. E voou até Brasília. Eu quis ir nesse avião, mas me foi negado o acesso, porque eu não era militar. Eles fizeram questão de voar só com o prosente, sem uma gota de combustível de petróleo. O tanque estava cheio de querosene vegetal. E isso foi fantástico, porque lá em cima não tem acostamento, não!" Por que a Petrobrás não se interessou pelo invento? "O país não estava motivado. Além disso, a produção de petróleo do país começou a crescer, o preço do petróleo caiu. E a Petrobrás não deu a mínima bola para o combustível, apesar de eu ter procurado a empresa muitas vezes" ? lamentou o inventor na mesma entrevista a Oga Bardawil.

Por fim, vale a pena acessar http://pt.wikipedia.org/wiki/Santos_Dumont e conhecer as homenagens que já foram feitas a Santos Dumont. Vale acrescentar, como já foi dito nesse trabalho, que o Aero Clube de Paris construiu um monumento a Santos Dumont, em Saint-Cloud, com uma estátua representando Ícaro e uma imagem do inventor incrustada na coluna. Uma réplica do monumento foi construída em cima da sepultura de Santos Dumont, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Há, ainda, um outro monumento construído em Bagatelle, o campo de testes preferido de Santos Dumont.

Na Enciclopédia Mirador Internacional, lê-se: "Santos Dumont escreveu três livros: A Conquista do Ar (1901), Dans l?air (1904), publicado em português com o título de Os Meus Balões (2ª ed. 1973) e O que eu vi, o que nós veremos (1918)". "Todavia, a rigor, são dois os livros de Alberto: Dans l?air e O que eu vi, o que nós veremos. Sim, pois A conquista do ar é um pequeno folheto impresso em Paris, da Editora Aillaud. O seu título por extenso é este: A conquista do ar pelo aeronauta brasileiro Santos Dumont ? 1901. E o folheto, além disso, não traz o nome do autor" (JORGE: 2003, 298). O que eu vi ? uma autobiografia de Santos Dumont - foi escrito na "Casa Encantada", em Petrópolis, e é uma obra ambivalente, às vezes confusa, prova dos conflitos psicológicos provocados pela esclerose múltipla.

No Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, localiza-se o Museu Aeroespacial (http://www.musal.aer.mil.br/links_aeron.htm), que possui réplicas do 14-Bis e do Demoiselle, construídas em 1973.


Curiosidades

O Brasil sempre teve tradição na busca da conquista do ar. Além de Santos Dumont, destacam-se o padre jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o "padre-voador", Júlio César Ribeito de Sousa e Augusto Severo de Albuquerque Maranhão. A primeira experiência com balões foi feita por um brasileiro, o "padre-voador", em 8 de agosto de 1709, em Lisboa, porém muitos consideram erroneamente os irmãos Montgolfier como sendo os protagonistas deste feito, realizado somente em 1782, também com um balão com ar quente, imitando o "padre-voador". O povo de Lisboa chamava o balão de Gusmão de "Passarola", algo equivalente a "pássaro".

As primeiras vítimas de desastre aéreo foram Pilâtre de Rozier e Romain, quando tentaram atravessar o canal da Mancha a bordo de um Montgolfière. O balão se incendiou e os pilotos morreram.

O Duque de Caxias, durante a Guerra do Paraguai, usou balões para observar as posições inimigas.

O primeiro "navegador aéreo" brasileiro foi um tenente de Cavalaria, que passou para a Arma de Aviação, Juventino Fernandes da Fonseca. Fez especialização na França em Navegação Aérea e, ao voltar ao Brasil, foi criado um Núcleo de Aeroestação, no Rio de Janeiro. Infelizmente, ao fazer uma demonstração ao então ministro da Guerra, marechal Hermes da Fonseca, no dia 20 de maio de 1908, houve uma falha na válvula de escape do balão e o oficial morreu na queda.

Clémont Ader foi o inventor da palavra "avião". Na Europa, atribui-se a ele o primeiro "salto" (vôo sem controle) de uma aeronave, o "Eole", em 1890.

Os irmãos Otto e Gustav Lilienthal, nascidos na Alemanha, construíram em 1891 um planador monoplano, que pesava vinte quilos e era feito de junco, bambu e algodão. Durante 5 ou 6 anos, chegaram a realizar mais de 2.000 vôos, cobrindo distâncias superiores a 380 metros. Otto Lilienthal foi o primeiro a perceber a importância da curvatura das asas do avião para o sucesso do vôo. O avião voa porque a asa possui uma curvatura maior na superfície superior. Assim, o ar passa mais rápido por baixo e empurra a asa para cima. Por isso o avião consegue decolar e se manter no ar, obviamente com a ajuda de potentes motores. Em 1888, Lilienthal publicou o livro O vôo dos pássaros, como base do vôo artificial ? obra que, provavelmente, Santos Dumont teve conhecimento. "Os Lilienthal construíram um biplano, cujo motor funcionava com dióxido de carbono. Este motor, em vez de estar unido a um propulsor, ia ficar diretamente ligado às pontas giratórias das asas. (...) Em 9 de agosto de 1896, por ocasião do primeiro teste, quando o aparelho se encontrava a quinze ou dezessete metros de altura, uma das partes superiores sofreu um rasgão e o planador despencou-se ?com a rapidez de uma seta?, fragorosamente. Otto foi retirado dos destroços. A queda causou a fratura da sua coluna vertebral e ele morreu no dia seguinte, na clínica de um cirurgião. Eis, segundo alguns autores, as últimas palavras do audaz pioneiro: ?Os holocaustos são necessários? " (JORGE: 2003, 200).

Alberto Santos Dumont assinava o nome "Santos=Dumont", com sinal de igual, "para mostrar que o nome brasileiro era tão importante quanto o francês, herdado de seus avós paternos" (CB, 14/12/2003, pg. 23).

O "Demoiselle", construído por Santos Dumont, em 1908, foi, na verdade, um ultraleve com apenas 60 quilos de peso.

No dia 18 de abril de 1922, dois portugueses realizaram uma façanha extraordinária: viajaram no hidroavião "Lusitânia", de Lisboa, Portugal, aos rochedos de São Pedro e São Paulo, Brasil. "O Papa Pio XI disse o seguinte: ?A travessia aérea do Atlântico pelos heróicos aviadores portugueses, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, foi ato sublime de fé, de ciência, de coragem e de amor pátrio; e nela, sob o auspício sacrossanto da Cruz de Cristo, refulgiu gloriosa a alma da nobre Nação Portuguessa? " (VEADO: 1973, 193).

Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, o Correio Aéreo Militar foi juntado ao Correio Naval e passou a chamar-se Correio Aéreo Nacional (CAN). Os pioneiros do CAN foram os tenentes aviadores Casemiro Montenegro e Nélson Freire Lavenere Wanderley. Na Amazônia, fizeram história os aviões Catalina, chamados pela população local de "Pata Choca", que tinham flutuadores para descer nos rios da região.

Em 18 de dezembro de 1943, pelo Decreto-Lei nº 6.123, o presidente da República criava o 1º Grupo de Caça, com a finalidade de combater os nazistas na Europa. "No dia 3 de janeiro de 1944, o comandante do Grupo de Caça seguia para Orlando, na Flórida, Estados Unidos, acompanhado de 36 auxiliares, entre oficiais e praças. (...) Depois, em 18 de março de 1944, seguiram eles para o Panamá, na América Central, onde existe o canal do mesmo nome. E foi aí que se desenvolveu um período duro de treinamento de guerra, fazendo com que os nossos pilotos, nossos mecânicos, todo o pessoal, se transformasse num grupamento altamente eficiente e capaz" (VEADO: 1973, 209-210).

A expressão "Senta a pua" foi sugerida pelo então 1º tenente Rui Moreira Lima, como grito de guerra. O capitão Fortunato Câmara desenhou o distintivo: um avestruz, "um bichão com um revólver na mão, um escudo azul, tendo no centro o Cruzeiro do Sul, um boné da Aeronáutica e uma cara de poucos amigos, como quem está com raiva e pronto para a briga" (VEADO: 1973, 212). Em seu livro "Missão 60", o então 2º tenente Fernando Pereyron Mocellin escreveu: " ?E ficou ?SENTA A PUA?! A gíria carioca que significava força, garra, agressividade, sentou como uma luva no personagem criado por Fortunato. O Comando aprovou o distintivo e uma outra batalha começou: a batalha para pintar o distintivo nos narizes dos aviões? " (VEADO: 1973, 213). Mocellin cumpriu 59 missões de combate e, ao voltar para o Brasil, escreveu um livro, que passou a considerar como sendo a sua "Missão 60". O humorismo do brasileiro também pôde ser constatado na expressão "a cobra está fumando", da Força Expedicionária do Brasil (FEB), essa gloriosa Força comandada pelo Marechal Mascarenhas de Morais, que projetou heróis da têmpera de um sargento Max Wolf, famoso comandante de patrulhas, morto por uma rajada de balas.

Em 1959, o avião Boeing 707, dos EUA, foi o primeiro jato comercial a ser usado em larga escala e em vôos transatlânticos. Em 1969 aparece o Boeing 747, o "Jumbo". No mesmo ano, o avião Concorde, fabricado por um consórcio anglo-francês, é o primeiro supersônico usado comercialmente, porém foi retirado do serviço em 2003, devido aos altos custos.

O primeiro satélite foi o Sputnik, lançado ao espaço pela União Soviética no dia 4 de outubro de 1957. O primeiro astronauta a girar em torno da Terra foi o russo Yuri Gagarin, no dia 12 de abril de 1961, a bordo da cápsula espacial Vostok I. Lá do alto, Gagarin pronunciou a célebre frase: "A Terra é azul!"

No dia 20 de julho de 1969, o astronauta norte-americano Neil Alden Armstrong desembarcou na Lua, num módulo levado ao espaço pela Apolo 11. Lá deixou a seguinte mensagem: "Aqui, homens do planeta Terra pisaram na Lua pela primeira vez. Nós viemos em paz, em nome de toda a Humanidade". Coincidência ou não, o feito foi realizado no mesmo dia e mês do nascimento de Santos Dumont. "O destino, que é talvez o executor de uma vontade mais alta, quis assim homenagear o brasileiro ?que saíra do sertão para ensinar aos homens, em Paris, o roteiro das estrelas...? " (JORGE: 2003, 292). Ao todo, de 1969 a 1972, os americanos fizeram cinco viagens à Lua.

Os russos prometeram enviar uma nave tripulada a Marte, no ano de 1978, como uma resposta aos americanos, que haviam conquistado a Lula. Não conseguiram realizar a promessa. Os americanos ainda não mandaram astronauta a Marte, mas lá colocaram para passear o robô Pathfinder, que foi lançado ao espaço em 1996 e que pousou no planeta vermelho em 1997, mandando preciosas imagens à Terra durante aquele ano.

O primeiro ônibus espacial, da NASA, voou em 1981. Em 1986, ocorreu o mais grave acidente com um ônibus espacial, a Challenger, que matou todos seus tripulantes, inclusive uma mulher, a professora Christa MacAulife, a primeira civil a participar de um vôo espacial (http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_espacial_estadunidense).

Em novembro de 2006, começa a operar o maior avião do mundo, o A380, da Airbus, nas versões passageiros e carga, uma resposta comercial ao domínio da Boeing. Ao custo de 250 milhões de euros, o "superjumbo" poderá transportar até 845 passageiros (http://pt.wikipedia.org/wiki/Airbus_A380).

Sobre Santos Dumont, convém destacar o que pensam dois norte-americanos, apaixonados pela obra do inventor. "A jornalista americana Nancy Winters soube dele por acaso: seu relógio Cartier quebrou, e depois de muitas idas e vindas o vendedor lhe entregou um Santos Sport, explicando que era o nome de um aviador. Interessou-se por ele e aos poucos constatou, como diz, ?uma história dos sonhos, da ousadia, da perseverança?. (...) O resultado é ?The Man Flies!?, primorosa edição em capa dura, formato pequeno (14x20 cim) e 127 fascinantes fotos e ilustrações, publicada pela Bloomsbury em Londres em 1998 e traduzida para o português no ano passado (2000) pela DBA" (Gazeta Mercantil, pg. 2). O americano Paul Hoffman, presidente da Encyclopaedia Britannica, é autor de Wings of Madnass, que foi lançado no Brasil pela Objetiva, em 2004, sob o título Asas da Loucura (360 páginas). "Hoffman só soube do inventor quando um amigo seu lhe contou que veio ao Brasil e pousou num aeroporto chamado Santos Dumont. ?É uma injustiça que quero reparar. Nós, americanos, o desconhecemos por causa dos irmãos Wright? " (Gazeta Mercantil, pg. 2).

Há dois projetos cinematográficos dispostos a reconstituir a vida e a obra de Santos Dumont, porém não decolam. Marcone Pereira Simões tem pronto o roteiro de "Santos Dumont: O Filme", que começou a ser escrito em 1994, em parceria com o jornalista José Luzeiro. O autor Pedro Cardoso é cogitado para viver o personagem de Santos Dumont, pelo seu apropriado physique-du-rôle. Outro roteiro pronto é o da cineasta Tizuka Yamasaki, diretora de Gaijin (Cfr. http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/8-mais/pg83.htm).

Em 2002, a Beija-Flor de Nilópolis contou e cantou a saga de Santos Dumont na Avenida Marquês de Sapucaí.


Conclusão

Assim, 23 de outubro é o Dia do Aviador porque nessa data, há 100 anos, Santos Dumont venceu a Taça E. Archdeacon, ao voar uma distância de 75 metros, a uma altura de 3 metros. Foi a primeira vez que tal façanha havia sido realizada - o vôo do mais pesado que o ar - na frente de centenas de testemunhas e de um júri de renomados cientistas.

Os irmãos Wright, até aquela data, não haviam realizado nenhum vôo com o "Flyer", com os próprios meios do avião. O que eles utilizavam era uma catapulta para dar um empurrão no aparelho (como hoje se vê nos porta-aviões), que, em função disso, chegou a planar alguns metros. Outro método utilizado pelos americanos foi um declive acentuado, por onde, em trilhos, o aparelho deslizava até enfrentar um vento de 40 km/h e então planar por alguns instantes. Mesmo em 1908, quando os irmãos Wright se apresentaram pela primeira vez na França, não conseguiram levantar vôo, porque o motor do aparelho (12 HP) era muito fraco. Só depois que eles colocaram um motor de 100 HP, em setembro do mesmo ano, é que o avião conseguiu levantar vôo com os próprios meios e realizar demonstrações espetaculares na França. Antes disso, nem mesmo o governo americano se mostrou interessado pelo invento dos Wright, porque a tal máquina ainda não chegara "à fase da operação prática" e apenas se interessariam pelo caso se os Wright fabricassem um engenho capaz de "transportar um operador" e de "produzir vôo horizontal" (Cfr. J0RGE: 2003, 208).

Portanto, sem patriotada, o verdadeiro inventor do avião é Santos Dumont. Embora tivesse um aparelho desengonçado muito mais feio que o dos irmãos Wright, embora o estranho aparelho "andasse de ré", com a "cauda" na frente, embora os 14-Bis utilizasse o princípio das células servovolantes Hargrave para voar, ao contrário dos Wright, que utilizavam o princípio da sustentação das asas criado pelo alemão Otto Lilienthal, Alberto Santos Dumont foi o primeiro homem a realizar o feito de voar com um aparelho mais pesado que o ar, pelos próprios meios, como é feito ainda hoje por todos os aviões ? conjunto de três rodas para decolagem e aterrissagem. O 14-Bis já tinha três rodas para levantar vôo e aterrissar, ao contrário dos Wright, cujo aparelho tinha esquis. Ora, levantar vôo com esquis, só se for no gelo, e morro abaixo, com um vento forte contra. Como diziam os críticos dos Wright, há 100 anos: "Assim, até uma locomotiva levanta vôo"...

1. O que é servovolante?

"Lourenço Hargrave, mestiço australiano, inventor do 'servovolante'. O servovolante era um aparelho que se compunha de um ou muitos quadros rígidos, feitos de madeira e lona, de certo modo combinados e mecanicamente presos ao sistema e, todas por sua vez, unidas em uma única corda que era fixada ao solo. Quando se puxava essa corda com violência, o sistema tendia a subir" (in Santos=Dumont - O menino de Cabangu em Paris, de Wilson Veado, Editora do Brasil S/A, 1973, pg. 126).

2. Por que o avião voa?

O avião voa porque a asa possui uma curvatura maior na superfície superior. Assim, o ar passa mais rápido por baixo e "empurra" a asa para cima. Por isso o avião consegue decolar e se manter no ar, obviamente com a ajuda de potentes motores.


Bibliografia consultada:

1. BARROS, Henrique Lins de. Santos Dumont e a invenção do avião. Rio de Janeiro, 2006. Ministério da Ciência e Tecnologia ? MCT/Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas ? CBPF. http://www.cbpf.br/Publicacoes/SantosDumont.pdf

2. JORGE, Fernando. As Lutas, a Glória e o Martírio de Santos Dumont. T. A. Queiroz Editor, São Paulo, 2003 (4ª edição, revista e aumentada). Fernando Jorge é biógrafo de Olavo Bilac, D. Pedro I e do Aleijadinho.

3. Jornal da Comunidade, Brasília, 9 a 15 de setembro de 2006, "Memória", pg. B4 e B5. Texto "O senhor dos céus pousa no Panteão da Pátria", de Jarbas Silva Marques, diretor do Patrimônio Histórico e Artístico do DF.

4. Jornal Correio Braziliense, 14 de dezembro de 2003, "Mundo", pg. 22.Texto "Afinal, quem é o pai da aviação?", de Pedro Paulo Rezende e Ary Moraes.

5. Jornal Correio Braziliense, 26 de maio de 2006, "Cidades", pg. 32. Texto "A Filha da Aviação", de Renato Alves.

6. Jornal Correio Braziliense, 17 de setembro de 2006, "Cidades", pg. 34. Texto "No céu de Brasília a proeza de Dumont", de Renato Alves.

7. Jornal Correio Braziliense, 22 de outubro de 2006, "Cidades", pg. 30. Texto "Celebração do centenário do 14 Bis", de Guilherme Goulart.

8. Jornal Correio Braziliense, 23 de outubro de 2006, "Cidades", pg. 18. Texto "Réplica do 14 Bis voa 400 m na Esplanada", de Érica Montenegro.

9. Jornal Gazeta Mercantil, "Fim de Semana", 22 e 23 de setembro de 2001, pg. 1, 2, 12 e 13. Texto "Santos Dumont", de Adélia Borges.

10. Jornal Inconfidência, 15 de outubro de 2006, pg. 15. Texto "Os novos irmãos Wright", de Rangel Cavalcante, e "Inventor brasileiro do biodiesel também criou vaca mecânica e bioquerosene para aviões", entrevista do inventor, Expedito Parente, a Olga Bardawil, repórter da Agência Brasil (http://www.grupoinconfidencia.com.br).

11. Mirador, Encyclopaedia Britannica do Brasil, Tomo 18, pg. 10201 e 10202, São Paulo e Rio de Janeiro, 1992.

12. Revista Florense, inverno de 2006, Ano 3, nº 10, pg. 12 a 16. Texto "Beleza Mortal", de Ethel Leon.

13. Usina de Letras. Texto "Sobre a propriedade intelectual", de Félix Maier, endereço http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=2512&cat=Ensaios&vinda=S.

14. VEADO, Wilson. Santos=Dumont ? O menino de Cabangu em Paris. Editora do Brasil S/A, 1973.