Por acaso com a vida se joga?

Elissama Assis

Ao assistir a Ana no BBB9 (programa do dia 2/03) me lembrei da música "Pé de nabo", de Sandra Peres, que tocava na novela Beleza Pura. Mas conheço essa música "de outros carnavais". É que a Sandra é do grupo Palavra Cantada, voltado para as crianças e eu tenho um filho de 4 anos, o Victor. Em princípio, essa música, portanto, foi feita para levar algum ensinamento para o público infantil. Desde quando a ouvi, pela primeira vez, amei a sutileza da letra que deixa muito bem o recado, na minha opinião, mais importante de nossas vidas: o que vale mais é ser autêntico, o que vale mais é ser digno, o que vale mais é ser justo, o que vale mais é ser verdadeiro, o que vale mais é ter caráter. "Mentirinha, falsidade, pra quem vive só pela metade". Será que algumas pessoas do suposto lado B, como a Milena e a Francine, por exemplo, nunca se deram conta de que "ninguém é cem por cento"? Será que essas mesmas pessoas do lado B nunca perceberam que "até um pé de nabo tem alguma coisa boa"?

Para mim, o BBB não é simplesmente um jogo com várias regras explícitas como o futebol e tantos outros, por exemplo. Nunca foi dito que o vencedor do BBB será a pessoa que menos tem defeitos (até porque isso é muito relativo. Algumas pessoas mostram mais os seus defeitos, outras conseguem escondê-los, e talvez as que conseguem escondê-los têm defeitos muito piores do que os defeitos explícitos dos outros que elas sempre insistem em apontá-los). Nunca foi dito que o vencedor do BBB será a pessoa que menos for para o paredão (até porque, possivelmente, além de ter contado muito com a sorte, essa tal pessoa provou que se deu bem com a maioria da casa, ou seja, talvez essa pessoa foi a que menos se mostrou, foi a que mais se escondeu, foi a mais ausente do tal "jogo"). Nunca foi dito que o vencedor do BBB será a pessoa mais simpática com todos da casa e também com o público (talvez essa pessoa seja a maior jogadora, o maior manipulador, quem mais consegue fingir ser outra pessoa). Assim como nunca foi dito também que ganhará que for mais pobre ou quem for mais rico, que for mais forte ou mais fraco, quem ganhar ou quem perder todas as provas, quem é branco ou quem é negro, quem é homem ou quem é mulher, quem é heterossexual ou quem é homossexual, quem é gordo ou quem é magro, quem é bonito ou quem é feio. Assim também como nunca foi dito que ganhará quem for mais brincalhão ou quem for mais reservado ou quem for mais sensato e equilibrado ou quem vive metendo os pés pelas mãos. O BBB também não é um "jogo" do bem contra o mal ou vice-versa, como, inclusive, não é um "jogo" de tabuleiro com lados extremos, lados opostos como tantos ainda insistem no imaginário muro (o lado A contra o lado B).

Enfim, o BBB, para mim, não é simplesmente um jogo. Ele é, na verdade, complemente a vida. Ele é o dia a dia. Ele é alegria, a dor, a superação, a angústia, a diversão, a amizade, a inimizade, o ódio, a tristeza, a separação, o relacionamento, a perda, a paixão, o amor, a frustração, o egoísmo, a raiva, a inveja, o encontro, o desencontro, o pecado, o perdão. O BBB nada mais é do que todos os sentimentos Humanos com H maiúsculo (e com sentimentos Humanos não se joga simplesmente) exacerbados, enclausurados, enrustidos, borbulhantes. O BBB é uma mostra do caldeirão fervente da nossa vida, um misto de tudo e de todos os tipos de gente, ao mesmo tempo, ao vivo, 24 horas... É como se a casa não dormisse, é como se todos pudessem serem vistos por todos os ângulos o tempo todo e como se ninguém tivesse o direito de errar. Até parece?! Atire a primeira pedra então quem nunca teve sequer um pensamento egoísta na vida. Atire a primeira pedra quem nunca teve sequer uma atitude infantil. Atire a primeira pedra quem nunca agiu com impulsividade ou falou alguma coisa sem pensar alguma vez na vida. Atire a primeira pedra quem nunca errou e, principalmente, quem nunca se arrependeu do erro depois. Portanto, o BBB é sim um "jogo", mas de Gente GRANDE, como diz o magnífico Bial. Jogo no sentido de um programa de TV, de um divertimento. E GRANDE no sentido de Humano (e não do mais velho ou mais experiente). Só que, na verdade, nesse "jogo" as peças não são reis, rainhas, torres ou peões. As "peças" têm alma, coração e sentimento. As peças do BBB têm vontade própria. As peças dormem, acordam, falam, andam, dançam, gesticulam, suam, tomam banho e têm necessidades fisiológicas. E as peças não conseguem simplesmente serem movidas de um lado de outro ou pela transversal como se fossem marionetes. As peças são de carne e osso. As peças, na verdade, são pessoas, com todas as suas qualidades e os seus defeitos como todos nós seres Humanos.

Assim, na minha humilde opinião de uma telespectadora fanática pelo BBB, mas também fanática pelo conhecimento e pelo aprendizado obtido a partir das infinitas espiadinhas desses pobres seres Humanos confinados (e não ratos de laboratórios), concluo que com a vida não se joga. Portanto, pode ser que a Ana não dure nem mais um dia, pois como ela mesma disse e a música também diz "sou assim, pronto e acabou". Mas ela definitivamente não conseguiu, ainda bem, ser quem ela não é. Então, se ela não conseguiu esconder seus defeitos, para mim, é porque ela realmente é uma pessoa sincera, verdadeira, autêntica. Quem se esconde não dá a cara à tapa. Quem se esconde é covarde. E já que com a vida não se joga, prefiro as pessoas de caráter a aquelas cheias de rótulos, máscaras e proteções. Prefiro conviver com seres Humanos que erram, mas têm a humildade de reconhecer os seus erros e, principalmente, têm a humildade de saber que "ninguém é cem por cento". A Ana, portanto, pode ser sim um pouco boba, um pouco ingênua, um pouco Alice no País das Maravilhas. Mas podem ter a certeza e ficarem tranquilos, pois ela muito provavelmente não vencerá no sentido de levar o milhão para a casa, mas talvez será a pessoa que mais levará e guardará os ensinamentos e aprendizados da vida. A Ana, agora, é uma gata escaldada. E ainda assim não quer e não se permite ser esconder atrás de uma covardia. A Ana se colocou no paredão. Pensem um pouco sobre essa atitude. Quem faz isso é uma pessoa egoísta? Será?! Será que a Milena faria ou fará algum dia isso na vida? Assim como a Priscila já o fez pela Milena também (pedindo ao André para dar o anjo para a Milena, mesmo sabendo que "o seu" próprio poderia estar na reta)? Será que a Ana virou um o único motivo de voto, a pessoa mais errada da casa por simplesmente por causa de umas atitudes tão infantis? Será que a Ana é mesmo infantil? Ou será mais infantil uma pessoa como a Milena que nem deu a chance de conhecer a Maíra e começou a rotulá-la e a exorcizá-la na casa, além de espalhar boatos sobre ela e influenciar todos do lado B (menos o Flávio por talvez por carência afetiva ou interesses masculinos)? Ou será mais infantil o Ralf que justificou seu voto na Maíra na semana passada simplesmente porque achou que ela (que não tinha culpa de nada) se beneficiou levando um monte de bugigangas para a casa entre as meninas? Ou quem sabe o Ralf não é homem o suficiente para assumir que, na verdade, ele, assim como a Milena, a Francine e o Max, não concorda e não conseguiu engolir aquela bolha até hoje, pois acha que a Maíra é privilegiada com a informações de fora da casa? Se fosse assim, como ela mesma já insinuou várias vezes, ela tentaria a todo custo ser amiga do lado B, pois realmente todos adoram falar aqui fora que a Ana é muito chata. Parece briguinha infantil: chata, boba e feia! Coitados daqueles que só sabem dizer isso dela, só têm esse argumento fajuto.

E digo mais: quem é mais infantil, a Ana, que não come determinados tipos de alimentos e supostamente é egoísta nas compras da casa e que não gosta de se separar da sua única e verdadeira amiga da casa, a Naná (mesmo que a recíproca não é verdadeira), ou a Milena e a Francine que cobram insistentemente a amizade da Priscila, do Flávio, do Max, do Ralf? Essas pessoas sim são merecedoras do milhão em termos explicitamente financeiros. Essas pessoas sim sabem "se dar o valor", pois estão em busca única e exclusivamente a ganharem uma grana, mesmo passando por cima dos sentimentos dos outros. São tratores, sanguessugas, traíras e muito, muito, muito muito muito mais infantis e mais ingênuos que a Ana. Porque quem acredita que a felicidade está em um milhão de reais e para conquistar isso paga o preço que for preciso, jogando com a vida, realmente acredita ainda em Papai Noel ou conto de fadas. O dinheiro compra apenas conforto, mas não compra paz, nem felicidade, nem paz de espírito. O dinheiro paga dívidas, mas não comprar o amor e a amizade dos outros. O dinheiro pode se exaurir e a vida também, mas a vida deixa marcas, deixa história e o dinheiro apenas deixa uma herança que, muitas vezes, provocará discórdias. Portanto, volto a me lembrar de um pensamento simples e infantil (como eu também adoro ser, pois sábias são as crianças): mais vale participar do BBB com toda sua verdade e ser motivo de orgulho para as pessoas de sua família do que sair com um milhão nas mãos (aliás, apenas um será o vencedor) e com o seu caráter devassado.

Viva a Ana!!!

Pé de nabo

(Sandra Peres – música que tocava na novela Beleza Pura)

Ser assim é uma delícia

Desse jeito como eu sou

De outro jeito dá preguiça

Sou assim, pronto e acabou

A comida de costume

Como bem e não regulo

Mas tem sempre alguns legumes

Que eu não sei como eu engulo

Brincadeira, choradeira

Pra quem vive uma vida inteira

Mentirinha, falsidade

Pra quem vive só pela metade

Brincadeira, choradeira

Pra quem vive uma vida inteira

Mentirinha, falsidade

Pra quem vive só pela metade

Quando alguém me desaponta

Paro tudo e dou um tempo

Dali a pouco eu me dou conta

Que ninguém é cem por cento

Seja um príncipe ou um sapo

Seja um bicho ou uma pessoa

Até mesmo um pé de nabo

Tem alguma coisa boa

Tem alguma coisa boa

Brincadeira, choradeira

Pra quem vive uma vida inteira

Mentirinha, falsidade

Pra quem vive só pela metade

Brincadeira, choradeira

Pra quem vive uma vida inteira

Mentirinha, falsidade

Pra quem vive só pela metade

Ser assim é uma delícia

Desse jeito como eu sou

De outro jeito dá preguiça

Sou assim, pronto e acabou

A comida de costume

Como bem e não regulo

Mas tem sempre alguns legumes

Que eu não sei como eu engulo

Brincadeira, choradeira

Pra quem vive uma vida inteira

Mentirinha, falsidade

Pra quem vive só pela metade