Não estou muito certo, mas acho que foi Lao Tsé que disse que a única coisa que não muda é a própria mudança. A gente muda, sobretudo (e obviamente) quando vemos o outro lado da questão (alguns insistem na questã). Filosofice à parte, hoje eu digo para os quatro ventos que leio Paulo Coelho. Na verdade, assumo que sempre o admirei, mas que tinha receio de dizer, assim como muitos no Brasil.

Esta semana, aqui em Londres, na sala de aula em que sou assistente, a professora pediu para que os alunos escrevessem sobre seus livros preferidos. Então ela disse que há livros que são amados por praticamente todos que lêem e que têm um impacto mágico. Ela citou O Alquimista. Disse que lembrava perfeitamente do sábado à tarde em que ela começou o livro e não se mexeu até terminar. Dias depois, emprestou a cópia para uma amiga que também teve o mesmo choque. Finalizou dizendo que era o livro preferido de Madonna. Terminada a aula, eu contei para a professora o quão malhado Paulo Coelho era (e é) no Brasil. Não foi a primeira nem a segunda vez que fiz esse comentário por aqui. E a reação é sempre a de espanto.

No Brasil, já vi até mesmo teses e livros sobre ´por que Paulo Coelho vende tanto´. Tornou-se uma obsessão a tentativa de desvendar o fenômeno Coelho. Quando eu fazia a faculdade de Letras, todas as vezes em que tínhamos alguma palestra, alguém perguntava ao palestrante sobre o que achava de Paulo Coelho. A resposta era sempre negativa, claro. Quando lá pelo ano 2000 um daqueles livros-listas foi lançado com os 100 maiores livros do século XX, Paulo Coelho não entrou. Eu me lembro de uma entrevista com um dos organizadores desse livro que, perguntado sobre a ausência d´O Alquimista, respondeu mais ou menos assim: ´Paulo Coelho é um bom narrador, sabe muito bem contar uma história, mas não trouxe originalidade literária, por isso não o incluí...´. Patético, ao meu ver.

No final das contas, o que existe é simplesmente a inveja e o preconceito (tão idosos neste mundão). Paulo Coelho é reconhecido na mundo, tem milhões de leitores, inspira muita gente e vende muito porque é bom escritor - o boca a boca é o motivo de tantos livros vendidos - opinião de experientes agentes literários (Donald Maass, top agent, que o diga).

Saber contar uma história e criar personagens que provoquem a identificação do leitor não é para qualquer um. Furar todo esse esquema do voraz mercado editorial não é fácil. Publicar um livro e fazer sucesso... no mundo ou no Brasil (nem se fala) é algo que não depende de marketing, auto-promoção e sorte...
E me deixa muito orgulhoso, porque falou o nome desse homem com malabarismos na língua, eu já grito: ´Ele é brasileiro!´. E respondem: ´And he´s brilliant!´.