Inicialmente cabe esclarecer que o formato do presente texto não pretende se inserir em um modelo considerado "técnico-científico", embora sua contribuição de caráter dissertativo-argumentativo possa estimular reflexões na literatura sobre a temática voltada à prática/ intervenção do professor de Educação Física atrelada às discussões do corpo.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que um dos pilares mais investigados no treinamento desportivo é a noção de periodização. Tendo em vista um objetivo específico com a prática corporal, a periodização é uma ferramenta essencial para regrar/ sistematizar a variação do volume e da intensidade dos exercícios físicos para o sucesso almejado pelo sujeito.
No entanto, nesta breve discussão, os termos "volume" e "intensidade" se referem metaforicamente à dimensão do esforço de construir uma forma/ aparência/ imagem do corpo que é idealizada (ou periodizada) por grande parte dos praticantes de exercício físico. Nesse caso, independente do âmbito de trabalho (academias de ginástica, escolas, clubes, etc), questiona-se o papel do professor de Educação Física, profissional este geralmente considerado pelo senso comum como um dos principais responsáveis por essa cultura de consumo do corpo.
Destarte, longe de tentar esgotar o tema, vale elucidar brevemente alguns argumentos a favor da discussão em questão: a) a multifatoriedade das concepções ideológicas que influenciam (a)criticamente o culto ao corpo e a relação com a área de Educação Física; b) o valor atribuído à estética e a atuação do professor de Educação Física; c) a importância da relação professor-aluno diante do mito do "corpo perfeito".
A ideologia moralizante que impõe determinadas formas corporais pode influenciar e fazer parte da própria sociedade. Inúmeras são as instâncias (culturais, científicas, sociais, midiáticas, etc) que se relacionam e podem (re)construir estereótipos de corpo; tais ideais estéticos são constantemente compartilhados entre os sujeitos (intersubjetividades). Nesse contexto, evitando certos reducionismos, pode-se afirmar que a área de Educação Física é apenas um componente que interage/ dialoga com os possíveis tipos de corpo.
Outro argumento que deve ser discutido e analisado é a relevância da estética corporal na representação social. É necessário que o professor de Educação Física na sua atuação profissional tente desvelar os significados atribuídos as formas corporais pelos alunos. Geralmente, o valor dado a estética pelo aluno se relaciona (in)diretamente a busca pela saúde, pela qualidade de vida e/ou até mesmo pelo bem-estar social, caracterizando a noção de que a busca de determinadas formas corporais não terminam em si, mas podem se relacionar a outros ideais (re)construídos socialmente.
Por fim, nota-se a relevância de um dos profissionais que interage com as concepções de corpo na sociedade contemporânea: o professor de Educação Física. A relativização da busca de um corpo considerado "perfeito" deve ser um dos nortes profissionais do professor de Educação Física, uma vez que é evidente a sua relação cotidiana com seus alunos. Nesse sentido, a intervenção docente da Educação Física com seu público pode contribuir sobremaneira para os aspectos críticos e desmistificadores do corpo na sociedade.
À guisa de conclusão, tendo em vista os argumentos supracitados sobre o culto ao corpo na contemporaneidade, pode-se perguntar "cadê os professores de Educação Física?". Tal indagação não propõe somente um questionamento da intervenção do professor de Educação Física com a prática corporal, nem um juízo de valor sobre a atuação profissional dos docentes. A ideia é questionar o papel docente (reducionista?) em visar preponderantemente à estética corporal em detrimento da reflexão sobre as múltiplas possibilidades socioculturais que envolvem o trabalho com os alunos.